Reinventando a roda

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ARI CUNHA – In memoriam

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

com Circe Cunha e Mamfil;

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W3 Norte, Quadra 716 (Foto: chiquinhodornas.blogspot.com)

Ao novo governador que chega, todo o crédito é devido. Isso não quer dizer que a imprensa e principalmente a população, sobretudo aquela que votou em seu oponente, vá fechar os olhos para as novas diretrizes que vierem a ser adotadas pelo GDF a partir de primeiro de janeiro de 2019.

Principalmente medidas que venham alterar, para pior, o planejamento urbano de Brasília. A Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos) tem sido, desde seu surgimento, uma verdadeira caixa de marimbondos para os últimos governadores que o antecederam. Nenhum deles conseguiu levar a bom termo o conjunto de normas que introduz e modifica alguns aspectos da vida urbana da capital.

As razões para esses constantes adiamentos são várias, mas o fundamental é que a Lei bate de frente com os múltiplos interesses da população. Querer a aprovação agora, no fim dessa legislatura e do mandato de seu antecessor, definitivamente, não é uma boa medida. Os diversos riscos apontados por entidades comunitárias e de defesa do patrimônio histórico, arquitetônico e urbanístico, com certeza, poderão contaminar sua gestão, logo na largada, criando situações irreversíveis que poderão repercutir ao longo de todo o seu mandato.

Manda a prudência que normas complicadas como essa, regulando praticamente todo o funcionamento de uma cidade, que na sua parte principal, foi milimetricamente estudada e planejada, seja decidida somente após exaustivos debates com as miríades de entidades especializadas no assunto. Cuidaria melhor S. Exª se antes de apressar o passo, aprovando projeto tão complexo e vital para a cidade, cuidasse de outros aspectos urbanísticos, até mais urgentes, como a revitalização das W3 Norte e Sul, a recuperação do Setor Comercial Sul, as invasões, os puxadinhos, entre tantos outros necessitando a tempos de profundas reformas.

Lembramos ao sr. Ibaneis que essa Coluna vem acompanhando, pari passu o crescimento da cidade desde os fins dos anos cinquenta. Desde aqueles longínquos dias, assumimos uma posição em defesa da nova capital. Sabemos o quão difícil foi chegarmos até aqui.

Com a emancipação política da capital, fato que nos opusemos desde o primeiro dia por sua precipitação e por que víamos nessa medida razões que iriam beneficiar muito mais os especuladores e empreendedores do que o futuro da própria capital e de seus habitantes, demonstrou-se acertado. A capital a partir de então, experimentou um inchaço sem precedentes, destruindo praticamente todos os serviços públicos que eram exemplo para todo o país. Hoje o que temos é uma cidade sucateada que convive com os mesmos problemas das demais capitais espalhadas pelo país. Portanto cabe aqui um conselho a quem ainda é detentor de crédito junto aos cidadãos: cuidado com áulicos e bajuladores que sopram em seu ouvido, isolando-o da realidade que se arrasta fora dos limites do Buriti.

E sobre questões de planejamento urbano, que teve à frente uma dupla dos maiores gênios já reunidos num só propósito: Não pretendam reinventar a roda com outro formato!

 

A frase que foi pronunciada:

“Além de uma certa velocidade, os veículos motorizados criam um afastamento que eles próprios podem encolher. Eles criam distâncias para todos e diminuem para apenas alguns. Uma nova estrada de terra através do deserto traz a cidade à vista, mas não ao alcance, da maioria dos agricultores brasileiros de subsistência. A nova via expressa expande Chicago, mas suga aqueles que estão bem longe de um centro da cidade que se transforma em um gueto.”

– Ivan Illich, Energia e Equidade

 

Imperdível

Aida Kellen, Duli Mittelstedt e Sergio Morais prometem um concerto de alto padrão na apresentação de “O negro e a sua música”. Dia 14 às 19h30, no Teatro do Espaço Cultura Ary Barroso, no Sesc da 504 Sul.

Cartaz: facebook.com/events/261551651076832

Debates

Falando em música, o debate esquentou no Senado na audiência pública comandada pelo senador Cristovam Buarque. O arrefecimento veio quando Cláudia Queiroz resumiu o que a classe queria ouvir. A participação efetiva e democrática dos brasileiros na escolha dos representantes da entidade. Era o que estava registrado em um manifesto nascido no Fórum Nacional de Música. Na prática, o que os músicos querem são novas eleições.

 

Lar São José

Bem engajado nas redes sociais, o Lar São José, ligado à Casa do Candango, aceita todos os tipos de doação. É só agendar que a Kombi busca. Como o Natal está chegando e os corações se aquecem, segue o número para contato: 3591-1051.

