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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Talvez não haja veneno mais eficaz para corroer os laços de uma sociedade do que o hábito insidioso de enxergar o outro não como interlocutor, mas como inimigo. A polarização, esse mal que se disfarça de convicção, vem se entranhando no tecido nacional com tal sutileza que já não se sabe onde termina a política e começa o ódio. No Brasil, a divisão em campos opostos, muitas vezes estimulada por discursos oficiais, por algoritmos ou pela própria fragilidade educacional, já se converteu em paisagem cotidiana. O fenômeno, embora costume ser atribuído a governos recentes, possui raízes mais antigas, plantadas na incapacidade coletiva de sustentar o diálogo e na persistente desigualdade estrutural que produz exclusões simbólicas e materiais.
Segundo o relatório “Democracia sob Tensão”, do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (UFMG, 2024), cerca de 72% dos brasileiros afirmam sentir que o país está “profundamente dividido”, um índice que cresceu 11 pontos percentuais desde 2018. Esse mesmo levantamento aponta que 64% das pessoas evitam discutir política com amigos ou familiares, tamanho o desgaste das conversas e a tensão instalada no cotidiano. Há quem diga que se trata de um fenômeno passageiro, mas os números e as redes digitais mostram o contrário: o Datafolha revelou, em maio de 2024, que 9 em cada 10 eleitores afirmam não se arrepender do voto de 2022, o que evidencia o endurecimento das identidades políticas e a cristalização da cisão social.
Os efeitos disso vão muito além da urna. A polarização se infiltrou no entretenimento, nas universidades, nas empresas, e até nas mesas de bar, corroendo o que o sociólogo Zygmunt Bauman chamaria de “zonas de convivência líquida”. A cada episódio, a desconfiança se renova: artistas são boicotados, intelectuais são cancelados, professores são vigiados e jornalistas são atacados sob qualquer pretexto. Relatório da UNESCO (2023) alerta que o Brasil figura entre os dez países com maior volume de ataques virtuais a comunicadores e artistas em razão de opiniões políticas, o que demonstra que a fratura cultural acompanha a fratura cívica.
Festivais, exposições e prêmios têm sido atravessados por disputas ideológicas que pouco ou nada têm a ver com estética ou mérito. O Observatório de Economia Criativa (UFBA, 2024) mostrou que 38% dos artistas brasileiros afirmam ter perdido contratos ou convites de trabalho por causa de sua posição política, enquanto 52% relatam autocensura em redes sociais e apresentações públicas para evitar retaliações. Trata-se de um dado alarmante, pois revela que a polarização não apenas divide: ela silencia.
No entanto, a origem do problema não pode ser reduzida a um espectro político específico. Pesquisas internacionais, como a do Pew Research Center (2024), indicam que o Brasil é um dos países com maior índice de polarização afetiva da América Latina, superado apenas por Estados Unidos e Argentina. Essa “polarização afetiva” é aquela em que a rejeição ao outro partido ou grupo social importa mais do que a adesão racional às ideias do próprio lado. Em outras palavras, não se trata apenas de divergência, mas de aversão moral. E essa aversão é alimentada, todos os dias, por um sistema comunicacional que recompensa a indignação.
As redes sociais têm papel central nessa engrenagem. O relatório “Digital 2025”, da consultoria We Are Social, mostra que o Brasil já tem mais de 150 milhões de usuários ativos nas redes, com tempo médio diário de 3 horas e 46 minutos em plataformas digitais, um dos maiores do mundo. O mesmo relatório aponta que conteúdos com teor emocional negativo (raiva, ironia, indignação) alcançam até 70% mais engajamento do que postagens neutras. O algoritmo, portanto, não apenas reflete a polarização, mas a multiplica, incentivando o confronto e desestimulando o diálogo.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) revelou, no Censo da Educação Básica 2024, que apenas 34% dos alunos do ensino médio compreendem plenamente textos argumentativos complexos, uma estatística que explica muito sobre nossa vulnerabilidade à manipulação simbólica. Um país que não lê, não interpreta e não debate tende a ser refém da simplificação e da mentira. E a mentira, quando vestida de verdade partidária, transforma-se em instrumento de poder.
Em 2023, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV Cultura), o setor cultural brasileiro perdeu 18% de seu público presencial em relação ao período pré-pandemia, fenômeno atribuído não apenas à crise econômica, mas também à crescente rejeição do público a manifestações percebidas como “partidárias”. A plateia, antes diversa, fragmentou-se em bolhas.
Sociólogos como Jessé Souza e Ladislau Dowbor vêm alertando que a polarização tem servido como cortina de fumaça para a ausência de políticas estruturais de longo prazo. Enquanto a sociedade se digladia por símbolos e narrativas, o país segue com 9,2 milhões de desempregados (IBGE, PNAD Contínua , 2025), 26 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave (FAO, 2024) e uma taxa de evasão escolar que volta a crescer, atingindo 18% entre jovens de 15 a 17 anos. São números que falam de desigualdade e descuido, mas que raramente mobilizam tanto quanto uma disputa ideológica no feed.
Por isso, o enfrentamento da polarização exige mais do que bons modos: exige reconstrução cultural e educacional. É preciso investir em programas de educação midiática, fomentar o pensamento crítico desde a infância, e estimular políticas culturais que valorizem o dissenso como aprendizado, e não como ameaça. A OCDE, em relatório publicado em 2024, indica que países que introduziram currículos de “educação para cidadania digital” reduziram em até 30% os índices de radicalização juvenil online em cinco anos. A lição é clara: o diálogo precisa ser ensinado.
Também é necessário repensar a relação entre Estado, cultura e financiamento. Quando o apoio público se converte em recompensa a fidelidades ideológicas, o espaço da arte se empobrece. E quando o artista teme a rejeição de parte do público por se expressar, o país perde um de seus mais antigos instrumentos de autocrítica. A pluralidade não deve ser privilégio de um grupo, mas fundamento da nação.
