Clima pesado

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Reprodução

 

Há muito, a ciência deixou de ser um oráculo distante para se tornar um alerta constante. O aquecimento global, que antes parecia uma previsão para tempos distantes, instalou-se em nosso cotidiano com a violência dos desastres e a urgência de um ultimato. A temperatura da Terra sobe, os termômetros quebram recordes, os ciclos naturais se desorganizam, e a humanidade, com seus oito bilhões de habitantes, parece andar com um carámbano sobre a cabeça.

Não estamos diante de um problema técnico. A emergência climática escancara a falência de um modelo de desenvolvimento que insiste em confundir crescimento com destruição, progresso com esgotamento. Enquanto o planeta clama por responsabilidade, parte considerável da liderança mundial se entretém com a repetição cínica de velhos vícios: guerras inúteis, agricultura predatória, mineração selvagem, tudo embalado pelo discurso do lucro e pela indiferença de quem vê, na natureza, apenas recurso a explorar.

Ainda soa inacreditável que, em pleno colapso climático, haja países devotados ao desmatamento sistemático, à erosão da biodiversidade, à extração de combustíveis fósseis em áreas sensíveis, tudo isso sob a falsa justificativa da soberania econômica. O negacionismo climático já não se expressa apenas por palavras, mas por atos deliberadamente destrutivos, disfarçados de política de Estado.

No Brasil, o retrato é trágico. Incêndios em série, enchentes históricas, calor recorde, frio acentuado e uma sucessão de tragédias que deveriam bastar para mobilizar uma política pública à altura da crise. Mas não. As reações oficiais ainda se limitam a movimentos tímidos, muitas vezes cosméticos, como a criação de entidades burocráticas de nome sonoro e função incerta. A “Autoridade Climática”, por exemplo, surge como resposta tardia e genérica a um problema que se agrava em tempo real.

Fala-se em emergência climática em uma linha do telefone enquanto na outra linha emite-se a autorização a prospecção de petróleo na Foz do Amazonas e o asfaltamento da BR-319, em plena Amazônia. Ambos os projetos enfrentam oposição técnica, científica e ambiental, mas avançam como se o debate estivesse encerrado. O apetite desenvolvimentista, travestido de modernização, parece ignorar que há limites ecológicos intransponíveis.

Pior: o Brasil ocupa hoje o posto de maior importador mundial de agrotóxicos proibidos em seus países de origem. O “pacote do veneno”, aprovado no Congresso, é o maior sintoma de que o interesse de grandes conglomerados agrícolas se sobrepõe ao direito à vida, ao solo fértil e à água limpa. A agricultura, que poderia alimentar uma nação, e o mundo tornou-se vetor de contaminação ambiental em larga escala.

Exportações de alimentos brasileiros continuam a ser observadas na Europa, não por questões comerciais, mas por exigências mínimas de segurança ambiental. São boicotes que falam mais alto do que os discursos vazios de quem, em território nacional, insiste em tratar a pauta ambiental como um entrave ideológico ou um luxo de países ricos. No fundo, sabe-se que não é nem um, nem outro: é apenas uma questão de sobrevivência.

Velha conhecida da história brasileira, a mineração continua a abrir crateras nas entranhas do território, entregando riquezas a empresas estrangeiras que, como sempre, abandonam, atrás de si, um rastro de destruição e passivos ambientais impagáveis. Desde o ciclo do ouro, a lógica colonial do extrativismo não mudou, apenas ganhou tratores novos, propaganda moderna e a conivência de um sistema político ainda voltado para ganhos imediatos.

Monocultura, grilagem de terras públicas, o avanço sobre áreas de preservação, tudo isso integra um modo de produção que sacrifica o amanhã em nome do agora. E, ao contrário da economia, a pauta ambiental não elege ninguém. Por isso, segue invisível nas campanhas, nos debates e nas prioridades orçamentárias.

