Disque D para denunciar

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

Reprodução da internet (página de pesquisa)

 

Aprender com os erros do passado tem sido a receita de muitos povos, em todo o tempo e lugar, para não repetir os mesmos modelos fracassados de antes. Quando as lições não são devidamente aprendidas e os caminhos corrigidos a tempo, o resultado aprisiona esses povos num ciclo sem fim de caos e decadência. Exemplos desse modo de atuação são demonstrados ao longo de toda a história humana. Para não ir muito longe, ficando apenas num grande exemplo trazido pela história contemporânea, vemos que no regime nazista (1933-1945), a acumulação de erros e estratégias abreviou essa ideologia, que pretendia se estender por mil anos. Mesmo assim, o curto período ativo, com toda a monstruosidade por ele operado, já denotava, desde os primórdios, que esse era um regime fadado ao colapso, tantos foram os crimes cometidos por seus protagonistas.

Demonstra a história que impérios, no caso o Terceiro Reich, que pavimentaram seus caminhos e conquistas com carne e sangue humanos, não avançaram além do que pretendiam seus principais líderes. Ainda assim, ficam as interrogações em forma de espanto. Como pôde um regime e uma ideologia contaminar e controlar toda uma nação que, à época, era a mais desenvolvida e organizada do planeta? Como foi possível a um só homem, dotado de dois olhos, dois ouvidos e uma boca, controlar milhões de olhos, ouvidos e bocas?

A resposta possível é que esse único indivíduo contava para controlar as massas de milhares de ouvidos para escutar os opositores, milhares de olhos para vigiar os dissidentes e outras milhares de bocas para denunciar todos aqueles que se mostravam contrários ao regime. Para tanto, uma ferramenta muito antiga foi posta em prática por toda a parte: a delação.

No regime nazista, as delações foram não apenas uma prática corriqueira, mas uma atitude adotada por milhares de cidadãos e largamente incentivada pelo governo, para que nada fugisse ao controle do regime. Nada naquele período era mais sofisticado e massivo do que o aparelho de propaganda do governo. Tivessem existido, naquela época, as mídias sociais, como a conhecemos hoje, aquele regime nefasto iria durar muito mais do que uma década, pois esses canais de comunicação estariam severamente censurados e usados apenas em benefício do regime.

O regime de Adolf Hitler, como os demais governos totalitários, como é o caso também do regime stalinista na antiga União Soviética, utilizaram-se de um gigantesco sistema de vigilância e controle da população, ao obrigar a própria sociedade a vigiar uns aos outros, criando assim um intrincado e eficaz modelo para os órgãos de repressão agirem pontualmente. Nesse sistema de repressão, que dependia fortemente das denúncias feitas pelos próprios cidadãos, valia todo o tipo de acusação e incriminação, desde vizinhos que se odiavam, até familiares que, por algum motivo banal, desentenderam-se. Todos denunciavam todos o tempo todo e por tudo.

Muitas dessas delações podiam ser motivadas por razões diversas, daquelas buscadas pelo regime, incluindo medo, oportunismo, vingança pessoal ou até mesmo um desejo de mostrar lealdade ao regime. Na verdade, fazer-se de delator era uma maneira de escapar ao regime, mesmo que as custas de outras vidas. Ainda hoje, na Rússia, China, Coreia do Norte, Nicarágua, Cuba e outros regimes totalitários, as denúncias, feitas pela população, servem de lastro para o governo reprimir os opositores e todos que não obedecem ao regime.

No caso do Nazismo, as denúncias eram frequentemente feitas à Gestapo, a polícia secreta do Estado, que investigava e tomava medidas cruéis contra os acusados. As consequências para aqueles denunciados podiam ser severas, incluindo prisão, tortura, deportação para campos de concentração e, em muitos casos, a morte. Obviamente que, nesse ambiente de medo e desconfiança mútua, ninguém confiava mais em ninguém, pois essa ferramenta poderosa para o controle social desestimulava qualquer forma de oposição ao regime.

A delação naquele e em regimes ainda em vigor em nossos dias, mostraram-se uma ferramenta fundamental para a perpetuação do terror e da repressão. Outro aspecto essencial para a manutenção tanto do regime nazista como para outras ditaduras modernas é o estabelecimento da censura à imprensa e aos meios de comunicação em geral, incluindo, nos casos atuais, as mídias sociais. Nesse caso, o Estado passa a alardear a necessidade de que esses novos meios de comunicação sejam regulados de acordo com o que planeja o governo em seus três poderes. Os tempos mudam, mas os modelos de controle dos regimes persistem em variadas formas, inclusive sob uma nova roupagem de manutenção do Estado Democrático de Direito.

