O Auto da Barca

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Lula e Dilma Rousseff posam ao lado de Vladimir Kazbekov, vice-presidente de operações do Banco dos Brics, e Qiangwu Zhou, vice-presidente de administração da organização, em Xangai. Foto: Ricardo Stuckert

 

         Se embarcar em canoa furada parece ser o inescapável destino dos incautos, imagine então subir a bordo de um transatlântico, cuja fuselagem náutica é tão frágil como a casca de um ovo. Pense ainda que essa grande embarcação está superlotada de containers, todos eles cheios com o peso morto das ideologias. Agora, nessa nau dos insensatos, navegando sobre mares revoltos e em tempos de guerras e de incertezas. Para carregar ainda mais nas tintas de um desastre anunciado, vislumbre que esse cargueiro tem como timoneira alguém que não diferencia um avião de um navio e que, no passado, sequer conseguiu salvar, do naufrágio, um pequeno comércio de bugigangas de R$ 1,99. Eis aqui, em pinceladas rápidas, o que pode vir a ser a viagem do Brasil a bordo do BRICS.

         A questão aqui é deixar de lado os números superlativos apresentados por esse portento marítimo e se centrar nas condições gerais dessa nave. A carta náutica, que serve de guia para essa travessia por mares nunca antes navegados, é desenhada não a partir de coordenadas marítimas, mas com base em orientações do tipo ideológicas, todas elas testadas e posteriormente reprovadas pela experiência humana.

         É nessa nau dos insensatos que o Brasil achou por bem subir e cruzar os mares da economia, junto com a China, Rússia e Índia, para ficar apenas nesses três grandes companheiros de jornada. Nada há em comum entre eles, nem histórica, nem culturalmente e muito menos em termos de ideias políticas. São quatro estranhos entre si, numa travessia que ruma ao incerto porto, em que irão inaugurar a nova terra prometida em que os ditames econômicos clássicos do capitalismo serão amalgamados às teorias do comunismo. Será aquilo que os marinheiros da boca suja chamam de misturar cobra com porco espinho.

         Nesse novíssimo mundo novo, a bandeira de ferro anunciará o capitalismo de Estado, centralizado e muito longe das liberdades exigidas pelo mercado. Nesse paraíso, para as camarilhas e nomenclaturas, os empresários serão transformados em mão de obra do Estado. Feita a travessia e depois de lançados, ao mar e aos tubarões, todos aqueles que reclamaram da jornada, restará, aos sobreviventes, renderem-se aos novos tempos, alicerçados sobre os pilares do passado.

         É desse cruzamento entre cobra e porco espinho que surgirá o arame farpado, cercando e cerceando as liberdades, além de todo o mercado, com seu laissez faire. Ao BRICS, todos saberão depois, não interessa a economia de mercado como a conhecemos até aqui, com a livre iniciativa e outras características do liberalismo. A esse bloco, e o Brasil não se atinou para isso, interessa a supremacia de um pensamento ideológico contrário à economia clássica. Interessa o lucro do Estado, sendo os prejuízos debitados, integralmente, na conta do proletariado.

         Aos navegantes dessa nau, interessa o fortalecimento do Estado, seu crescimento bélico e a formação de grandes exércitos. A esses novos argonautas da desventura, interessam o poderio e o engrandecimento de um Estado que age como moedor de homens. Por detrás da fantasia econômica, interessam a eles a destruição da Cartago americana e tudo o que ela representa em nossa modernidade.

         O que se tem aqui, em construção, é um verdadeiro bric-à-brac ou um ferro-velho de velhas ideias. O que se assiste, olhando esse Titanic portentoso que agora parte, é a reedição tardia da Barca do Inferno, tal como descrita por Gil Vicente, em 1517.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“À barca, à barca, hu-u! / Asinha, que se quer ir! / Oh, que tempo de partir, louvores a Berzebu!”

Gil Vicente, O Auto da Barca do Inferno

Imagem: cirandacultural.com

 

Primeiro mundo

Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá, primeira mulher a presidir a Embrapa, é autora da tese O modelo de inteligência artificial para diagnóstico de doenças em plantas. A Embrapa oferece vários cursos gratuitos online. Um deles é importante para diminuir o descarte de alimentos. Compostagem. Mais informações no link Compostagem.

Foto: John Kevin, por iStock

 

Zanin versus Nikolas

Com ação popular, protocolada nessa semana contra a indicação de Cristiano Zanin para o Supremo, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) mostrou que segue de peito aberto e sem temor de represálias do sistema. Também não é para menos. Tendo, em mãos, quase um milhão e meio de votos, o parlamentar é a cara da nova política e não pode decepcionar seus eleitores. Para o parlamentar, a nomeação de um amigo pessoal do atual presidente, para a mais alta Corte do país, viola, flagrantemente, os princípios da moralidade e da impessoalidade, além de deixar claro que o chefe do Executivo quer aparelhar o STF para conter processos futuros contra si. O deputado sabe que está na mira do TSE e não se intimida. Essa “República do Escambo” tem que ser eliminada, antes que o país se torne ingovernável.

 

História de Brasília

Ao mesmo tempo, algumas informações aqui contidas são também para o presidente da Republica, como o falso emprêgo de 400 candangos para reinicio das obras. (Publicada em 21.03.1962)