Ao fim, o mal da polarização talvez não esteja na divergência em si, pois o conflito de ideias é o motor da democracia, mas na transformação da diferença em fronteira. O Brasil, com sua vocação histórica para a mistura e o diálogo, parece agora se esquecer de que nenhuma sociedade resiste quando as palavras se tornam pedras. É preciso, portanto, reaprender o idioma da convivência, antes que a surdez coletiva se torne permanente.
Enquanto houver quem prefira gritar a ouvir, o país continuará dividido não em partidos, mas em pedaços. E cada pedaço, por menor que pareça, levará consigo um fragmento do que já fomos: um povo capaz de rir de si mesmo, de abraçar o outro e de reconhecer, no rosto diferente, a semelhança que nos fazia inteiros.
A frase que foi pronunciada:
“O destino conduz o que consente e arrasta o que resiste.”
Séneca

HISTÓRIA DE BRASILIA
E por falar nisto, estão enganando o presidente da República. Houve uma decisão para reiniciar as obras em Brasília. O IAP-FESP e o IAPM lançaram-se numa euforia arquitetônica e pararam no meio do caminho.
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Não é de agora que a esquerda no Brasil tem recorrido, costumeiramente, à retórica da luta de classes, colocando pobres contra ricos e efetivando, na prática, o “nós contra eles”. Essa estratégia, vista historicamente, é uma forma de desunião da população, favorecendo quem detém o poder para manter o controle, mas, atualmente, também tem sido usada para denunciar desigualdades econômicas e sociais profundas, ainda que gere polarização.
Notícias indicam que essa incitação pode levar o país a um caminho difícil, como o da Venezuela, marcada pela crise econômica e social severa. A retórica da luta de classes e a polarização no Brasil pode ser também um mito providencial. A imprensa mostra que a polarização política atual é uma expressão direta da luta de classes, onde existe um antagonismo explícito entre interesses das classes trabalhadoras e das elites econômicas.
Ocorre que, nos discursos das autoridades, as palavras parecem ser levadas pelo vento, desprovidas de compromisso com a realidade que pretendem transformar. O que se observa, de fato, é que, embora cultivem o discurso da luta entre ricos e pobres, tais autoridades acabam por estimular a população a voltar-se contra elas próprias, pois são justamente essas figuras públicas que se apresentam como símbolo maior da desigualdade que dizem combater.
Desfilam em trajes de alto custo, exibem relógios inacessíveis à imensa maioria dos cidadãos, hospedam-se em hotéis de luxo e promovem viagens dispendiosas, muitas vezes destinadas a companheiros de conveniência, e não a técnicos ou especialistas. Essa ostentação reiterada consolida, no imaginário coletivo, a percepção de que os verdadeiros detentores da riqueza no país são os próprios políticos — indivíduos que, em sua maioria, atuam movidos por interesses particulares ou partidários, relegando, aos contribuintes, o papel de sustentar, com seus impostos, o peso de uma máquina pública inchada e entregue aos excessos da própria gastança.
Obviamente, existe consequência dessa retórica para a paz social. Conflitos entre grupos com diferentes interesses econômicos costumam ser manipulados politicamente, causando rupturas sociais e dificuldades para a convivência pacífica. Isso torna o país vulnerável a crises políticas e econômicas mais profundas, afetando a qualidade de vida da população, especialmente dos mais vulneráveis. Fatos como estes levam, necessariamente, a comparações com a vizinha Venezuela. O caso da Venezuela serve como laboratório para este tipo de experimentação, trazendo também um sério alerta para nosso futuro. Lá, a luta extremada entre classes e o enfrentamento ideológico resultaram em uma crise econômica e social gravíssima, com hiperinflação, escassez de alimentos, desemprego e um estado de colapso social.
O divisionismo faz mal para ao nosso país. Ao seguir a mesma lógica de polarização acirrada, baseada em discursos que insuflam o antagonismo de classes, o Brasil corre o risco de acentuar crises sociais e econômicas, dificultando a construção de soluções conjuntas para problemas estruturais. O estratagema de dividir para governar, embora utilizado para controle político, pode minar a coesão social e empurrar o país para um beco sem saída semelhante ao vivido pela Venezuela, com instabilidade e piora das condições de vida.
Há dados concretos que mostram o impacto da polarização política na violência e conflitos sociais no Brasil. Segundo estudo do Observatório da Violência Política e Eleitoral (OVPE) da Unirio, entre janeiro de 2019 e maio de 2024, ocorreram 133 casos de violência política envolvendo parlamentares federais, incluindo agressões físicas e ameaças, revelando o aumento da disputa política acirrada em contexto de polarização. A pesquisa da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), realizada em 2022, mostrou que 3,2% dos entrevistados, cerca de 5,3 milhões de brasileiros, relataram ter sofrido ameaças por suas posições políticas. Além disso, 67,5% disseram ter medo de agressões físicas por conta de suas escolhas políticas, o que reflete o clima de intolerância e medo gerado pela polarização. Uma reportagem do Terra destaca que, só em 2024, foram registrados mais de 450 casos de violência política, incuindo 94 casos de violência física e 15 mortes relacionadas a conflitos políticos.
Maria De’Carli, especialista, destaca que a radicalização e a polarização aumentam a intolerância e a agressividade entre eleitores, especialmente com o fortalecimento do chamado “eleitor digital”, nas redes sociais. Dados da Edelman Trust Barometer apontam que 78% dos brasileiros percebem um aumento da divisão ideológica, e 80% notam um crescimento da falta de respeito mútuo. O mesmo levantamento revela que apenas 29% estariam dispostos a ajudar alguém com opiniões políticas diferentes, indicando um tecido social fragilizado pelo clima de polarização. Esses dados indicam que a polarização política no Brasil tem um impacto direto no aumento da violência política, ameaças, agressões físicas, clima de medo e intolerância social, refletindo uma sociedade cada vez mais dividida e conflituosa.
A frase que foi pronunciada:
“Em política, meu caro, sabe tão bem quanto eu, não existem homens, mas ideias; não existem sentimentos, mas interesses; em política, ninguém mata um homem: suprime-se um obstáculo. Ponto final.”
