A arte da medicina

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Imagem: cajademedicos.com.

          Saúde talvez seja o maior bem que um ser humano pode usufruir ao longo de sua vida. Também não é para menos, já que viver em plenitude só é possível para quem goza de boa saúde.  Por isso mesmo é que a prestação de serviços de saúde, realizada por hospitais, clínicas e consultórios, sejam eles públicos ou privados, é de suma importância para a manutenção de uma sociedade produtiva.

          A questão é também um assunto de segurança e deve ser sempre tratada com a máxima atenção pelos governos federal, estadual e municipal. Aqui é tão importante a qualidade como a quantidade. O Distrito Federal, com uma população em torno de 3 milhões de habitantes, possui oficialmente 13.230 profissionais médicos registrados. Esse montante equivale à uma proporção de 4,35 médicos por cada mil habitantes. É uma média duas vezes maior que a nacional, que é de 2,18 médicos para cada mil brasileiros.

         Nesse universo local, os especialistas somam mais de 70%, contra aproximadamente 26,5% de médicos generalistas o chamado clínico geral. Também essa relação entre generalistas e especialistas é a melhor do Brasil. Mesmo que o Distrito Federal possua, entre todos os estados da Federação, a maior concentração de médicos, tanto na rede pública como nos estabelecimentos de saúde privados, ainda assim não são poucas as reclamações dos usuários sobre a qualidade desses serviços.

         Obviamente que, em comparação com o restante do país, Brasília pode ser considerada um paraíso. Isso porque quase 3% de todos os médicos do Brasil estão aqui na capital. Isso confere ao Distrito Federal uma responsabilidade enorme, já que essa proporção de médicos, de hospitais e clínicas, obriga a capital a atender praticamente todos os municípios em seu entorno e de outros estados.

          Por isso, é comum ver-se ambulâncias de outras localidades, trazendo pacientes de longe para serem atendidos na capital. Aqui está ainda a maior força de trabalho cirúrgica do Brasil, o que atrai muitos brasileiros para nossos hospitais. Ao todo, o Brasil conta com 562.206 médicos – ou 80% a mais do que há uma década atrás.

         Olhando de perto esses números exuberantes da relação médico por habitantes em Brasília, o que se nota é a existência ainda de nichos de atendimento de saúde que deixam muito a desejar, tanto nos hospitais públicos como nas clínicas particulares.

         Há, do ponto de vista dos pacientes, um problema que parece inerente à própria formação de médicos, sobretudo dos profissionais mais jovens. De um modo geral, o que os pacientes observam é que o atendimento é frio, distante e burocrático. Com uma prática descuidada dessa natureza, não surpreende que os diagnósticos, não raro, resultam erros primários, isso quando não levam o doente a outas enfermidades e à morte. Talvez falte às gerações mais novas aquilo que os filósofos e médicos gregos chamavam de anamnese, que é o diálogo estabelecido entre o profissional de saúde e o paciente, de modo a estimulá-lo a lembrar de situações e fatos que, possivelmente, o levaram a sua doença. Prática que torna possível reconstituir a história clínica dos pacientes.

         O que parece é que esse diálogo – que, muitas vezes, pode ser longo e redundante – foi substituído hoje por uma bateria de exames clínicos, feitos por máquinas e patologistas que, muitas vezes, dão um diagnóstico que não ajuda o doente e pode até complicar seu caso. Boa parte dos erros médicos decorre justamente da simples incapacidade de o médico mal escutar o que diz seu paciente. Com isso, multiplicaram-se os casos de erros médicos a tal ponto que hoje já existe inclusive diversos advogados e médicos legistas especializados nesses casos e que recebem grandes somas de dinheiro por essa atividade.

         Também os pedidos, junto aos tribunais de justiça, de indenizações milionárias, aumentam significativamente, trazendo, para a profissão de médico, um risco adicional cada vez maior. Casos de negligência, imperícia e imprudência lotam os tribunais de justiça em todo o país, inclusive em Brasília. Se em medicina nada é absoluto, já que ela não é uma ciência exata, sendo mais uma arte situada, isso sim, na confluência de várias outras ciências, o erro, como condição humana, acaba sendo inerente à sua prática.

          Para um profissional experiente não existe, pois, doenças e sim doentes, já que cada indivíduo responde de forma distinta a um mesmo problema. Não é por outra razão que aqueles pacientes que, por sua condição de portadores de bons planos de saúde, preferem escolher médicos mais idosos e mais experientes, principalmente na arte da paciência, que é a de escutar o que diz o interlocutor. Essa capacidade de escutar e refletir sobre o que se ouve, tem sido um os dons humanos que mais tem diminuído de uns tempos para cá, talvez provocado pela retração da empatia nesses tempos modernos.

         E não pense que esse é um problema afeito apenas ao atendimento médico público. Também médicos particulares, mesmo os mais afamados, incorrem no erro de não escutar adequadamente seus pacientes, convencidos de sua infalibilidade. Mas esses são apenas os iludidos por um ego gigante.

A frase que foi pronunciada:

“A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte.”

Parte do Juramento de Hipócrates adotado pelas escolas de Medicina

 

História de Brasília

Ocorre que a carta sobrescrita à máquina veio parar em Brasília. E para piorar, a AP n. 7 mandou para o Ministério da Educação, que não tem nada com o caso. A carta, finalmente veio parar em nossas mãos, e já seguiu para a Bahia por nossa conta. A importância gasta será debitada ao DCT, para doutra vez trabalhar melhor. (Publicada em 28.03.1962)