Cachorro louco

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Imagem: seduh.df.gov

 

            De boas intenções o mundo dos idealistas está abarrotado. Portanto, não bastam ideias, mesmo assentadas oficialmente no papel branco, para transformar, em realização, o que está previsto nos projetos. Com o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), pode ser assim também. As mais de 1,2 mil páginas do documento, sancionadas agora pelo GDF, detalhando todas as classes e subclasses de atividades econômicas que podem ser empreendidas na área tombada, em conformidade com o Plano de Preservação, traz muito mais permissões para a realização de atividades do que restrições, em respeito ao que determinam as disposições da Unesco para áreas consideradas como Patrimônio Cultural da Humanidade.

            E esse é um problema que pode, num prazo curto, levar ao começo do fim do que ainda entendemos como tombamento de Brasília. Primeiramente, o documento volumoso abre várias possibilidades de atualização das regras, sempre que novas alterações forem introduzidas. Essa alternativa torna o PPCUB um documento aberto a novas intervenções, vindas de pressão dos eleitores, do Lobby poderoso dos empreiteiros, da volúpia dos deputados distritais ou de qualquer outro lugar.

             Para os leitores que se interessam pelo assunto e desconfiam das boas intenções políticas, basta cruzar as avenidas W3 Sul e Norte, observando, ao longo do trajeto, quantos barracos de latas existem hoje instalados em cada ponto de ônibus, vendendo de tudo. Em alguma dessas paradas, contam-se até quatro desses comércios improvisados, com caixa d’água no teto, cadeiras e mesas espalhadas impedindo a livre circulação, sujando a área.

            Ciente de que o GDF não enxerga essa deterioração que só aumenta no coração da cidade, esses estabelecimentos seguem se proliferando. O mesmo ocorre nas entrequadras, onde esses barracos de lata vão tomando conta de cada esquina. A comercialização desses espações segue também em alta. São verdadeiros aleijões que ajudam no acelerar da decadência constante do Plano Piloto. Para os brasilienses, que olham com desconfiança o que promete o PPCUB, essa situação degradante notada, ao longo de toda as avenidas W3 Sul e Norte, mostram que, entre o que alardeiam os políticos locais com esse novo projeto, não confere com a realidade factual. E tende a piorar.

            A cada nova eleição para a composição da Câmara Legislativa, a cada novo governador que virá, O PPCUB sofrerá pressões para se adaptar às exigências e aos novos ocupantes do Palácio do Buriti. Não é um documento que tem o poder de dizer “o que pode e não pode ser constituído dentro do local onde o empresário pretende empreender”, mas um órgão fiscalizador sério e eficaz, imune às pressões políticas, que aja com presteza, antes que o problema escale para outro nível.

            Num país onde as leis abundam e a obediência escasseia, o que se faz necessário é a criação de uma autarquia local voltada exclusivamente para a preservação da área tombada, que trabalhe em consonância com o que dispõe o documento da Unesco e não com o que almejam os políticos locais. Note-se que a degradação não só da área tombada, como de todo o Distrito Federal, foi acelerada ao limite depois da instalação da Câmara Distrital e da chamada maioridade política de Brasília. Foi a união entre empreiteiros e políticos locais que criou toda essa situação de deformação urbanística da cidade, com um inchaço populacional, com o clientelismo desenfreado e outras mazelas filhas da má ação política. Mesmo essa história de que “uma cidade tombada não pode ser vista como um empecilho ao desenvolvimento e social, mas como uma oportunidade de valorizar a população e desenvolver novas atividades econômicas”, já mostra a porta escancarada para novas investidas contra a preservação do Patrimônio Cultural da Humanidade.

            O futuro da área tombada com seus 112,5 Km² é o que deveria ser desde 7 de dezembro de 1987, época da inscrição de Brasília na Unesco. O que faz a beleza de muitas cidades milenares da Europa é justamente essa dedicação da população e do governo em manter intacta as obras artísticas, o traçado urbano e mesmo os edifícios dessas épocas, preservando a herança cultural e não permitindo o avanço empoeirado de uma espécie de progresso onde tudo é feito com base em lucros imediatos.