O Conde de Monte Cristo

Merecem reconhecimento
Não são poucas as instituições educacionais ligadas ao governo que deixam de receber as verbas a que têm direito. A Casa do Pequeno Polegar, que cresceu com Brasília, está em obras aos trancos e barrancos, já que não há verbas. Banheiros para funcionários e visitantes na área externa são prioridade.

Diário
Só os antigos sabem dessa história. Apesar dos maus olhados para o reitor Azevedo da UnB, ele era um homem simples, sem arrogância. Grande amigo do sapateiro Abdias, o convidava sempre para almoçarem juntos.

Agenda
Maria Izabel de Aviz convida para o lançamento do livro Psicoterapia Fenomenológica II (O método fenomenológico). O evento será no dia 17, às 19h, no Salão Paroquial Santo Cura D’Ars, na 914 da Asa Sul. Dom Aviz, irmão da escritora, que estava em Roma, estará presente na solenidade.
História de Brasília
Na Quadra 7 do SCR as calçadas não estão completas. Onde há casa comercial, a calçada é feita. Onde há passagem para a W-2 é todo esburacado o piso. (Publicada em 10.051962)
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Nos últimos anos, duas expressões têm sido repetidas quase como mantras pela mídia, por organismos internacionais e por lideranças políticas: “discurso de ódio” e “fake news”. Em tese, ambas guardam sentido nobre: evitar que a violência verbal se torne ação concreta e impedir que mentiras deliberadas comprometam a saúde pública, a política e a confiança social. Mas, no terreno da política, sobretudo dentro do que se convencionou chamar de nova ordem mundial e de globalismo, esses conceitos deixaram de ser simples categorias éticas ou jornalísticas para se tornarem instrumentos de poder.
De maneira cada vez mais evidente, o que se vê é o uso desses rótulos como mecanismos de censura seletiva. Enquanto qualquer opinião divergente do consenso progressista pode ser tachada de discurso de ódio, agressões físicas e tentativas de assassinato contra líderes de direita não recebem o mesmo enquadramento moral.
O atentado contra Jair Bolsonaro em 2018, por exemplo, não foi amplamente narrado como fruto de uma cultura de ódio político, mas como episódio isolado. Já as críticas duras a figuras ou agendas progressistas, mesmo quando se tratam de argumentos fundamentados, são rapidamente classificadas como intolerância ou desinformação. Essa assimetria não é acidental. Trata-se de uma estratégia calculada de controle narrativo. O globalismo, mais do que um fenômeno econômico, é um projeto cultural e político que busca uniformizar padrões de pensamento, relativizando tradições nacionais e impondo parâmetros ideológicos.
Para isso, precisa reduzir ao silêncio as vozes que se opõem a esse processo, e nada mais eficiente do que aplicar rótulos morais contra quem questiona. É nesse ponto que a frase de Olavo de Carvalho ganha caráter profético: “A esquerda move contra a direita uma crescente e bilionária guerra de extinção enquanto a direita não lhe opõe senão uma polida concorrência democrática. É uma luta de assassinos contra idiotas”.
O que Olavo denunciava não era apenas uma desproporção de forças, mas uma diferença de estratégia. A esquerda global, com acesso a fundos bilionários de fundações, organismos internacionais e governos simpáticos à sua agenda, transformou o combate ideológico em uma verdadeira guerra de eliminação. Já a direita, presa ao ideal da concorrência dentro das regras democráticas, não percebeu que as regras do jogo haviam mudado. O resultado é um embate desigual, onde de um lado se utilizam todos os recursos — censura, cancelamento, perseguição judicial, ataques midiáticos e até violência física, e do outro, predominam respostas tímidas, “polidas”, ancoradas numa fé excessiva na institucionalidade..
É claro que a democracia não pode se converter em guerra aberta, mas ignorar que a disputa política assume contornos de guerra assimétrica é fechar os olhos para a realidade. Quando a censura se torna rotina, quando líderes conservadores sofrem atentados e quando cidadãos comuns têm medo de expressar opiniões por receio de sanções, não se trata mais de uma competição democrática: trata-se de uma luta pela sobrevivência política e cultural.
O uso das categorias “discurso de ódio” e “fake news” pela nova ordem mundial revela exatamente isso: uma arma semântica com poder de deslegitimar adversários, antes mesmo que possam apresentar seus argumentos. Trata-se de um processo de sufocamento lento, mas calculado, que vai desde a exclusão digital até a exclusão física. Nesse contexto, a advertência de Olavo ecoa com força redobrada: ou a direita entende que está diante de uma guerra de extinção ainda que travada sob formas disfarçadas—, ou continuará a desempenhar o papel de “idiota útil”, incapaz de perceber que, enquanto acredita disputar eleições, seu adversário disputa o próprio direito de sua existência.
O desafio está lançado: a direita precisa decidir se continuará a agir como concorrente em um jogo democrático que não existe ou se assumirá a gravidade da guerra que lhe foi imposta. O futuro da liberdade de expressão, da pluralidade política e das
nações que resistem ao globalismo depende dessa escolha. O assassinato cometido, agora, contra o líder da direita americano Charlie Kirk, mostra que não se pode mais tratar com luvas de pelica aqueles que só conhecem o uso de luvas de boxes, reforçados com pregos. Há quem veja que pode, detrás desse nevoeiro escuro, luzes e ventos vindas de longe, lá da região dos Himalaias, ser capaz de inspirar aqueles que entendem de coisas como a liberdade.
A frase que foi pronunciada:
“Não se pode condenar por violência simbólica”.
André Marcília

Escorregador
Veja, a seguir, as fotos do escorregador do parquinho da 214 Norte. Desleixo total com a meninada da região.


