Um futuro que infelizmente chegou

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

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O então presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) e o arquiteto Lúcio Costa (1902-1908) em visita ao local onde seria construída a Avenida Monumental de Brasília, em 11 de novembro de 1956. Posteriormente, a via foi batizada de “Eixo Monumental”. Foto: Arquivo Público Nacional

 

Quando decidiu pela mudança da capital, no final dos anos cinquenta, Juscelino Kubistchek, seguindo os passos de José Bonifácio e, posteriormente, da Missão Cruls, não fazia a mínima ideia de que o interior do país, nomeado de Planalto Central, onde deveria ser fixada a nova capital, era em sua totalidade, formado pelo mais delicado e sensível bioma de todo o continente. E mais ainda: era nessa região que se formavam as principais bacias hidrográficas do país, responsável pela maior parte do abastecimento de água do Brasil e reconhecida hoje como o berço das águas ou a caixa d’água do Brasil.

Das oito bacias hidrográficas do país, essa região é responsável pelo abastecimento de nada menos do que seis bacias, ou seja, sua importância num mundo que parece caminhar para a escassez de água é vital para os brasileiros. Obviamente que, naqueles tempos, não havia nem a discussão de temas ambientais, nem tampouco preocupação com o fim dos recursos naturais. Eram tempos de otimismo e de apelo exacerbado ao progresso, além de outros temas inerentes daquele período, como o da integração nacional, capaz de reduzir as desigualdades regionais, que, naquela ocasião, já era o grande gargalo a impedir o desenvolvimento do país continental.

Por outro lado, havia ainda a questão de segurança da sede administrativa do país, que seria amenizada com o afastamento do litoral. Nesse quesito, contava ainda a importância que traria, para todos, o estabelecimento de uma capital num ponto equidistante em relação ao país. Em suma, eram essas questões que guiavam a decisão que tornou inquestionável a transferência da capital.

No início da segunda metade do século XX, a ecologia e as preocupações com o meio ambiente não eram sequer sonhadas. Mesmo que fossem aventadas sua existência naquele ambiente, o apelo pelo progresso era mais intenso e decisivo que tudo. Hoje é possível reconhecer que foi justamente graças ao total desconhecimento de questões relativas ao meio ambiente – e mais especificamente ao Cerrado, considerado hoje como o segundo maior bioma brasileiro em tamanho, sendo também a mais rica savana do mundo em biodiversidade –, que foi possível estabelecer a capital nessa região.

A movimentação de centenas de milhões de metros cúbicos de terra, nos processos de terraplanagem, a abertura de estradas e vias e infinitas obras de infraestrutura, para o estabelecimento daquela que seria a mais moderna capital do país, fez desaparecer, num curto espaço de tempo, toda a vegetação que havia nas áreas de construção de Brasília, com o assoreamento de diversos córregos e veios de água e de nascentes.

Com essa “limpeza” do canteiro de obras, muitas espécies de animais também foram mortos ou rumaram para outras áreas. Comum naquela época era considerar as áreas ocupadas pela vegetação nativa como campos feios e sujos e, por isso mesmo, passíveis de uma “limpeza” ou substituição daquelas espécies por outras mais vistosas do ponto de vista de um paisagismo artificial e importado de outras regiões.

O avião de Brasília, representado pelo desenho urbano e revolucionário de Lúcio Costa, ao pousar no coração do Planalto Central, trouxe para esse sítio, além do progresso que desejavam os políticos e estrategistas daquele período, uma intensa e paulatina interferência em todo o bioma da região, num processo que foi se intensificando ao longo dos anos, conforme era consolidada a nova capital, com a ocupação de áreas sensíveis ecologicamente.

Todo esse processo de ocupação ganhou ainda mais intensidade com o passar dos anos, sendo enormemente acelerado a partir da emancipação política da capital, quando o Distrito Federal foi, de certa forma, abduzido pela esperteza de políticos locais com a ajuda de empreiteiros gananciosos, formando uma turma que tem cuidado, nas últimas décadas, de dilapidar o que resta de patrimônio ecológico do quadrilátero da capital, sob a égide ainda de um progresso que nada mais é do que o avanço perpétuo da poeira.