            Na verdade, é a falta de cultura que impede a compreensão, em toda a sua extensão, do que é Patrimônio da Humanidade. Uma cidade que vai se constituindo de puxadinhos e de improvisações e que, por isso, ruma acelerada para o envelhecimento precoce, necessita bem mais do que um documento como um PPCUB; talvez, quem sabe de uma guarda ou polícia especializada em reprimir com energia as violações ao tombamento. Ou é isso, ou prosseguiremos a correr, como um cachorro louco, em volta do próprio rabo.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A forma segue a função: isso tem sido mal interpretado. Deveriam ser um só, juntos em uma reunião espiritual.”

Frank Lloyd Wright

Frank Lloyd Wright. Portrait, 1954. Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos sob o ID digital cph.3c16657.

 

História de Brasília

Se colocássemos tôdas as obras da Novacap num só bloco, daria um edifício de três andares com a extensão de tôda a Avenida Atlântica. (Publicada em 21.04.1962)

As consequências vêm depois

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Imagem: Esboço do Plano Piloto de Brasília — Foto: Arquivo Público do Distrito Federal/Fundo Novacap

 

           No dia em que as autoridades e mesmo a população despertarem para a faculdade de relacionar fatos aparentemente desconexos e, com isso, passarem a ligar os diversos pontos, saberão, de uma vez por todas, que absolutamente tudo é parte indivisível de um conjunto. O que acontece a um elemento, mais dia, menos dia, acaba por afetar os demais, quer positivamente, quer de forma negativa. Infelizmente, aqueles que deveriam zelar para que o movimento em cadeia não seja deflagrado são justamente os que mais fazem para acelerar o processo de destruição.

          Todo esse preâmbulo vem em razão de movimentos incessantes pela modificação da estrutura urbana da capital. As ações em direção ao inchaço populacional da cidade vêm sendo executadas de forma sistemática, e o que é pior, sem ser seguido do mais elementar e sério estudo de impacto ambiental e social. O horizonte estreito, que é estendido somente até as próximas eleições, faz com que não se atinem para a possibilidade de que, a médio e longo prazos, a destruição urbana da capital venha a ser um fato irreversível e de enormes prejuízos para os brasilienses e para o país.

         Toda vez que a população ouvir falar em Planos de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília ou Projetos semelhantes, como o Reurb ou regularização fundiária urbana, pode ter a certeza que, por detrás desses eufemismos pomposos, esconde-se um fato inconteste: a alteração do planejamento urbano da capital, com vistas a atender aos anseios pressionados. Do mesmo modo, toda vez que uma autoridade reclamar do que chamam de “engessamento” da capital, por razão do processo de tombamento feito pela Unesco, que elevou Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade, saibam que essa é também uma outra premissa que precisa de discussão para não esconder propósitos que só interessam a um determinado grupo.

         Voltando ao início, é preciso que todos os brasilienses comecem, imediatamente, a ligar as pontas soltas que surgem no noticiário local e que vão dando conta da decadência paulatina na qualidade de vida dos habitantes da capital. Quando os noticiários anunciam o aumento da violência, o abandono de áreas centrais da capital, o sucateamento dos hospitais e escolas, os constantes engarrafamentos de vias urbanas entre muitos outros assuntos negativos, que aparentemente não possuem ligação com PPCUBs e Reurbs ou coisa do gênero, saiba, o leitor, que todas essas dificuldades são consequência da ocupação ilegal de terras e das intermináveis intervenções políticas no ordenamento urbano de Brasília. Basta ao leitor que ama Brasília começar a colecionar as diversas manchetes do noticiário local. A manchete deste sábado, 29 de junho, traz em letras garrafais o seguinte: “Alerta, Descoberto e água de Brasília estão sob ameaça.” Com essa notícia, chega a previsão de que, já em 2040, a Barragem do Descoberto irá secar, devido ao consumo excessivo e retirada anormal de água desse reservatório.