História de Brasília
O Correio Braziliense publicou ontem uma nota dizendo que o governo da Alemanha Ocidental proibiu à fábrica Volkswagen aumentar os preços dos seus carros. Mas isto não é nada não, porque no Brasil eles tiram a diferença. (Publicada em 9/5/1962)
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Historiadores costumam considerar que a coletividade, comumente denominada povo, é, no mais das vezes, uma porção de ninguém, por sua pouca ou nenhuma influência no correr dos acontecimentos políticos dentro do Estado. Em países apontados como subdesenvolvidos, essa situação de passividade é mais visível e presente. É como dizem: a massa é mole. Não se movimenta por ação de ideologias. A única coisa capaz de levar o povo às ruas, com disposição para mudar o cenário cotidiano, são a fome e a carestia no preço dos alimentos. Só quando o incômodo chega ao estômago é que a coisa anda ou desanda de vez.
Isso explica por que a aprovação ou a desaprovação de um governo por parte do público só se dá quando a queda ou o aumento nos preços dos alimentos acontece. Fora dessa causa, o que se tem é o marasmo. Talvez por esse motivo, os preços dos alimentos expostos nos supermercados sejam o maior indicador para ruas vazias ou tomadas por manifestantes. Nesse sentido, qualquer déspota que deseje manter-se no poder indefinidamente deve, antes de tudo, fazer o possível ou o impossível para manter também o acesso fácil da população aos alimentos.
Para muitos pensadores liberais, isso explica porque a coletividade acaba sempre sendo também uma abstração. Qualquer indivíduo que tenha que escolher entre ser o protagonista da própria vida ou ser um salvador do planeta escolherá a primeira opção. Mesmo nos regimes socialistas mais extremados, o sonho de cada um nunca é, primordialmente, pelo crescimento do coletivo. Optamos sempre por escolher a nós mesmos em primeiro lugar. No mais das vezes, é a própria dignidade que empurra o indivíduo para essa escolha. O indivíduo dissolvido no meio da sociedade e que se vê impossibilitado de escolher o próprio caminho é sempre um alvo fácil para doenças como a depressão.
Por essa razão, os países de economia e política centralizadas jamais divulgam a quantidade de indivíduos acometidos de depressão ou tristeza profunda. Isso ocorre porque o mérito pessoal, que anteriormente era sempre celebrado como o motor do progresso pessoal e coletivo, foi sendo substituído gradativamente pelo esforço pessoal em prol da coletividade. A desmotivação do esforço e mérito pessoal é uma das causas do fracasso da quase totalidade dos regimes centralizados. Essa visão explica porque, em nosso país e em outros de igual orientação, os empresários bem sucedidos são transformados em alvo de todo o tipo de empecilhos burocráticos e de cobrança de altos impostos e taxas diversas.
Ao contrário, todos os projetos e empreendimentos sem sucesso são logo socorridos com incentivos, isenções e todo o tipo de ajuda do Estado. Punem os bons e gratificam os incapazes. Essa situação, nos regimes fechados, só persiste porque, no fim das contas, os mais capazes acabam carregando nas costas os menos esforçados, o que acaba resultando sempre em equação de soma zero.
Nos sistemas socializantes a meritocracia acaba sempre sendo socializada ou dissolvida no grupo, o que é sempre ruim e faz com que o progresso cesse de existir. Uma coisa puxa a outra, e acaba que o planejamento centralizado e o intervencionismo estatal se transformam em veneno fatal para a liberdade individual e para o mérito pessoal, vistos nesses regimes como algo burguês.
Desde sempre, a liberdade econômica deve seguir a liberdade política, e isso inclui o indivíduo como peça central. No centro de tudo, está a liberdade individual. Isso explica também porque, em sistemas socialistas, o indivíduo é sempre menos de zero e manietado em suas expectativas. A questão é simples: quanto mais centralizado o Estado, menos liberdade é dada aos indivíduos.
Experiências em várias partes do mundo ao longo da história da humanidade mostram que a liberdade econômica e política é essencial ao progresso, não sendo possível a existência de uma sem a outra. É nisso que se funda a chamada ilusão do coletivo. A busca pelo crescimento se difere da busca por privilégios e posições. Isso explica também porque, em governos centralizados, os medíocres estão sempre no entorno do governo, colhendo benesses sem esforço algum. O que surge quando o indivíduo e suas potencialidades são apagadas é sempre um coletivo formado por nulidades descompromissadas com o futuro.
A frase que foi pronunciada:
“A obstinação nas disputas é quase sempre efeito do nosso amor próprio: julgamo-nos humilhados se nos confessamos convencidos.”
Marquês de Maricá

História de Brasília
Ocorre que Taguatinga, com 70 mil habitantes, recebe 47 litros por segundo, e o Gama, com 22 mil habitantes, recebe 72 litros por segundo. Há injustiça para com Taguatinga. (Publicada em 27/4/1962)
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Digam o que quiserem sobre a eleição presidencial dos Estados Unidos ou sobre a vitória de Donald Trump depois de quatro anos de perseguições e de uma tentativa de assassinato em um comício de campanha na Pensilvânia. Muitos podem não gostar da figura pessoal de Trump, arrogante e altivo, principalmente os chamados globalistas de esquerda, dentro e fora dos Estados Unidos. O que é fato inconteste é que ele foi eleito por uma votação limpa e esmagadora, que praticamente cobriu todo o mapa dos EUA com as cores dos republicanos.
O povo soberanamente escolheu quem achou que iria reverter a guinada silenciosa dos EUA rumo a uma espécie de socialismo tardio, infectado ainda pelos ventos dos movimentos Woke e Queer, que hoje minam a Europa e ameaçam afundar economica, social e politicamente toda a União Europeia.
A eleição naquele país deixou claro, pela diferença de votos, que os americanos apontaram a direção que desejam seguir. E mais do que isso, rejeitaram a direção errada que estavam seguindo. Para reforçar esse retorno às ideias liberais, os mercados americanos e principalmente os papéis na Bolsa registraram recordes de valorização, mostrando que o capitalismo, que enriqueceu dos Estados Unidos como nenhum outro país, estava de volta.