Toda essa situação ganhou ainda mais impulso com florescimento intenso do agrobusiness, que, ao expandir sua produção de monoculturas pelos campos cerrados, literalmente, vem devastando todo o bioma em torno da capital, para a produção de transgênicos destinados à exportação e obtidos com largo emprego de pesticidas e outros venenos, muitos deles proibidos no exterior, contaminando o solo e a água dessa caixa d´água do país cada vez mais seca.

O que se vê hoje em torno da capital, que se pretendia exemplo para todo o mundo, é a desolação de descampados, com rios de pouca vazão, emoldurados pelo fogo, que nas épocas de seca, transformam-na numa região que arde e que vai sendo encoberta pelo pó e pela fumaça, o retrato acabado de um futuro que infelizmente chegou.

A frase que foi pronunciada:

As trevas não podem expulsar as trevas: só a luz pode fazer isso. O ódio não pode expulsar o ódio: só o amor pode fazer isso.”

Martin Luther King

Foto: Martin Luther King, líder do movimento pelos direitos civis nos EUA e Nobel da Paz | Arquivo (blogs.oglobo.globo.com)

De olho

Jornal Contábil chama a atenção dos cardiopatas. O Instituto de Previdência Social atende pessoas nessa situação de saúde com auxílio-doença, aposentadoria por invalidez ou até Benefício de Prestação Continuada. No link Benefícios do INSS para quem sofre com doenças do coração, a matéria completa.

Foto: @freepik / freepik

Sällbo

Imagine uma Casa de Repouso, onde jovens que precisam de moradia compartilham o espaço com idosos deixados lá pela família. Tudo começou na Suécia e está cada vez mais popular. Compartilhar o espaço foi além das expectativas. Ao assinar o contrato, tanto idosos quanto jovens se comprometem a socializar por, pelo menos, duas horas por dia. O sucesso é tão grande que muitas vezes esquecem da hora.

História de Brasília

O PSD de Pernambuco está brigando com o PTB por causa de um cargo, e como bode expiatório surge o nome de Alfredo Ramos Guarda Mot da Alfândega de Recife. Noticiário pré-moldado foi distribuído a toda a imprensa. (Publicado em 04.02.1962)

O cerrado devastado por titãs

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Foto: brasil.gov.br

 

Quando alguns brasileiros começaram a descobrir a vastidão e complexidade dessas áreas, os estrangeiros, com apoio imediato do governo, já estavam derrubando e queimando as árvores torcidas do bioma, expulsando e matando os animais para o estabelecimento de grandes latifúndios para o plantio de monoculturas como a soja.

Ao se posicionar hoje como o maior produtor mundial desse produto, exportado em sua grande parte para a China, com faturamento de mais de 25 bilhões de dólares anuais, o Brasil deixou de lado, definitivamente, sua preocupação com questões de biomas, meio ambiente e outros assuntos de preservação, consideradas pelo governo e pelo pessoal do agrobusiness como discussões menores e sem retorno econômico.

Dessa feita, a soja e a pecuária respondem hoje como os principais responsáveis pelo desmatamento nessa região, que ainda prossegue, sem limite, dentro da perspectiva de expansão contínua da chamada fronteira agrícola. Chega a ser penoso constatar que os maiores esforços contra essa destruição contínua do Cerrado vêm também por parte de pessoas e Organizações Não-Governamentais do exterior, acostumados com esse tipo de luta.

Internamente, parece que ainda não despertamos para essa calamidade que vai ocorrendo bem debaixo de nossos pés. Não se vê o assunto nas TVs ou jornais, não se vêm debates, nem movimentos populares contra essa destruição paulatina de nossas riquezas. Não é por outra razão que apenas 5% das multas referentes a desmatamento e outras contravenções ambientais são efetivamente pagas.