Capa: facebook.com/larsaojose.casadocandango

Agenda

Por falar nisso, “A solidariedade unindo as nações” é o mote da Feira das Embaixadas. Toda a verba arrecadada será doada para instituições de caridade do DF. Dia 10 de Novembro, no Parque da Cidade.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Os funcionários trabalham sem nenhuma comodidade, num barraco impróprio, onde, quando lavam o andar superior, os de baixo suspendem o trabalho, por causa da água que vem do teto. (Publicado em 04.11.1961)

LUOS necessita da aprovação tácita de todos os brasilienses

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ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

com Circe Cunha e Mamfil;

colunadoaricunha@gmail.com;

Imagem: lagosul.com.br
Imagem: lagosul.com.br

       Todo o cuidado é pouco com a votação da Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS) que agora retorna para uma apreciação de afogadilho na Câmara Legislativa. Interesses específicos de políticos e empresários na aprovação dessa Lei, há pouco menos de dois meses para as eleições, inspiram cuidados, e principalmente, em meio ao andamento das investigações do Ministério Público e da Polícia Civil na “Operação 12:26”.

         Leis com essa abrangência, capazes de modificar e deturpar o desenho urbano da capital e das áreas adjacentes, não podem, de modo algum, ficar ao arbítrio de pressões de qualquer tipo, muito menos de políticos astutos e de empresários gananciosos, que não medem esforços para expandir seus negócios, sob o falso pretexto de engessamento da cidade. Nesse sentido, não causa nenhuma estranheza que, à frente desse movimento pela aprovação ligeira da LUOS, esteja a presidente da Comissão de Assuntos Fundiários da Câmara Legislativa (CAF), tornada ré junto ao Ministério Público no âmbito da Operação Trick, deflagrada em abril de 2015, que investiga os crimes de falsificação de documentos e fraudes em instituições bancárias. Além desse processo a presidente do CAF, responde também, na primeira instância, a crimes de grilagem de terras e corrupção. Há muito tempo essa coluna vem alertando para as suspeitíssimas relações envolvendo membros da Câmara Legislativa e conhecidos empresários, muitos deles também respondendo inquéritos policiais e sempre de olho grande nas projeções e outras áreas espalhadas pela cidade e pelo entorno.

         Há dois meses das eleições, época em que comumente os políticos buscam patrocínio e todo o tipo de apoio para suas campanhas, aumentam muito os movimentos de aproximação entre políticos e empresários, cada um com sua respectiva moeda de troca. Movimentos dessa natureza, por sua repetição, já se transformaram em algo comum ou mesmo numa tradição corrente. Ocorre que esse tipo de associação é sempre feito contra os interesses soberanos da população, que só toma conhecimento dos resultados dessa união quando ela é levada às barras do tribunal ou quando a imprensa publica.

       A importância do LUOS para o futuro da cidade e dos seus cidadãos não pode, pois, ser deixada ao alvitre de meia dúzia de personagens, principalmente quando eles se tornam suspeitos de estarem confeccionando um projeto que vai atender objetivamente aos seus interesses particulares. O uso político de projetos dessa magnitude, por si só, já induz e torna necessário sua imediata paralisação até que sejam esgotadas, exaustivamente, todas as discussões em torno dessa proposta e até que sejam pesadas e medidas, com rigor, todas as consequências que poderão advir para as próximas gerações de brasilienses, mantendo a capital como eterno patrimônio cultural da humanidade, com suas áreas verdes e espaços abertos, conforme proposta revolucionária e sempre atual de seu idealizador.

A frase que foi pronunciada:

“Arquitetura é antes de mais nada construção, mas construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço para determinada finalidade e visando a determinada intenção.”

Lúcio Costa

Sob a batuta de Lúcio Costa, Oscar se diverte grafite e aquarela, 29x21cm, 2010. (evblogaleria.blogspot.com)

Urnas

Graças às execuções fiscais aplicadas por juízes, a Justiça eleitoral teria a chance de promover uma democracia palpável nessas eleições, adaptando as urnas ao voto impresso.

Charge do Bello
Charge do Bello

TRE

Por falar em eleição, no site do TRE-DF, há um pedido aos mesários para que fiquem atentos à correspondência porque o processo de convocação para as eleições de 2018 já foi iniciado. Houve erros na confecção dos documentos enviados pelos Correios. Para quem for receber a convocação por e-mail, o TER-DF pede que sempre olhe a caixa de spam. Mais de 31 mil eleitores estão sendo intimados para trabalhar nas eleições. Desses, 78% são voluntários.

Imagem: tre-df.jus.br
Imagem: tre-df.jus.br

Obediência à lei

A Coordenação do Movimento Cidadão entregou à Associação Comunitária do Park Way uma missiva que vale a pena registrar. Em relação à ocupação da área pública, na quadra 14 do Park Way, a manifestação de Maria Luiza Nogueira e Maristella Tokarski foi veementemente contra. “A condescendência na flexibilização da legislação só traz desordem e anos à população e, certamente, a conta chegará aos responsáveis”, termina a correspondência.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Abandono, no Palace Hotel. A grama fronteira ao bar da piscina, para o lado da residência dos empregados, está coberta de mato e papéis sujos. Desolação e falta de cuidado. (Publicado em 27.10.1961)