No cumprimento das promessas de campanha, Trump lembrou, em seu discurso no Congresso em 5 de março, que logo nas primeiras semanas de governo mais de 100 ordens foram assinadas, juntamente com 400 outras ações executivas com vista a restaurar o que o presidente chamou de bom senso, segurança, otimismo e riqueza. Para Trump, o povo americano o escolheu para fazer justamente esse trabalho. Mesmo medidas que são criticadas por muitos países, como o controle rígido sobre as imigrações, a população americana demonstrou total apoio, pois vinham a inquietando.
Como bem lembrado por Trump, nada do que ele poderá fazer e fará irá alegrar os democratas. Logo de cara, o presidente eleito fez o que a população pedia, que era o congelamento de todas as novas contratações federais, congelando também todas as novas regulamentações e ajuda externa. Acabei, disse ele, “com todo o ridículo esquema verde”, retirando seu país do Acordo Climático de Paris, que custava trilhões de dólares aos americanos e não era pago por outros países. Trump destacou ainda que retirou seu país da “corrupta Organização Mundial de Saúde”, se afastando também do Conselho de Direitos Humanos da ONU pelo seu reiterado antiamericanismo.
Também foi destacado o trabalho feito na eliminação de regras e regulamentos desnecessários, simplificando normas. Outra medida que teve o apoio da população, mas que foi logo reprovada pelos democratas, foi a ordem para que todos funcionários federais retornassem aos escritórios, sob pena de serem imediatamente afastados de suas funções.
Trump anunciou que deu fim também ao chamado governo armado, instrumento que permite que qualquer presidente em exercício possa processar ferozmente seus oponentes políticos. Ao mesmo tempo, deixou claro que pôs fim a todo o tipo de censura, além da volta da liberdade de expressão, que, na avaliação dele, vinha sendo limitada nos governos dos democratas.
Outro ponto destacado em seu discurso foi a decisão de acabar de vez com as políticas de diversidade, equidade e inclusão em todo o governo federal, no setor privado e nas forças armadas. “Trabalhadores devem ser contratados ou promovidos com base na habilidade e na competência e no mérito, não de acordo com a raça ou gênero”, disse ele, lembrando que essa medida teve o apoio total da Suprema Corte americana. “Removemos o veneno da teoria racial crítica de nossas escolas públicas, e eu assinei uma ordem tornando política oficial do governo dos EUA a existência de apenas dois gêneros: masculino e feminino. Também assinei uma ordem executiva para proibir os homens de praticar esportes femininos”, seguiu o presidente.
Na economia, Trump destacou sua luta para tornar o principal insumo, que é o do alto custo da energia. Para tanto, mandou reabrir mais de cem usinas de energia que haviam sido fechadas, declarando uma política de emergência energética nacional. Lembrou ainda que fará tudo para acabar com o desperdício de dólares dos contribuintes, dando todo o apoio ao Departamento de Eficiência Governamental (Doge), chefiado pelo bilionário Elon Musk. Apresentou também uma extensa lista de altos gastos impostos do Tesouro americano que vão do fornecimento de carros gratuitos para estrangeiros ilegais até milhões de dólares gastos em favor do empoderamento de povos indígenas e afro-caribenhos. Para ele, esses gastos eram verdadeiros golpes aplicados em cima dos contribuintes. Com essas e outras medidas Trump, espera reaver os bilhões de dólares desviados do tesouro e que se esvaem em meio a complexa máquina pública americana.
Ele ressaltou que, somente na área de Seguro Social, havia uma lista com milhões pessoas de 110 a 119 anos de idade e outras listas de beneficiários com pessoas de 120 a 129 anos de idade. Outras com listas de milhões de pessoas com 130 a 139 anos de idade, e outras milhões de pessoas com idade entre 140 e 149 anos. “Não conheço nenhuma delas”, disse.
História de Brasília
Apesar de inaugurado o telefone público, os do aeroporto estão na mesma. Eram quatro. Um foi retirado, dois não funcionaram e um funciona mal. (Publicada em 27/4/1962)
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Embora não admita de público, a vitória patente do presidente republicano, Donald Trump, trará sim consequências que, direta e indiretamente, irão afetar o atual governo brasileiro. Foi-se o tempo em que as eleições americanas ocupavam o rodapé dos jornais por aqui. Mesmo a despeito da política externa do Big Stick e da América Para os Americanos, não havia esse estreitamento e essas interrelações capazes de influenciar o governo e até a força-lo a adotar alterações nessas relações com o irmão do Norte.
O mundo, quer alguns desejem ou não, está num processo de formação gigantesca global. Nesse processo, é preciso lembrar que, no caso do Brasil, geografia é destino e até sina. Por mais que o atual governo busque um protagonismo dentro do Bloco dos BRICS, é certo que esse clube de além mar possui suas próprias estratégias e objetivos. E eles utilizam-se do Brasil e do resto do continente Sul apenas para formar uma base de apoio e logística próxima aos Estados Unidos, de onde pretendem alcançar a América do Norte.
Como uma espécie de boi de piranha, o Brasil é usado assim para as manobras de China, Rússia, Irã e outras ditaduras para fustigar, de perto, os americanos. Para as esquerdas do continente, que vão sendo cercadas pelo avanço dos conservadores de direita, os BRICS representam uma tábua de salvação, onde podem se aninhar para pressionar, por viés econômicos e outros planos, os EUA.
Caso tenha possibilidades de cumprir, ao menos, metade do que prometeu em sua campanha rumo à Casa Branca, os BRICS irão enfrentar o seu maior revés desde que foi criado. Internamente, para nosso país, a vitória de Trump trará reflexos diretos para a área econômica, podendo servir de chamariz para atrair os capitais estrangeiros que ainda insistiam em permanecer no Brasil. De cara, essa vitória elevou o valor do dólar, empurrando, mais ainda, nossa moeda ladeira abaixo.
A maioria obtida pelo Partido Republicano no Congresso americano, juntamente com a Suprema Corte, dará um poder gigantesco ao presidente Trump, que retorna com a experiência adquirida no mandato anterior e com vontade de fazer o que não pode, quando sua reeleição foi obstada por uma vitória discutível, como no último pleito que concorreu. Já se comenta que os governos de esquerda não terão vida fácil com Trump na presidência e isso pode incluir o Brasil, que, nos últimos anos, tem fustigado abertamente os americanos, buscando comprar uma briga que, seguramente, não pode suportar nem meio round.