Também não chega a ser surpresa o fato de que não se conhece nenhum desses destruidores do meio ambiente presos ou cumprindo qualquer pena. Mesmo aqueles grandes produtores, que são flagrados desmatando ou mantendo trabalhadores em condições análogas à escravidão, são devidamente penalizados, o que faz supor um conluio de forças muito maior do que podemos imaginar.

Grandes empresas de alimentos do mundo como a Walmart, Unilever, Nestlé, Danone, Kellogg’s e outras 60 importantes marcas de nutrientes, reuniram-se para formar um conglomerado ainda mais gigantesco denominado Consumer Goods Forum (CGF) e exercem pressão sobre tudo e todos, com suspeitas de impor regras e, em muitos casos, com suposto descumprimento das legislações que vão contra seus interesses. Mesmo apelos e manifestos embasados, como feitos agora por um conjunto de mais de 600 cientistas de todo o mundo, para que a União Europeia não compre alimentos que não sejam devidamente certificados e com compromissos com o meio ambiente, têm sido respeitados ou levados à sério.

É preciso entender, de uma vez por todas, que o Cerrado, com seus 2 milhões de Km², ou 25% do território nacional, e onde nascem as três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), reclama maior interesse por parte das autoridades e dos legisladores. Outro fator de indiscutível importância é que nove em cada dez brasileiros consomem eletricidade gerada com as águas do cerrado, que geram metade da energia produzida no país.

Não se entende, pois, que, sendo um dos biomas mais ricos do planeta, o Cerrado continue a ser também um dos mais ameaçados e desprezados pelos seguidos governos, que só enxergam nessa região o fator lucro imediato, sem maiores esforços que não vão deixar à livre exploração. É uma pena e um crime.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Nem tudo o que é torto é errado. Veja as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado.”

Nicolas Behr, poeta da nossa terra

Foto: Ailton de Freitas

 

 

Reformas

Enfim, a W3 está passando por uma revisão. Calçadas que vão favorecer a mobilidade, limpeza e arrumação geral. Brasília precisa de pelo menos um lugar onde os cadeirantes e idosos possam circular com segurança. É uma homenagem singela a quem construiu a cidade.

 

 

Vida

Arte no metrô. Que notícia boa saber que entre a Estação Central e a Estação da 102 Sul, as paredes estão servindo para mostrar arte. Artistas do DF e de diversos estados mostram a arte em sintonia com a tecnologia. São as cidades inteligentes que já chegaram nos países mais ricos. Aos poucos, Brasília vai se rendendo. Sem discutir o mérito, a projeção áudio visual em 3D usada em edifícios já é realidade pelo mundo, enquanto na capital do país é novidade.

Foto: André Borges/Agência Brasília

 

 

Constatação

Domingo Pet Day. Um dia exclusivo dedicado aos Pets no Eixão. Há quem diga que a solidão dos seres humanos aumenta e os bichos de estimação, que não cobram, não têm maus dias, estão sempre solícitos, são a melhor companhia. O que sei, é que vi cair lágrimas dos olhos de uma maranhense recém-chegada em Brasília quando viu que animais têm plano de saúde.

Foto: oscabecasdanoticia.com

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Não façam, entretanto, exceções. Cortem todos os telefones dos relapsos pagadores e, assim, os que pagam em dia terão maior número de linhas, e o DTUI, por sua vez, disporá de mais dinheiro para a aquisição de material. (Publicado em 23/11/1961)

A última fronteira agrícola será também nosso grande e árido deserto

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Foto: ecoa.org.br

 

Quem vive nas metrópoles do Centro Oeste brasileiro, cidades modernas, como Brasília, Goiânia, Palmas, Campo Grande e outras de igual importância, com milhões de habitantes e todo o tipo de progresso urbano, não possui a mínima ideia do que está ocorrendo ao redor, nos imensos campos destinados às atividades agroindustriais e que praticamente ilham essas comunidades

Cercadas por imensos latifúndios de monoculturas por todos os lados, cuja a produção é quase totalmente destinada ao mercado externo, essas dezenas de cidades, que nas últimas décadas têm experimentado um sensível crescimento ou inchaço demográfico, vão, aos poucos, sentido os efeitos diretos e nefastos dessas atividades econômicas realizadas, unicamente, objetivando lucros máximos e imediatos a seus proprietários.

