Jô Soares e outros

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Charge do Ivan Cabral

 

         São mais verossimilhanças entre humoristas e políticos do que podemos supor à primeira vista. A começar pela diferença de mundos que cada um apresenta para sua plateia. Ambos necessitam da criação de personagens para se fazer presente e serem ouvidos. O humor brinca com a verdade e a política com a mentira. Enquanto um busca a fantasia e absurdo da realidade, como ferramentas para se comunicar com o público, o outro trata a realidade com o absurdo da fantasia, prometendo o irrealizável. Tanto os humoristas como os políticos anseiam pela áurea natural do carisma, que a todos seduz, embora essa virtude mágica prefira a companhia dos cômicos, por sua sinceridade.

         Política pode ter sua graça, quando levada a sério por seu autor. Já o humor só encontra o riso quando foge do compromisso com a seriedade e vira as costas para o mundo em preto e branco do politicamente correto. A política parece mais especializada em um tipo de humor negro, em que o bullying é a arma predileta, enquanto o humorista faz, da troça ligeira e sem ofensas, uma morada para o riso solto.

         É preciso lembrar que em ambas as profissões ou ocupações de vida não é fácil se tornar um humorista ou mesmo um político de respeito. Trata-se de uma tarefa árdua essa de levar, às multidões, o ar fresco da risada ou a esperança de um mundo melhor à frente. A questão aqui é que a troça despreocupada não leva a desilusão de esperanças desfeitas que a política engendra. Rir da realidade absurda é a arte do humorista, rir-se da realidade dos eleitores é a artimanha da velha política.

         O político passa a ser um humorista, no mal sentido, quando suas patifarias alcançam os píncaros da desumanidade. Humor negro é você se deparar com pessoas de idade e de cabelos brancos a ocupar as mais altas funções públicas e, de repente, são surpreendidas pela polícia e, para fugirem do flagrante, escondem milhares de reais em espécie dentro da cueca samba-canção, sendo logo desmascaradas. A piada sem graça, fica por conta da impunidade e de uma Justiça que finge não enxergar malfeitos nos crimes da elite nacional.

         Jô Soares, que agora desce do palco, foi um humorista completo. Possuía bagagem cultural e sabia escalar equipes eficientes. Transitava bem entre a literatura, o humor, o teatro e o jornalismo como poucos neste país. Tinha, a exemplo de Ronald Golias, Anquito, Oscarito e outros poucos, uma forte áurea de carisma, bastando sua presença para iluminar a plateia. Tinha sua graça e fazia dela seu ganha pão honesto. Sabia o que estava fazendo e tinha a tranquilidade daqueles que passam pelo mundo apenas distribuindo alegrias. É preciso destacar também o humor negativo de personagens que também ficarão na história do Brasil, desengonçadamente engraçados como a ex-presidenta, que até o título foi inventado driblando a língua materna. Admirava os ouvintes com seus improvisados discursos, saudando a mandioca ou empacotando vento. Era o terror dos tradutores que não escondiam o constrangimento.

          Até mesmo o ex-presidente e dono do Partido dos Trabalhadores pode ser considerado um grande humorista, quando encarnado em alguns de seus personagens folclóricos, ao criticar seus opositores dizendo que eles estariam destruindo tudo aquilo que eles próprios destruíram e outras sandices. Ou quando se comparava a Jesus ou mesmo afirmava que é o homem mais honesto do mundo. No país da piada pronta, o humor fica do lado sério das coisas, enquanto a política encarna o jeito brasileiro de fazer piada sem graça e humor sem cérebro.

 A frase que foi pronunciada:

“As pessoas estão tão acostumadas a ouvir mentiras, que sinceridade demais choca e faz com que você pareça arrogante.”

 Jô Soares

Jô Soares. Foto: Divulgação

 

Brasília

         Chegou um convite de Tânia Fontenele para participar do Café Histórico e Geográfico, na próxima segunda, das 17h às 19h. A ideia é apresentar uma retrospectiva dos 15 anos de pesquisa sobre as Memórias Femininas da construção de Brasília. O encontro será no próprio Instituto Histórico e Geográfico do DF, na SEPS Entrequadras 703/903, conjunto C. A presença deve ser confirmada pelo telefone 32246544.

 

Óbvio ululante

Formar um grupo de trabalho na Câmara dos Deputados para acompanhar a preparação do Brasil para Copa e resgatar imagem “em baixa” da seleção. A novidade parece absurda. Assim como o nosso próprio país, para melhorar a imagem, os brasileiros devem, no mínimo, saber cantar o Hino Nacional e ter amor pela própria bandeira. O próximo passo é treinar mais e sambar menos, assim como fizeram os alemães. Diferente dos políticos, a imagem do futebol não se melhora com discurso. Basta fazer gols.

Foto: iStock/Getty Images

 

Paciência

Está aborrecendo bastante os moradores da W3, mas a obra na calçada para as garagens vai ficar excelente. Em frente às lojas, grande parte do calçamento já foi reformada, possibilitando o trânsito seguro de pedestres.

Reprodução: g1.globo.com

 

Comércio

Mais um funcionário modelo que sabe tratar os clientes com atenção. Dessa vez, na Casa&Festa, Francisco se destacou. Dá ideias para os aniversários, conhece cada palmo da loja. Essa coluna reclama quando precisa reclamar, mas, no nosso comércio, é tão raro ver gente capacitada no atendimento ao público que vale o destaque.

Foto: reprodução da internet

 

História de Brasília

Está quase pronto, o posto de serviço da Petrobras, em frente a 206. Muito bem, porque os postos do Plano Pilôto deixaram de vender gasolina azul, porque o lucro é menor do que a amarela. (Publicada em 08.03.1962)