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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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É sintomático de nossa era o modo como tratamos as crianças. A infância, uma fase essencial ao desenvolvimento humano, tem sido comprimida, encurtada, empobrecida — e, em muitos casos, apagada. Ao contrário do que se poderia imaginar em tempos de avanços tecnológicos e maior acesso à informação, assistimos a um fenômeno alarmante: a corrosão da infância como etapa legítima, protegida e insubstituível da vida humana.
A espécie humana, ao longo de sua evolução, foi moldando-se a partir do prolongamento da fase infantil. Essa expansão do tempo de dependência e aprendizado, característica exclusiva do Homo Sapiens, permitiu o florescimento da linguagem, da cultura, das emoções e da inteligência social. Crianças que brincam, exploram, expressam-se e se sentem seguras são as sementes de uma sociedade mais justa, saudável e inovadora.
Entretanto, o mundo moderno parece seguir na contramão. O que antes era considerado tempo necessário para crescer tornou-se, para muitos, um luxo dispensável. A urbanização desordenada, a violência social, o consumismo e a lógica do desempenho precoce invadem a rotina das crianças. Submetidas a agendas sobrecarregadas, privadas de contato com a natureza e expostas precocemente às telas, muitas já não vivem a infância — apenas sobrevivem a ela.
A UNICEF alerta: “As experiências vividas nos primeiros anos moldam profundamente o futuro de cada ser humano. O cérebro infantil, sobretudo nos primeiros mil dias, estabelece cerca de um milhão de novas conexões por segundo. É nesse intervalo que políticas públicas devem intervir com maior intensidade”. Infelizmente, em vez de fortalecer essa janela de ouro do desenvolvimento, o Brasil vem falhando. O investimento público na primeira infância está aquém do necessário. Segundo relatório da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, apenas 0,47% do PIB é destinado à atenção integral à primeira infância, patamar considerado insuficiente para garantir impacto positivo a longo prazo.
Mas não é apenas nas planilhas do orçamento que a infância vai sendo reduzida. É no cotidiano banalizado da exploração infantil, no silêncio diante da evasão escolar, na omissão frente ao trabalho infantil que o país revela sua negligência crônica.
A ex-ministra do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, certa vez declarou que “a proteção da infância não é apenas um dever moral — é uma obrigação constitucional”. De fato, a Constituição de 1988 estabelece no artigo 227 que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à educação, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar. No entanto, quando se analisa o que tem sido feito em termos de políticas públicas estruturantes, o cenário revela uma distância brutal entre a letra da lei e a realidade das ruas.
Nos centros urbanos, a infância é comprimida entre o medo e o concreto. Nos rincões do país, ela é muitas vezes interrompida antes mesmo de florescer. Para os mais pobres, a infância termina cedo: meninos empurram carrinhos de recicláveis, enquanto meninas cuidam dos irmãos mais novos em casas improvisadas. São vidas que amadurecem antes da hora, roubadas do tempo do encantamento, do lúdico, do afeto.
Como consequência, surgem adultos que não puderam ser crianças. Indivíduos que cresceram sem o suporte emocional adequado, sem espaço para elaborar medos ou desenvolver autonomia. A psiquiatria já demonstrou a ligação entre traumas infantis e transtornos como depressão, ansiedade, transtornos de personalidade e até mesmo tendências violentas. A infância desassistida não é apenas uma injustiça; é também um risco social.
Num recente fórum internacional sobre juventude, a psicóloga chilena Neva Milicic afirmou: “A criança que cresce sem brincar é um adulto em potencial que não aprendeu a criar saídas. O brincar ensina a resiliência, a negociação, a empatia”. Ora, se é no brincar que se desenvolvem as principais habilidades para a vida em sociedade, o que esperar de uma geração criada à base de tarefas exaustivas e isolamento digital?
A neurocientista canadense Adele Diamond defende que “as funções executivas mais complexas do cérebro — aquelas que nos tornam humanos — começam a ser moldadas nos primeiros anos de vida, e dependem de experiências ricas e afetuosas”. Isso nos leva à constatação de que investir na infância não é caridade. É, antes, a mais inteligente e estratégica política de desenvolvimento.
Se quisermos um país menos desigual, menos violento e mais equilibrado, precisaremos começar pelas crianças. Não apenas em slogans, mas em ações concretas, investimentos duradouros e compromisso real com o futuro.
A Frase que foi pronunciada:
“Grande é a poesia, a bondade e as danças. Mas o melhor que há no mundo são as crianças.”
Fernando Pessoa, em “Liberdade”