Depois da Argentina, que vai seguindo, aos poucos, pelo caminho da racionalidade e da prudência, chega a vez dos Estados Unidos voltarem ao eixo e ao leito normal do capitalismo liberal, donde podem alcançar a invejada posição de maior economia e democracia do planeta. Com essa nova configuração no governo americano, o menos pior que pode acontecer ao Brasil é ele ser ignorado na política externa de Trump, o que também configuraria um imenso retrocesso para nosso país.
A ilusão alimentada pelo pessoal de esquerda de que o Brasil pode, num mundo globalizado, seguir adiante e sem problemas, separado dos EUA, é, além de uma falácia política, a razão pelo qual estamos cada vez mais empurrados e atolados nas areias movediças de um clube internacional de ditadores, cutucando o leão com vara curta. A essa hora, Maduro está coçando o bigode e Lula, as barbas. Melhor diante dessa nova realidade, colocar bigode e barba de molho.
A frase que foi pronunciada:
“Quero agradecer a milhões de americanos por aparecerem em números recordes e entregarem uma vitória. Nós os retribuiremos e faremos nosso melhor trabalho. Nós daremos a volta por cima, em todos os sentidos. Este será lembrado como o dia em que o povo americano recuperou o controle do país.”
Donald Trump

Agora sim
Perto do Ceub, havia uma viatura do Detran orientando o trânsito que estava caótico. Trabalho efetuado com sucesso.
Peso da opinião pública
Anderson Almeida, advogado criminalista, enviou-nos um artigo sobre o caso Diddy e o peso da opinião pública na responsabilização por crimes sexuais. Veja a íntegra a seguir.
–> Caso Diddy e o peso da opinião pública na responsabilização por crimes sexuais
Anderson Almeida – advogado criminalista
Formalmente, a opinião pública não é considerada para fins penais. Nada em nossa legislação confere peso ou legitimidade ao clamor popular. Materialmente, entretanto, a grita em torno de crimes midiáticos costuma influenciar ações penais.
Casos como o das acusações de crimes sexuais envolvendo o rapper Sean John Combs, conhecido também como P. Diddy, mostram um lado da relação entre Justiça e opinião pública que passa despercebido: a proteção da vítima.
O fundamento adotado para negar a fiança de US$ 50 milhões — algo em torno de R$ 286 milhões — para que o rapper respondesse ao processo em liberdade foi que ele poderia interferir nas investigações. É um argumento válido, mas que só ganha tração graças à indignação popular.
Sob esse viés, a opinião pública tem sido a fiel da balança para garantir que crimes sexuais cometidos por pessoas poderosas sejam efetivamente punidos.
No Brasil temos casos em que a opinião pública foi tão ou mais importante para a punição de agressores. Um dos casos recentes é o do empresário Thiago Brennand, condenado a mais de 20 anos de prisão em processos por violência contra mulher. Seus crimes só vieram à tona quando um caso de agressão em uma academia foi noticiado pela imprensa. Só com a exposição pública de seu algoz as vítimas decidiram romper o silêncio e procurar as autoridades.
Caso semelhante ocorreu com o médium João de Deus. Só a exposição pública — e a indignação da opinião pública — fez com que uma personalidade cortejada por empresários, políticos e famosos antes tida como intocável fosse alcançada pela lei.
Não estou pregando a violação dos direitos dos acusados de crimes midiáticos. As garantias previstas em lei devem ser preservadas sempre para a integridade da Justiça. Contudo, no que diz respeito a crimes sexuais, é inegável a contribuição da mídia e da opinião pública para romper o ciclo de silenciamento a que as vítimas costumam ser submetidas.
História de Brasília
Ainda na Universidade, as formas de concreto que deveriam ser retiradas em 48 dias, foram retiradas em 40 horas, por processos especiais. (Publicada em 21.04.1962)
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Com o avanço da Internet, novos conceitos que, primeiramente, foram aplicados exclusivamente a essa nova tecnologia ganharam vida própria passando a definir também situações experenciadas no cotidiano. Um caso típico se refere a palavra “deletar”, que, no caso dos computadores, tem uma tecla específica que apaga o que foi digitado. No dia a dia, deletar ganhou novo significado nas redes sociais, expressando um movimento que visa apagar, das redes, pessoas que, por algum motivo, contrariam as normas ou pretensões desses grupos. Essa ação de deletar pessoas ganhou ainda maior vigor com a polarização política que parece ter tomado conta do mundo, inclusive do Brasil. Assim, temos que os grupos de esquerda fazem de tudo para deletar pessoas ou grupos identificados como de direita, banindo-os e calando suas vozes e opiniões. O contrário também acontece.
Em nossa sociedade, dita moderna, o sujeito deletado é aquele cuja presença deve ser apagada, não só das redes, mas, se possível, do meio social. Essa situação surreal lembra aquelas fotos antigas, nas quais as figuras tornadas indesejadas eram simplesmente rabiscadas no papel. Nesse novo vale-tudo, vale tudo mesmo, desde de falsas denúncias, calúnias, difamações e todos os truques sujos, criando a imagem de um ser horrendo que merece ser desterrado e punido com o fogo eterno. Infelizmente, essa e outras expressões ganham ainda mais ímpeto, quando são os próprios políticos ou aqueles munidos de responsabilidade pelo voto que açulam essas ideias, ao pregarem a eliminação dos opositores ou, mais precisamente, quando dizem abertamente em público frases do tipo: “precisamos extirpar essa gente”.
Vivemos tempos confusos em que uma nova espécie de eugenia política é alimentada nos palanques e introduzida nas redes sociais, onde passam a ganhar protagonismo feroz. A solução para esse novo tipo de antagonismo midiático é, segundo defendido pela esquerda, regular a mídia. Para a direita, melhor que regular as redes, seria seguir o que diz a Constituição, que regula apenas as responsabilidades, direitos e obrigações individuais de cada cidadão.
