Armas, Ciências, Ideologias e paranoias

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

Instagram.com/vistolidoeouvido

 

Foto: piedade.sp.gov

 

Suzana Guerra, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, alerta o Ministério da Economia que, por falta de verba, o Instituto está ameaçado de não cumprir as metas de pesquisa para este ano. O que parece supérfluo aos olhos de alguns é essencial para a realização do trabalho, como locação de veículos, diárias, passagens, e até água, luz e telefone dos postos de coleta das informações.

Esse Instituto que o governo cogitou, inclusive, em fechar, esvaziando seu quadro e suas funções, respondeu que pesquisas como a Pnad Contínua e outras do gênero visam levantar informações cruciais sobre os trabalhadores do país, inclusive, aqueles sem vínculo formal de trabalho, o que é o caso de muitos brasileiros nesse momento.

Para esses cientistas sociais, pesquisas desse tipo estão entre as mais avançadas do mundo e, por isso, seguem recomendações dos organismos de cooperação internacional como a Organização Internacional do Trabalho-OIT. Para todos aqueles que lidam com esse tipo de pesquisa científica e vital a qualquer país moderno, as declarações do governo, pondo em dúvida a seriedade dos estudos foram consideradas “perigosas” e contra uma metodologia sabidamente científica e apolítica.

Para esses profissionais ameaçados pelo governo, é necessário que a atual administração evite, o quanto puder, interferir nos trabalhos de pesquisas, até para não as contaminar com pinceladas coloridas a favor desse e de outros governantes. Para esses pesquisadores, os trabalhos desenvolvidos pelo IBGE, por sua tipicidade e importância, devem obedecer apenas a critérios científicos, livre da interferência de políticos, que acabam contaminando os resultados finais. “Uma das premissas necessárias para esse tipo de trabalho é a independência das estatísticas e autonomia dos pesquisadores, até por uma questão de credibilidade científica, ressaltaram os técnicos da instituição.

É preciso ressaltar, como todos já puderam verificar durante esse último ano e meio, que o atual governo tem feito críticas não apenas a atuação do IBGE, mas se voltado, também, contra o Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e a própria Fiocruz, em pleno período de pandemia, quando mais era necessário o apoio de todos em pesquisas científicas. Ao acusar o IBGE e esses outros Institutos de longa tradição técnica de estarem aparelhados pelo que chama de comunistas ou vermelhinhos, o atual presidente tem deixado claro para muitos que não confia na ciência, preferindo seguir seus próprios instintos, que acredita serem os mais “acertados”.

Este ano, as pesquisas do IBGE seriam feitas nos meses de agosto a setembro, com um questionário básico a ser aplicado em mais de 71 milhões de lares em todo o país, mas, alegando falta de recursos, o governo já se pronunciou pelo adiamento das pesquisas, ao mesmo tempo em que remaneja esses escassos recursos para outras áreas, digamos, mais prioritárias para ele e seu grupo, como é o caso do ministério da Defesa, ligado diretamente à ala militar que apoia o governo.

Para pessoas envolvidas diretamente nessa polêmica sobre o adiamento ou não do Censo do IBGE, economizar uns poucos recursos com a aplicação do Censo pode trazer ganhos ilusórios e momentâneos ao governo, mas seguramente provocará um atraso e uma diminuição muito sensível na área de políticas públicas, com grande prejuízo para o futuro dos brasileiros. Muitos cientistas desse país já adiantaram que o Censo deve ser tratado sempre como uma prioridade permanente. Inclusive, muitos defendem, abertamente e sem medo de represálias, que o trabalho, como o realizado por esse e outros institutos de pesquisa, seja considerado como uma política de Estado e não de governos e de ideologias de plantão, e não deveria ser colocado em segundo plano, ao sabor de questões orçamentárias e outras variáveis, pois trata-se de um interesse do Estado e da Nação, não do governo.

 

A frase que foi pronunciada:

“A ciência é o melhor instrumento para medir nossa ignorância.”

Paolo Mantegazza foi um neurologista, fisiologista e antropólogo italiano.

Paolo Mantegazza

 

Intelectual

Leia, a seguir, o artigo do professor Flávio R. Kothe sobre a ideia que permeia a iniciativa de o governo federal pensar na taxação do livro em mais 12% de impostos.

Charge do Cospe Fogo

–> MAIOR IMPOSTO SOBRE O LIVRO

Por Flávio R. Kothe*

  O governo federal aventou o desejo de taxar o livro em mais 12% de impostos, o que provocou nos últimos dias a reação de editores, livreiros, donos de gráficas, escritores. O governo alega que pobre não lê; os interessados dizem que o livro precisa ser barateado para que ele possa ler. Marx lamentava que o capitalismo estivesse então pouco desenvolvido na área editorial, da qual ele próprio dependia.

