Alcoolândia

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: g1.globo.com (Thiago Sabino/Divulgação)

 

Um visitante atento, que percorrera o Plano Piloto, de uma ponta a outra, em busca de espaços culturais e de lugares como galerias, teatros, bibliotecas, livrarias, cinemas, salas de concerto, de dança, folclore, artesanato, moda e uma infinidade de outros pontos onde possa conhecer, de perto, o grau de desenvolvimento intelectual dos habitantes locais, medido em todo mundo pela quantidade, variedade e qualidades desses espaços, por certo experimentará uma decepção enorme com o vazio e o pouco caso que as autoridades do DF parecem demonstrar pelo universo das artes.
Não há praticamente nada, nesse imenso espaço urbano que remeta ao mundo das artes. A não ser se forem considerados também como espaços culturais a grande quantidade de bares, restaurantes, farmácias e lojas de quinquilharias espalhadas pelas quadras comerciais.
Surpreendentemente, vivemos, sem o menor remorso, imersos num imenso e árido deserto, onde as artes, o esporte e quaisquer outras manifestações semelhantes vitais e importantes para a saúde humana foram varridas por uma espécie de vendaval primitivo. O que há, por toda a parte, e numa proporção até preocupante, é uma enorme quantidade de locais, onde as pessoas vão em busca apenas de álcool e não de algo capaz de preencher o espírito.
Não surpreende que, num ambiente assim, os índices de acidentes, as doenças e a violência estão sempre crescendo. Não é por causa também que, afogada em bebidas alcoólicas, de segunda a segunda, a população, incluindo aí uma boa parcela da juventude brasiliense, busca em farmácias e em hospitais e nas clínicas particulares, o unguento caro para seus vícios. Assim, como num ciclo doentio, o número de farmácias e clínicas se multiplicam, sem parar, tudo para atender os clientes oriundos dos bares que também se proliferam, além da conta.
Nesse vaivém perverso, aumentam ainda os casos de transtornos mentais pelo abuso de álcool e drogas, encontráveis em quaisquer pontos da cidade. Diversão cultural sadia, nem pensar. Seguindo nesses desvãos de uma cidade que adoece e que parece grudada em bares e botecos, as igrejas de confissão duvidosa vão se reproduzindo, pro metendo acabar com as dores e as doenças espirituais dos alcoólatras. Não há espaço para manifestações culturais. Foram banidas pela insensatez e pelo primitivismo que hoje prevalece. Em seu lugar vieram o drive thru de bebidas.
O governo e outras autoridades, mesmo as sanitárias, a quem caberia pelo menos disciplinar esse estado caótico em que o Plano Piloto se converteu, fazem cara de paisagem, não promovem as artes, nem os esportes que poderiam amenizar todo esse caos, limitando-se a cobrar impostos desse inchaço de comércio da doença.
Não há campanhas públicas sobre o abuso no consumo de álcool. Nos fins de semana, o Plano Piloto se converte numa Gomorra, onde uma multidão se afoga em bebidas, transtornando toda a cidade, com arruaças, barulhos, brigas e mortes. A polícia demonstra, claramente, não mais poder conter a situação. O caos é geral.
Quando o dia clareia, as farmácias e as clínicas voltam a encher com os doentes de sempre, vítimas de algozes de si mesmas. Existisse pelo menos um parlamentar destemido e independente capaz de apresentar o projeto de lei obrigando os pontos de venda de álcool a custearem o tratamento de saúde dos seus fregueses com remédios, especialistas em hepatologia ou em clínicas de psicologia e psiquiatria, a coisa toda, tomaria um outro caminho. Bar e boteco não são pontos de diversão, não são playground.
Houvesse um equilíbrio entre lazer sadio e essa quantidade exorbitante de pontos de venda de bebidas alcoólicas, tudo voltaria à normalidade. Mas não há, e a tendência é piorar. A “alcoolândia” em que se transformaram todo o Plano Piloto e quase todas as regiões administrativas bem debaixo do nariz de todos precisa ser repensada urgentemente se, de fato, ainda existe uma preocupação sincera com as futuras gerações. Não há exageros aqui, basta percorrer o DF verificar essa realidade in loco, como fez nosso visitante atento, no alto da página. A decepção com a morte da cultura na cidade é de todos que sonham com uma cidade sadia, sensata e inteligente.
A frase que foi pronunciada:
“O vício, na pior das hipóteses, é como ter a Síndrome de Estocolmo. Você é como um refém que desenvolveu uma afeição irracional por seu captor. Eles podem abusar de você, torturá-lo, até mesmo ameaçar matá-lo, e você permanecerá inexplicavelmente e perturbadoramente leal.”
Anna Clendening
Fertilizantes
Pauta importante na Comissão de Agricultura do Senado. A CRA vai debater a dependência do Brasil de fertilizantes estrangeiros. Nota da agência Senado afirma que cerca de 80% dos fertilizantes usados em terras brasileiras são importados. Hoje, às 8h, está marcada audiência pública para debater o assunto. O presidente da Comissão de Agricultura no Senado é o senador Acir Gurgacz.
Foto: Getty Images/iStockphoto/direitos reservados
História de Brasília
Mas Brasília é ruim, também. É ruim para quem vive no Rio com escritório de “empurrar papel”, é ruim para quem “negocia” fora os de sua repartição, e ruim para os que têm outros assuntos que não os restritos à sua alçada. (Publicada em 18/2/1962)

