Arte e verdade no mundo falso da política

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Reprodução/Multishow 11.09.2022

 

Quem quer viver às custas da aprovação popular incorre num antigo erro de estratégia, quando torna pública sua preferência por um lado do espectro político, desprezando e descartando, assim, parte dos seus seguidores e fãs, que não se enquadram em suas posições. Fica a meio caminho. Pior ainda quando essas preferências políticas são exacerbadas e radicais. Aí mesmo que o racha em seus seguidores se acentua. Parte daqueles que se achavam fãs viram opositores e passam a desprezar tanto a obra como o autor. É da condição humana.

Há aqueles que nunca se deixam confundir, separando o que é a obra e o que é seu autor. Fossem conhecidas todas as facetas humanas de cada um dos ídolos que desfilam na vida artística, pelo menos metade deles seria banida da preferência popular. É nessa condição, e até por um instinto de marketing e de preservação da fidelidade de seus seguidores, que muitos artistas declinam da condição de se fazerem propagandistas e defensores de políticos, sejam eles quem forem.

Quem quer viver às custas da aceitação popular e com isso angariar clientes fiéis, dentro do espírito capitalista, deve antes de tudo escolher o caminho do meio, aceitando tanto quem é contra como quem é a favor. Acostumados a viver da bajulação do público, muitos artistas acabam adentrando para o mundo do faz de conta e da ilusão passageira da fama. Os que optam por caminhos radicais, conhecem o ostracismo mais cedo.

Vivessem todos de acordo apenas com suas preferências, fazendo, dessas opções, um dogma, não haveria harmonia humana, e sim um eterno embate e divisões insanas. Deixar-se contaminar por critérios momentâneos e ocasionais é a receita certa para o fracasso. Ainda mais quando esses critérios dizem respeito apenas a escolhas pessoais e subjetivas, algumas delas, como é o caso das eleições, reguladas por lei, obrigando o sigilo absoluto do voto.

Houve um tempo em que, nas redações de jornais, a regra era simples: Jogador de futebol, joga bola. Cantor, canta. Artista plástico pinta ou borda. Nenhum deles fala ou transmite opiniões, sobretudo de cunho político. Mesmo assim, era comum ouvir absurdos vindos desses personagens. Insistir para que artistas, que conhecem e exercem muito bem seus ofícios, falem sobre suas preferências políticas e sobre sua visão do país é, por outros meios, fazer com que parte de seu público o abandone no meio do caminho.

Quer afundar um cantor ou compositor, peça que ele externe sua visão e posição política. O fã ou fanático, que a tudo endeusa, não quer enxergar o lado humano de seus ídolos e muito menos suas fraquezas. Ao conhecer seu artista de perto, sem as lentes filtradas da propaganda, muitos fãs se decepcionam com o que passam a conhecer.

Calados e focados em suas obras, todos os produtores de arte e entretenimento se aproximam de Deus e assim são vistos pelo pessoal que o aplaude. Forçar os artistas para que desçam à terra e se posicionem sobre o momento é uma forma de transformá-los em ídolos de barro fino, que serão facilmente despedaçados.

Quem quer fazer proselitismo do tipo político que o faça pelo conteúdo e expressões de sua arte e nunca por declarações do tipo “palanqueira”, enredado pelo ilusório discurso político, que muda como se muda de roupa.

Antigamente, o sentido de beleza se confundia com a verdade e a verdade era o que os artistas perseguiam. Nessa condição, os artistas passam a representar as primeiras vítimas da política. Arte e verdade, mesmo cada uma pertencendo aos distintos mundos da estética e da ética, são, portanto, antagônicas dos conceitos da política e da mentira.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é – ou deveria ser – a mais elevada forma de arte.”

Charles Chaplin

Jackie Coogan e Charles Chaplin em ‘O Garoto’. Em vídeo, trailer da versão restaurada.

 

Morte natural

Na Alemanha, a NTV deu a matéria da morte do índio Tanaru ou “Índio do buraco” quase da mesma forma que a imprensa brasileira. Não fosse o último parágrafo com a fala de Fiona Watson, da Survival Internacional, que afirma ser aquela região considerada o Oeste Selvagem do Brasil, onde as disputas por terras são resolvidas com armas. “Simbolizou tanto a terrível violência e crueldade feita aos povos tribais em nome da colonização e ganho econômico, quanto sua resistência.”

 

Celebração

Coordenadas pela ex-chefe do cerimonial do Senado, Mônica Freitas, que ciceroneou o príncipe Charles quando conheceu o parlamento brasileiro, 8 amigas vão fazer uma homenagem póstuma à rainha Elizabeth com um chá das 17h no dia da Coroação. A turma se reunirá um pouco mais cedo (16h), para ver as fotos do príncipe em Brasília.

