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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil
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Tal como qualquer um de nós, ao completar 60 anos de existência, o Lago Paranoá reúne um conjunto significativo de lembranças dispersas que falam de seu passado, de sua origem, contando histórias de pessoas e lugares que marcaram os primeiros anos da capital.
No caso particular desse Lago artificial, projetado para dar contorno paisagístico e urbanístico a cidade, sua construção obedecia também a critérios práticos como a formação de um microclima mais confortável em seu entorno, além da geração preciosa de energia elétrica.
Nos primeiros anos, quando ainda não existia praticamente nenhuma embarcação cruzando suas águas e quando o Lago estava numa fase de acomodação no terreno, era possível observar em suas margens a formação de bolhas de ar que brotavam do fundo, indicando que as águas desse espelho d’água estavam lentamente penetrando no solo poroso do Cerrado.
Naquele tempo era comum também avistar-se uma infinidade de imensos troncos de árvores boiando sobre a superfície do lago, resultado dos cortes e da limpeza da vegetação que foram efetuados nos vales e matas ciliares que seriam cobertos pelas águas.
Eram nesses troncos que a garotada se divertia e se equilibrava para mergulhar e navegar nas águas ainda limpas e cristalinas. Para os jovens que moravam próximos ao lago, como na Vila Planalto, na Vila do Braguetto e outras, o Paranoá era um imenso parque aquático a alegrar a vida simples e despretensiosa daqueles anos sessenta. Para a grande maioria daqueles candangos que não eram associados aos clubes que foram se estabelecendo ao longo das margens do Paranoá, o lago era a grande piscina pública com recreação garantida.
Dos muitos personagens que se estabeleceram às bordas do lago, onde construíram suas vidas e de onde retiravam o sustento para si, talvez um dos mais célebres e conhecidos por todos que buscavam esse tipo lazer, foi Seu Vicente. Vindo de Minas Gerais, no final dos anos cinquenta, ele construiu sua morada defronte ao antigo e imenso espelho d’água que se formava com as águas do Rio Bananal, nas proximidades da Ponte do Braguetto. Construiu sozinho sua casa, tijolo por tijolo, com a argila abundante encontrada naquela área. A água que consumia vinha de uma das muitas minas que brotavam naquela região. Construiu também os barcos que arrendava para os visitantes. Alugava ainda as varas de pescar, com o bambu que plantara em sua chácara, fornecendo ainda os borós e as minhocas encontradas ao redor. Vivia desse ofício e sua clientela era variada e constante. A prosa mineira, cheia de mistérios e introspecção era uma atração à parte a atrair plateias. Como bom mineiro, reservado, pouco se sabia da vida passada por seu Vicente. Preferia falar de outros assuntos, como de discos voadores, fantasmas e outras estórias do além. Chamava a atenção de todos pelo hábito, nada comum, de salpicar pequenas doses de terra que escolhia e selecionava, em seu prato de comida. Dizia que era necessário para manter o contato com o solo e com os minerais que eram nossa própria origem.
Naqueles anos o espelho d´água que se formava defronte sua casa, era magnífico, extremamente limpo, frio e profundo, o que atraia muitas aves e peixes. Para os visitantes nunca faltava uma fruta da região, um peixe assado, um gole de pinga e fumo de rolo. Como todo autodidata ao estilo Robson Crusoé, costurava suas roupas, construía seu próprio mobiliário, mesa, cadeiras e cama. Era sem dúvida, uma figura ímpar como que ilhado na própria solidão, perdido naquela região. A construção do Setor Noroeste, assim como da Trevo de Triagem Norte, ao contribuírem para assorear e destruir o belo espelho d’água e soterrar as minas que brotavam naquela área, sepultou também aquela história, cumprindo a sina que afirma que o progresso é o avanço inevitável da poeira.
A frase que foi pronunciada:
“Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído, é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro da alma. Quem não tem jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.”
Rubem Alves. psicanalista, educador, teólogo, escritor e pastor presbiteriano brasileiro.
Pesquisa
Não foi tão avassalador o resultado da pesquisa feita pelo e-cidadania, do Senado sobre a PEC que limita a duração das férias dos magistrados e membros do Ministério Público a trinta dias. Havia também a pergunta sobre vedar a adoção da aposentadoria compulsória como sanção disciplinar e prever a demissão, por interesse público, dos magistrados e dos membros do Ministério Público. O votos foram para o sim 6.765 e para o não 4.139
Partida
Ontem foi um dia pesado e triste. Recebemos a notícia do falecimento do ex-senador Odacir Soares e de Roberto Passarinho. Nosso abraço à Leinha e Júlia.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Durante o governo do dr. Jânio não se fez nada em matéria de asfalto. Agora, até Deus está ajudando. Atrasou a chuva, o mais que pôde, para não prejudicar a pavimentação. (Publicado em 30/11/1961)
ARI CUNHA
Visto, lido e ouvido
Desde 1960
com Circe Cunha e Mamfil;
colunadoaricunha@gmail.com;
Estabelecer hoje parcelamentos de expansão urbana em áreas onde há a presença de importantes aquíferos, além de discutível, coloca o futuro de milhões de pessoas sob um sério risco. Sem água, não há vida e muito menos condições de fixação de populações.
