Agricultura e Meio Ambiente. Parceiros ou inimigos?

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ARI CUNHA – In memoriam

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Manifestação: representantes da sociedade civil, servidores públicos da área ambiental, ativistas e movimentos indígenas realizam ato contra possíveis futuras políticas anti ambientais (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O aumento do desmatamento para o avanço sem fim da agricultura e para a criação de gado irá atingir o Brasil de duas maneiras certeiras: de um lado, irá impactar negativamente no prestígio do país, levando os consumidores externos ao boicote dos nossos produtos e trará ainda desequilíbrios permanentes ao país como secas e desertificação de grandes extensões de terras, acabando com a fertilidade do solo, com a biodiversidade e afetando diretamente o clima do país.

Para se ter uma ideia desse problema, os cientistas já comprovaram que o desmatamento no Cerrado tem provocado uma diminuição em cerca de 10% das chuvas nessa região. Questões outras como a fusão do Ministério do Meio Ambiente, como propostas pela campanha de Bolsonaro, que preocupavam os ambientalistas já foram resolvidas.

Já que cada um desses órgãos possui uma pauta extensa e própria e essa junção prejudicaria tanto o setor agrário como do meio ambiente, o que afetaria a sustentabilidade ambiental. “Um dos grandes beneficiados desta sustentabilidade é a própria agricultura, devido ao aumento de produtividade ao se mesclar ambientes naturais com ambientes agrícolas, afirmam dos especialistas.

CIENTISTA ALERTA QUE AUMENTAR A ÁREA DA AGROPECUÁRIA E DESTRUIR FLORESTAS CAUSARÁ PREJUÍZOS À ECONOMIA

–> Link de acesso à notícia: www.abc.org.br

OS ACADÊMICOS | 25 de outubro de 2018

 

Carlos Afonso Nobre , cientista brasileiro, destacado principalmente na área dos estudos sobre o aquecimento global Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Enfraquecer a conservação do meio ambiente prejudicará a economia e as ambições de política internacional do Brasil, alerta o climatologista Carlos Nobre. Nos últimos meses, a campanha eleitoral trouxe à tona assuntos polêmicos como a saída do Brasil do Acordo de Paris (o tratado mundial do clima), a forma de atuação dos fiscais do Ibama no combate aos desmatadores e os prazos para o licenciamento ambiental. Outro tema controverso, levantado pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL), é a fusão do Ministério do Meio Ambiente com o da Agricultura. Para Nobre, membro das academias de Ciências do Brasil e dos Estados Unidos, ex-diretor da Capes e do Inpe e um dos mais renomados especialistas em mudanças climáticas do mundo, a condução desses temas de forma errada pode impactar negativamente a economia brasileira.

O que representa a declaração de Jair Bolsonaro sobre tirar o Brasil do Acordo de Paris?

Me parece uma cópia barata e inconsequente do ato de um presidente estrangeiro. A decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, teve repercussão mais retórica do que prática. Apesar do discurso anticlimático de Trump, dos incentivos à indústria do carvão, as emissões americanas continuam a cair. Isso porque a economia americana fez um movimento sem volta em direção à energia renovável. Além disso, nos EUA os estados têm independência maior. A Califórnia tem metas de redução de emissão ambiciosas como as de países escandinavos, de zerar emissões até 2045, goste Trump ou não.

Qual seria o impacto econômico para o Brasil?

Após caminhar para a energia renovável, a economia global se move para a produção responsável de alimentos, com foco no uso do solo. Nos últimos dez anos, os fundos de investimento têm se distanciado do mercado de carvão. O mesmo começa a ocorrer com alimentos oriundos de desmatamento. Os princípios do investimento responsável se voltaram para o uso da terra. A pressão maior vem de grandes redes de varejo internacionais em resposta ao mercado consumidor e vai aumentar. Estaremos sujeitos a restrições à carne e à soja brasileiras por parte de compradores europeus, japoneses e mesmo chineses. Nossas emissões de CO2 estão atreladas à agropecuária e ao desmatamento associado a ela. É um equívoco político pensar que sair do Acordo de Paris trará tranquilidade econômica para o agronegócio. Ao contrário, tornará o país vulnerável a restrições internacionais. A tendência mundial é não comprar produtos oriundos de desmatamento. Mais de 150 dos maiores fundos do mundo, que investem no setor de produção de alimentos, já se comprometeram com inciativas de princípios éticos. Facilitar a expansão agrícola com desmatamento é atacar a economia.

E as consequências políticas?

Teremos perda de prestígio e da liderança internacional consolidada do Brasil nesta área. O país seguia como o líder natural da economia de baixo carbono. Será ir pela contramão e desistir das ambições de política internacional. Se o Brasil aumentar o desmatamento, as pressões políticas e econômicas crescerão junto.

Qual a consequência de acenar com a facilitação do desmatamento?

É estimulá-lo. E ele já tem aumentado. Tanto os dados do Inpe quanto do Imazon, que devem ser apresentados em breve, mostram tendência de aumento de 30% a 35%. Se o Brasil sair do Acordo de Paris, o impacto será maior.

E o Brasil precisa desmatar para produzir mais?

Não. Temos terra desmatada e abandonada suficiente para continuar a aumentar a produção (a Embrapa estima em 50 milhões de hectares de pastagens degradadas). Além disso, nossa pecuária é extremamente ineficiente. A produtividade da pecuária na Amazônia equivale a um quarto da de São Paulo, com menos de um boi por hectare. Só com o manejo simples, nada moderno, você pode ter três. Por que precisamos de florestas?

Porque é comprovadamente a forma mais barata e simples de assegurar os recursos hídricos, manter o equilíbrio do clima, a fertilidade do solo, a biodiversidade e capturar o CO2 na atmosfera.