Rainha Elizabeth II em seu casamento. Foto: Topical Press Agency/Getty Images

 

História de Brasília

Quando uma criança deseja ir ao sanitário, vai em casa, porque a escola não dispões de instalações, nem água corrente. Vivem como pacaás velhos, em plena Capital da República. (Publicada em 10.03.1962)

 

 

 

Janela estreita

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Charge do Versa

 

          Chegará o dia em que não me verás mais, por tua janela estreita, subindo a rua, cansada ao fim do dia. Nesse dia terei partido, quem sabe, fortemente escoltada até o navio que me levará ao exílio derradeiro. Ou num caixão sem identificação, sepultada como indigente em cova rasa e sem endereço. Por um tempo minha ausência será sentida. Mesmo o requadro da janela estreita estará vazio, numa espera eterna do vulto que todo o fim de tarde compunha, com as cores do sol poente, esse alguém que subia a rua a passos lentos.

         Durante alguns meses ou anos, os poucos e fiéis amigos ficarão a discutir sobre meu sumiço sem aviso prévio. Teria partido para além mar, como refugiada afoita? Quem sabe enfiaram num saco, desses de fio de juta, como mercadoria ordinária, sendo depois despachada para longe ou lugar incerto. Dias atrás, especula um amigo, agentes do Estado disfarçados andaram pela vizinhança com aqueles olhos cheios de curiosidade e maus presságios.

         Observavam, de longe, a janela estreita e entreaberta em busca de alguém. A presença desses agentes, deixava exalar, por toda a rua da ladeira e pelos becos antigos, um cheiro forte de morte, desses que a gente sente ao caminhar junto ao muro branco do cemitério do bairro. Por certo, esse, a quem nem os amigos, por medo, ousam dizer o nome, foi se somar a outros que também nunca mais voltaram para casa.

         Muitos se foram desse modo descortês, deixando famílias amigos e o requadro de infinitas janelas estreitas e vazias. Molduras antigas vazadas pelo tempo. Saber que aqueles que essa noite dormem, na tranquilidade aparente dos desalmados, contribuíram, cada um ao seu modo, para que essa trama se desenrolasse sem testemunhas, tornam as madrugadas ainda mais vazias e ameaçadoras.

          Informantes e carrascos, mesmo com as mãos sujas de sangue, saboreiam o café matinal com suas famílias, que nada sabem sobre suas ações. Não há um pingo de remorso, quando o que está em jogo é o jogo sujo daqueles que possuem o poder da morte e da mordaça. Num ambiente assim, onde o medo e a vigilância de uns sobre os outros passaram a ser o novo normal, falar fora do script pode resultar em desaparecimento. Ou quem sabe em punições mais suaves e não menos desumanas como o cancelamento.

         Em situações dessa natureza, sumir da paisagem sem deixar pegadas é já uma normalidade nesses tempos nevoentos. Todo o fim de dia ouve-se o estrondar rouco do apito do navio partindo. Nessas horas, muitos se perguntam: quem estará à bordo dessa vez, sem ser convidado, talvez enfiado num malote com destino ao fundo do mar. Mostre-me um inocente, diz o sistema, e logo ele será incluído na lista negra e despachado também.

          Em tempos assim, melhor sorte possuem as janelas estreitas que permanecem silentes onde estão a contemplar a rua deserta, varrida de gentes que saíram do requadro sem deixar pistas, apenas saudades mudas e amedrontadas.

 

A frase que foi pronunciada:

“Coloca na cabeça perucas com cem mil cachos/ coloca nos pés coturnos de um braço de altura/continuarás sempre a ser o que és.”

Johann Goethe

Goethe in the Roman Campagna (1786) by Johann Tischbein | Reprodução

 

Pérola aos porcos

Um dos absurdos de força tarefa mal empregada é chamar o Corpo de Bombeiros para atender bêbados. Concurso, provas, exames físicos, treinamento, capacitação, para virar “babá de bêbado” é um disparate. O tempo foi usado por um morador do Núcleo Bandeirante. Vamos ver se há alguma ideia na Câmara Legislativa para resolver essa situação.

Foto: Divulgação/CBMDF

 

Saudável

Projetos de inclusão são muitos pelo DF. Capoeira, futebol, música. Seria interessante que as administrações construíssem, com as medidas certas, mesas de tênis de mesa pelas praças. É um esporte que desperta o cognitivo, velocidade, interação com a comunidade.

Praça em Apiacás com a movimentação dos frequentadores jogando tênis de mesa. Foto: Prefeitura de Apiacás.

 

Sem bolsa

Nova modalidade de furto tem acontecido dentro de igrejas em Brasília. Pessoas desavisadas deixam os pertences no banco e os larápios fazem a festa. A última vítima estava na N.S. do Lago, no Lago Norte. Tudo filmado, a meliante tirou o celular da bolsa e saiu tranquilamente da igreja com um comparsa.

Foto: arqbrasilia.com

 

História de Brasília

O assunto hoje começa com “Gavião”. Esquecido, abandonado, largado, caindo aos pedaços, lamacento, sem luz, telefone, taxi, farmácia e até a Cruz que o abençoava do alto mãos criminosas a puseram dentro de uma torre metálica. (Publicada em 10.03.1962)