Enquanto isso, os sinais se multiplicam. Rios secam, cidades colapsam, zonas costeiras desaparecem. Mas a resposta política continua descolada da realidade climática. Entre relatórios técnicos e notas de repúdio, seguimos entorpecidos, como passageiros de um navio em rota de colisão.

Mais do que promessas é o que a emergência climática exige. Exige ruptura. Exige coragem para contrariar lobbies poderosos, para reverter subsídios danosos, para taxar o carbono, para proteger biomas inteiros proteger o que é precioso no solo. Exige, sobretudo, que a política deixe de ser cúmplice da catástrofe.

Ontem Lula e Marina estiveram em reunião para decidir sobre os vetos ao PL do licenciamento ambiental. Vamos acompanhar os resultados.

Enfrentar a crise climática é uma emergência. Não há mais tempo. Ou nos levantamos como civilização para encarar a realidade com a gravidade que ela impõe, ou aceitaremos, sem resistência, um futuro que será breve, tóxico e irreversível.

 

A frase que foi pronunciada:

“As leis da Natureza não mudam em função das nossas necessidades”

Marina Silva

Foto: Rogério Cassimiro/ Divulgação

 

História de Brasília

É a medida mais acertada, para solução de uma vez. 48 casas do BNDE não  resolvem situação dos professôres, e o plano de construir 300 casas, sendo 150 êste ano, e 150 no próximo, dá caráter mais sério à solução, que é indicada pelo sr. Sette Câmara. (Publicada em 08.05.1962)

Cobrança de royalties sobre sementes compromete soberania de nossa agricultura

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ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

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Charge: Bessinha (marcelodamico.com)

         Karl Kraus, considerado um dos maiores escritores satíricos da língua alemã no século XX, costumava dizer que o progresso técnico deixaria apenas um problema: a fragilidade da natureza humana. É dele também outra frase que traduz a natureza ambígua do desenvolvimento humano: o progresso é o avanço inevitável da poeira.

         No caso específico dos progressos técnicos obtidos por nossa agricultura e a consequente transformação do país num dos maiores produtores agrícolas do planeta, o que se pode aferir dessa revolução, até o momento, é que esses avanços, ao mesmo tempo em que têm gerado grandes fortunas para os proprietários desses latifúndios de monocultura, têm produzido, como subproduto direto, a destruição da cobertura natural de milhões de hectares, o assoreamento de rios, a contaminação e o esgotamento do solo, além, é claro, do envenenamento progressivo dos consumidores.

         O preço a ser pago pela geração instantânea de grandes capitais é infinitamente maior do que quaisquer lucros imediatos, sendo que os juros dessa dívida imensa serão cobrados, de forma cruel, de gerações futuras.

       Depois da aprovação do pacote do veneno e da proibição da venda de produtos orgânicos em supermercado, como forma de restringir e encarecer esse tipo de produto, tornando a concorrência com os produtos oriundos do agronegócio impossível, as investidas desse poderoso setor, apoiado pela bancada ruralista, prosseguem de forma sistemática.

Charge: asabrasil.org.br
Charge: asabrasil.org.br

        Trata-se de parte de uma grande estratégia que vem sendo meticulosamente montada pelas grandes corporações transnacionais que operam no setor e que enxergam, em nosso país, possibilidades de lucros extremamente maiores do que os obtidos pelos grandes produtores nacionais.

      Nessa nova investida, o alvo seria, segundo quem acompanha o assunto de perto, a Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), por meio do Projeto de Lei 5.243/2016, criando a EmbrapaTec, que abriria à iniciativa desses grandes aglomerados o patrimônio genético desenvolvido por essa empresa ao longo de mais de quatro décadas de pesquisa.

       Ao mesmo tempo em que se assiste a essa tomada de controle de nossa agricultura por poderosas empresas multinacionais em conluio com a bancada do agronegócio, outros projetos, feitos sob medida para esse intento, vão sendo costurados um a um, visando transformar radicalmente a agricultura brasileira numa espécie de colônia baseada no sistema de plantation.