Construtores, empreendedores e muitos políticos não se sensibilizam com questões dessa natureza. Aliás, a natureza, na visão dessa gente, tem que oferecer lucros, não importando de que maneira. Há um consenso geral que considera ser impossível, hoje em dia, a construção de Brasília, nos moldes em que foi erguida naquele período. A razão é que as imensas movimentações de terras para aplainar as grandes áreas, onde seriam implantados todo o Plano Piloto, ocasionaram o assoreamento e aterramento de muitos córregos e matas ciliares que existiam nessas áreas, provocando um verdadeiro extermínio de plantas, animais e de nascentes.
Ainda hoje, não se sabe, ao certo, a extensão desses estragos. O que se vê é que jazem sob ruas, avenidas e quadras residenciais da cidade, um grande número de cursos d’água que cederam lugar ao avanço poeirento do progresso. Justificar essa imensa destruição da natureza, numa época, em que não se discutiam assuntos dessa ordem, é tempo perdido. O fato é que os homens parecem não aprender com o passado. A construção do Trevo de Triagem Norte (TTN), considerada fundamental para o pesado escoamento viário daquela região, aterrou, sem dó, nem piedade, importante nascente de água que existia de um lado e outro da Ponte do Braguetto, assoreando, de morte também, o grande espelho de água que recebe as águas do córrego Bananal.
Ninguém protestou. As construtoras e os empreendedores aplaudiram. Parte da população ficou inerte tendo as reclamações abafadas pelo barulho das máquinas. Segue a passagem das estações assinalando ameaçadoramente, para todos, que os períodos de estiagem vão ficando cada vez mais prolongados e os reservatórios que abastecem a cidade com índices de cotas cada vez menores.
O que seria impensável no passado, no caso a utilização das águas do Lago Paranoá, que coleta grande parte do esgoto da cidade, para o consumo humano, hoje é uma realidade que, ainda por cima, é comemorada como trunfo para alguns. Aos poucos, vamos deixando para trás a certeza de que só a preservação do meio ambiente tornará possível o estabelecimento de pessoas na região, em troca de um futuro incerto, debitado na conta das gerações vindouras. Indiferentes a essa realidade que nos ameaça, prosseguimos erguendo bairros sobre o que restou de natureza, apenas para atender à uma demanda criada pelos especuladores e umas poucas autoridades públicas.
Num ciclo que parece não ter fim, a cada ano, os brasilienses de boa índole assistem, sem meios de agir, ao estabelecimento de novas expansões urbanas. Norte, Sul, Leste e Oeste, vamos cercando toda a capital com assentamentos mal planejados, favelas, invasões disfarçadas em condomínios, com áreas rurais tendo sua destinação primária mudada ao sabor dos ventos.
O caso em pauta, nesse momento, é a expansão do Setor Habitacional Taquari, numa região que abriga os córregos do Urubu e Jerivá, considerado importante sítio de recarga de aquífero. Para se ter uma ideia da importância dessa região, basta dizer que mais de 50% da água pura, que ainda chega a bacia do Paranoá, provém dessa região, conhecida como Serrinha.
A expansão das etapas II e III desse bairro irá afetar, segundo ambientalistas, mais de cinquenta pequenos cursos de água limpa que ainda insistem em correr por essa região. Há inclusive estudos do Prodema que atestam que a diluição de esgoto no Lago Paranoá chegou ao limite. Dejetos de toda a natureza, produzidos por bairros programados para receber milhares de famílias, nunca é devidamente estipulado.
É corrente a constatação de que a maioria dos projetos de amenização dos impactos ambientais gerados por projeto de assentamento, na sua grande maioria, não são implementados ou, quando o são, ficam muito aquém do necessário.
Vivemos tempos contraditórios. Engatinhamos a caminho do desenvolvimento. Ainda não aprendemos a erguer, sem destruir ao mesmo tempo. A questão aqui é que, objetivamente, vamos alargando desertos áridos em nossa volta. Não bastassem os enormes latifúndios de monocultura que derrubam o cerrado para benefício apenas dos donos dessas áreas, vamos também destruindo o que ainda resta do verde e da água, contidos nesse pequenino quadrilátero chamado Distrito Federal.
A frase que foi pronunciada:
“Não se pode fazer voltar a água que passou nem a hora que transcorreu.”
Ovídio
Dados
Há um caso de subnotificação em relação a crimes cometidos nas regiões onde delegacias estão desativadas. As estatísticas não correspondem com a realidade. Rodrigo Franco, presidente do Sinpol, dá o exemplo da área rural do Paranoá, como a comunidade Café Sem Troco, que fica a 43 quilômetros do Paranoá.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Aliás, nesse vôo, os ministros tomam uísque escocês, e os passageiros comuns saboreiam o nacional. (Publicado em 26.10.1961)