Com isso, a cada período de estiagem nessas regiões, mais e mais seus habitantes vão sofrendo longos meses de racionamento de água, seguidos de fortes ondas de calor, o que é agravado ainda pelas seguidas queimadas, tornando o ar irrespirável e com prejuízos à saúde de todos.

Rios e outros cursos d’águas, que anteriormente corriam durante todo o ano, agora desaparecem durante a seca, deixando apenas um rastro de areia e pedras, apontando para um futuro de escassez e aridez para todos.

Incrivelmente, esse parece ser um assunto tabu nessas regiões. Ninguém discute as causas desses fenômenos, nenhuma escola ou universidade parece disposta a levar esse debate adiante. Fala-se em progresso econômico. Mas a que preço? O poder de pressão do agronegócio não se limita apenas ao Congresso, onde reúne uma bancada barulhenta e disposta a tudo. Também no campo os grandes latifúndios assustam os pequenos fazendeiros que já perceberam a força desses gigantes, muitos dos quais estrangeiros, que não medem esforços para impor suas vontades.

Os movimentos nacionais que se contrapõem ao poderio dessas multinacionais de alimentos ainda são muito incipientes entre nós e normalmente não são, sequer, ouvidos pelas autoridades. Os desmatamentos contínuos, a dizimação de espécies animais e vegetais, o envenenamento dos solos e a desidratação dos cursos de água não abala essa gente que age protegida por uma legislação claudicante e benéfica a quem produz, não importando como e a que custo.

Preocupante é saber que a própria Constituição de 88 em seu art. 225, parágrafo 4º, define como patrimônio nacional a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, O Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira, deixando de fora todo o importantíssimo Bioma Cerrado. Atentem senadores e deputados ao detalhe! Façam o que é preciso ser feito para proteger toda essa terra e essa gente. A Carta Magna deixou enormes brechas por onde penetram esses devastadores das riquezas naturais do país, travestidos de grandes produtores.

A menor proteção legal, juntamente com o poder de lobby dos produtores, tem provocado estragos irreversíveis nesse bioma e que só serão devidamente avaliados quando toda essa região entrar num processo de desertificação sem controle. Aí será tarde demais e possivelmente seus responsáveis já estarão fora do alcance de qualquer lei ou autoridade.

Cientistas já comprovaram que o Cerrado é a savana mais biodiversa do planeta, contendo 5% das plantas e animais da Terra, inclusive 4.800 espécies que só ocorrem nessa parte do mundo. O problema com esse bioma único é que ele, apesar da variedade e grandeza, é também um dos mais sensíveis e contrários à intervenção humana. Por não conhecer adequadamente ainda todo o funcionamento desse complexo sistema, a intromissão humana causa estragos de difícil recuperação.

Experimentos com plantas e animais demonstram a dificuldade de reproduzi-los em condições fora de seu meio ambiente natural. As poucas experiências feitas até agora, por pesquisadores isolados e com escassos recursos, demonstram que há ainda um imenso e variado campo desconhecido sobre esse sistema. Infelizmente, a descoberta dessa riqueza natural e delicada só começou a aparecer quando o boom das matérias-primas e das commodities já estavam atraindo grandes investimentos, principalmente do exterior.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Enquanto a esquerda esperneia deixando de votar inclusive no que defendia, enquanto a direita calcula cada passo, o Brasil aguarda para saber que destino tomar: de volta ao passado ou direto para o futuro. Unir para governar é o pensamento de quem age pelo país, e não por ideologias.”

Dona Dita, enquanto vê a banda passar.

