Do escambo à economia virtual

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Imagem: Shutterstock

 

          Nada é mais consumido no mundo de hoje do que a ficção em forma de literatura, cinema e outras artes. A propósito, a própria arte, em suas manifestações abstratas, podendo ser tudo aquilo que o freguês deseja ver, também segue o mesmo rumo e é consumida, com avidez, como sendo um oásis de segurança em investimentos.

Com esse introito o que se busca é demonstrar que os rumos tomados hoje pelas ciências humanas da economia, seguem, cada vez mais imbicados rumo ao mundo virtual, onde a ficção e a realidade se fundem num mesmo bem, cujo valor está suspenso no ar, à espera de uma nova movimentação das peças nesse tabuleiro de nuvens.

Voltando os olhos para trás e percorrendo o longo caminho erguido pelos seres humanos para a criação de bens de consumo, verificamos que toda a produção de riqueza parece ter se iniciado com a troca de bens, onde o valor do produto era aferido por sua necessidade imediata. Do escambo, as primeiras civilizações passaram a comercializar seus produtos, tendo como ponto de atividade geográfica, os entroncamentos dos caminhos, onde todas as estradas se entrecruzavam, dando origem às primeiras feiras. Até aí nenhuma novidade para quem segue as trilhas da história.

O ponto de inflexão fica situado com a popularização da moeda, nascida, nesses locais, como bens de troca. Surge aí, talvez a primeira ficção econômica e ao mesmo tempo real. Lastreado em ouro ou prata, esse bem de troca logo ganhou a preferência do mundo antigo. Aqui, pouco importavam as batatas ou o trigo, mas a bolsa de moedas e o tilintar dos metais preciosos.

Um mundo inteiro de produtos reais poderia ser representado agora pela posse de uma pequena quantidade desse mineral em forma de discos minúsculos. Dessa evolução, tomada pelos bens materiais em direção à abstração e à ficção, surgem, nesses mesmos espaços de feiras de comércio, a nota promissória e o embrião das primeiras casas bancárias. É nesse ponto que a transformação da riqueza ganha seu maior impulso rumo ao mundo da ficção.

         Somente o poder de abstração da espécie humana, fator que, por excelência, a diferencia dos demais animais, foi capaz de transmutar as riquezas materiais em bens que, ao fim e ao cabo, estavam apenas estampados numa folha de papel, garantidos por garatujas e selos de parafina. Nada mais irreal do que aquilo que não está ao alcance dos olhos e sob o controle dos sentidos. Nenhuma outra revolução na economia foi tão radical e definitiva como a criação do sistema bancário. Obviamente que, com os bancos, veio o sistema financeiro. Dando um grande salto no tempo, até os dias de hoje, vemos que o mundo moderno já não pode mais se desvencilhar do sistema financeiro, pois é ele que, em última análise controla o setor produtivo, regulando até o setor responsável pelo consumo.

         Nessa encruzilhada dos bancos, quatro caminhos ou mercados tomam direções diferentes: o de capitais; o de crédito; o de câmbio e o monetário. Nesse patamar, as riquezas e os bens materiais, somem de vista, passando a compor o mundo virtual, onde as oscilações de preços e outros fatores abstratos dão um novo sentido a economia. Pensar que esse é o fim de todo um ciclo percorrido pela riqueza é também uma ilusão.

          Nada termina nessa estação do trem da história econômica. Mas, além dessa estação, vislumbram-se ainda outros nascentes modelos econômicos, ainda mais abstratos e irreais, criados agora com a introdução do mundo digital e da internet na economia. Nesse estágio, a própria moeda física deixa de existir e todos os ativos do mundo surgem agora como aquele pintor, que ficou suspendo no ar, segurado apenas pela brocha colado ao teto.

         Não bastassem os mercados futuros, onde as certezas são dadas com base em incertezas, surgem agora as criptomoedas ou criptoativos, também conhecidos como cyber moedas. Com isso, a validade das transações passa a ser dada por intermédio da tecnologia. Curiosamente, o criador desse novo modelo econômico, em 2009, um tal Satoshi Nakamoto, nunca foi agraciado com o Nobel de economia, por sua invenção. Mais curioso é saber que as criptomoedas não são lastreadas a uma reserva financeira ou a um bem físico.

         É aí que a ficção na economia ganha ainda mais elementos irreais. Seu valor é dado pelos ventos do mercado, seguindo as antigas leis de mercado, no embate esterno entre oferta e procura. A questão toda aqui envolve a credibilidade ou a falta dela em relação aos governos e aos Estados. De fato, sãos governos e seus respectivos bancos centrais, de todo o mundo, sobretudo de países como o Brasil e outras economias cambaleantes, que perderam a credibilidade, devido a excessiva criatividade com que lidam com os números.

          Quanto mais criativas as pedaladas fiscais nas contas públicas, mascarando os números, mais e mais, a moeda fiduciária, ou aquela garantida pelo governo, perde seu valor de face. É nesse faz de conta que a ficção, representada pelas criptomoedas, surge até com mais concretude e certezas do que as moedas nacionais, como é o caso do Real. A noção moderna ensina que, no mundo virtual, o dinheiro está bem mais seguro e protegido do que nos cofres dos bancos centrais.

