Descaso nosso de cada dia

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ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

com Circe Cunha e Mamfil;

colunadoaricunha@gmail.com;

Foto: RICARDO MORAES/REUTERS (bbc.com)
Foto: RICARDO MORAES/REUTERS (bbc.com)

        Jornais de todo o mundo noticiam em suas primeiras páginas o trágico incêndio que consumiu por completo o Museu Nacional do Rio, transformando em cinzas, em pouco mais de seis horas, 200 anos da história do Brasil. O interesse demonstrado pela imprensa internacional sobre este triste fato se explica em razão da importância que a grande maioria desses países confere aos seus museus e a todas as instituições, privadas ou do Estado, que possuam a guarda de seu patrimônio histórico e cultural.

       A atenção e proteção que esses países dão às suas fontes históricas podem estar ligadas, em parte também, ao sucesso econômico, social, cultural e político desses povos. Somente nações que mantém presente seu passado, sabem, com certeza, o que querem para o futuro e não erram nas escolhas. É justamente esse falso entendimento que possuímos de que nosso passado é um caso encerrado e que deve ser esquecido em algum escaninho do arquivo morto que nos acorrenta aos erros e nos deixa às voltas, em círculos infinitos, sem sair do lugar.

        Somos o que somos pelo esquecimento fácil e cômodo do nosso passado. Nesse sentido, as perdas materiais com cerca de 20 milhões de peças históricas, fontes originais de pesquisa para estudantes e cientistas que deixaram de existir, são muito mais do que perdas materiais. São testemunhos vivos que autenticam nossa história, afastando dela tudo o que é fantasia e alucinação.

       Em mais esse triste episódio, há pouca serventia em buscar culpados diretos e indiretos. Se fosse esse o caso, e para ser rigoroso, acredito que todos temos nossa parcela de culpa. Obviamente que primeiro é preciso constatar que nenhuma autoridade do governo, principalmente seu ministro da cultura, se fez presente por ocasião das comemorações dos 200 anos do Museu Nacional, o que torna ainda mais sintomático esse descaso oficial.

        A questão aqui é porque não aprendemos com episódios semelhantes ocorridos recentemente e que feriram de morte parte de nossa cultura. Em dezembro de 2015 chamas gigantescas engoliriam também o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. Em 2010 o fogo havia consumido o Instituto Butantã, também em São Paulo. Em 2007, 900 cédulas e moedas raras e outros itens históricos de grande valor foram furtados do Museu do Ipiranga, que permanece fechado desde 2013. Também o Liceu de Artes e ofício de São Paulo teve parte de seu acervo destruído em um incêndio em 2014. Outra tragédia foi a destruição, por incêndio também, do Teatro Cultura Artística em 2008. Em 2013, outro incêndio destruiu completamente o auditório Simón Bolívar no Memorial da América Latina, somente a reforma desse prédio custou R$ 41,5 milhões aos contribuintes. Aqui mesmo, na capital do país, o Teatro Nacional Cláudio Santoro e a sala Martins Penna, além do Museu de Arte Moderna, se encontram fechados há anos, aguardando por reformas que nunca iniciam.

         Para piorar uma situação que em si já é calamitosa, o candidato a presidente da República, Bolsonaro, anunciou agora em um comício sua intenção de acabar com o Ministério da Cultura. Dessa forma, vai se concretizando a previsão do antropólogo Claude Lévi-Strauss de que o Brasil passaria da barbárie à decadência, sem conhecer a civilização. O desaparecimento desses vestígios de nossa história, fruto do descaso de todos, prenuncia esse vaticínio.

A frase que foi pronunciada:

“Sem o mito do amanhã não existiríamos. Não fora o amanhã e secaríamos à beira dos caminhos, esboroaríamos como um cascalho no deserto. O amanhã é que fermenta o hoje, que fermenta o ontem.”

Affonso Romano de Sant’Anna

Dívidas & Dúvidas

Em parceria com o Itaú, Bradesco, Net/Claro, Losango, Tricard, Porto Seguro Cartões e Ipanema Credit Management, foi lançado um aplicativo Serasa Limpa Nome. Pode ser acessado pelo celular ou computador. Consultado o CPF, gera-se um boleto para pagamento à vista ou a prazo. O total de inadimplentes ou devedores no Brasil chega a 61,6 milhões. Lucas Lopes, gerente de produtos do Serasa Consumidor, diz que os perfis dos consumidores são constantemente acompanhados, principalmente quando o assunto é negociação de dívidas.

Charge: Lane
Charge: Lane

Tabagismo

A Secretaria de Saúde do DF oferece gratuitamente, já há algum tempo, à população encontros com profissionais capazes de apresentar métodos de comportamento e conscientização que auxiliam no corte à dependência do tabaco. Veja o link no blog do Ari Cunha.

Link para mais informações: www.saude.df.gov.br/tabagismo

Charge de André Dahmer na F. de S. Paulo (13.11.2012)
Charge de André Dahmer na F. de S. Paulo (13.11.2012)

Projeto

Com o aumento do número de idosos no país, regras começam a se adaptar à nova realidade. Um projeto analisado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado sugere que empresas reservem vagas para pessoas com mais 55 anos de idade de forma proporcional ao número de funcionários. A ideia é do senador Cidinho Santos que vê a necessidade de o mercado valorizar a experiência.