História de Brasília
O senhor Martins Rodrigues, que reside em Brasília, e que daqui a pouco arrasta o pé , bem poderia patrocinar essa causa em benefício do Distrito Federal, com a autoridade de líder da maioria. (Publicado em 08.05.1962)
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Falta de planejamento, de bom senso e racionalidade fazem com que grande parte das 40 unidades de Conselhos Tutelares espalhados por todo o Distrito Federal vivam em situação de penúria, funcionando em instalações inadequadas, sem estruturas como móveis, cadeiras, carros, salas privativas e outras necessidades ao bom desempenho da função.
Os Conselhos Tutelares, cujas as eleições terminaram nesse domingo, com a escolha de 200 novos conselheiros para um mandato de 4 anos entre 2020 e 2023, é de fundamental importância para a correta aplicação da lei contida no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), principalmente num país tão desigual, com baixo índice de escolaridade, alta concentração de renda e precariedade na prestação de serviços públicos de qualidade. Segundo o relatório intitulado Out Of Shadows, publicado pela revista inglesa The Economist, o Brasil aparece, juntamente com 40 outros países, na 11º posição entre os Estados que melhor protegem seus cidadãos na faixa etária abaixo de 19 anos. O estudo, feito por uma junta de especialistas no assunto, aborda temas como casamento infantil, saúde reprodutiva e sexual, diferenças de gênero, aplicação da lei, abuso sexual infantil online e outros itens.
Com uma nota de 0 a 100, o Brasil aparece com 55,4 pontos, o que é uma menção acima da média mundial no quesito proteção às crianças feita não só pelo governo, como pela inciativa privada, pela sociedade civil e boa parte da mídia, na divulgação de casos e na feitura de campanhas contra essas práticas odiosas.
É justamente o conjunto de leis contidas no Estatuto da Criança e do Adolescente que elevou a pontuação de nosso país. Sem o Eca, a colocação do Brasil despencaria para as últimas posições. O que os especialistas no problema apontam, com relação ao nosso país e que poderia melhorar a posição nesse ranking, é a elaboração de programas de prevenção para abusadores em potencial, bem como a coleta e divulgação de dados sobre os casos de violência sexual contra menores, em tempo real e de forma clara e objetiva.
A diferença do Brasil em relação aos países desenvolvidos no que tange à proteção de suas crianças é que, nesses países, os governos investem pesado em equipamentos e pessoal especializados no trato com esse problema e as leis são eficazes e prontamente cumpridas, não deixando espaços para manobras de qualquer espécie.
Outro grave problema encontrado no Brasil e nos países subdesenvolvidos e que dificultam a proteção adequada à infância é com relação ao trabalho forçado dos pequeninos em idade escolar.
Aqui em Brasília, o problema com os Conselhos Tutelares poderia ser provisoriamente solucionado com a instalação dessas unidades nas Administrações Regionais ou nas escolas da rede pública, nas Unidades de Pronto Atendimento ou mesmo no que sobrou das estruturas dos antigos Postos Comunitários de Segurança.
Falta interesse e racionalidade para resolver esse problema e não recursos e outras soluções. Para um desses conselheiros que agora deixa o posto, desiludido com a situação de descaso do governo, bom seria se a Câmara Legislativa destinasse parte da fabulosa verba que recebe para um problema tão mais urgente e necessário como esse. Os cidadãos, com certeza, entenderiam e agradeceriam.
A frase que foi pronunciada:
“Quando me aproximo de uma criança, ele me inspira dois sentimentos – ternura pelo que é e respeito pelo que pode se tornar. ”
Louis Pasteur, químico e microbiologista francês

Aviso
Maria Ivoneide Vasconcelos Soares, presidente da ASSEF, comunicou que o Centro de Educação Infantil fechará as portas depois de 30 anos de funcionamento. Certamente ficará uma lacuna na cidade. Trata-se de uma escola diferenciada, na capital.

Registro
Veja a seguir o padre Rogério atendendo confissões e dando bênçãos nos jardins da 415 Sul. A iniciativa foi estimulada pelas Paróquias Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora das Mercês.
Emoção
De repente, o coral Cantareiros visitava os pacientes do Pró-Cardíaco, em Botafogo no RJ, e ali, pertinho, aguardava atendimento ninguém menos que o maestro Isaac Karabtchevsky. Nessas horas, o coração esquece os problemas. Sem cerimônia, o mestre regeu como se a voz do grupo estivesse nas pontas dos dedos. Belo vídeo. Veja a seguir.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Quanto ao discurso, há uma expressão que devolvemos. Não houve leviandade por parte do colunista, que sabe muito bem o que diz. Como, entretanto, pela movimentada sessão da Câmara sobre o assunto, se deduz que Brasília não tem inimigos, vamos acompanhar a votação das emendas. (Publicado em 01/12/1961)


