Tag: #DesmatamentoDoCerrado
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Transformada em moeda de troca, as terras públicas no DF foram, desde a emancipação política da Capital, usadas de modo irresponsável e criminoso para auferir vantagens de todo o tipo, desde a atração de votos até a obtenção de lucros para lá de suspeitos. Esperar que algum dia uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Legislativa desvende este cipoal de irregularidades é esperança vã.
Ao lado das consequências do aquecimento global, que tem provocado, em grande parte, a situação de escassez de água em Brasília, também é responsável a ocupação irregular das terras públicas, principalmente naqueles sítios que os ambientalistas denominam de áreas de recarga. Nas últimas décadas, sob a vista grossa dos principais órgãos de fiscalização, a Capital sofreu um poderoso processo de inchaço populacional, com pessoas afluindo de todo o canto o país, atraídas pelas promessas de doação de lote e casa, em troca de apoio político.
Que relação causa/consequência poderia existir entre o inédito racionamento de água na grande Brasília, que levou a uma séria crise hídrica sem precedentes e o tipo de política partidária praticada na Capital nestas últimas décadas? O que pode, num primeiro momento, parecer situações díspares, na verdade, possui uma relação íntima e poderosa.
Do dia para a noite, centenas de novos bairros foram sendo erguidos às pressas e sem planejamento algum. O que resultou dessa irresponsabilidade e ambição de algumas lideranças políticas locais, os brasilienses vão, agora, experimentando na pele. Não é só o esgotamento hídrico, já alertado lá atrás pelos ambientalistas, mas o colapso de toda a infraestrutura da cidade. Políticos, na sua maioria, têm dificuldade em entender o que é e para que serve o planejamento urbano. O horizonte desses personagens esporádicos se estende, no máximo, até as próximas eleições. O congestionamento em hospitais, escolas, e outros serviços públicos é o mesmo que vem se repetindo, diariamente, nas estradas e o mesmo que vem se agravando no abastecimento de água e no fornecimento de luz.
O padecimento atual da população resulta da ação inconsequente de hoje e de ontem das principais lideranças locais e ameaça não só com a falta de água, mas com a inviabilização da Capital, infelizmente transformada em valhacouto de oportunistas e aventureiros de toda ordem.
Foi somente a partir da mudança da Capital para o interior do Brasil, nos anos sessenta, que o imenso bioma de campo Cerrado, com mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, passou a ser explorado e pesquisado com mais atenção. Especialistas já sabem hoje que essa ecorregião, com idade média de 45 milhões de anos, reúne e concentra a maior biodiversidade de todo o planeta. Recentemente, com o aprofundamento das pesquisas, ficou patente, para os estudiosos do assunto, que a preservação dessa área é de vital importância para o presente e o futuro do Brasil, principalmente por conta da questão hídrica.
Hoje já se sabe que o Cerrado é, por suas características ímpares, o berço das águas, concentrando nascentes que vão alimentar oito das doze grandes regiões hidrográficas brasileiras. É nesta região que estão concentrados os aquíferos Guarani, Urucuia e Bambuí, que alimentam alguns dos grandes rios do país. Com a expansão das fronteiras agrícolas, o Cerrado ganhou um protagonismo econômico inédito que, num primeiro momento, pareceu e ainda parece, para alguns, ser a redenção para toda a região.
A introdução de monoculturas, na maioria transgênicas, plantadas em vastíssimos latifúndios nas planícies, totalmente mecanizados, se por um lado vem fazendo a riqueza e a prosperidade de uma minoria de grandes produtores, de outro lado, vem arruinando irreversivelmente todo o ecossistema, comprometendo de forma, até criminosa, a produção natural de águas.