Imagem: portalterceiraidade.org.br
Imagem: portalterceiraidade.org.br

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Acobertar funcionários faltosos é tirar sua responsabilidade, jogando na administração central, é caso para o Conselho estudar, julgar e decidir. Mantenho tudo o que disse. (Publicado em 28.10.1961)

O país fora dos trilhos

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ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

com Circe Cunha e Mamfil

colunadoaricunha@gmail.com;

Foto: Posto de gasolina em Brasília comunica falta de etanol em comunicado nesta quinta-feira, 24 de maio. Combustíveis não estão chegando às distribuidoras devido ao protesto dos caminhoneiros contra a alta do preço do diesel. brasil.elpais.com (Joédson Alves - EFE)
Foto: Posto de gasolina em Brasília, nesta quinta-feira, 24 de maio. (brasil.elpais.com – Joédson Alves/ EFE).

         Colonizado pelos europeus ao mesmo tempo, Brasil e Estados Unidos, mantiveram por décadas o mesmo padrão de desenvolvimento. Enquanto nosso país era submetido à uma exploração colonial que os historiadores classificaram como de exploração e extração de riquezas, o irmão do Norte, por outras condicionantes, foi submetido à uma colonização mais voltada para a fixação do imigrante em suas terras. Essa caraterística, por si só, já seria capaz de explicar a brutal diferenciação econômica que viria a se estabelecer nos índices de desenvolvimento de um e de outro em pouco mais de um século.

        Todavia, essa não seria a razão precisa que levou os Estados Unidos a tomarem a dianteira econômica em relação ao Brasil. No centro dessa questão, e que ainda hoje tem repercussões graves para um país continental como o nosso, é que, tão logo iniciou-se a revolução industrial, os EUA cuidaram de implantar extensas linhas férreas cortando todo o país, integrando todas as regiões, facilitando, com isso, um intenso e contínuo fluxo de pessoas e riquezas por toda a parte.

         Por aqui, esse eficiente modal de transporte, até os dias de hoje, simplesmente não existe. Aliás, o DNIT, a ANTT e o Ministério Público Federal devem ao povo brasileiro a fiscalização e punição das empresas que se habilitaram a criar e conservar as ferrovias do país, receberam verba para tanto e deixaram para trás os trilhos abandonados ligando o nada a coisa alguma.

       É por isso que pagamos caro. Pelo desmazelo estratégico e histórico. Sem ferrovias, andamos as voltas com problemas econômicos cíclicos e que se agravam, ainda mais, cada vez que se assiste à uma variação nos preços dos combustíveis.

         Com aproximadamente 1,7 milhão de quilômetros de estradas e rodovias, a quarta maior do mundo, por onde circulam mais de 60% de toda a produção nacional, o Brasil continua, literalmente, amarrado e refém dessa malha que é pequena para as necessidades continentais onde apenas 13% são devidamente pavimentadas e em boas condições. Para se ter uma ideia, para cada 1000 Km² de rodovias, apenas 25 está coberta com asfalto e assim mesmo de qualidade duvidosa. Nos Estados Unidos, os dados da Confederação Nacional do Transporte dizem que, para cada 1000 Km², 440 possuem pavimentação de alta qualidade.

Charge: jornalnh.com.br
Charge: jornalnh.com.br

       No Brasil, com uma frota de mais de dois milhões de caminhões circulando dia e noite por estradas nessas condições, não causa surpresa que a maioria dos produtos, comercializados longe de suas áreas de produção, alcancem preços surpreendentes para os padrões nacionais de renda. Agrava ainda essa situação, o fato de que o crescimento da malha rodoviária não acompanha, nem de longe, o crescimento da frota. Nos últimos dez anos essa defasagem aumentou. Para um crescimento da frota de caminhões da ordem de 110% a malha aumentou apenas 11,7%.

         Com o poderio fulminante demonstrado agora pela greve dos caminhoneiros em todo o país, com bloqueio de rodovias importantes, contra uma carga tributária que é uma das maiores do planeta, problemas ao qual se pode acrescer um monopólio do tipo selvagem dos combustíveis praticado por uma estatal fetiche dos nacionalistas, a nossa crise cíclica parece ter alcançado seu ponto máximo.

         Infelizmente, aqueles que poderiam, lá atrás, ter cumprido seu papel quanto a questão da reforma tributária, foram os principais responsáveis por levar o país a essa situação.

          Dessa forma, fica complicado acreditar que serão, eles mesmos, aqueles que poderão remendar o estrago feito, ainda mais quando se sabe hoje, que graças a rapinagem praticada no seio da Petrobras, chegamos ao fim dessa estrada, não só sem pavimento, mas sem saída.

A frase que foi pronunciada:

“Nem panelas, nem piadas. A reação ao desgoverno chega efetivamente sobre rodas.”

Dona Dita

Critérios de preservação

Documento do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios será encaminhado ao governador Rollemberg com várias recomendações sobre a restauração do viaduto da Galeria dos estados. Já chegou ao Iphan. Veja no blog do Ari Cunha a correspondência, na íntegra, assinada pelo presidente do Icomos/Brasil, Leonardo Bastri Castriota, e Emilia Stenzil, Conselheira do Icomos para a Região Centro-Oeste.

1.1 1.2 1.3

Shoyo

Terras embargadas por irregularidade ambiental não impediram as gigantes Bunge e Cargill de plantar soja. Só que a Operação Shoyo interrompeu o descumprimento da Justiça sobre as áreas desmatadas ilegalmente. Resultado: multa milionária. As empresas recorreram.

Internet

Corre pelo WhatsApp uma mensagem mais ou menos assim: “Se eu for de ônibus, pago R$5; de carro, R$10 pelo litro da gasolina e R$100 por alguma multa. Se for a pé, fico sem celular; de bicicleta, sem bicicleta. Se ficar em casa, gasto água e energia e a conta vem alta. Qualquer movimento, um assalto!”

Charge: ivancabral.com
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HISTÓRIA DE BRASÍLIA

É uma oportunidade que em cento e tantos anos o DCT nunca teve, e não deve perder, agora. (Publicado em 20.10.1961)