Arqueologia

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Para um arqueólogo atento, que resolva, num futuro distante, prospectar os indícios e outros vestígios materiais produzidos pelos habitantes da capital, capaz de indicar que tipo de civilização foi erguida aqui, nesses confins do Centro Oeste brasileiro, sem dúvida alguma, com exceção da moderna e engenhosa arquitetura exibida pela cidade, e que forma uma espécie de casca a envolver a metrópole, uma grande interrogação surgirá logo na primeira prospecção, surpreendendo esse pesquisador: Como pôde uma civilização, assentada em meio a tão futurística arquitetura, não apresentar quaisquer traços de cultura material mais relevante?

De fato, ao pesquisar minunciosamente as ruas e avenidas da mais importante cidade do País, em busca dos elementos indicativos que comprovariam a existência de um fervilhante movimento cultural espalhado pelos quatro cantos da metrópole, nosso arqueólogo iria chegar a uma embaraçosa conclusão: pouco ou nada parece existir nesse lugar que possa confirmar ou negar a existência de uma população envolvida e produtora de cultura.

Uma radiografia das principais ruas da cidade mostraria, de forma taxativa, a inexistência de teatros, centros culturais, livrarias, galerias de artes, museus e outros centros dedicados às artes. Nosso turista das ciências iria se deparar, em grande profusão e em cada esquina, com bares, botecos e outros estabelecimentos no fornecimento de álcool, lojas de quinquilharias diversas e um incontável número de farmácias por toda a parte.

Para um pesquisador, isso denotaria, numa primeira impressão, que, ao beber em demasia, essa população viveria constantemente doente e necessitada de remédios e outros unguentos para viver. Além dos bares e farmácia em quantidade sintomática, a pesquisa revelaria também a multiplicação das casas lotéricas, o que indicaria que a população vivia na esperança de ganhar mais dinheiro para alimentar o vício do álcool. Esses bares teriam se transformado em centros de cultura, onde o álcool seria a atração principal.

Por outro lado, o que saltaria aos olhos e daria a certeza de que essa civilização do Centro Oeste desprezava a cultura e seus derivados seria o abandono de museus e teatros, anteriormente mantidos pelo governo, por meio da cobrança de uma das mais altas cargas tributárias de todo o planeta. Todos agora fechados ou sucateados, transformados em depósitos de materiais diversos.