   Quando estudei em Berlim Ocidental e ainda havia socialismo do outro lado do Muro, meus colegas costumavam comprar livros lá, pois não eram considerados mercadorias e sim bens culturais. Quando o socialismo soviético caiu, os preços das partituras musicais, por exemplo, aumentaram muito (como também o preço da cerveja). Os que se deram bem conseguiram, no entanto, salários mais altos. O sistema caiu porque não soube fazer preços de acordo com os custos. Foi autoritário ao ideologizar os preços conforme o que fosse considerado necessário ou luxo.

  Em livro recente, eu me fazia perguntas como: qual é o valor do poeta onde nada se dá por ele? Qual é o preço do que tem valor inestimável, e não é estimado? Qual é o valor da palavra na era do best-seller? Será o valor da arte proporcional ao preço? O que significa a arte ser transformada em mercadoria? Como se impõem hoje obras ao público pela escola e pela propaganda? Qual é a relação entre valor artístico e preço de uma obra?

   Se o preço expressa o valor do trabalho social médio para produzir a mercadoria, a criação genial escapa a essa mediania. Fora do parâmetro, ela pode ou não ser reconhecida em termos de preço. Se o artista inovador não é reconhecido por causa da ruptura de paradigma, ele é deixado à margem e não consegue viver do que produz, pois o mercado não o reconhece. Boas obras podem ser perdidas ou nem ser descobertas, assim como obras menores podem ser valorizadas por razões não artísticas, como a conveniência de governos, instituições eclesiais, partidos políticos.

   Temos três tipos de escritores: os que precisam pagar para ser lidos; os que conseguem publicar sem pagar nem receber; os que são pagos para escrever. Dos primeiros para os últimos há um afunilamento. Professores, jornalistas, médicos e advogados são pagos pelas palavras que produzem. Pode-se calcular o preço de cada sílaba. O preço é o valor atribuído pelo mercado, ou seja, o valor de troca da sílaba. Nem todo bem que se gera passa, no entanto, pelo mercado. As frutas e verduras que colho no meu quintal para meu consumo não passam pelo mercado, mas atendem a necessidades. O labor investido nelas é considerado, até por Marx, como “trabalho improdutivo” (porque não gera lucro). Boa parte do que nós aqui produzimos como literatura é fruto de trabalho improdutivo.

*Professor titular, pós-doutorado na Alemanha, e coordenador do Núcleo de Estética, Hermenêutica e Semiótica da Universidade de Brasília. É o atual presidente da Academia de Letras do Brasil. Tem mais de 40 livros publicados. Traduziu autores como  Nietsche, Marx, Benjamin  Adorno Kafka e outros.Foi um dos introdutores do “formalismo russo” no Brasil.

 

Debate

Ainda é possível acompanhar as discussões sobre a Privatização dos Correios no Youtube, no canal da Auditoria Cidadã. Veja no link Privatização dos Correios? É hora de virar o jogo.

 

Pdot

Prorrogado o prazo para a participação nas discussões do Pdot, Comitê de Gestão Participativa do Plano Diretor do Ordenamento Territorial do DF. Inscrições até 20 de setembro. Informações no link PDOT 2020-2030.

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Já que há o interesse de vários ministérios em efetivarem a mudança, imediatamente para Brasília, e alegam a falta de moradia, há uma sugestão. Várias empresas particulares construíram em Brasília e estão com seus prédios prontos ou por acabar. Não encontram compradores, que bem poderia ser o governo. Há casos em que os vendedores entregariam prédios prontos, pelo preço de custo da construção atual. Com esta aquisição, diversos ministérios poderiam muito bem fazer maior número de funcionários para o Distrito Federal. (Publicado em 14/01/1962)

Insensatez

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

Instagram.com/vistolidoeouvido

 

Foto: Reprodução da internet

 

Governo algum pode subsistir se não puder contar com um manancial preciso e bem elaborado de informações, que capacite e oriente sua administração na tomada de decisões corretas. Informação nesse caso é tudo. Não se trata, aqui, de bisbilhotar a vida dos cidadãos em busca de pretensos inimigos internos. O tipo de informação que interessa diz respeito direto aos cidadãos, já que servem de ferramenta para buscar melhorias de vida para cada um dos brasileiros.