Em tempos de aquecimento global generalizado, a cada ano que passa, a situação de crise hídrica nas cidades localizadas dentro da região do Cerrado se agrava um pouco mais. O desaparecimento de pequenos e médios cursos de água já se tornou fato comum. A vegetação sofre com as queimadas criminosas e com a derrubadas, feitas pelos agricultores. Com a degradação da flora, somem os animais da região e tem início o lento e irreversível processo de desertificação, já em curso, segundo os especialistas. Na esteira dessa devastação, acentuada nos últimos anos pela invasão de terras e áreas de proteção, não é de se estranhar que o GDF, à semelhança de outros estados da federação, tenha decretado, agora, o estado de “atenção”, ameaçando pôr em prática um rigoroso racionamento de água.
A rigor, a suspensão no fornecimento de água ou a distribuição de água escura para algumas regiões da Capital já vem acontecendo há algum tempo, e tem se agravado nas últimas semanas. Na ocupação irregular de terras em troca de votos, começa a chegar o preço para a população e os valores serão altíssimos, inclusive com a ameaça de inviabilizar a própria Capital dos brasileiros.
A frase que pronunciada:
“O dinheiro é como esterco: só é bom se for espalhado.”
Francis Bacon, político, filósofo, cientista, ensaísta inglês.
Vergonha
Aconteceu em frente a SweetCake. Uma pequena reclamação, depois que o motorista ao lado havia aberto a porta com força e batido no carro, com um pequeno amassado. Finda a conversa, o dono do carro prejudicado entrou na loja. Ao sair, encontrou o carro todo arranhado. O serviço de segurança do local prestou todo apoio necessário e o homem foi localizado. Um diplomata que trabalha no Escritório Comercial de Taiwan. Um vexame!
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
O juiz federal F. Murphy, segundo o mesmo telegrama ordenou a Pan-American que se livrasse de 50 por cento dos interesses que tem na Panagra, por meio da qual realizava as atividades declaradas ilegais. (Publicado em 17/01/1962)
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Em decisão monocrática, que liberou a construção da Quadra 500 do Sudoeste, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, reascendeu e deu novo fôlego, acrescentando mais um capítulo nessa novela que, há mais de dez anos, contrapõe moradores desse bairro e a empresa Oeste Ambiental, proprietária do estratégico terreno que circunda e fecha o Parque Ecológico das Sucupiras.
Para aqueles que residem na região, a construção desse novo bairro, com 22 prédios de seis andares para moradias e mais 2 edifícios comerciais, irá acrescentar àquele espaço mais de 2.500 habitantes numa localidade onde inexiste infraestrutura para suportar tamanho adensamento. Com isso, moradores e ambientalistas acreditam que a construção desse novo conjunto de edifícios iria gerar graves danos ambientais à vegetação do referido Parque que, segundo apontam, é um dos últimos na capital a apresentar a ocorrência de vegetação nativa do Cerrado, com espécies raras e de difícil preservação e manutenção, uma vez degradada.
A questão central aqui é, mais uma vez, a luta entre preservacionistas e aqueles que enxergam em espaços verdes uma oportunidade de negócio. É preciso salientar que esse tipo de visão e sentimento da importância da manutenção de áreas verdes é praticamente uma exclusividade defendida por moradores da grande área que integra o polígono tombado da capital.
Nas regiões administrativas, no entorno do Plano Piloto, essa preocupação é tão tênue que, sequer, é levada em consideração pelas autoridades. O desrespeito às escalas e aos gabaritos e normas de construção tem sido uma constante acelerada, após a emancipação política da capital. De lá para cá, o inchaço da cidade comprova que a ganância e o poder de lobby do dinheiro falam mais alto do que qualquer tipo de regulamentação. Basta dizer que nenhum candidato, até hoje, seja ao Buriti ou à Câmara Legislativa, jamais prometeu, em seu discurso de campanha, respeitar a legislação, preservar os espaços verdes e o tombamento da cidade.
Os discursos desses pretendentes são sempre no sentido oposto de abrir espaços para moradias de seus eleitores sejam onde for, bastando para isso a mudança de destinação das áreas. Qualquer candidato que se comprometesse a respeitar e a seguir as leis vigentes não teria a menor condição de vitória nesses pleitos e, por uma razão óbvia: desde a emancipação política da capital, os terrenos públicos foram transformados em moeda de troca, na base de um voto, um lote. Nesse sentido, o inchaço da capital está ligado direta e proporcionalmente à formação de currais eleitorais, onde os novos coronéis distritais exercem o antigo e nefasto voto de cabresto.
