Infância e desenvolvimento

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: radardaprimeirainfancia.org.br

Governos contemporâneos, reconhecendo a correlação inequívoca entre proteção infantil e prosperidade societal, alocam recursos crescentes para políticas públicas integradas, com o Brasil destinando aproximadamente 1,8% do PIB a programas de educação infantil em 2024, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Educação, embora ainda distante dos 6% recomendados pela UNESCO para garantir acesso universal a creches e pré-escolas de qualidade, meta que, se alcançada, poderia reduzir em 15% as desigualdades de aprendizado até o ensino fundamental, conforme projeções do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em seu Human Development Report de 2023.

Nesse ambiente metropolitano cada vez mais desconectado dos ritmos naturais e das interações espontâneas com o meio ambiente, o relatório da UNICEF Urban Child de 2023 revela que 68% das crianças em megacidades passam menos de uma hora diária em atividades ao ar livre, comparado a 85% nas áreas rurais, contribuindo para uma prevalência de obesidade infantil que atingiu 38 milhões de casos globais em 2022, segundo à OMS, enquanto o confinamento em espaços virtuais restringe o brincar lúdico a telas, com crianças de países de renda média dedicando, em média, 3,2 horas diárias a dispositivos eletrônicos até os sete anos de idade, conforme o estudo Global Kids Online da London School of Economics de 2024.

Para segmentos socioeconomicamente vulneráveis, a abreviação da infância assume contornos ainda mais dramáticos, com 72 milhões de crianças envolvidas em trabalho perigoso em 2021, de acordo com a OIT, incluindo 29 milhões em atividades que comprometem diretamente o desenvolvimento físico e mental, situação observável em centros urbanos brasileiros onde, segundo o IBGE PNAD Contínua de 2023, aproximadamente 1,7 milhão de menores entre cinco e dezessete anos exercem alguma forma de ocupação remunerada, muitas vezes em condições que violam convenções internacionais e perpetuam ciclos intergeracionais de pobreza, com uma probabilidade 45% maior de abandono escolar precoce.

A neuroplasticidade cerebral característica dos primeiros anos, período em que o cérebro pode formar até um milhão de novas sinapses por segundo, como destacado pela UNICEF em seu Early Moments Matter de 2023, torna imperativa a oferta de estímulos multissensoriais e relacionais de qualidade, pois privações nesse estágio reduzem em até 20% o volume do hipocampo em adultos, estrutura associada à memória e regulação emocional, conforme meta-análises publicadas na revista Nature Neuroscience em 2024, evidenciando que intervenções como programas de visitação domiciliar para famílias de baixa renda podem elevar o QI médio em sete pontos e diminuir em 30% os comportamentos antisociais na adolescência.

Pesquisadores que investigam as raízes da criminalidade e da violência social, compilando dados de cortes longitudinais em mais de 50 países pelo Instituto de Criminologia da Universidade de Cambridge em seu World Crime Trends de 2024, demonstram que indivíduos submetidos a infâncias marcadas por negligência ou abuso apresentam taxas de encarceramento 2,5 vezes superiores à média populacional, enquanto investimentos em educação infantil universal reduzem em 12% os índices de criminalidade juvenil a longo prazo, conforme avaliações de impacto do programa Head Start nos Estados Unidos, que acompanha beneficiários desde 1965.

A felicidade humana, perseguida com intensidade ao longo da existência adulta, encontra suas fundações mais sólidas nas memórias afetivas da infância, com o Gallup World Poll de 2025 indicando que 72% dos adultos que relatam altos níveis de bem-estar subjetivo associam essa condição a experiências de brincadeira livre e segurança emocional nos primeiros dez anos de vida, contraste que se aprofunda em sociedades onde o tempo infantil é comoditizado, com crianças de classes médias urbanas dedicando até 15 horas semanais a atividades estruturadas segundo o American Journal of Play em 2024, reduzindo o espaço para a imaginação espontânea que neurocientistas da Universidade de Yale identificam como precursora da criatividade inovadora em 65% dos casos estudados.

Outrora valorizado como a mais preciosa riqueza, o tempo descompromissado da infância, que se estendia em dias aparentemente infinitos e noites repletas de possibilidades, é agora quantificado pelo Relatório Tempo e Sociedade, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de 2023, como o recurso mais escasso nas famílias urbanas brasileiras, onde pais empregados passam em média apenas 34 minutos diários em interações de qualidade com filhos menores de seis anos, contribuindo para uma geração que, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE de 2024, apresenta taxas de ansiedade 40% superiores às registradas na década de 1990 entre adolescentes de 12 a 17 anos.

A redescoberta desse tesouro perdido, abandonado nas veredas floridas que conduziam à maturidade acelerada, emerge como imperativo civilizatório à medida que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em seu relatório especial, Childhood in the Anthropocene de 2025, projeta que, sem reversão das tendências atuais de compressão temporal infantil, até 2030, cerca de 250 milhões de crianças sofrerão déficits de desenvolvimento cognitivo devido ao estresse crônico e à falta de brincadeira livre, demandando uma reconfiguração societal que priorize o tempo não estruturado como direito fundamental e motor de progresso humano sustentável.

 

A frase que foi pronunciada:

“Criar é tão difícil ou tão fácil como viver. E é do mesmo modo necessário.”