Por que o movimento contra o meio ambiente ganhou força no setor rural?

O discurso antiflorestas nunca desapareceu do setor agrícola, que julga não haver uso mais nobre para a terra do que produzir comida. É uma questão filosófica e social. Proteger a terra para salvaguardar o equilíbrio ambiental em prol da sociedade jamais foi um conceito incorporado. Essa visão emergiu com a polarização, mas não foi inventada por um candidato. É o Brasil arcaico que sempre esteve presente e o pensamento dominante do setor, que acaba por se refletir em desmatamento e grilagem.

Não pesa o fato de estar provado ser preciso áreas preservadas para ter, por exemplo, água?

Parte do agronegócio sabe disso. Mas a grande maioria despreza a ciência e está preocupada em expandir a posse da terra. Pode até usar tecnologia no maquinário mas isso não significa que entenda de ciência. Só uma pequena fração entende isso. Já fui a encontros de agrônomos que trabalham para produtores do Mato Grosso e pensam que a soja gosta de calor e riem das mudanças climáticas. É triste, mas ignoram a realidade. Acima de 35 °C, a produtividade despenca e perto de 40°C chega a zero, segundo estudos da Embrapa. Além disso, no Cerrado já houve uma redução de chuva de 10% nas áreas desmatadas, o que é muito. Temos um cenário nada promissor para uma agricultura produtiva e sustentável na maior parte do Cerrado.

O que representaria incorporar o Ministério do Meio Ambiente (MMA) ao da Agricultura?

Sinalizaria um inaceitável retrocesso e um sinal verde para o aumento dos desmatamentos e da poluição do ar, dos rios, dos oceanos. O MMA trata de uma extensa pauta, não somente relacionada à agricultura. Não faz sentido subjugar o desenvolvimento sustentável ao viés de ganhos de curto prazo do agronegócio com uma quase completa desregulamentação do setor. Ter órgãos especializados e com missão própria de conservação do patrimônio natural é, no caso brasileiro, uma garantia de sustentabilidade ambiental e bem-estar. E é, no mínimo, uma indevida simplificação imaginar que setores do agronegócio iriam se beneficiar a longo prazo. Um dos grandes beneficiados desta sustentabilidade é a própria agricultura, devido ao aumento de produtividade ao se mesclar ambientes naturais com ambientes agrícolas.

O licenciamento ambiental prejudica a economia?

O Brasil é reconhecido internacionalmente por ter uma moderna e adequada legislação ambiental, equilibrada e que não atrapalha o desenvolvimento econômico. A eficiência de processos burocráticos pode ser aprimorada, mas isso não se aplica só ao licenciamento ambiental, mas a toda máquina governamental. Melhorar a eficiência de ações governamentais é obviamente necessário. Porém, devemos lembrar que muitos atrasos em licenciamentos ambientais se dão devido à baixa qualidade dos projetos de avaliação de impactos enviados pelas empresas.

Há uma indústria de multas?

Não, até porque a taxa de pagamento de multas ambientais não chega a 5%. Os valores arrecadados não são a mola propulsora do sistema de fiscalização ou de volume significativo para outras ações de órgãos ambientais.

(Ana Lucia Azevedo para o jornal O Globo, 21/10)

 

A frase que foi pronunciada:

“Agricultura e Meio Ambiente precisam trabalhar juntos. Não há planeta B!”

Na Internet

Ilustração: aambiental1.blogspot.com

Leitor

Recebemos as seguintes observações de Ademar Aranha, Engenheiro Civil, formado na UnB, na década de 80. “Nos dedicávamos mais aos estudos, preocupados com a nossa formação. Naquela época não existia essa formação ideológica por parte dos professores.  Sempre aconteceram conflitos, greves, mas nunca atingiu esse grau de cegueira. Estou atônito com os rumos dos acontecimentos de uma boa parte desses alunos não só da UnB, como outras Universidades do país, especificamente UFRJ, UFRMG, USP, UNICAMP. Na verdade estão compactuando com a corrupção e com todas as mazelas que o governo do PT e anteriores a este deixaram como herança maldita, interferindo em todos os setores da nossa sociedade.”

E finaliza

Continua o leitor: Quem tem que trabalhar com a capacidade de pensar dos alunos são os pais. Temos essa responsabilidade e não queremos a interferência de terceiros nessa questão que é sagrada. Meus pais não tiveram a mesma formação que eu, mas nos ensinaram o respeito aos professores, aos mais velhos, o valor da ética, e outras virtudes além do caminho da escola.

 

Será?

Se o juiz Moro não deu a resposta imediatamente ao presidente Bolsonaro quer dizer que ele pensa na possibilidade de sair da pressão em que vive.

Foto: br.blastingnews.com

Estrela

Vir à tona com o nome do Advogado Miguel Nagib para compor o Ministério da Educação é uma boa campanha. Nagib é presidente da Associação Escola Sem Partido. Na verdade, o que ele combate é a escola que todos conhecemos: a de um partido só.

Fog

Respirar ares europeus renovou também os ataques de Ciro Gomes ao PT e dirigentes. A estratégia é clara: Ciro quis sair do barco durante a tempestade para voltar forte.

Foto: brasil.elpais.com

Sobrevivência

Correspondências do GDF a empresários que lutam para sobreviver, estimulam a informalidade. O assunto gira em torno de Livro Fiscal Eletrônico. Uma diversidade de códigos e siglas. Mas a missiva é amigável. Explica a situação, dá as diretrizes para a consulta.

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Estão no final de obras, as casas dos engenheiros que não estão trabalhando, porque o IAPFESP está parado. Enquanto isto, os funcionários continuam morando em casebres de madeira; e a autarquia não faz o mínimo esforço para dar-lhes apartamentos. (Publicado em 04.11.1961)