Charge do Iotti

 

 

Pão e Circo

Nota do leitor Renato Prestes: “Nos dias dos jogos da seleção brasileira masculina na Copa do Mundo, servidores públicos são dispensados. Nos jogos da seleção feminina, essa benesse não ocorre. Situação que deixa bem explícita que não há tratamento igualitário entre homens e mulheres, conforme impôs a Constituição de 1988.” O ideal seria não ter dispensa do trabalho para assistir jogo de futebol, o que é um absurdo em si (nota da coluna).

Foto: agenciabrasil.ebc.com.br

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Uma solução para o DTUI: se falta dinheiro, que sejam cobradas todas as contas atrasadas. Para que os relapsos paguem, bastará que se desligue o telefone, e todos correrão ao guichê do Banco do Brasil. (Publicado em 23/11/1961)

As águas do cerrado

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ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

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Cerrado em Quadrinhos, Alves.
Cerrado em Quadrinhos, Alves.

      Talvez ainda não esteja devidamente compreendida e mensurada, pelos habitantes da capital e do Brasil, a enorme importância que o bioma cerrado possui para todo o país. Para se ter uma ideia, basta dizer que as três maiores reservas subterrâneas de água, correspondendo aos aquíferos Guarani, Bambuí e Urucuia, estão, na sua maior parte, situados dentro dessa imensa área de 2 milhões de quilômetros quadrados.

      O cerrado abastece nada menos do que oito das 12 regiões hidrográficas do país. Suas águas subterrâneas respondem por 90% da vasão dos rios desse bioma. O chamado de berço das águas, que os cientistas aos poucos vão conhecendo em sua inteireza, é tão fundamental ao país que a simples suposição de que ele venha a ser degradado de forma irreversível equivaleria a decretar também o colapso ambiental de grande parte do Brasil e do continente sul americano.

          A expansão agropecuária feita de forma descontrolada e visando unicamente ao lucro a qualquer preço, desde a década de 70, tem provocado estragos incalculáveis ao cerrado. Estudos e levantamentos recentes dão conta de que cerca de 50% do bioma original, incluindo aí não apenas espécies raras de plantas, mas um grande número de espécies animais, simplesmente desapareceram para sempre.

        A substituição irresponsável da vegetação nativa por pastos para o gado e para o plantio de grãos em enormes latifúndios, tem provocado, ao lado do aquecimento global, uma sequência contínua de severas crises hídricas em toda a região, sobretudo na própria capital do país, que passou a sofrer intensamente com seguidos períodos de cortes e racionamentos no abastecimento de água.

         Cientistas, há tempos, vêm alertando: o berço das águas está secando e necessita urgentemente ser reflorestado e protegido antes que seja tarde demais. Nessa última semana, realizou-se em Brasília o Seminário regional intitulado Integração Para Proteger as Águas do País, com representantes dos estados do Centro-Oeste, instituições e sociedade civil para discutir um efetivo programa nacional de revitalização de bacias hidrográficas dessa região. A meta, dizem, é conservar, preservar e recuperar os rios brasileiros.

A frase que foi pronunciada:

“O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter.”

(Cláudio Abramo)

Ilustração: onlinecomunicacoes.com.br
Ilustração: onlinecomunicacoes.com.br

Discurso & Prática

É bom abrandar tantos escândalos noticiando o que faz Reguffe representando Brasília no Senado. Economizou sozinho R$ 16,7 milhões aos cofres públicos. Isso só de economia direta, sem contar a indireta. Se fosse multiplicar a iniciativa por 81 senadores, R$ 1,3 bilhão de economia. Discurso e prática vão além. PECs projetos, votos e os recursos destinados para o DF. Foram compradas 7.000 unidades do Sorafenibe, medicamento para quimioterapia oral. Por emendas, o DF recebeu também 14 ambulâncias novas totalmente equipadas para o SAMU.

Foto: senado.leg.br
Foto: senado.leg.br

Absurdos

Está na hora de passar o DF a limpo. Parada de ônibus feita em cima de uma ciclovia no Jardim Mangueiral, paradas de ônibus sem recuo apresentando perigo constante enquanto força ultrapassagens perigosas, faixas de pedestres sem tinta.