Fayga Ostrower

Foto: Acervo Instituto Fayga Ostrower/Divulgção

 

História de Brasília

O regime parlamentarista trouxe, também, alteração no sistema escolar. No Colégio D. Bosco, de Brasília, os alunos estão organizados de maneira parlamentarista, e o Primeiro Ano B, já elegeu o seu presidente e o Conselho. ( Publicada em 11.05.1962)

Pandemia e a participação da família na educação

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Charge do Chaunu

 

Dissociado da família, qualquer modelo de aperfeiçoamento do ensino torna-se capenga e não se completa. O ciclo completo de todo o processo educativo deve ser composto por alunos, professores e pais ou responsáveis.
Esse tem sido o calcanhar de Aquiles de todo o nosso processo de ensino e que revela não apenas um descompromisso no envolvimento da escola com a comunidade, mas, principalmente, uma desconsideração da importância de se firmar um acordo sério entre as partes envolvidas nesse mecanismo. Um fato que comprova essa tese e que demonstra, na prática, essa falha é que é comum, em muitas escolas, que professores e orientadores desconheçam, por completo, quem são os pais e responsáveis da maioria de seus alunos. Não conhecem, e muitas vezes não sabem, sequer em que contexto social esse e aquele aluno vivem.
Sem essas informações e sem o conhecimento do meio em que vivem seus alunos, seu cotidiano, suas origens, o que os pais fazem, como é a rotina da família e outros dados preciosos, qualquer modelo tende a falhar. Ocorre que, em muitos casos, é a própria família que não deseja estreitar qualquer laço com a escola que seus filhos frequentam. Usando esses estabelecimentos de ensino apenas para cuidar de suas crianças, alimentá-las e dar-lhes alguma segurança enquanto se ocupam em outras tarefas.
Há casos em que o pai ou mãe está cumprindo pena judicial em algum presídio e a escola não toma conhecimento. Ou de pais e responsáveis alcoólatras ou viciados em drogas. Ou ainda lares em que essas crianças foram abusadas ou vivem sob condições de violência diária.
Para complicar uma situação corriqueira que em si já é dramática, há os recorrentes casos de violência envolvendo alunos e professores ou dos próprios pais com os professores. Com a pandemia, principalmente as crianças menores, vêm os laços entre professores e pais mais estreitados. Para os adolescentes, a ânsia por brigas, disputas de gangues, venda de drogas, aliciamento de novos viciados, tudo parou. Casos de violência eram corriqueiros em muitas escolas da rede pública do Distrito Federal, inclusive com pais que ameaçavam e agrediam os professores, além de alunos que arremessavam carteiras, danificavam o automóvel dos mestres ou mesmo os agrediam.
Esse fenômeno foi afastado durante a pandemia. Alunos que nunca participavam das aulas, certamente, não vão usar celular ou computador para se atualizarem nas disciplinas. O lado mais crítico também continua com os docentes. Sem um apoio para transmitir aulas, sem técnica, sem conhecimento, foram pegos de surpresa e, com muita improvisação, têm conseguido levar adiante o conteúdo.
O Brasil onde os professores e a própria escola tinham medo de seus alunos, e muitos sequer ousavam questionar a realidade deles, está em pausa. Aquelas escolas transformadas em centros de reabilitação de menores, que se limitavam a cumprir o que manda o conteúdo programático e a carga horária, agora se mantém o mais distante possível de qualquer envolvimento físico e presencial. Não há mais sucessivos chamados às delegacias e a justiça, que muitas vezes não davam o pronto atendimento e atenção a esses casos de violência, deixando os professores à própria sorte.
Desse modo, envoltas em problemas estranhos ao processo de educação e que, em muitos casos, são de ordem social, ou mesmo de polícia, muitas escolas e professores vêm os alunos problemáticos tomando outro rumo, longe das aulas on-line, completamente inúteis para quem ia à escola apenas pela algazarra.
Cabe um estudo aprofundado do que as escolas estão fazendo para preparar a volta de todos os alunos. Que regras serão impostas, que comportamento será admitido, que projetos criativos envolverão jovens adolescentes no estudo. Como a devida responsabilização, perante o Estado, de pais e responsáveis de alunos é ainda uma possibilidade distante, e esse é o perigo, já que o processo adequado de ensino vai sendo empurrado para um futuro incerto e sem solução à vista.
Nossas escolas, sobretudo as públicas, ficaram paradas no tempo, preparando os alunos para um mundo que já não é o mesmo e que requer outro tipo de profissional, com outras habilidades. Ainda por cima, tem que lidar com problemas que antes eram resolvidos dentro das famílias, no âmbito das relações entre pais e filhos. Sabe-se que as escolas são o espelho da sociedade em que estão inseridas.
No nosso caso, as escolas públicas, principalmente aquelas localizadas nas regiões mais carentes, estão imersas numa sociedade na qual a violência é um fato corrente no dia a dia dos alunos. Não há como pensar em ensino de qualidade, capaz de colocar o país nos primeiros lugares em rankings internacionais de avaliação do ensino, enquanto não forem solucionados problemas básicos no âmbito de nossa sociedade, como é o caso da violência endêmica, suas causas e suas múltiplas consequências. No dilema atual que propõe resolver os problemas sociais de nosso país, por meio da educação, é colocado outro que aponta que somente vamos resolver as questões da melhoria de nossa educação pública  quando pudermos educar também as famílias e a sociedade conjuntamente. A pandemia tem dado tempo para repensar esse sistema.
A frase que foi pronunciada:
“Deixe o mundo um pouco melhor do que encontrou.”
Robert Baden-Powell, fundador do escotismo
Robert Baden-Powell. Foto: wikipedia.org
História de Brasília
Outro assunto do Ministério da Fazenda diz respeito ao Serviço de Comunicações. Seu chefe até hoje não veio a Brasília, e já declarou ao diretor-geral que não virá nunca. Não se sabe sequer onde está instalado o seu serviço no Distrito Federal. isto tem atrasado o serviço, que está fortemente prejudicado. (Publicado em 23/01/1962)