Quando uma cidade permite que seu principal centro de cultura, nomeado com o nome soberbo de Teatro Nacional, transforme-se num almoxarifado de quinquilharias e outros objetos a serem descartados, como um imenso galpão para acondicionar o lixo mobiliário da burocracia, tudo está irremediavelmente perdido. Não há salvação para uma civilização fora da cultura. Sem esse traço arqueológico, presente em toda e qualquer civilização, em qualquer momento da história, toda a sociedade pode ser reduzida ao patamar evolutivo de um formigueiro, devotado apenas a sobreviver.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O artista é aquele que desmente as leis anatômicas e fisiológicas, vivendo do princípio vital de uma única entranha: o coração.”

Camilo C. Branco, escritor português, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor.

Ana Plácido, Camilo Castelo Branco e um filho do casal. (Imagem: coladaweb.com).

 

 

Registro

Senador Izalci, pelo DF, apontou várias distorções em relação ao soldo dos militares. Enquanto todos os civis que buscaram na Justiça o direito aos 28% ganharam, o Comando orientou que as Forças Armadas não entrassem na Justiça, e quem não entrou perdeu. A busca agora é pela recomposição por meio da legislação.

Foto: senado.leg

 

 

Desrespeito

Acredite se quiser. O salário-família de um militar é de R$ 0,16. A indenização do auxílio de transferência é tão baixa que pagam do próprio bolso.

Foto: Gazeta do Povo/Arquivo

 

 

Absurdo

Outro disparate é em relação aos médicos das Forças Armadas, que recebem 30% do que ganha um médico do DF.

Foto: defesa.gov

 

 

Estranho

No manejo de água de outros países, não há a presença de organizações brasileiras como parceiras. Já no Programa Produtor de Água no Descoberto, coordenado pela SUDECO, há parcerias com Centro Internacional de Água e Transdisplinaridade (Cirat), a The Nature Conservancy (TNC), a Word Wild Fund for Nature (WWF), a Aliança de Fundos de Água da América Latina e a Coalização Cidades pela Água.

Foto: Breno Fortes/CB/D.A Press

 

 

Reforço

Mais de R$ 300 milhões de reais são investidos em escolas com vulnerabilidade social. Dados do Censo Escolar, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), indicaram os colégios para receber a verba. Pena que não haja aplicativos na Internet para a população acompanhar a aplicação dessa verba.

Foto: 94fm.com

 

 

Será?

Presidente Bolsonaro sacode o gigante adormecido com a seguinte previsão: manobras para um impeachment à vista. Razão: se ele vetar o valor de R$ 2 bilhões para o fundo eleitoral aprovado pelo Congresso para as eleições municipais deste ano.

Foto: Marcos Corrêa/PR

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Vamos olhar mais para o “Gavião”. A iluminação começou e não terminou; a urbanização foi apenas planejada e o Posto Policial ficou na promessa. (Publicado em 13/12/1961)

Papai Noel errou

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Queima de fogos na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no réveillon de 2017 — Foto: Dênio Simões/GDF/Divulgação (g1.globo)

 

Brasília tem sido o berço de grandes nomes da música popular. Talentos reconhecidos não só no Brasil, mas no mundo inteiro por sua virtuose e técnica. A relação com esses nomes é extensa e conhecida de todos. Muitos desses artistas tiveram que, obviamente, migrar para o eixo Rio de Janeiro e São Paulo, onde o mercado é maior, as gravadoras possuem suas sedes e as chances de sucesso no mercado interno e externo são certas.

Com tanta variedade e qualidade reconhecida, surpreende que, mais uma vez, essa plêiade de cantores, instrumentistas e compositores tenham sido preteridos pelo Governo do Distrito Federal para abrilhantar a festa de Réveillon 2020. Com isso, fica confirmado o ditado que repetia o filósofo de Mondubim: “santo de casa não faz milagre”.