Tecnologia

Há falta de tecnologia na Saúde para controlar o paciente desde sua entrada, presença dos médicos, uso dos medicamentos, verbas aplicadas, aparelhos comprados, instalados e usados, profissionais capacitados. Nas cadeias, a mesma coisa. Scanners na Papuda para evitar entrada de objetos proibidos e revista íntima, um terminal com a chegada do preso e a data de saída para a preparação necessária à liberdade.

Charge: soumaissus.blogspot.com
Charge: soumaissus.blogspot.com

Relembrando

Joel Sampaio nos envia o seguinte email: Tragédia anunciada desde 1960 por Ari Cunha, que advertiu que a explosão demográfica não se resolveria com violência contra os pobres, e em 1972 por Juscelino Kubitschek, que ao chegar aqui ficou horrorizado com a anarquia urbanística. E disse, que o que viu não foi o que sonhou para Brasília.

Crise hídrica

E os deputados distritais acham pouco e ainda entregam, à especulação imobiliária de grandes empreiteiras, zonas de proteção ambiental, com dezenas de nascentes, como é o caso do Mangueiral! Primeira medida necessária: proibir a Terracap de fazer loteamento e expansão urbana em Brasília e fazer loteamento no RIDE, destinado à população pobre do Distrito Federal.

Foto: brasildefato.com.br
Foto: brasildefato.com.br

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Pouca chuva, tempo frio, falta de vento e mormaço na beira do Lago. Dia de tilápia. (Publicado em 28.10.1961)

Cerrado: cuide com carinho enquanto ainda é tempo

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ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

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Foto: Integrantes da Missão Cruls em cachoeira do Rio Cassu/ Foto de Henrique Charles Moriz (blogs2.correiobraziliense.com.br/candangando)
Integrantes da Missão Cruls em cachoeira do Rio Cassu/ Foto de Henrique Charles Moriz (blogs2.correiobraziliense.com.br/candangando)

         Depois do exaustivo trabalho de mapeamento da região central do Brasil, feito pela Missão exploradora Cruls, entre os anos 1892 a 1894, e que, ao final, resultaria na demarcação dos 14,4 mil quilômetros quadrados onde seria fixada a nova capital, um aspecto naquelas paragens chamou muito a atenção desses desbravadores: a exuberância e diversidade da fauna e flora da região e a abundância de águas límpidas que corriam pelos inúmeros rios e riachos do Planalto Central.

       Esse aspecto natural foi decisivo para a recomendação e o aceite para estabelecer-se, naquele sítio, o quadrilátero do futuro Distrito Federal. Passados cento e trinta anos dessa epopeia e quase sessenta anos da construção da capital, o ambiente visto por aqueles pioneiros científicos naquela época se mostra hoje totalmente diverso do encontrado em nossos dias.

        É possível afirmar, inclusive, que se pudessem regressar hoje pelos mesmos caminhos percorridos, a Missão Cruls já não reconheceria esses sítios. Possivelmente, a visão que teriam dessa região na atualidade causaria espanto e decepção em todos, dada a enorme degradação ambiental sofrida ao longo do tempo, principalmente após a expansão agrícola e pecuária caracterizada pelo intenso processo do chamado agronegócio.

       De lá para cá, extensas regiões de mata e flora foram totalmente dizimadas para dar lugar à monocultura de exportação e à criação extensiva de gado. Como resultado desse avanço do progresso, feito a qualquer custo, de forma indiscriminada em toda a região, o Cerrado exibe hoje, uma pálida imagem do que foi num passado recente.

Foto: canalsustentavel.com.br
Foto: canalsustentavel.com.br

         Quem se der ao trabalho de ler o livro “O piar da Juriti Pepena – Narrativa da Ocupação Humana no Cerrado”, do arqueólogo Altair Sales Barbosa, publicado pela Editora PUC- Goiás em 2014, pode ter uma visão mais abrangente e com base científica sobre o futuro dessa imensa e complexa região, responsável direta pelo abastecimento das mais importantes bacias hidrográficas do país.

