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ARI CUNHA
Visto, lido e ouvido
Desde 1960
com Circe Cunha e Mamfil
colunadoaricunha@gmail.com;
No domingo, o caderno Cidades do Correio Braziliense estampou em sua manchete, sob o título “Para onde vai a UNB”, a questão da crise que assola a principal Universidade de Brasília. Posta, em números, a questão do déficit nas finanças da instituição por conta do aumento no custeio de R$ 800 milhões, verificado a partir de 2013, para os atuais R$ 1,4521 bilhão, que poderia ter um equacionamento mais racional, já que as receitas no mesmo período variam para cima, indo de R$ 1,2 bilhão para R$ 1,7 bilhão.
Seu prestigiado departamento de economia, por onde vagueiam cérebros treinados e aparentemente ociosos nas artes do balanço contábil, poderiam se debruçar sobre o assunto e, nesse caso, não surpreenderia que a UnB viesse a constatar a existência de inúmeras saídas sensatas para o vermelho nas contas, sem a necessidade de empurrar a instituição ladeira abaixo no quesito respeitabilidade pública, item importantíssimo quando se trata de um centro de estudo e pesquisa, vital para o desenvolvimento da sociedade.
Só que, por detrás desse pano, aparentemente atropelado por números, se esconde um problema muito maior, até que a própria instituição, e que, nesses dias conturbados, vem permeando não só as instituições de ensino público em todo o país, mas a própria estrutura organizacional do Estado, colocando em risco a sustentação do principal pilar que escora toda a República.
Para além de uma crise financeira, o que a UnB e outras universidades do gênero vêm experimentando na pele decorre da corrosão provocada pela ausência do cimento da ética, o que tem levado a nação ao mergulho no seu mais tenebroso momento. É sob a esteira desse imenso triturador de moral que foi ardilosamente organizado no andar de cima do governo e que tem levado dirigentes importantes a conhecer, por dentro, o sistema carcerário, que a UnB vê seu antigo prestígio sendo levado aos poucos de roldão.
Mesmo as questões relativas aos debates ideológicos, tão necessários numa casa do saber, perdem importância e substância filosóficas e racionais quando se assiste a cada dia a transformação dessa universidade num ambiente em que a erudição e o saber perderam espaço para hostilidades primitivas que, ao fim ao cabo, revelam o despreparo intelectual de professores e alunos, com muitas exceções, para os grandes debates nacionais, acabando também por colocar essa instituição na mesma vala comum onde hoje jazem as principais lideranças do país.
Permitir, nessa altura dos acontecimentos, que a UnB adentre por atalhos rumo a uma anacrônica revolução gramsciana, visando a hegemonia do pensamento, como demonstra a apatia cúmplice de sua reitoria frente à crise, é decretar a morte da instituição e confiná-la embalsamada no mesmo mausoléu de vidro onde repousa hoje a figura sinistra de cera de Lenin.
Para os pagadores de impostos, já demasiadamente arrochados pelo fisco, interessa uma instituição que possa pensar e apontar caminhos para o país. É justamente em prol dos muitos que jamais terão oportunidade de acesso a esse time de elite que a UnB tem que trabalhar, pondo suas tropas bem fornidas em campo.
A frase que foi pronunciada:
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”
Paulo Freire
Participação
“Criou-se no Brasil a falsa necessidade de privatização da Eletrobrás e suas subsidiárias para, aparentemente, fazer com que um patrimônio, com valor da ordem de R$ 300 bilhões, gere lucros privados. Nesse processo, o Estado receberia irrisórios R$ 12,2 bilhões e os consumidores brasileiros seriam os reféns geradores dos lucros privados, a partir do aumento da tarifa de energia elétrica.”
Raul Bergmann
Incompreensível
Eucaliptos italianos que davam graça à paisagem da entrada do Pontão e que ficavam na pista oposta foram todos derrubados.
Gana
O parque, que era cercado na entrada do Lago Norte, já não possui limites. É fácil a Câmara Legislativa mudar a destinação de um parque para moradia. Principalmente se a população interessada não ficar de olho ou não reagir.
Preleção
Na pizzaria Dom Bosco, da Asa Sul, uma discussão sobre política terminou com a conclusão de que tinham que acabar com o Congresso. O orador deve ter esquecido que quem faz as leis recebeu voto da população. Com uma urna segura, a escolha pode mudar.
Mais uma
Um dos balconistas da Dom Bosco, o William, Marcão ou Rodrigo, indagou: “Já reparou que as leis de arrecadação são certinhas? Água, Luz, IPTU, IPVA, até as multas de trânsito funcionam? Já os investimentos na saúde, educação, transporte e segurança não seguem a mesma rigidez.”
Manutenção
Por falar em Asa Sul, os viadutos entre as 207/107 estão com o teto despencando.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Enquanto isto, os moradores que sofram lama, poeira, barulho de gerador, mosquitos e toda sorte de desconforto. (Publicado em 20.10.1961)