         A previsão dos ambientalistas é que em 2070, a capital terá metade da água disponível para consumo de uma população que não para de crescer. Adivinha por que isso acontece! Lembrando que, nos anos setenta, havia a previsão de ser construído o reservatório do Lago São Bartolomeu, com 110 quilômetros de espelho d’água, represando as águas do Rio São Bartolomeu e seus afluentes, como Mestre d’Armas e Rio Pipiripau. Toda essa imensa represa seria redenção para o fornecimento de água potável. Infelizmente, as ocupações irregulares de terras naquela localidade inviabilizaram essa obra importantíssima.

          Exemplos como esse podem ser colhidos em toda a parte. Para desgosto e prejuízo do cidadão, quem deveria zelar por Brasília não aprendeu ainda que as consequências vêm depois. No nosso caso, as consequências têm, como causa, a visão obtusa e o descompromisso com o futuro da capital.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Sei que a paz é mais difícil que a guerra”.

Juscelino Kubitschek

Lúcio Costa e presidente JK. Foto: arquivo.arq

 

Acesa

Interessante que, no prédio do Banco do Brasil, no Setor Bancário Norte, as cores do letreiro remetem a Portugal. O que era só verde passou a ser verde e vermelho. A foto está a seguir.

Foto: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

 

História de Brasília

Os funcionários do DCT, sem apartamentos, estão acampados em frente à repartição. É um movimento pacífico, mas deprimente para os chefes. Quem encara com seriedade que deve ter um serviço de comunicações, sabe que os funcionários encarregados devem ter o máximo de conforto. (Publicada em 10.04.1962)

Ponto de interrogação

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Foto: Valter Campanato (veja.abril.com.br)

 

Soubessem as autoridades e os cidadãos das consequências devastadoras que a ocupação irregular do solo traz para o futuro das populações, comprometendo, inclusive, o estabelecimento sustentável de cidades inteiras, situações como essa seriam terminantemente proibidas sob quaisquer pretextos. O problema, entre nós, é que a responsabilização pelo incitamento ou pela negligência na ocupação irregular de terras nunca é levado a termo, sendo seus autores ou responsáveis deixados de lado pela Justiça.

O que é certo é que, a cada invasão de terra, a cada regularização de áreas em conflito, sem os devidos critérios de impacto e de planejamento urbano, mais e mais a cidade vai perdendo, de modo irreversível, sua qualidade de vida. Cidade alguma, em todo o tempo e lugar, jamais logrou ser considerada com boa qualidade de vida e de infraestrutura para seus habitantes, relegando a segundo plano as exigências de um correto planejamento urbano.

Os brasileiros que visitam a Europa ou os Estados Unidos ficam encantados com a qualidade de vida de seus habitantes, com ruas bem sinalizadas, limpas e bem organizadas. Cidades antigas, com dezenas de séculos de história, conseguem manter e ostentar um altíssimo padrão urbano. Por essa razão, são procuradas por turistas de todo o mundo, que, a cada ano, deixam nesses locais milhões de dólares para os cofres da cidade.

Talvez, o maior problema na administração de nossas cidades esteja, justamente, na falta de uma política que mantenha sob o mais estrito respeito todas as diretrizes traçadas para preservar os espaços públicos, fiscalizando e punindo todo aquele que ouse infringir as regras comuns de convivência. Nossas áreas urbanas, de uso comum, quase sempre encontram-se abandonadas ou em processo de decadência acelerada. O curioso é que são gastos rios de dinheiro, do pagador de impostos, para manter essas áreas em condição mediana de uso.

A falta de fiscalização, ou a incúria das autoridades, permite que a cada dia, nas áreas centrais do Plano Piloto, surjam os chamados barracos de lata, instalados em toda parte, inclusive nos pontos de ônibus. Nesses lugares, vendem-se de tudo, até bebidas alcoólicas. Alguns desses estabelecimentos improvisados têm até caixa d’água instalada.

Para uma cidade que se pretendia planejada, essas e outras distorções, como os puxadinhos irregulares do comércio, ajudam a deteriorar, sob todos os pontos de vista, a capital do país. O pior é que não parece haver solução à vista para esse desregramento geral que vai tomando conta de Brasília. Projetos como o PPCUB e o Reurb, que deveriam, pelo menos, cuidar dessas questões, passam ao largo, tratando apenas de aumentar a instalação de infraestrutura em áreas que não deveriam abrigar bairros residenciais nem acrescentar mais de andares a prédios, num claro contraste com o entorno imediato.