Mesmo não sendo a primeira vez que um fato dessa natureza ocorra na capital do país, fica sempre a impressão que, pelos justos protestos e até pela falta de conhecimento da riqueza musical da cidade, essa será a última vez que tal gafe acontece. Embora muitos desses nomes que conheceram a glória além dos limites da capital não residam mais nesse quadrilátero, é certo que a fama e fortuna que construíram prescinde desse tipo de convite, por isso mesmo vão tocando o barco longe de uma Brasília que, dia após dia, vai ganhando fama, mas infelizmente não pelos talentos que aqui surgiram. É uma pena!

O pagamento de um cachê de mais de R$ 500 mil para que o cantor mato-grossense, Luan Santana, seja a principal atração da festa de Réveillon 2020, valor esse devidamente publicado no Diário Oficial, por meio de carta convite, pode até não ser muito para ele ou para quem aprecia seu repertório e é seu fã, como é o caso do governador, mas seria muito melhor empregado caso o governo empenhasse esses recursos em shows de pequeno porte por todas as cidades do entorno, onde residem e trabalham centenas de artistas talentosos e pouco valorizados pela mídia.

Na realidade, o montante que será gasto nas festas de Ano Novo será de R$ 2 milhões apenas na região central de Brasília. Um investimento, sem dúvida nenhuma, bom para os turistas que aqui estarão, mas, com certeza, um recurso público que seria mais democraticamente aplicado na promoção de nossos músicos e dos nossos valores locais. Da Casa do Cantador à Orquestra Sinfônica, passando pelas bandas e coros.

Para os brasilienses que para cá vieram ainda no início da construção da capital, esses recursos, cobrados a peso de ouro dos contribuintes, poderiam muito bem servir para reformar o Teatro Nacional, o Museu de Arte Moderna e outros monumentos à cultura, esquecidos por anos e que muita falta fazem aos moradores da cidade. Esse sim seria um presente de fim de ano que todos queriam receber.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Nas entrelinhas e com ferina ironia, o governo diz: O povo há que empobrecer, mas sem perder a ternura, jamais.”

Mauro Santayana, jornalista

Foto: jornalja.com

 

 

Canabis

Ministro da Educação recebe representação de deputados, sindicatos e central de estudantes por declarações sobre a UnB e sua relação com a maconha. Senhor ministro Weintraub, veja isto. Recém-admitida na UnB, uma aluna vinda do Ceará, tentou cursar Filosofia. Preferiu trancar a matrícula quando a mãe disse que queria conhecer a universidade em que estudava. Era a UnB. – “Deus me livre minha mãe andar nesse ambiente. Ela vai achar que é o fim do mundo!”  Isso foi em 2013. Será que alguma coisa mudou?

 

 

Sativa

Freiem os cavalos! É óbvio que a Universidade de Brasília tem desenvolvido pesquisas destacadas pelo país, que há professores sérios, alunos com discernimento, diretores responsáveis. Mas entrar com representação contra o ministro porque ele disse a verdade, aí é o cúmulo da hipocrisia! Veja a seguir vários vídeos disponibilizados sobre as algazarras acadêmicas. Só vendo para crer.

 

 

Brazuka

Constrangedor. Essa foi a palavra escolhida pelo amigo Álvaro Costa, do Brasília Urgente, para exprimir o cambalacho do aplicativo Uber, prestes a desistir do nosso país. Motoristas contra os usuários do serviço! O golpe mais recente flagra motoristas do aplicativo que, ao receberem uma chamada de um usuário, fingem não ter recebido, ignorando-a, só para ganhar uma taxa por cancelamento estipulada pelo aplicativo a quem cancela. Neste caso, o cancelamento feito pelo usuário é necessário, por constatar pelo GPS que o motorista recebeu o chamado, mas não saiu do lugar. O usuário, prejudicado, ainda é alertado pelo aplicativo que pagará uma taxa pelo cancelamento (que é repassada ao motorista chamado) a ser acrescida em sua próxima chamada. Este novo golpe é bem “brazuka”, atesta nosso leitor.

Foto: tecnoblog.net

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Outra coisa que precisa aparecer é um deputado que não tenha passe de passageiro convidado, e que tenha autoridade para reformar o Código de Aeronáutica Civil. (Publicado em 12/12/1961)