Pandemia e a participação da família na educação

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Charge do Chaunu

 

Dissociado da família, qualquer modelo de aperfeiçoamento do ensino torna-se capenga e não se completa. O ciclo completo de todo o processo educativo deve ser composto por alunos, professores e pais ou responsáveis.
Esse tem sido o calcanhar de Aquiles de todo o nosso processo de ensino e que revela não apenas um descompromisso no envolvimento da escola com a comunidade, mas, principalmente, uma desconsideração da importância de se firmar um acordo sério entre as partes envolvidas nesse mecanismo. Um fato que comprova essa tese e que demonstra, na prática, essa falha é que é comum, em muitas escolas, que professores e orientadores desconheçam, por completo, quem são os pais e responsáveis da maioria de seus alunos. Não conhecem, e muitas vezes não sabem, sequer em que contexto social esse e aquele aluno vivem.
Sem essas informações e sem o conhecimento do meio em que vivem seus alunos, seu cotidiano, suas origens, o que os pais fazem, como é a rotina da família e outros dados preciosos, qualquer modelo tende a falhar. Ocorre que, em muitos casos, é a própria família que não deseja estreitar qualquer laço com a escola que seus filhos frequentam. Usando esses estabelecimentos de ensino apenas para cuidar de suas crianças, alimentá-las e dar-lhes alguma segurança enquanto se ocupam em outras tarefas.
Há casos em que o pai ou mãe está cumprindo pena judicial em algum presídio e a escola não toma conhecimento. Ou de pais e responsáveis alcoólatras ou viciados em drogas. Ou ainda lares em que essas crianças foram abusadas ou vivem sob condições de violência diária.
Para complicar uma situação corriqueira que em si já é dramática, há os recorrentes casos de violência envolvendo alunos e professores ou dos próprios pais com os professores. Com a pandemia, principalmente as crianças menores, vêm os laços entre professores e pais mais estreitados. Para os adolescentes, a ânsia por brigas, disputas de gangues, venda de drogas, aliciamento de novos viciados, tudo parou. Casos de violência eram corriqueiros em muitas escolas da rede pública do Distrito Federal, inclusive com pais que ameaçavam e agrediam os professores, além de alunos que arremessavam carteiras, danificavam o automóvel dos mestres ou mesmo os agrediam.
Esse fenômeno foi afastado durante a pandemia. Alunos que nunca participavam das aulas, certamente, não vão usar celular ou computador para se atualizarem nas disciplinas. O lado mais crítico também continua com os docentes. Sem um apoio para transmitir aulas, sem técnica, sem conhecimento, foram pegos de surpresa e, com muita improvisação, têm conseguido levar adiante o conteúdo.
O Brasil onde os professores e a própria escola tinham medo de seus alunos, e muitos sequer ousavam questionar a realidade deles, está em pausa. Aquelas escolas transformadas em centros de reabilitação de menores, que se limitavam a cumprir o que manda o conteúdo programático e a carga horária, agora se mantém o mais distante possível de qualquer envolvimento físico e presencial. Não há mais sucessivos chamados às delegacias e a justiça, que muitas vezes não davam o pronto atendimento e atenção a esses casos de violência, deixando os professores à própria sorte.
Desse modo, envoltas em problemas estranhos ao processo de educação e que, em muitos casos, são de ordem social, ou mesmo de polícia, muitas escolas e professores vêm os alunos problemáticos tomando outro rumo, longe das aulas on-line, completamente inúteis para quem ia à escola apenas pela algazarra.
Cabe um estudo aprofundado do que as escolas estão fazendo para preparar a volta de todos os alunos. Que regras serão impostas, que comportamento será admitido, que projetos criativos envolverão jovens adolescentes no estudo. Como a devida responsabilização, perante o Estado, de pais e responsáveis de alunos é ainda uma possibilidade distante, e esse é o perigo, já que o processo adequado de ensino vai sendo empurrado para um futuro incerto e sem solução à vista.
Nossas escolas, sobretudo as públicas, ficaram paradas no tempo, preparando os alunos para um mundo que já não é o mesmo e que requer outro tipo de profissional, com outras habilidades. Ainda por cima, tem que lidar com problemas que antes eram resolvidos dentro das famílias, no âmbito das relações entre pais e filhos. Sabe-se que as escolas são o espelho da sociedade em que estão inseridas.
No nosso caso, as escolas públicas, principalmente aquelas localizadas nas regiões mais carentes, estão imersas numa sociedade na qual a violência é um fato corrente no dia a dia dos alunos. Não há como pensar em ensino de qualidade, capaz de colocar o país nos primeiros lugares em rankings internacionais de avaliação do ensino, enquanto não forem solucionados problemas básicos no âmbito de nossa sociedade, como é o caso da violência endêmica, suas causas e suas múltiplas consequências. No dilema atual que propõe resolver os problemas sociais de nosso país, por meio da educação, é colocado outro que aponta que somente vamos resolver as questões da melhoria de nossa educação pública  quando pudermos educar também as famílias e a sociedade conjuntamente. A pandemia tem dado tempo para repensar esse sistema.
A frase que foi pronunciada:
“Deixe o mundo um pouco melhor do que encontrou.”
Robert Baden-Powell, fundador do escotismo
Robert Baden-Powell. Foto: wikipedia.org
História de Brasília
Outro assunto do Ministério da Fazenda diz respeito ao Serviço de Comunicações. Seu chefe até hoje não veio a Brasília, e já declarou ao diretor-geral que não virá nunca. Não se sabe sequer onde está instalado o seu serviço no Distrito Federal. isto tem atrasado o serviço, que está fortemente prejudicado. (Publicado em 23/01/1962)