 

A frase que foi pronunciada:

“Os pobres ficam ainda mais pobres quando têm de sustentar os burocratas nomeados supostamente para enriquecê-los.”

Mário Henrique Simonsen

História de Brasília

Entre as duas pistas da W3RN há seguidas lagoas, que poderiam ser extintas, bastando um pequeno movimento de terra da Esplanada dos Ministérios. (Publicada em 01.04.1962)

A hora e a vez do escambo

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Foto: Cloud coaching

 

         Ideias, por sua capacidade de provocar surpresas e frutos de todo o tipo, preferem germinar em terrenos áridos, onde a dureza da razão despreza e não enxerga possibilidades. São nesses terrenos baldios que brotam respostas simples, capazes de fazer frente e até humilhar a complexidade das leis científicas.
         No caso da economia, com toda a sua hermenêutica e modelos matemáticos, ideias como o escambo de produtos e serviços, criados há milênios, junto com o aparecimento das primeiras civilizações, ressurgem agora como uma saída simples ou singela para muitas empresas, atoladas no emaranhado de regulações, tributações e outras invencionices do mundo moderno.
         A roda da história não para de girar, levando e trazendo soluções que são sempre revisitadas em épocas de crise. Desta vez, a permuta de bens e serviços encontrou, no oceano da internet e das mídias sociais, um vasto campo de possibilidades, reinventando-se e dando, ao velho modelo de comércio, novas significâncias e valores materiais. Não se tem ainda um número exato sobre essa modalidade de comércio simples e direto.
         Estimativas mais recentes dão conta de que esse comércio via internet movimente mais de U$ 10 bilhões anualmente pelo mundo, com mais de 300 mil empresas realizando trocas (obviamente que são estimativas subdimensionadas). De qualquer modo, despertam e iluminam muitos empresários e empreendedores a prosseguir seus negócios mesmo diante da ameaça, cada vez maior, de falências e concordatas.
         Tem se tornado cada vez mais ocorrente a troca de bens, como por exemplo de confecções, por serviços de manutenção de máquinas. Ou a troca de parte da produção de alimentos, por produtos como caixas e outras embalagens. As possibilidades são infinitas e vêm atraindo muita gente, disposta a manter vivo e atuante seu empreendimento.
         Infelizmente, não existe ainda, em nosso país, uma agência ou cooperativa que cuide desse antigo modelo de comércio. Mesmo alguns bancos, que podiam enxergar nesse comércio algum nicho de lucro, ainda resistem à ideia. Talvez pelo fato de que os bancos, na sua grande maioria, representam hoje parte atuante do problema da quebradeira de muitos negócios e não a solução para os mesmos. Algumas empresas cogitam até a possibilidade de terem que fechar as portas, que, pelo peso excessivo dos encargos sociais e tributos, pagam parte do que devem aos seus funcionários com bens que produzem.
          O que é fato é que a mais antiga forma de comercialização do mundo, o escambo, não acabou de vez e mostra ainda sua capacidade de reagir e de servir de apoio aos novos praticantes. A verdade é que o escambo, por sua simplicidade, possui e entrega um caráter mais humano às transações comerciais, mostrando nessas relações a necessidade vital de parcerias e de apoios mútuos, numa época de concentração de renda, de desigualdades e de muita frieza nos negócios.
         Nesse tipo de comércio, troca-se até poesia por pão ou farinha. Talvez seja por isso mesmo que as altas ciências econômicas e contábeis, com todas as suas fórmulas matemáticas inexpugnáveis, torçam o nariz para esse modelo antigo de comércio, já que reconhecem nele toda a eficácia e mesmo a origem e fonte cristalina de onde derivou toda a economia.
         Transcender a economia, tal como é praticada hoje, de modo excludente e monopolista, é o que torna o escambo tão especial e necessário, mesmo que alguns insistam hoje em classificá-lo de démodé. O que ninguém pode negar é que esse antigo modelo, ao libertar parte da população do capital, faz reviver a tão necessária economia solidária, idealizada tanto por Robert Owen, no século 19 na Inglaterra, como pelos hippies, na década de sessenta.
         É um negócio que desposta e que se insere também dentro da chamada economia circular, com nítido caráter de desenvolvimento sustentável, de diminuição de desperdícios e de reaproveitamento de materiais. Para os empreendedores que buscam oportunidades de investir ou abrir novos negócios, eis aí um nicho que promete e parece ter um longo caminho pela frente.
A frase que foi pronunciada:
“Com trabalho, inteligência e economia só é pobre quem não quer ser rico.”
Marquês de Maricá
Marquês de Maricá. Foto: wikipedia.org
História de Brasília
Três professoras especializadas no ensino a surdos-mudos estão enfrentando tremendas dificuldades em Brasília. Estão com uma turma já matriculada, de 20 crianças, e não dispõem de lugar onde lecionar. (Publicada em 17.03.1962)