Tolice é acreditar que a regularização fundiária prevista em planos recentes, como por exemplo a LC 986/2021, colocará um ponto final nesse problema que se arrasta desde antes da inauguração da capital. Não pode haver regularização fundiária numa cidade em que cada governo que chega, a cada nova legislatura local que assume, trate logo de tornar regular as mais novas invasões, alimentando um caos urbano cíclico e sem fim.

Desde os anos 70, previa-se que os problemas de terra na capital acabariam por provocar um fenômeno comum a todas as cidades brasileiras. No nosso caso, o que se previa, naquela década, é que chegaria um tempo em que o Plano Piloto restaria cercado por um enorme e incontrolável cinturão de bairros e favelas. A emancipação política da capital tem cuidado, a seu modo, de acelerar esse processo, tornando o futuro da cidade em um ponto de interrogação.

 

A frase que foi pronunciada:
“Que fenômenos estranhos encontramos numa grande cidade, basta passear de olhos abertos. A vida está repleta de monstros inocentes.”
Charles Baudelaire

Imagem: gettyimages.pt

 

História de Brasília
Para o DVO: no Setor Comercial Local 304-305, o asfalto não foi completado na área de estacionamento, e as casas estão cheias de poeira. (Publicada em 10/2/1962)

Brasília, querida de (quase) todos

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Foto: jornaldebrasilia.com

 

           Como pode um Plano, que se intitula como de “Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília”, (PPCUB), aprovado agora na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), trazer, em seu âmago, não a defesa e salvaguarda do conjunto arquitetônico e urbanístico da capital do país, como era de se esperar, mas uma série de modificações drásticas nas regras de uso e ocupação do solo, pondo em risco, mais uma vez, o tombamento de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade.

          Na verdade, essa coluna nunca alimentou esperanças de que a CLDF fosse fazer algo diferente e em benefício da cidade e de seus moradores. Desde sua criação, dentro do processo de emancipação política da capital, que as regras de uso e ocupação do solo nessa cidade têm sido alteradas. Basta lembrar os projetos, que mudavam, da noite para o dia, a destinação e uso de lotes, que nada valiam para o mercado, em local para a construção de posto de gasolina ou empreendimento do gênero. Ou mesmo a transformação de áreas de interesse público ou de preservação em bairros imensos, sem infraestrutura e sem estudo de impacto ambiental, ou coisa que o valha.

         Foi assim também que a capital passou num átimo de exemplo de urbanidade para o país e para o mundo, em mais uma cidade inchada e com serviços e aparelhos públicos caotizados. Agora, sob o manto falso de Preservação do Conjunto Urbanístico, a cidade, mais uma vez, vê-se no risco iminente de ser submetida a modificações marotas, que irão alterar, de uma só vez, as escalas residencial, monumental e gregária. Com isso, os setores bancário, hoteleiro, comercial e de diversão, incluindo também a escala bucólica ou áreas verdes terão suas regras de ocupação e uso alteradas.

         Trata-se aqui de um dos maiores ataques já perpetrados contra à imensa área tombada da capital, desvirtuando sua originalidade e propósito, apenas para atender interesses particulares e escusos, totalmente contrários aos desejos dos brasilienses autênticos. Não seria exagero se algum político sério, que ainda existe nesse meio, vier a propor a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar todo processo que levou à aprovação desse Plano danoso e obscuro.

          Ao governador e às autoridades que lidam com a defesa da capital resta envidar todos os esforços necessários, para que esse projeto não vá adiante. Nem vale a pena, aqui, citar os inúmeros pontos polêmicos trazidos por esse Plano. São tantos, e potencialmente absurdos, que, se forem postos em andamento, não há mais que se falar em futuro ou em coisas como qualidade de vida.

         Os conceitos estreitos e obtusos daqueles que anseiam em pôr abaixo a originalidade arquitetônica e urbanística da capital só podem ser entendidos à luz daquelas propostas que são justamente urdidas no escuro, e por debaixo dos panos.

