A sabedoria vem com o silêncio

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Foto: Rafael Carvalho (exame.abril.com)

 

Analistas do atual cenário político, sejam eles simpatizantes da direita ou da esquerda, são unânimes em reconhecer que a principal fonte das crises políticas deriva das falas intempestivas do presidente Jair Bolsonaro. Por sua multiplicidade e diversidade, não caberiam aqui recordar toda a coleção de declarações desastrosas que acabaram, pela força natural da palavra, empurrando o atual chefe do Executivo para os extremos da política, transformando-o numa espécie de personagem que, aos poucos, vai se fechando em torno de um pequeno núcleo.

Nada contra a sinceridade. Ocorre que em política, e principalmente do alto da presidência da República, as palavras adquirem um tal poder de repercussão imediata em muitos meios, que acabam gerando incompreensões, ressentimentos e interpretações diversas. Infelizmente e de acordo com a liturgia do cargo, cabe ao chefe do Poder Executivo exercer um papel de conciliador e mediador de conflitos, tal o número de desentendimentos e rinhas existentes atualmente no campo político.

Esse exercício de parcimônia nas declarações, medindo e pesando cada palavra, além de fundamental, é exigido nesse momento de extremismos políticos. Naturalmente que esses destemperos momentâneos nas falas do presidente Bolsonaro são aproveitados, um a um, pelas oposições, que tratam de conferir-lhe ainda maior veneno ao passar cada frase adiante. Também ao fazer questão de se mostrar inamistoso a todos aqueles que ousam dele discordar, o presidente Bolsonaro passa a colecionar uma legião crescente de inimigos figadais que, muito mais do que opositores políticos, são aqueles que buscam a ruína e não apenas a derrota pura e simples do oponente.

O pior é que todo esse atual cenário ganha ainda mais instabilidade quando o presidente trás, para a frente do seu governo, seus três filhos, permitindo e até incentivando que eles se entreguem a uma espécie de rinha política com todos que se mostram avessos a esses traços de personalismo. Aliás, é justamente esse modelo personalíssimo de fazer política que levou esse clã a maquinar a ideia de construir um partido totalmente moldado aos desejos da família, materializando assim uma sigla política que poderia muito bem ser definida como a primeira legenda do “homem cordial”, tal qual descreveu um dos inventores do Brasil, o historiador e crítico literário Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982).

Caso venha a ser definitivamente inscrito entre as dezenas de outras legendas, a Aliança pelo Brasil já nascerá com prazo de validade datado, devendo durar enquanto o patriarca ocupar os espaços políticos. Será também um partido de família: da família Bolsonaro, numa confusão entre o público e o privado. A consanguinidade será o requisito para ascender no partido. Não admira que, diante de um quadro instável dessa natureza, a área política não acumule tantas vitórias como a área econômica.

Também o enfraquecimento proposital do PSL, levado a cabo exclusivamente pela família Bolsonaro, pode muito bem ser qualificado como motim a bordo, quando revoltosos tentam tomar à força o comando do navio. Somente por esse pequeno episódio, é possível ter uma ideia mais precisa do que o clã Bolsonaro é capaz de realizar quando o que está em jogo é a manutenção do poder.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Não amemos de palavra, mas por obra e em verdade.”

1, João, 3:18

Imagem: formacao.cancaonova.com

 

 

Novidade

Chico Vigilante Lula da Silva, como está grafado no Diário Oficial do DF, instituiu o Dia de Nossa Senhora da Glória, padroeira da região administrativa de Ceilândia. Será no dia 15 de agosto e será incluída no calendário oficial de eventos da cidade.

Paróquia Nossa Senhora da Glória, em Ceilândia (foto: facebook.com/pnsgdf)

 

 

Feirarte

Também foi sancionada pelo governador Ibaneis a lei do deputado Reginaldo Sardinha, que regulamenta Feiras Especiais de Arte. Vai facilitar a comercialização e divulgação pelo Brasil e exterior dos trabalhos dos expositores de Brasília. A autorização para uso de área de domínio público é pessoal e intransferível, com a exceção do cônjuge, pai, mãe, filho, irmão, neto e avô, bastando comprovação de habilitação técnica para o exercício.

Deputado Reginaldo Sardinha (foto: cl.df.gov)

 

 

Opinião do leitor

Carlos Romeiro, leitor assíduo dessa coluna, chama a atenção do GDF para a situação das árvores em tempos de chuva. Além do perigo de queda em carros e pessoas, geralmente são plantadas sem que se pense no visual geral dos monumentos por perto, interrompendo o espaço aberto que é a marca de Brasília.

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Neste ponto, aliás, vale chamar a atenção das autoridades: as companhias vivem solicitando aumento de tarifas, e quase todas elas, hoje, estão anunciando 45 por cento de redução nessas mesmas tarifas. Isto é fazer o governo de palhaço. Pede o aumento, o governo concede, e depois a própria empresa determina a redução. (Publicado em 12/12/1961)