Fotos amareladas

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: explicamais.com

 

           Quem observa, com atenção, antigas fotos em preto e branco, tiradas a pouco mais de meio século, mostrando cenas nossas principais das capitais, de suas ruas, avenidas, parques e centros de comércio, nota, logo de saída, uma diferença significativa e que ilustra um fato curioso: como eram bonitas e organizadas nossas metrópoles, com cada coisa em seu lugar. As principais ruas eram limpas, arborizadas, os prédios bem dispostos, bem cuidados. Os parques exibiam estátuas e monumentos intocados, haviam bebedouros públicos espalhados pela cidade. O trânsito fluía, as pessoas pareciam caber nas ruas. Tudo estava em seu lugar.

          Nos centros urbanos, não se via lixo, pichações, parecíamos estar vendo uma outra cidade, de um outro país distante. Vendo essas imagens e olhando em volta para o que temos agora, o sentimento que prevalece é de que, já naquela época, havíamos resolvido grande parte de nossos problemas urbanos atuais.

         Passados tanto tempo, a pergunta que se impõe é o que teria ocorrido com nossas principais capitais? Comparando esses mesmos sítios ontem e hoje, é visível a deterioração e o envelhecimento precoce de nossos espaços públicos. Por que esse mesmo fenômeno não afetou cidades como Paris e Roma, bem mais antigas e tão bem conservadas? Nossas principais cidades simplesmente envelheceram num ritmo alucinante.

         É certo que o Brasil de cinquenta anos atrás tinha seus problemas, mas o registro em imagens, gravado no papel, mostra as metrópoles brasileiras como um lugar outrora aprazível e seguro. Mesmo Brasília, tão nova e moderna, basta um olhar nas fotos captadas nos anos sessenta para se constatar que o passar do tempo maltratou muito a capital do país. Imagens mostrando a rodoviária central, o setor comercial sul, a W3 e outros endereços, nos anos 60, registram uma cidade que não existe mais, e que foi engolida pelo progresso ligeiro e oportunista.

         Nos últimos anos, esse processo de deterioração se acelerou com a entrada de novos personagens no comando da cidade, retaliada entre grupos políticos. O que se observa agora é a degradação dos espaços públicos, com os puxadinhos horrendos tomando conta de tudo, até de paradas de ônibus.

          O comércio sobre rodas, caracterizado pelos chamados food trucks, uma inovação importada às pressas dos Estados Unidos, não respeitam canteiros centrais, áreas verdes, nada. Vão invadindo cada canto, improvisando um comércio de alimentos que todos sabemos, não passa pelo crivo da vigilância sanitária.

         Leis, feitas sob encomenda e que irão beneficiar mais aqueles que as confeccionam do que a população em geral são produzidas em quantidade, favorecendo todo o tipo de empreendimento. Com isso, a cidade que deveria ser modelo para o mundo entra, pouco a pouco, num processo de decadência triste e irreversível, restando apenas lembranças gravadas em fotografias em preto e branco e que nos dão a certeza de que éramos felizes e não sabíamos.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Democracia quer simplesmente dizer o desencanto do povo, pelo povo, para o povo.”

Oscar Wilde

Oscar Wilde, 1882.
Courtesy of the William Andrews Memorial Library of the University of California, Los Angeles (britannica.com)

 

De presente

Conhecido como o mar de Brasília, o céu apresentou uma surpresa espetacular ontem na capital. Um halo em volta do sol chamava a atenção. A seguir, as fotos de João Andrade, aniversariante do dia.

 

Atuação

Engatinhando ainda no compartilhamento das informações de atividades parlamentares, a Câmara Legislativa tem o Senado Federal e a Câmara dos Deputados para se espelhar. Só assim vai se tornar transparente. Por enquanto, as informações são escassas.

Foto: Carlos Gandra/CLDF

 

Educação

Poeira e Batom é um documentário de Tânia Fontenele que deveria ter apresentação obrigatória nas escolas públicas e particulares da capital. Uma cidade tão nova precisa ter a origem conhecida pelos jovens.

Imagem: cultura.gov.br

 

Gestão

Mulher passa mal aguardando atendimento no CRAS. O problema é o horário de funcionamento. A demanda é enorme e o tempo de portas abertas é muito pouco.

Frame de vídeo gravado por usuários do CRAS durante socorro à mulher que passou mal enquanto esperava por atendimento – Reprodução

 

História de Brasília

Já que o assunto é fiscalização, aqui está uma: as casas da Caixa Econômica, na W-3, estão abolindo dependências de empregadas, para alugar a escritórios e oficinas. E o pior. Já estão colocando basculantes nas paredes externas, não se sabe com ordem de quem. (Publicada em 13.03.1962)

Racionamento por falta de planejamento

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DESDE 1960 »

jornalista_aricunha@outlook.com

Circe Cunha e MAMFIL

No fim do ano passado, quando o diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), Paulo Salles, declarou que a população precisava rezar para chover, estavam aparentemente lançadas, segundo seu entendimento técnico, todas as condições necessárias para que os reservatórios que abastecem a capital com água tratada voltassem aos níveis normais, evitando, assim, que o racionamento rigoroso fosse decretado pelas autoridades.