 

A frase que foi pronunciada:

“Eu sou engenheiro há muito mais tempo que você”.

Israel Pinheiro, quando queria encerrar qualquer discussão

Foto oficial de Israel Pinheiro na Galeria dos Governadores do Distrito Federal (Brasil) no sítio do Governo do Distrito Federal

 

Quem não?

Qualquer internauta está sujeito a crimes cibernéticos. Mesmo a aparência de segurança do site, centenas de comentários favoráveis, endereço, marcas, tudo pode ser falso. Só a forma de receber o pagamento é garantida. A Polícia Civil do DF já realizou várias investigações com final bem sucedido contra esses esquemas fraudulentos.

Imagem: fastcompanybrasil

 

Acolhimento

GDF continua operação acolhimento para as pessoas em situação de rua. Dezenas de pessoas foram acolhidas com propostas de emprego e moradia. Foram vários caminhões para tirar o entulho de mais de vinte estruturas removidas.

Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília

 

Obra de Victor Hugo

Renata Dourado, Vittor Borges, Érika Kallina, Gustavo Rocha, Rafael de Abreu Ribeiro e Rosa Benevides estão à frente da produção de O Corcunda de Notre Dame, o Musical que será apresentado pela Cia de Ópera de Brasília, na Escola de Música, 602 Sul, neste sábado e domingo, com duas sessões: às 17h e às 20h, Ingressos pelo Sympla.

Cena de O corcunda de Notre Dame: atualidade histórica – Foto: Divulgação

 

História de Brasília

Custa crer que o almirante Lucio Meira esteja trabalhando contra Brasília, mas seja como fôr, êle saberá o que está acontecendo, e tomará providências. (Publicada em 10.04.1962)

 

 

A Brasília de uns e outros

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Imagem: seduh.df.gov

 

         Antigos moradores da cidade, principalmente os chamados candangos, que para aqui vieram durante a fase de construção da nova capital, estão entre os maiores admiradores de Brasília. Formam, hoje, um grupo de pessoas de idade avançada que nutrem, pela cidade, uma espécie de amor paterno, materno ou fraternal. Em sentido literal, ajudaram a criar Brasília desde a mais tenra idade. São esses também que mais sofrem quando veem a cidade tomar um rumo diverso daquele concebido por seus idealizadores.

         Depois de ter conhecido a maioridade política, por força e razões que não merecem aqui ser detalhadas, Brasília tomou um rumo diferente daquele planejado inicialmente, para desgosto de muitos e regozijo de uns poucos, sobretudo dos que passaram a lucrar com a ideia de retalhar a cidade, vendendo-a em pequenos pedaços, tudo em troca de votos e de outros favores distantes da ética pública.

         Para esses antigos moradores e para toda a geração nascida e criada aqui, Brasília é a referência que possuem do Brasil. Entendem o país como sendo o que enxergam ao redor. São esses, os que não querem Brasília lançada nos descaminhos, que têm destruído a maioria de nossas capitais, cercadas de miséria e insegurança. São esses brasilienses que não desejam a cidade apinhada de prédios e com suas áreas verdes desfiguradas com a criação de bairros sem planejamento urbano, sem infraestrutura e, pior, sobrecarregando os serviços públicos da capital.

         Os brasilienses que adotaram a cidade com o lar para suas famílias não desejam que a capital continue no mesmo caminho tomado por muitas cidades brasileiras, que hoje amargam com o caos urbano e com a principal consequência desse fato que é a ruína na qualidade de vida de seus moradores.

          Infelizmente, são esses que têm sido contrariados, com a insistência, cheia de más intenções, com que a Câmara Distrital quer impor o controverso Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB). Trata-se aqui de um Plano cuja própria denominação esconde a verdade daquilo que está por detrás.

         A preservação, conforme um dia sonharam os idealizadores da cidade, é tudo o que o Plano não possui. Na verdade, desde a criação da Câmara Legislativa local, Brasília vem sendo submetida a um processo acelerado de desfiguração contínua.

