Castelo de areia

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Ilustração: reprodução da internet

 

É fato que, ao longo de toda a história humana, muitas figuras proeminentes, capazes até de mudar os rumos dos acontecimentos, foram executadas por um simples delito: falar a verdade. Eis aí um crime que, ao longo dos séculos, por uma razão ou outra, sempre foi considerado indesculpável e punido até com a morte.

Não surpreende que, ao longo de todo esse tempo, incontáveis versões tiveram que vir à tona para esconder e justificar a condenação da verdade. É sabido também que a verdade carrega um potencial capaz de romper o que pode ser a “paz dos cemitérios”.

Muitos conflitos sangrentos foram travados em nome da verdade, embora saiba-se que, nas guerras, a primeira vítima sempre é a verdade. O perigo em caminhar pelas sendas da verdade é que ela pode levar indivíduos e governos a situações que podem tanto decretá-los ao calabouço como ao Olimpo.

No passado, lá por volta de 470 a.C, o filósofo grego Sócrates, acusado de corromper a juventude por ensiná-la a pensar e a buscar a verdade, foi condenado à morte. De certa forma, essa tragédia entrou para a história do Ocidente como um marco na política, delineando os limites da verdade na condução do Estado. Se proferir uma mentira para evitar uma guerra, então essa seria uma mentira útil e válida? Possivelmente, não. Se, do mesmo modo, proferir uma verdade capaz de levar à guerra, essa então seria uma verdade inválida? Possivelmente, também não.

A questão não se baseia nas consequências trazidas pelo emprego da verdade, ou da mentira, como arma escolhida pelo governo, mas na constatação de que, ao fugir dos fatos, passa-se a considerar o cidadão sujeito de segunda, ou terceira, categoria, passível de ser conduzido por cantilenas ilusórias, e não como pilar mestre de todo e qualquer Estado Democrático. O ponto em tela é que não se pode erigir nada tangível em cima de mentiras, pois a mentira é, em si mesma, sempre algo intangível.

No mundo da política, onde falar, negociar e convencer é sempre realizado por meio da fala e do convencimento, a verdade ocupa um lugar de destaque, ou pelo menos deveria. A questão é simples: a verdade está ao lado da razão e da justiça. Ocorre ainda que a política, por sua natureza desligada do pensamento puro, depende mais do consenso de opiniões do que da busca da verdade.

É fato que, quanto mais livre uma sociedade, mais e mais o Estado deixa de lado as versões e narrativas e mais e mais se centra na verdade e na razão, abandonando os mecanismos de ilusão das massas, mesmo que elas anseiem por promessas e sonhos distantes.

Notem que até mesmo o progresso e a evolução do Índice de Desenvolvimento Humano só são alcançados por meio da verdade, da ética e da razão. Vale enfatizar que a verdade é sempre apoiada nos fatos. Quando ocorre da verdade se apoiar em opiniões e narrativas, perde-se todo o alicerce do Estado e do governo. Da mesma forma, não se pode construir o passado e o presente com base na mentira, pois, com essa ferramenta nefasta, o futuro simplesmente deixa de existir.

O amanhã, como promessa, nunca chega e, quando chega, surpreende a todos por sua crueza. O futuro de uma nação depende, diretamente, dos fatos e da verdade, da razão e da ética. Portanto, quando se fala, entre outras coisas, em “país do futuro”, o que se está estabelecendo é que no presente estão sendo construídas as bases para esse acontecimento. O problema é que, no nosso caso, o “país do futuro” vem sendo prometido há quase um século ou mais.

Muitos reclamam que esses dias vindouros nunca chegaram de fato. Outros dizem que as promessas jamais serão alcançadas. Buscar as razões para essa espécie de drama, ao estilo de Esperando Godot, de Beckett, é a grande ironia de nossa história e abre um questionamento curioso: até que ponto nosso futuro tem sido construído com base na deturpação dos fatos, como esculturas feitas de areia à beira mar?

 

A frase que foi pronunciada:
“A capacidade de justiça do homem é o que torna a democracia possível, mas a inclinação humana para a injustiça é o que faz a democracia ser uma necessidade.”
Reinhold Niebuhr

Reinhold Niebuhr, 1955. (Alfred Eisenstaedt/Pix Inc./The LIFE Picture Collection/Getty Images)

 

Em outubro
Seria uma estatística importante apresentar à população quantas cirurgias de cataratas feitas em mutirões causaram a cegueira dos pacientes. Entre os 20 procedimentos cirúrgicos, 15 pacientes apresentaram sintomas de endoftalmite, uma infecção ocular causada pela bactéria Enterobacter cloacae. Os procedimentos foram realizados na Maternidade Dr. Graciliano Lordão, em Parelhas, no Rio Grande do Norte.

Foto: Tony Winston/Agência Saúde

 

Em novembro
A polícia ainda investiga 24 casos de cegueira após o mutirão da catarata no Pará.

Belém (PA) registra casos de infecção após cirurgia de catarata; 10 pessoas perderam a visão — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

 

História de Brasília
Falou sobre a ausência do Executivo, sobre a planificação de transferência e de esforço para a construção de Brasília. Foi um discurso que valeu como uma séria advertência. (Publicada em 21/4/1962)