Política como arte do amparo

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Arquivo Pessoal

 

         É certo que a arte de fazer política, na verdadeira acepção da palavra, não é exclusividade dos políticos profissionais. Na realidade, muitos desses políticos que aí estão não entendem o que vem a ser a verdadeira política. Se entendem, não a praticam, preferindo exercer um cargo de status para dele retirar e desfrutar as benesses para si.

         Exercem mandatos, tendo em mira objetivos egoístas, como o enriquecimento material e a satisfação do ego. Auxílios que são bancados com o suor do povo brasileiro e que em outros países são absurdos e inimagináveis.

         Muitos brasileiros comuns, afastados das luzes dos holofotes e dentro das limitações que lhes são próprias, exercem, às vezes sem saber, a práxis política em toda a sua inteireza e com grande galhardia, sem disso retirar proveito próprio ou buscar satisfação para o sempre enganoso ego. São cidadãos desconhecidos, espalhados por todo esse imenso país, que têm no seu dia a dia o costume, e mesmo o caráter, de se entregar espontaneamente em favor do próximo, realizando pequenos trabalhos que resultam sempre no desenvolvimento de sua comunidade.

         Nem mesmo a falta de recursos desanima esses brasileiros de exercer uma função social, realizando o que pode ser definido como verdadeira política. No início da construção de Brasília, muitos daqueles que para aqui vieram se estabelecer, em busca de uma vida nova, tinham, como prática normal, a ajuda aos novos candangos que chegavam, auxiliando-os na busca de empregos,  alojamento e outras necessidades. Essa era uma prática constante e muito comum, que ajudou a cidade no fortalecimento dos seus laços sociais.

         Nessa época, não importava a função exercida pela pessoa, todos se amparavam, pois sabiam no fundo, que a concretização definitiva da capital só seria possível se todos se irmanassem num objetivo comum. Realizavam assim a verdadeira política, fortalecendo a cidadania. A fundação da capital teve, nesse alicerce humano, seu mais significativo pilar.

         Também eram tempos diferentes e em que os escândalos políticos, mesmo por sua insignificância, comparados aos de hoje, pareciam ter ficado para trás, na antiga capital, o Rio de Janeiro. Por essas bandas, perdidas no interior do Brasil, buscavam os migrantes não apenas uma nova capital material, mas, sobretudo, um novo homem e mulher brasileiros, capazes de deixar para as próximas gerações um país reformado e fundado no seu sentido moral e ético.

         Milhares dessas histórias podem ser aqui mencionadas, contando as dificuldades daquela época e como as pessoas comuns, ou nem tanto, apoiavam-se mutuamente para fazer frente a esses desafios. Exerciam, assim, a política que interessa e que produz resultados reais. Muitos também que estão hoje em posição de destaque nessa cidade podem testemunhar o quão foi preciso a ajuda recebida e a mão solidária daqueles idos dos anos sessenta.

         Da mesma forma aqueles abnegados benfeitores não faziam alarde de sua atuação em prol de seus semelhantes. Não vale aqui citar nomes, até para não ter que cometer a injustiça de deixar outros personagens de fora. Mas do que vi e vivi desse tempo de colonização do Centro-Oeste, deixo aqui o testemunho real e sem fantasias, de quanto o meu pai, jornalista, fundador desse jornal e dessa, talvez mais antiga coluna do mundo, fez por Brasília e, principalmente, por sua gente, defendendo a cidade para que não fossem perdidos seus princípios norteadores, angariando com isso muitos admiradores e, obviamente, alguns detratores também.

         Lembro ter presenciado, por diversas vezes, sua sala de trabalho no jornal, abarrotada de pessoas que buscavam amparo de todo o tipo. Todos recebiam sua atenção. Ao passear com Ari Cunha, já estava acostumada a fazer o mesmo percurso que os outros por mais tempo. Todos queriam conversar com ele, dar sugestões de nota, agradecer pelo que ele havia escrito.

          Uma multidão se aglomerou no cemitério, ao contrário do que ocorrem com o velório dos políticos profissionais, quando a multidão vai ao cemitério apenas para se certificar de que o político morreu mesmo. Na despedida, todos da família ouviram o quanto ele ajudou. O primeiro emprego, a bronca que transformou a vida, o terno dado para que o repórter pudesse cobrir o parlamento, o inimigo de suas palavras confessando, hoje, que Ari Cunha tinha razão. Assim, não foram poucos os que ajudou a dar os primeiros passos na cidade. Exercia a política sem ser político, apenas cidadão. Nunca fez alarde dessa sua atuação e nunca buscou proveito próprio para si ou os seus. Sabia, por experiência, que jamais deveria ficar devendo algo a alguém, pois entendia que essa liberdade lhe dava o direito de criticar as autoridades. Não devia favores, prestava, isso sim muitos favores e isso lhe dava alegria.

         Ainda hoje, não são poucos os leitores e não leitores que conversam conosco reconhecendo o amparo e a ajuda recebida de meu velho pai. Nunca quis nada em troca. Não aceitava bajulações. Recebeu muitas medalhas em vida. Respeitava as homenagens, mas isso não lhe tirava o ego do lugar, nem alterava o tamanho.

          Morreu sem dívidas e sem riqueza material, embora as oportunidades fossem muitas. Exerceu a profissão de jornalista como poucos nesse país. Como um político, no sentido solidário e humano, foi um exemplo.

A frase que foi pronunciada:

“Vamos aguardar que as melancias se acomodem na carroça.”