          Os políticos locais querem uma cidade que abarque e satisfaça apenas seus horizontes políticos próprios, pouco ligando para questões como o planejamento urbano ou a infraestrutura. De fato, a cidade que a população tem em mente e na alma é outra completamente diferente. As mudanças trazidas por essa rodada do PPCUB irá, mais uma vez, deixar, na corda bamba, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, outorgado pela Unesco em 1987.

          Uma dessas mudanças ilógicas trata da criação de uma imensa área, situada no fim do Eixo Sul, para a instalação de um acampamento, com restaurantes de comércio. Trata-se aqui de mais uma ideia marota que esconde a possibilidade de criação futura de mais um denso bairro.

         Tudo sem planejamento e feito a toque de caixa para não levantar suspeitas. A ideia de alguns desses distritais é levar, para essa área, todas aquelas famílias que hoje estão em tendas espalhadas pela cidade. Ideias como essa e outras que viram dentro do PPCUB visam “preservar” a cidade tombada para que nela floresçam os projetos e ambições de políticos e empreiteiros, que enxergam a capital de um ângulo muito particular e vantajoso.

A frase que foi pronunciada:

“Sereis tanto mais influentes quanto mais fordes corretos e justos.”

Juscelino Kubitschek

Henrique Lott e Juscelino Kubitschek: parceria que garantiu a democracia | Foto: Reprodução

 

Invasão

Não é possível que humanos e animais domésticos fiquem à mercê das capivaras que agora migraram para o Lago Norte. Dezenas desses animais passeando livremente pelas ruas em busca de alimentos. A situação vai ficar insustentável em breve. Veja, a seguir, o vídeo divulgado nas redes sociais.

História de Brasília

Os funcionários do DCT, sem apartamentos, estão acampados em frente à repartição. É um movimento pacífico, mas deprimente para os chefes. Quem encara com seriedade que deve ter um serviço de comunicações, sabe que os funcionários encarregados devem ter o máximo de conforto. (Publicada em 10.04.1962)

Libertinagem arquitetônica

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W3 Sul. Foto: Arquivo Nacional

 

Infelizmente, o Governo do Distrito Federal não possui ainda uma secretaria, com status executivo pleno, para cuidar especificamente da área tombada de Brasília e dos protocolos que instituíram esses espaços como Patrimônio Cultural da Humanidade, conforme decidido pela Unesco em 1987.

De lá para cá, por mais que as autoridades neguem, foram diversas alterações no plano original, o que levou aquele órgão da ONU a alertar para os riscos de a capital vir a perder esse título. Lembrando aqui, que com seus 112,25Km², essa é a maior área tombada do mundo, o que confere aos seus governantes uma responsabilidade ainda maior e um compromisso, não só com a cidade e seus habitantes, com todo o mundo civilizado.

Ao contrário do que muitos políticos locais costumam dizer, o tombamento da capital, fato inédito e que deve nos orgulhar, não configura necessariamente um engessamento da cidade e a impossibilidade de mantê-la dentro das exigências urbanas de uma capital moderna e funcional. Há riscos constantes sendo perpetrados contra esse tombamento. A maioria, evidentemente, parte de políticos locais e de empresários em busca de lucros e vantagens diversas a todo custo.

Os seguidos Planos de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB) são sempre um motivo de preocupação para a população e para todos os que amam a cidade e a viram nascer. A falta de uma secretaria autônoma especializada em cuidar da tarefa do tombamento dessa imensa área, dotada de amplos poderes no que concerne as diretrizes da Unesco, é visível, bastando o leitor ou interessado circular pelas diversas localidades dentro do chamado Plano Piloto e cercanias.

Nas superquadras e em outros endereços espalhados pela cidade, multiplicam-se os quiosques de lata, onde são vendidos todo tipo de mercadorias. A invasão desses verdadeiros barracos de lata ocorre até nos pontos de parada de ônibus, desvirtuando e enfeiando a cidade, transformando-a numa desordenada grande feira a céu aberto.