Nada é o que é, até que se conclua como sendo o que é de fato. O outro lado desse cancelamento da pessoa e de suas ideias é ainda mais cruel, pois envolve a própria desumanização do indivíduo. Nesse ponto, para entendermos esse fenômeno anti-humano, somos imediatamente lançados ao campo da filosofia política moderna na pessoa de Giorgio Agamber e sua obra, intitulada Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua.
O homo sacer vem de um conceito da Roma antiga e passou a despertar atenção hodierna, pois é, mais do que nunca, um fenômeno atual nesse mundo polarizado e tão cheio de ódio e desencontros. O Homo Sacer, na antiga lei romana, era excluído de todos os direitos civis, uma espécie de santo às avessas, que qualquer um pode sacrificar, uma espécie de Caim, sobre o qual todas as pragas do mundo recaem.
Mais sucintamente, é um excluído e taxado pela sociedade como um ser a quem todos os crimes são imputados, apenas para torná-lo passível de desprezo geral. Não é uma tarefa fácil degredar alguém ou algum grupo à condição de desumanização. Exige todo um trabalho midiático, jurídico, psicológico para convencer a sociedade que esses indivíduos não têm quaisquer direitos, inclusive, o de viver.
Incluem nessa condição, mais comumente, os presos políticos de regimes autoritários, consolidados ou em processo de vir a ser. Para esses homos sacer, não existe direito ao processo legal; à defesa ou ao acesso ao seu processo, que é sempre dificultado, inclusive, com ameaças aos advogados de defesa; a um juiz imparcial. Não têm direito de acesso a suas contas bancárias, seus bens são congelados sem quaisquer propósitos, ficam sem apoio legal, suas vozes são caladas nas redes e, mesmo o acesso de familiares e advogados, a esses presos, é dificultado ao máximo.
Muitos desses presos, transformados agora em homos sacer, passam a cumprir penas em regime diferencial, pois tornam-se figuras de alta periculosidade. A retirada de todos esses direitos é feita mesmo contrariando a Constituição. Os homos sacer são os novos subversivos, a quem todo o castigo é pouco.
A frase que foi pronunciada:
“Um dia a humanidade brincará com a lei, assim como as crianças brincam com objetos fora de uso, não para restaurá-la ao seu uso canônico, mas para libertálos dele para sempre.”
Giorgio Agamben
História de Brasília
Os ônibus JK/W3 desapareceram na sexta-feira da circulação entre 11 e 13 horas, exatamente o horário de maior necessidade. (Publicada em 15/4/1962)
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Não é surpresa para ninguém que as relações entre o Brasil e Argentina têm sido tensas nos últimos meses, especialmente sob o governo de esquerda de Lula e do presidente direitista e economista argentino, Javier Milei. Depois das catimbas no futebol e das preferências entre o reinado de Pelé e de Maradona, as relações entre os dois países hermanos descambaram para o lado político da baixaria, com xingamentos e ofensas pessoais que não merecem aqui ser repetidas.
Desde as campanhas eleitorais, era visível para todos que, caso Milei viesse a ser eleito, as relações entre esses dois países seriam tensas desde o primeiro dia. Milei não engoliu a interferência do governo brasileiro nas eleições de seu país. Portanto, não por enquanto, há sinais de que esses desentendimentos sejam sanados, satisfatoriamente, a curto prazo.
Do ponto de vista de ambos, há uma antipatia que se estende desde motivos ideológicos a pessoais. Como os dois países têm uma estrutura política presidencial, que é quase uma monarquia, dado o poder de interferência na vida de seus povos, dificilmente haverá uma conciliação amigável. Fosse em tempos passados, essas rusgas facilmente resultariam em confronto armado, dado a animosidade de um e o caudilhismo natural do outro.
Não é à toa que dizem que a política é sempre a fronteira entre a diplomacia e a guerra. Tendo em vista que os dois mandatários não irão estabelecer nenhuma outra relação mais íntima, restam aos países manter apenas conversações no âmbito dos Estados, sobretudo naquilo que interessam a ambos, que é o comércio bilateral.
A Argentina é, atualmente, o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Existe ainda um perigo que precisa ser sanado caso a Argentina, por qualquer motivo, resolva se afastar do Mercosul, como alguns sinais indicam. O Mercosul, sob a coordenação de alguns governos, passou a dar maiores preferências às relações do tipo ideológicas, com a insistência declarada para que países autocráticos tenham os mesmos direitos que outros países filiados ao bloco. Mesmo a entrada da Bolívia no bloco, patrocinada pelo Brasil, desagradou o governo argentino.
No campo dos embates pessoais, o jogo está 1×1. Lula não foi à posse de Milei. Milei veio ao Brasil e não se reuniu com Lula. Nos dois países, as torcidas, tanto da direita quanto da esquerda, são para que essas rusgas continuem e até escalem para um nível mais preocupante. São como duas torcidas em dois países que se tornaram polarizados politicamente.
O Itamaraty chamou o embaixador em Buenos Aires para conversações — talvez, na tentativa de mostrar ao governo argentino que as relações bilaterais estão se degradando. Milei, por sua vez, tem preocupações mais internas e parece não ter dado corda para esse fato. Existe, é claro, a possibilidade de as relações pessoais entre Lula e Milei caírem para segundo plano quando as relações econômicas passarem a pesar mais nessa balança.
Há pressão dos empresários para que nada nem ninguém venha a se pôr como obstáculo nas relações entre os dois Estados. Interessante notar que nem o Brasil nem a Argentina têm, no momento, uma situação econômica confortável. Nesse caso, ambos os países poderiam fazer um esforço conjunto na busca de um melhor entendimento, visando o que é importante nas relações entre eles: uma parceria econômica saudável e vantajosa para ambos.