Ari Cunha

Foto: arquivo pessoal

 

História de Brasília

Mais uma contra o povo, apresentada pela ponte Rio-Brasília. Se uma pessoa desejar interromper o percurso em Belo Horizonte, a passagem para o Rio ficará em Cr$ 9.300,00, enquanto que o Viscount cobrava Cr$ 8.700,00. (Publicada em 17.03.1962)

Ânimo histórico

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil

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“A ferrovia chega a Brasília: 22 de abril de 1968, fotografia, p/b, Arquivo Nacional, Fundo Correio da Manhã, Rio de Janeiro”. Cf. Brasil, Brasília e os brasileiros. Composição de aço inox da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro, possivelmente na curva da Vila Nova Divinéia, no Núcleo Bandeirante.

 

Quando começaram a sair das pranchetas os primeiros traços que iriam definir o desenho urbano e arquitetônico da nova capital do país, sessenta anos atrás, o Brasil vivia um momento totalmente diferente do atual. A maioria das pessoas que estiveram unidas nesse projeto ciclópico de transferir a capital para o interior de Goiás, é unânime em reconhecer que o país, naqueles distantes dias, vivia um clima de grande otimismo em relação ao futuro.

Esse era, para todos, o principal sentimento a animar as pessoas naqueles dias. E foi graças a esse entusiasmo ímpar, que se apoderava de todos, é que foi possível a realização de tamanho empreendimento. Os desafios dessa empreitada eram enormes, mas a vontade parecia ser ainda maior. Não se conhece, na história recente do país, outro momento semelhante em que grande parte da nação uniu esforços e dedicação voluntária para a realização de um projeto em comum.

Mesmo sabendo que o futuro sítio, onde seria implantada a nova capital, não possuía estradas que o ligasse ao restante do país, brasileiros vindos de todos os pontos cardeais rumaram para a aventura que se apresentava com a construção de uma cidade do futuro. Para muitos, esse ânimo cívico incomum, que levantava os brasileiros naquele instante, tinha entre algumas outras explicações racionais, político e econômicas, certas interpretações extraordinárias, fundadas no esoterismo, que atribuíam à figura naturalmente magnânima e aglutinadora do presidente Juscelino Kubitschek, uma certa áurea que fazia com que ele se portasse como um profeta bíblico a guiar seu povo rumo a uma longínqua terra prometida.

Isso não quer dizer que não havia, por parte dos políticos daquela época, uma oposição ferrenha a essa ideia que era taxada, entre outros adjetivos, de lunática. De fato, fazendo uma retrospectiva dos enormes empecilhos que haviam pela frente, principalmente quando se sabe que naquele período o Brasil ainda ensaiava os primeiros movimentos em direção à construção de seu parque industrial.

As adversidades logísticas, materiais e humanas e mesmo de financiamento de um projeto desse porte eram tão imensas e aparentemente intransponíveis que o próprio presidente cuidava, pessoalmente, da divulgação dos projetos. Para a realização desse monumental projeto, JK chegou a imprimir dinheiro sem lastro (ouro) real, pois sabia que tinha apenas o tempo de seu mandato para concluir Brasília.

Por conhecer em seu íntimo as dificuldades que tinha pela frente, nesse projeto que era a própria razão de ser de seu mandato presidencial, JK vinha, constantemente durante a semana, visitar pessoalmente o andamento das obras. Algumas vezes, pelo andar apressado das horas, pernoitava na capital, seguindo no dia seguinte para a então capital federal, Rio de Janeiro, onde o ambiente político era sempre hostil e instável.

Não poder ficar muito tempo distante dessas duas capitais que fervilhavam, cada uma à sua maneira, obrigou o presidente a literalmente instalar o Poder Executivo a bordo de uma aeronave modelo Viscount, vencendo seguidas vezes a distância de mil quilômetros entre o Rio e Brasília. Uma epopeia que seguramente não se repetirá jamais.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O número dos que nos invejam confirma as nossas capacidades.”

Oscar Wilde, escritor e dramaturgo inglês

Oscar Wilde, 1882. Courtesy of the William Andrews Memorial Library of the University of California, Los Angeles (britannica.com)

 

 

Castração

Em 2020 as castrações gratuitas de animais começam no dia 18 desse mês, na Administração Regional de São Sebastião. Antes será necessário cumprir a fase de inscrição. Basta levar RG e CPF e um comprovante de residência.

Foto: Brasília Ambiental / Divulgação

 

De olho

Moradores de 5.570 municípios, onde muitos acreditam estar a sede do Brasil real, irão voltar as urnas para escolher prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Serão milhares de candidatos, com os partidos podendo lançar até 150% do número de vagas existentes nas Câmaras Municipais.

Charge do Duke

 

Impresso já

Legendas prometem fazer chover candidatos, mesmo com o estabelecimento do fim das coligações. Com um pleito dessa magnitude, talvez um dos maiores do mundo, é claro que as atenções de todos se voltam, mais uma vez, para a questão central, e ainda não estabelecida, de modo definitivo, pelo Supremo Tribunal Federal, do uso do voto impresso pelas urnas eletrônicas.

Foto: blogdoeliomar.com.br

 

Tejo

João Doria e empresários da comunicação conversando no restaurante Tejo, em Brasília. A informação é de um leitor assíduo.

Foto: istoe.com

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

A Novacap está disposta a reaver as granjas distribuídas a pessoas que não residem em Brasília, nem nunca tomaram posse da terra que lhes foi cedida. Há muita gente importante na primeira relação. (Publicado em 15/12/1961)