As avenidas W3 Sul e Norte formam hoje um retrato desse abandono e da proliferação de invasões improvisadas e de puxadinhos que se prolongam, sem cerimônia, pelas áreas públicas. Os comércios locais, com raríssimas exceções, vão se expandindo pelo entorno, alterando o desenho original da cidade, dificultando a passagem de pedestres, além de alterar e depredar as áreas verdes, importantíssimas para o complemento paisagístico da cidade e para o conforto ambiental.

A poluição em suas variadas formas é outra consequência da falta de fiscalização e de um maior rigor nas posturas urbanas. Letreiros de lojas invadem todo e qualquer espaço, sem regras e de muito mau gosto. Somam-se a esses problemas a questão das pichações que estão por toda parte, mostrando ao brasiliense que a cidade é uma terra sem lei e sem xerife. Não é preciso lembrar que a decadência urbanística da capital é, também, uma porta escancarada para que criminosos ocupem as ruas. A questão é simples: onde não há organização urbana, lixo por toda a parte, falta de iluminação, de disciplina ou de posturas, os delinquentes entendem que aquela área está abandonada e, portanto, têm sinal verde para a desordem e para o cometimento de crimes.

Como se não bastassem esses cenários de franca decadência que vão contaminando a cidade, a mendicância parece ter tomado conta do Plano Piloto e das áreas verdes, onde passaram a viver livremente sem serem incomodados pelo poder público. Ao longo de todo o Eixão é visível a instalação de inúmeras barracas abrigando moradores em situação de rua. Tudo, nestes tempos nebulosos, parece permitido, inclusive tolher a liberdade de ir e vir dos brasilienses, de andar pelas ruas sem ser furtado ou abordado.

De certo que essa não era a cidade sonhada por seus idealizadores. Entregue à própria sorte, Brasília parece ir de encontro a um processo acelerado de decrepitude precoce, sem que nada nem ninguém impeça essa marcha fúnebre.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Espaço, luz e ordem. Essas são as coisas de que os homens precisam tanto quanto de pão ou de um lugar para dormir.”
Le Corbusier

Le Corbusier na Índia, em 1955 (Foto: Flickr / IISG / Creative Commons)

 

Sem freios
Constantemente, recebemos mensagens de amigos e familiares mostrando o telefone clonado para alertar a não enviar dinheiro. Até o ex-governador Rodrigo Rollemberg foi vítima desse tipo de quadrilha. Operadoras de celular e bancos têm recursos para evitar esse tipo de crime. Resta saber por que não o fazem.

Foto: agenciabrasilia.df.gov.br

 

Direito humano
Em mudança para os Estados Unidos, cidadã brasileira ficou impressionada. Antes de escolher a casa, uma amiga a orientou a pesquisar na página Family Watchdog. Lá, os pagadores de impostos têm, à disposição, um mapa da cidade com marcadores em todas as residências de pessoas que já foram presas ou acusadas de molestarem crianças. Mesmo que esses criminosos já tenham cumprido a pena, continuam marcados. A segurança da criançada vem em primeiro lugar.

 

História de Brasília

Os japoneses que foram expulsos da W-4 estão explorando o pessoal do Gavião. Para mostrar que é verdade, um quilo de tomate no supermercado custa 45 cruzeiros, e na Kombi do japonês custa 90 cruzeiros. Isto, sem falar do resto. (Publicada em 08.04.1962)

PPCUB e o futuro da capital em jogo

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Imagem: seduh.df.gov

         Se depender da coordenação realizada pela deputada Paula Belmonte (Cidadania), que agora preside a Comissão de Fiscalização, Governança, Transparência e Controle da Câmara Legislativa do Distrito Federal, os debates que tratam do importantíssimo Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB) estarão em boas mãos, podendo finalmente chegar a um bom termo.

         Para a parlamentar, o caminho para se chegar a um projeto à altura da importância que a capital de todos os brasileiros possui para o país e para o mundo, já que se trata também de um patrimônio cultural de toda a humanidade, é por meio de um debate amplamente transparente, capaz de informar corretamente os cidadãos sobre o que se está discutindo agora e que certamente terá grande significado para o futuro de Brasília e de seus moradores.