A frase que foi pronunciada:
“Pensando em conseguir de uma só vez todos os ovos de ouro que a galinha poderia lhe dar, ele a matou e a abriu apenas para descobrir que não havia nada dentro dela.”
Esopo, escritor da Grécia Antiga
Os grandes
Procon abre as portas para que os clientes do Banco do Brasil, Caixa, Itaú e BRB possam renegociar dívidas em atraso. Na primeira semana, de 09 a 13 de setembro, o órgão recebe representantes do Banco do Brasil. O órgão que defende o direito funciona também para reforçar o dever do consumidor. Veja, a seguir, as próximas datas e bancos.
Chuva
Que falta faz o filósofo de Mondubim! Em tempos secos, ele era o primeiro a prever as chuvas depois da estiagem. Era pelo canto do sabiá, das cigarras e pela direção do vento. A umidade chega a 8%.
Agenda
No próximo dia 20 de setembro, sexta-feira, o cantor e compositor Geraldo Carvalho, que é potiguar, radicado na capital Federal há dez anos, se apresenta no Projeto “Acontece no Museu”, do Correios de Brasília. Teatro Museu dos Correios – Brasília, Setor Comercial Sul, Quadra 4, Bloco A.
Interessante
Por falar em Correios, você pode ter um selo personalizado. Os Correios recebem a imagem e você preenche um termo de responsabilidade. É uma boa opção de registro.
Pedestres
Por todo o DF, as faixas de pedestres perdem a cor. Antes das chuvas seria bom reforça-las.
Aniversário
Brasília ganha com o interesse do embaixador Akira Yamada em promover parcerias com a cidade. Acertos para a grande festa dos 60 anos da cidade começam a ser feitos com o governador Ibaneis Rocha.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Os funcionários da Imprensa Nacional estão reclamando que o dr. Brito não dá ônibus de graça para que eles almocem em casa. Em consequência, a maioria utiliza o restaurante da Imprensa, que não é dos melhores, como a refeição, também, que é fornecida pela cantina do IPASE. (Publicado em 29/11/1961)
Cerrado: Sem o C, de conservação, todo o resto irá dar errado
ARI CUNHA
Visto, lido e ouvido
Desde 1960
com Circe Cunha e Mamfil
colunadoaricunha@gmail.com;
Transferir a capital de um país continental, deslocando a sede administrativa da república de uma cidade já consolidada e internacionalmente conhecida, para uma área de Cerrado, distante mais de mil quilômetros para o interior, completamente desprovida de infraestrutura, foi de uma ousadia tamanha que dificilmente seria feita nos dias de hoje.
Até o mundo se espantou com nossa coragem, mandando seus repórteres para testemunhar aquela aventura louca e sem precedentes no mundo moderno e que tinha tudo para dar errado. Naquela ocasião, os motivos relevantes evocados para esse deslocamento de sede foi o da segurança nacional, que só seriam alcançados, de fato, com a integração regional do Brasil e com a descentralização política e administrativa do país.
Para tanto, a sede do governo federal deveria estar situada num ponto equidistante geograficamente, tornando as decisões de governo mais equilibradas, ao mesmo tempo em que se promovia o desenvolvimento da região central do país, deixada à própria sorte desde o descobrimento.
Vencida essa etapa preliminar, depois de superar críticas e sabotagens vindas de todo o lado por aqueles que eram contrários à ideia de transferência da capital, Brasília foi consolidada, se firmando como a moderna capital de todos os brasileiros.
Passado mais de meio século dessa epopeia, que repetia, na era moderna, o gesto de interiorização dos Bandeirantes, permanece ainda aceso o alerta sobre a questão da segurança da capital, agora não mais por motivos de invasão por tropas estrangeiras e outras razões de estratégias bélicas. A segurança hoje da capital, sua manutenção como sede do Poder central, encontra-se ameaçada por motivos internos e ainda muito mais graves do que aqueles imaginados no passado, quando o inimigo e suas intenções eram bem conhecidos.