       Merece destaque aqui também o, que obriga o pagamento de royalties aos proprietários intelectuais das sementes denominadas cultivares, passando para as grandes empresas o controle sobre o uso de sementes, plantas e mudas modificadas, obrigando o agricultor tradicional a utilizar também os agrotóxicos produzidos por esses grandes conglomerados. Para os especialistas ouvidos sobre o assunto, a proposta representa uma ameaça não só a segurança alimentar, mas a segurança e soberania nacional do país, ampliando o controle e o domínio delas na própria política da agricultura brasileira.

        Depois de episódios como o mensalão, que comprovou a venda de apoio para as propostas de governo, chega a vez da venda também dos direitos que os brasileiros possuem sobre o pão de cada dia.

A frase que foi pronunciada:

“Nós não herdamos a Terra de nossos antecessores, nós a pegamos emprestada de nossas crianças.”

Provérbio Índio Americano

Charge: geolibertaria2.blogspot.com
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Dívida

Quem nos envia o convite é Maria Lucia Fattorelli. Está pronta a programação do 1º Encontro Mineiro sobre Dívida Ecológica. Será no dia 19 desse mês, das 8h às 17h, no auditório da AFFEMG, na Savassi, em Belo Horizonte. Mais informações no blog do Ari Cunha.
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Assistam

É possível pedir na TV Câmara o debate sobre o Pacote do Veneno, com Rogério Dias, ex-coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura.

UnB

Depois de tanta discussão, foi decidido pelo Conselho de Administração da UnB: a política de subsídios ao Restaurante Universitário manterá a gratuidade, em todas as refeições, para estudantes com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio.

Foto: facebook.com/dce.unb
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Atenção

Só até amanhã as inscrições para o Programa Brasília + Jovem Candango poderão ser feitas. São 750 vagas. Quem tiver de 14 a 18 anos poderá cursar o ensino fundamental ou médio na rede pública ou ainda receber bolsa de estudos para a rede particular de ensino.

Foto: jovemcandango.org.br
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CNB

O primeiro shopping da cidade, que fica perto da Rodoviária, tem um sistema sensacional para os motoristas que preferirem proteger o carro. Há um dispositivo mostrando o número de vagas desocupadas, uma luz verde apontando para a vaga disponível, além de uma marca no chão estabelecendo o local onde apenas pedestres podem transitar. Em relação aos outros shoppings, o preço é bem mais em conta.

Foto: conjuntonacional.com.br
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HISTÓRIA DE BRASÍLIA

A oficina da Disbrave está situada no Setor Comercial Residencial, de maneira imprópria. O serviço de lanternagem é feito no meio da rua, e, em muitos casos, o trânsito na W2 fica interrompido. (Publicado em 25.10.1961)

Alimentar o país com saúde é o que deveria importar

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ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

com Circe Cunha e Mamfil

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Charge: Duke (domtotal.com)
Charge: Duke (domtotal.com)

            Segundo a Lei nº 10.831, sancionada em 2003, “sistema orgânico de produção agropecuária é todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente.”

         O mercado de produtos orgânicos no Brasil vem chamando a atenção dos consumidores, à medida em que aumenta na população, o temor de que a agricultura comercial, empreendida nos moldes do agronegócio, é produzida em larguíssima escala com objetivos estritamente econômicos e, pior, sem levar em consideração aspectos como o uso intensivo de agrotóxicos, sementes modificadas e expostas à radiações ionizantes, destruição do meio ambiente com envenenamento progressivo não só daqueles que trabalham diretamente no plantio, mas dos consumidores e de todo o bioma ao redor.

      A aprovação do chamado pacote do veneno, feita agora por pressão da bancada ruralista e dos setores agroindustriais na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, reforça a convicção geral de que o caminho a ser seguido pelos consumidores vai em direção totalmente oposta ao agronegócio.