Gestores realmente sérios e, principalmente. aqueles munidos de programa de governo consistentes e exequíveis, jamais prescindem de ter, ao alcance das mãos, o maior volume possível de dados dos mais diversos. No caso dos dados levantados a cada dez anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comumente conhecido como Censo Demográfico, o volume e qualidade de informações contidos nessa pesquisa é vital para o nosso país. Somente por meio desse laborioso trabalho, realizado num país continental como o nosso, com todas as dificuldades que conhecemos, em meio a tanta variedade de realidades físicas e humanas, é que é possível se pensar em implementar políticas públicas adequadas, com vistas a um desenvolvimento racional e sem improvisações de última hora.

Pela importância e sensibilidade dos dados coletados por esse Instituto, não seria nenhum exagero se, a cada governo que tomasse posse, fosse imediatamente precedido de amplo e detalhado censo, de forma a municiar o novo mandatário de um retrato fiel e atual do país que irá administrar pelos próximos quatro ou oito anos. Bem sabemos que, em uma década, as mudanças operadas num país são profundas e, às vezes, produzem um verdadeiro ponto de inflexão, com alterações e mudança de rumos até contrárias.

Para os administradores, a atualização permanente é mais do que necessária, é vital e indiscutível para si e para a sociedade. Para isso, não basta saber apenas o tamanho da população e como estão distribuídos pelo território. É preciso, sobretudo, conhecer as condições de vida de cada brasileiro, qual o nível de escolaridade de cada indivíduo, em que condições de emprego e renda se encontram nossa população. É tão necessário para o país e sua gente que o Censo e mesmo Institutos como o IBGE deveriam, num mundo ideal, pairar sobre governos, partidos, ideologias (grande problema) e outras organizações políticas, necessárias para o sistema democrático, mas irrelevantes do ponto de vista das ciências humanas e das pesquisas.

Depois de manter, por meses, o IBGE sob intenso fogo de artilharia, com críticas e ameaças de todo o tipo, justamente porque o Instituto cumpria seu papel de mostrar a realidade do país, num retrato que, na opinião do atual governo feria a imagem de sua administração, Jair Bolsonaro chamou de farsa as pesquisas que indicavam um aumento do desemprego.

Nessa guerra inglória contra um Instituto composto por profissionais do mais alto gabarito técnico, o governo sugeriu, entre outras medidas estapafúrdias, “enxugar” o questionário que submete aos milhões de pesquisados, simplificando, aos interesses do governo, uma pesquisa que é reconhecidamente, não só no Brasil, mas em outras partes do mundo, como séria e muito bem elaborada.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:                      

“Caso muito singular, os governos fazem questão de saber quanto ganhamos, em que estado civil nos achamos, se nos inscrevemos no recenseamento eleitoral, se temos número de contribuinte, se acumulamos pensões ou empregos, se andamos em dia com a carta de condução ou a licença de caça.”

José Saramago, escritor português

Foto: Consuelo Bautista / El País

 

Abrace o Marajó

Acertado o papel do BNDES em parceria com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Em solenidade ao lançamento do Plano de Ação 2020-2023, o Abrace o Marajó contou com a presença da ministra Damares Alves; o ministro da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário; o presidente do BNDES, Gustavo Montezano; dezenas de prefeitos do arquipélago. Justamente um diagnóstico da situação das prefeituras envolvidas foi a primeira ação para que se elabore o planejamento de apoio.

Foto: gov.br/mdh

 

De volta

Alegria total no Guará com a revitalização das pistas de skate. No Paranoá, a diversão no parque local é o carro de rolimã. Criançada vibra.

 

O Pavarotti do Sertão

Hoje teve uma transmissão direta pela Internet do Oliveira de Panelas. O cabra é bom nas artes. Quando foi rotulado de “O Pavarotti do Sertão”, o mestre paraibano sentenciou: “Acho que Luciano Pavarotti bem que gostaria ser Oliveira de Panelas. Enquanto Pavarotti só faz gorjear, Oliveira é cantor, ator, violeiro, repentista e sabe como poucos usar a voz, o olhar, as mãos, o corpo ao declamar versos e interpretar canções em suas cantorias. É um artista completo”.

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Um jardineiro eficiente, também, é o sr. Vasco Viana de Andrade, que está, pessoalmente, não superintendendo, mas plantando suas próprias plantas em sua nova residência. E seu amor ao verde chegou a tal ponto, que um candango, trabalhando com ele, resolveu romper o silêncio: “Não, doutor Vasco. Precisa também deixar um pouquinho de terra!” (Publicado em 14/01/1962)