Fosse simples assim, bastaria entregar a pasta a algum padre ou pastor, que a situação estava resolvida. Bastaria a população sair em procissão pelas ruas, com velas, entoando cantos religiosos ou quem sabe por meio da convocação de povos indígenas para a realização de antigos rituais invocando as águas do céu.

Não querendo entrar no mérito da eficácia desses métodos, que têm explicação no plano da metafísica, o problema diz respeito à confluência de um complexo conjunto de causas, muito humanas, que remontam à história recente de Brasília e do Entorno. Anteriormente, as desculpas se resumiam a atribuir aos imponderáveis caprichos da natureza pela falta de água. Rezar é bom e alivia a alma, que não necessita desse tipo de água para viver. A fonte da vida é outra.

Obviamente, não cabem à Adasa, da qual a população desconhece a existência, todas as responsabilidades pela escassez de água. A parte que lhe diz respeito diretamente vem exatamente do aparelhamento político imposto pelos governos passados, das agências reguladoras, com a substituição de técnicos especializados e renomados, por apadrinhados políticos, sem qualificação específica para a função. Numa escala de responsabilidades, cabe, primeiramente, à classe política os infortúnios vividos pela população. A transformação das terras do DF em moeda de troca política permitiu que imensas áreas, muitas, comprovadamente de proteção ambiental, com importantes nascentes, está em uma das raízes do problema.

Com a farra dos loteamentos irregulares, construídos da noite para o dia, veio o inchaço populacional desordenado. Uma vez estabelecidas, as invasões eram imediatamente equipadas com redes de água e luz, mesmo antes de qualquer planejamento urbano técnico , consolidando o problema e empurrando a solução para um futuro que, agora vemos, chegou com a conta nas mãos.

A falta de planejamento de longo prazo e de uma política permanente de educação sobre o uso correto desses recursos finitos vem em seguida. A transformação do cerrado em extensas áreas de monocultura para a exportação, com a destruição da vegetação nativa, ao destruir o ecossistema da região, considerado o berço das águas, fez o resto.

É importante observar que, ao longo da história da humanidade, nenhuma civilização foi capaz de prosperar e mesmo sobreviver sem os recursos hídricos necessários e essenciais. Muitas cidades importantes na antiguidade simplesmente foram deixadas para trás, quando a água secou. O exemplo permanece. Portanto, debitar nas contas, já volumosas de Deus e da administração celeste, as causas pelo esgotamento hídrico, não convence, mesmo aos mais crédulos.

A frase que foi pronunciada:
“Esse estádio monstrengo é a prova de que nunca faltou dinheiro para atender pacientes com dignidade nos hospitais públicos. Faltou mesmo foi sensibilidade e humanismo.”
Paciente na emergência do Hran

Notas
» Sob o argumento de superlotação, o Hospital do Paranoá suspendeu, temporariamente, o atendimento a todos os pacientes que procuram a unidade. Essa situação inusitada revela e expõe a falência da estrutura de saúde no DF. Já o Hran, na madrugada de ontem, tinha enfermeiras e médicos de plantão. Só que o atendimento na emergência só começou na troca de turno.

SOS nojo
» Por falar em Hran, no orelhão do PS perto da chefia de enfermagem, havia uma cadeira onde alguém com diarreia sentou. Com a espuma alta, cada um que sentava ali, para amenizar a exaustão da espera, levantava com a surpresa desagradável.

Vermelho
» Não é de hoje que pacientes que necessitam de atendimento de urgência, em todo o DF, só têm acesso ao interior dos hospitais e, portanto, aos cuidados médicos, se derem entrada nos estabelecimentos, deitados em macas e transportados pelas unidades dos Bombeiros e das ambulâncias, de preferência prontos para morrer.

Ver para crer
» E mesmo quem dá entrada é atendido de forma precária. Sem limpeza, sem lençóis, sem a menor dignidade. E justiça seja feita: falta dignidade para os pacientes e para os que optam por trabalhar sem o mínimo básico necessário para exercer a profissão. Os médicos enfermeiras, técnicos, que batem ponto e trabalham, merecem todo o respeito da população. O governador Rollemberg poderia ir a qualquer hospital público de madrugada disfarçado, sem estafe. Alguma coisa mudaria.

Realidade
» Devido a carências no setor, as brigadas do Corpo de Bombeiros foram transformadas em serviço de atendimento de emergência de saúde, transportando pacientes de todo o DF para os hospitais depois de um atendimento preliminar. São heróis que também lutam com condições que poderiam ser melhores.

História de Brasília
Como não há exceção, caiu o decreto das corridas de cavalo, e as determinações sobre o uso de carros oficiais foram desrespeitadas, mas nessa mesma edição há uma carta do chefe da Casa Militar da Presidência, general Amaury Kruel, a respeito. (Publicado em 21/9/1961)