     Em alguns trechos dessa obra, um futuro sombrio é apresentado, caso persista a degradação da região pela ação humana. “Com o desaparecimento do lençol freático, seguido da diminuição drástica da reserva dos aquíferos, afirma o pesquisador, os rios iniciarão um processo de diminuição da perenidade, oscilando sempre para menos, entre uma estação chuvosa e outra, e desaparecendo quase que por completo na estação seca. Este fato afetará primeiro os pequenos cursos d’água, depois os de médio porte e, em seguida, os grandes rios.”

            Esses efeitos, ocorridos nos chapadões, diz, afetarão várias partes do Continente, tocando inclusive a calha do rio Amazonas. Mesmo a floresta equatorial deixará de existir, sendo substituída por uma vegetação do tipo caatinga. O Vale do Parnaíba será invadido por dunas arenosas secas. Mesmo o grande rio São Francisco, com a ausência de alimentação constante, irá desaparecer. Com isso, a Caatinga avançará em direção ao Norte. O mesmo ocorrerá com a Bacia Hidrográfica do Paraná, que será invadida pela areia e por erosões colossais, desfigurando toda a região. Efeitos semelhantes ocorrerão na Sub-bacia do rio Paraguai, onde a pouca alimentação do aquífero Guarani irá transformar o Pantanal Mato-Grossense numa extensa área de deserto arenoso, conforme já foi no período Pleistoceno Superior.

           Com isso, a agroindústria irá paulatinamente perder seus níveis de produção.  Efeitos parecidos ocorrerão com os núcleos urbanos formados por essa atividade. Com a diminuição da produtividade, ondas de carência se seguirão. Não haverá água suficiente nem para a agricultura nem para o abastecimento da população.

        A redução do plantio e dos rebanhos, provocados pelo ressecamento das terras, afetarão sobremaneira os núcleos urbanos, com o racionamento de água e de energia elétrica. O aumento de pessoas ociosas, vivendo na periferia das grandes cidades, irá provocar a intensificação da criminalidade, trazendo a decadência dessas cidades, inclusive da capital. Diz o cientista: “Grande parte dos campos agrícolas abandonados, sem a cobertura vegetal necessária para fixar o solo, passará durante algumas épocas do ano a ser assolada por ventos e tempestades fortes, em extensões quilométricas, que criarão uma atmosfera escura carregada de grãos finos de poeira, restos de adubos e outros produtos insalubres e nocivos à saúde.”

      Altair Sales Barbosa alerta ainda que todo esse ambiente distópico irá sofrer com diversas epidemias que provocarão índices alarmantes de mortalidade. Trata-se aqui de uma visão científica do problema. Não de mera ficção.

A frase que foi pronunciada:

“Nem tudo o que é torto é errado. Veja as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado.” 

Nicolas Behr

Tirinha do cartunista Evandro Alves.
Tirinha do cartunista Evandro Alves

Em 42 anos

Maria Liz Cunha, gerontóloga, diz que em 2060 serão dois idosos para cada jovem no DF. A diferença entre a vida do idoso em Brasília e no Rio de Janeiro é gritante. Por lá, na beira da praia, senhoras e senhores fazem exercícios diários. Nas padarias e lanchonetes, grupos se reúnem com alegria. Pela necessidade de carro para locomoção em Brasília, os idosos se isolam. Faltam políticas públicas.

Charge: Ivan Cabral
Charge: Ivan Cabral

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Outra coisa, é o serviço. O restaurante tem uma péssima cozinha, e cobra preços altíssimos. O que salva são os garçons, que são muito atenciosos. Uma talhada de mamão ou um sorvete, custa 80 cruzeiros, mais dez por cento, e o couvert é de 50 cruzeiros. Um prato de massas custa 350, e uma cerveja custa cem. Como fez mal, a Prudência! (Publicado em 27.10.1961)