Observa-se que muitos países que não mantêm relações políticas em alto nível são capazes de comercializar entre si sem maiores problemas. A balança comercial não tem lado político. Tende a ser favorável sempre aos países pragmáticos. Amor e economia não andam de mãos dadas. Se existe amor nesse caso, é sempre um amor interesseiro. Nessa pendenga, ficar de um lado ou de outro, mesmo a despeito de nacionalismos infantis, pouco adianta, embora, a essa altura dos acontecimentos, já se saiba que a diferença fundamental entre o Brasil e a Argentina são que aquele país, com a posse do Milei, segue no caminho certo, com corte de gastos públicos, cortes de mordomias, privatizações, enxugamento rigoroso da máquina do Estado, entre outras medidas corretas.
O Brasil, infelizmente, segue no rumo oposto, com irresponsabilidade fiscal, sem projetos, com altíssima carga tributária e tudo o mais, sinalizando que, em um breve espaço de tempo, estaremos piores que nossos vizinhos. Mais pobres e, não por isso, menos orgulhosos de nossas escolhas erradas. Fosse uma briga de comadres, poderíamos dizer que estamos com inveja dos hermanos.
A frase que foi pronunciada:
“No mundo emergente de conflitos étnicos e choques civilizacionais, a crença ocidental na universalidade da cultura ocidental sofre de três problemas: é falsa, é imoral e é perigosa.”
Samuel P. Huntington

História de Brasília
Diversos empreiteiros estão reclamando contra a generosidade dos médicos do IAPI que estão concedendo licença demais a trabalhadores. A porcentagem de empregados pagos pelo empregador é alarmante, e as licenças quase nunca passam dos 15 dias que devem ser pagos pela firma. (Publicada em 11/4/1962)
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Entre sístoles e diástoles, à direita e à esquerda, o movimento político no Brasil oscila, insuflado por um ciclo sem fim, de culto à personalidade. Tem sido assim desde 1889, com o advento brusco da República. Historiadores e filósofos concordam que, com o fim da monarquia, houve apenas a retirada de um imperador intrinsecamente republicano para a entrada de republicano intrinsecamente monarquista.
O personalismo na política, uma herança que na América Latina remonta ao século XIX, tem sido também a nossa principal característica política. O que surpreende é que esse sistema vindo de um passado que se acreditava morto, parece querer adentrar agora pelo século XXI, trazendo os mesmos vícios e prejuízos da velha política que tantos males causaram ao Brasil.
A reforçar essa tese, que para os historiadores não é nenhuma surpresa, análises feitas à luz dos conceitos formais do que seja, de fato, direita e esquerda nesse Brasil inzoneiro, tem-se que nunca houve no poder nenhuma nem outra dessas matizes ideológicas na sua forma pura. Isso significa dizer, apenas para ficar nas últimas duas décadas de nossa história, que nem Lula é um político de esquerda, nem Bolsonaro um líder de direita. Na verdade, ambos não sabem nem o que isso significa em termos de conceitos de ciência política embora todos reconheçam que para esses personagens pouco importa essa diferença.
O exercício do poder, para essas duas lideranças do Brasil contemporâneo, está fincado em esteios de ordens carismáticas, correndo à margem da democracia representativa, servindo-se de alguns elementos desse sistema, como é o caso da filiação partidária, apenas para exercitar o mando.
Situados mais nas bordas extremas desses matizes políticos, Lula e Bolsonaro não escondem a forte inclinação autocrática, disfarçada, às vezes, com discursos políticos dúbios que oscilam entre uma margem e outra. Aproveitando-se do fato de as ligações político-partidárias serem, em nosso país, fluídicas e, portanto, dispensáveis, tanto Lula como Bolsonaro buscam agir acima das legendas, dispensando interlocutores e formalismos protocolares.
Não é por outra razão que um se porta como aquilo que é, ou seja, dono da sigla, colocado acima de todo e qualquer estatuto partidário. Bolsonaro, com a possível criação da sigla Aliança pelo Brasil, vai na mesma direção, confeccionando um partido onde possa exercer livremente seu poder de mando. Para tanto, terá que costurar também um estatuto que lhe franqueie o exercício pleno, sem contestações. Curioso observar que nesse ponto o atual presidente não tenha absorvido, como lição, as experiências vindas desse modo de agir de seu opositor e que tanta ruína tem causado ao próprio Lula e à sua agremiação.
Estabelecer uma legenda apenas com base na popularidade política e momentânea de um indivíduo é estabelecer prazo de validade para o partido. Popularidade, e Lula sabe disso, é como nuvem: dispersa e muda constantemente, ao sabor do vento. Sem uma reforma partidária séria e profunda, a velha política, vitaminada pela força do fundo partidário e do fundo eleitoral, ainda terá vida longa entre nós.
A frase que foi pronunciada:
“O Brasil vive a síndrome do impasse. Exageramos de tal maneira nossos problemas que estamos perdendo a obrigação de enfrentá-los”
Jaime Lerner, urbanista brasileiro

Muita luz
Aumentam as reclamações daquele anúncio luminoso colocado na decida do Colorado em direção à Asa Norte. É realmente um ladrão de atenção. Isso não é bom para quem dirige.
Proatividade
Está passando da hora de uma revisão nas marquises da W3, tanto Norte quanto Sul. São muito antigas e, com o passar do tempo, peso, movimento de carros, ônibus, clima, chuva… afinal já são quase 60 anos!

Curiosidade
Pelo visto, também dá espaço à hermenêutica o juramento dos ministros do STF. Ao contrário dos votos, é um texto bem simples. “Prometo bem e fielmente cumprir os deveres de ministro do Supremo Tribunal Federal, em conformidade com a Constituição Federal e as leis da República”.

Desolador
Informativo da Semace, Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará, informou que pelo menos oito trechos de pontos das Praias no Ceará estão impróprias para banho. Mucuripe, Vila do Mar e Barra do Ceará também.

Governo
Até agora nenhum comunicado à população sobre o consumo de peixes. Parece que as comemorações da Páscoa de 2020 vão mudar.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Numa recepção social, gente importante, comentando a atividade do Primeiro ministro, limitou-se a chamá-lo de Tancredo Neris. (Publicado em 06/12/1961)