         O incremento das informações sobre essa questão tem feito com que a população vá se afastando, cada vez mais, de consumir produtos que sabidamente potencializam diversas formas de câncer, mutações genéticas, desregulações endócrinas e malformações fetais entre outros males.

          Não é por outra razão que, por todo o país, tem se verificado um crescimento significativo da agricultura que valoriza a saúde das pessoas e do meio ambiente. Uma agricultura que possua, além de preocupações com a saúde das pessoas, valorize também a responsabilidade social. Para um número crescente de brasileiros é preciso rechaçar as ideias baseadas apenas no lucro a qualquer custo.

       O que se anuncia e muitos já percebem é que, cada vez mais, consumidores e produtores estão tomando consciência e se preocupando com a política de terra arrasada feita pelo agronegócio. Para muita gente é chegado o momento de se preocupar sobretudo com as próximas gerações.

          O crescimento, da ordem de 30% esse ano do mercado de produtos orgânicos tem desagradado os ruralistas que temem perder espaço não só no mercado interno, mas também em muitas partes do mundo, onde os aspectos da compliance e das boas práticas na agroindústria vêm ganhando terreno.

          De olho nessa possibilidade, a mesma Comissão de Agricultura, que dias atrás aprovou o pacote do veneno, acaba de sancionar também a Lei 4576/2016, que veta a comercialização de produtos orgânicos nos supermercados, varejões e sacolões. Pela nova Lei, só os pequenos produtores da agricultura familiar, vinculados a organizações de controle social cadastradas nos órgãos fiscalizadores do governo poderão comercializar os orgânicos. Trata-se aqui de uma proposta, no mínimo, polêmica, mas que parece esconder, nas entrelinhas, uma tentativa de sabotar o setor de orgânicos que já começa a fazer sua pequena sombra sobre o gigante do agronegócio.

A frase que foi pronunciada:

“Em se plantando tudo dá! Plante!”

Dona Dita feliz da vida com sua horta suspensa.

Foto: vivadecora.com.br
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Independência

Com dois dias de antecedência, a embaixada americana comemorou o 4 de julho. A Copa do Mundo se misturou ao evento e a embaixada recebeu mais de 1.300 convidados. O embaixador, Michael Mc Kinley, e sua esposa, Fátima, brindaram a data agradecendo aos brasileiros e elogiando a comida local, “Adoramos pão de queijo, queijo mineiro, e várias comidas brasileiras, gostamos muito do Brasil.”

Foto: brasiliainfoco.com
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Positivo

Merece elogios o estacionamento coberto do Conjunto Nacional. É moderno, flui bem, tem espaço reservado para os pedestres e o valor não extrapola o razoável.

Foto: conjuntonacional.com.br
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Release

Maurício Lopes, presidente da Embrapa, busca subsidiar discursos e o próprio conhecimento dos candidatos a cargos no legislativo e executivo nas eleições desse ano. Intitulado “A Pesquisa Agropecuária e o Futuro do Brasil – Propostas para o Sistema Brasileiro de Ciência, Tecnologia e Inovação”, o documento cita megatendências e desafios prospectados pela Embrapa com potencial de impactar as atividades agrícolas do Brasil nos próximos anos. Renato Rodrigues, Secretário da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa, explica que a principal fonte de informações foi o estudo “Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira” (www.embrapa.br/futuro), lançada em abril deste ano, e que sugere ações necessárias para serem tomadas pelo Governo e pela iniciativa privada para melhor enfrentar esses desafios.

Vergonha

Não é de agora que a máfia dos concursos reina em Brasília. Basta ver os sobrenomes que apareceram há décadas em outras apurações. Não bastou mudar o nome da empresa. Subestimaram a inteligência da polícia.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Na verdade, os ministros preferem o Rio, não porque estejam lá as repartições importantes de seu ministério. É que em Brasília ele se torna um funcionário comum, enquanto no Rio, pela tradição, é endeusado. (Publicado em 25.10.1961)