Hoje, o que ameaça a existência da capital é um poderoso exército formado por enormes máquinas agrícolas que já reduziu a poeira e cinzas nada menos do que metade do bioma do cerrado, transformados em imensos latifúndios para o pastoreio e para o plantio de monoculturas para a exportação. Os primeiros sinais dessa razia no campo cerrado já surgiram na forma de severa crise hídrica, que, por mais de um não, obrigou os moradores da capital a um inusitado racionamento no fornecimento de água tratada, fazendo com que o governo local buscasse alternativas emergenciais como o da captação de água do Lago Paranoá.
A destruição contínua de matas ciliares com suas nascentes, a retirada da cobertura natural já dizimaram metade do Cerrado, principalmente das áreas no entorno da capital. Dentro do quadrilátero, desenhado ainda no século XIX pela Missão Cruls, a situação também se repete. Naquela ocasião, já destacava o geodesista belga em seu relatório, depois de 13 meses de exploração dessa região: “É exuberante a fertilidade do solo; a salubridade, proverbial; grande abundância de excelente água potável; rios navegáveis, extensos planos sem interrupções importantes; soberbas madeiras de construção de suas grandes florestas; tudo, enfim, que tem as mais estreitas relações com os progressos materiais de uma grande cidade e com o bem-estar de seus habitantes. ”
Pudesse verificar, depois de 125 anos dessa missão, o que restou daquele paraíso natural, com certeza o grande sertanista teria se arrependido de ter aberto o caminho para a transferência da capital. De fato, a destruição de todas as áreas naturais do entorno da capital e sua substituição por lavouras exóticas, dentro do espírito de lucro máximo do agronegócio, já abriu o caminho para a inviabilização da própria capital, já que a redução dos recursos hídricos naturais tornará insustentáveis, a médio prazo, a manutenção de uma população de mais 3 milhões de habitantes.
Se fora do quadrilátero a destruição do Cerrado para instalação de lavouras já é um fato consumado, dentro dos limites desse retângulo a coisa não é diferente. O desmatamento de imensas áreas para nela plantarem invasões desordenadas, assentadas inclusive em áreas de proteção ambiental, é também uma realidade que infelizmente vem se expandindo velozmente desde a emancipação política da capital, criando não só problemas ambientais, como sociais e econômicos incontornáveis.
O problema com questões futuras, mesmo aquelas vitais para todo o mundo, é que não há lugar na preocupação da maioria dos políticos nacionais, obcecados apenas, com as próximas eleições.
A frase que foi pronunciada:
“Toda riqueza existente/Vegetal ou mineral/Não é moeda corrente/É tesouro ambiental./Não pertence a qualquer gente/Mas com o uso racional/E exploração consciente/Todos ganham por igual./”
Autoria de Geovane Alves de Andrade, no livro Embrapa Poesias elaborado no IX Simpósio Nacional Cerrado
Deságua
De madrugada, na ponte JK, sentido Plano Piloto, jorravam litros e litros d’água, enquanto a Caesb dormia. Veja no blog do Ari Cunha.
Culpa consciente
Volta e meia, a DF 005 é palco de motos de alta velocidade que colocam em risco a vida do motociclista e dos motoristas que por ali trafegam. A falta de policiamento é o que estimula o gosto pela velocidade e pelo perigo.
Lewandowsky
Comentaristas esportivos disseram que ele não fez nada que prestasse nessa Copa.
Boca miúda
Por falar em jogo, o comentário no cafezinho da Câmara era o seguinte: voto impresso deveria ser exigência não só da população, mas principalmente dos candidatos, que curiosamente permanecem silentes diante da ameaça à democracia.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Com o aumento do salário mínimo, as utilidades que estão chegando para a venda ao público estão num preço absurdo. Absurdo, mesmo. O governo, que tem falado muito em defesa do povo, precisa agir, também. (Publicado em 25.10.1961)