         Esta coluna, inaugurada com Brasília, em 1960, desde seu início vem se posicionando ao lado da cidade e de seus moradores. Não foram poucas as vezes que, em seus editoriais, a defesa firme da capital, conforme idealizada pelas equipes de Lúcio Costa e de Oscar Niemeyer desapontaram políticos e empresários, ávidos por facilidades e outros negócios contrários ao espírito da ética pública.

         Por isso mesmo, a partir do momento em que a capital ganhou representação política própria, as preocupações dessa coluna com os destinos que a capital tomaria doravante foram elevadas às alturas. Nessas ocasiões, não foram poucos os alertas e mesmo as denúncias sobre os desvirtuamentos sofridos no projeto original da cidade.

         A classe política local, aliada aos empresários da cidade, conseguiram levar adiante, contra tudo e contra todos, projetos mirabolantes que, em pouco tempo, levaram a capital a conhecer as mesmas mazelas que já afligiam outras metrópoles do país. Do dia para noite, assentamentos dos mais diversos, muitos edificados em áreas sensíveis ecologicamente, foram erguidos. Verdadeiras cidades foram construídas sem um criterioso plano de impacto, sem projetos racionais e sem levar em conta as múltiplas exigências urbanas. Em curtíssimo prazo, Brasília experimentou um profundo inchaço urbano, com reflexos negativos em todas as áreas. A saúde, a educação, a segurança pública, a infraestrutura viária e urbana foram sobrecarregadas, causando congestionamentos e colapsos em muitos serviços.

          O crescimento desordenado e a invasão de terras públicas passaram a ser uma constante. A transformação de terras públicas em moeda de troca política, na base de “um voto, um lote”, ganhou impulso, graças às ações irresponsáveis de políticos, que incentivavam essas práticas, sendo, muitos deles, responsáveis, diretamente, pela formação acelerada e desordenada de muitos bairros e assentamentos periféricos.

         A representação política da capital, do jeito afoito que foi construída e graças também à qualidade duvidosa de muitos representantes, serviu para desvirtuar o projeto original e sui generis da capital e cujos reflexos, ainda hoje, são sentidos. Por isso quando, mais uma vez, volta-se a discutir o PPCUB, é preciso que toda a população fique atenta sobre os rumos dessa discussão, principalmente quanto a aspectos e critérios de preservação que serão fixados nesse Plano.

         A deputada Paula Belmonte, que hoje é reconhecida como um exemplo de liderança política, terá pela frente um árduo trabalho, sobretudo quando os assuntos relativos ao desenvolvimento da cidade ficarem acima do plano de preservação.

         Todo o cuidado é pouco com a ação e o lobby poderoso de políticos e empreendedores gananciosos, que enxergam, na cidade, apenas uma oportunidade a mais de lucros e ganhos imediatos. O que está em jogo nessas discussões é o futuro da capital e de seus habitantes e a qualidade de vida de ambos. Por certo, será difícil conciliar elementos de preservação com desenvolvimento. O que já foi mencionado aqui, neste espaço, e que vale a pena ser repetido, é que a cidade poderia, num sentido racional, manter intactas as áreas livres e edificáveis que ainda restam, para que tenham sua destinação definitiva decidida, somente quando todos os outros problemas urbanos existentes foram resolvidos.

         É o caso da reurbanização e modernização de toda a avenida W3 Norte e Sul. Primeiro, parte-se para essa obra, depois para a construção de mais uma quadra, como desejam muitos apressados. O mais preocupante em toda essa questão é que o envolvimento da população ainda seja tímido.

A frase que foi pronunciada:

“Falo aqui com o cidadão brasiliense. O que nós queremos para o nosso futuro em questão de políticas públicas e de dinâmica da nossa cidade?”

Deputada distrital Paula Belmonte, na abertura do Primeiro debate sobre o PPCUB

Deputada Distrital Paula Belmonte. Foto: cl.df.gov

História de Brasília

Não sabemos se o professor Hermes Lima sabe disto, mas o govêrno havia liberado u8ma verba para o IAPB construir a superquadra 109. Como o dinheiro era pouco, e não dava, o IAPB abriu mão em favor do IAPFESP, contanto que fossem concluídos os blocos em Brasília.