Para esses casos, criam-se até número de telefone onde os cidadãos podem denunciar as chamadas fakenews, ou seja, as mentiras ou verdades que o regime não quer ver expostas ao público.

 

A frase que foi pronunciada:

“Dedo duro é aquele que tem um caráter frouxo e uma vida mole.”

Helgir Girodo

Helgir Girodo. Foto publicada em seu perfil oficial no Instagram

 

História de Brasília

A Graça Couto e a Severo e VIlares estão na fase de acabamento de seus prédios no Setor Comercial Sul, frente para a W3. O da Severo já está pondo em e experiência o acabamento externo em tom vermelho, e tomara que não seja para contrastar com os mosaicos pretos. (Publicada em 15.04.1962)

Homo Sacer

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

Imagem: criticallegalthinking

 

Com o avanço da Internet, novos conceitos que, primeiramente, foram aplicados exclusivamente a essa nova tecnologia ganharam vida própria passando a definir também situações experenciadas no cotidiano. Um caso típico se refere a palavra “deletar”, que, no caso dos computadores, tem uma tecla específica que apaga o que foi digitado. No dia a dia, deletar ganhou novo significado nas redes sociais, expressando um movimento que visa apagar, das redes, pessoas que, por algum motivo, contrariam as normas ou pretensões desses grupos. Essa ação de deletar pessoas ganhou ainda maior vigor com a polarização política que parece ter tomado conta do mundo, inclusive do Brasil. Assim, temos que os grupos de esquerda fazem de tudo para deletar pessoas ou grupos identificados como de direita, banindo-os e calando suas vozes e opiniões. O contrário também acontece.

Em nossa sociedade, dita moderna, o sujeito deletado é aquele cuja presença deve ser apagada, não só das redes, mas, se possível, do meio social. Essa situação surreal lembra aquelas fotos antigas, nas quais as figuras tornadas indesejadas eram simplesmente rabiscadas no papel. Nesse novo vale-tudo, vale tudo mesmo, desde de falsas denúncias, calúnias, difamações e todos os truques sujos, criando a imagem de um ser horrendo que merece ser desterrado e punido com o fogo eterno. Infelizmente, essa e outras expressões ganham ainda mais ímpeto, quando são os próprios políticos ou aqueles munidos de responsabilidade pelo voto que açulam essas ideias, ao pregarem a eliminação dos opositores ou, mais precisamente, quando dizem abertamente em público frases do tipo: “precisamos extirpar essa gente”.

Vivemos tempos confusos em que uma nova espécie de eugenia política é alimentada nos palanques e introduzida nas redes sociais, onde passam a ganhar protagonismo feroz. A solução para esse novo tipo de antagonismo midiático é, segundo defendido pela esquerda, regular a mídia. Para a direita, melhor que regular as redes, seria seguir o que diz a Constituição, que regula apenas as responsabilidades, direitos e obrigações individuais de cada cidadão.

Nada é o que é, até que se conclua como sendo o que é de fato. O outro lado desse cancelamento da pessoa e de suas ideias é ainda mais cruel, pois envolve a própria desumanização do indivíduo. Nesse ponto, para entendermos esse fenômeno anti-humano, somos imediatamente lançados ao campo da filosofia política moderna na pessoa de Giorgio Agamber e sua obra, intitulada Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua.

O homo sacer vem de um conceito da Roma antiga e passou a despertar atenção hodierna, pois é, mais do que nunca, um fenômeno atual nesse mundo polarizado e tão cheio de ódio e desencontros. O Homo Sacer, na antiga lei romana, era excluído de todos os direitos civis, uma espécie de santo às avessas, que qualquer um pode sacrificar, uma espécie de Caim, sobre o qual todas as pragas do mundo recaem.

Mais sucintamente, é um excluído e taxado pela sociedade como um ser a quem todos os crimes são imputados, apenas para torná-lo passível de desprezo geral. Não é uma tarefa fácil degredar alguém ou algum grupo à condição de desumanização. Exige todo um trabalho midiático, jurídico, psicológico para convencer a sociedade que esses indivíduos não têm quaisquer direitos, inclusive, o de viver.

Incluem nessa condição, mais comumente, os presos políticos de regimes autoritários, consolidados ou em processo de vir a ser. Para esses homos sacer, não existe direito ao processo legal; à defesa ou ao acesso ao seu processo, que é sempre dificultado, inclusive, com ameaças aos advogados de defesa; a um juiz imparcial. Não têm direito de acesso a suas contas bancárias, seus bens são congelados sem quaisquer propósitos, ficam sem apoio legal, suas vozes são caladas nas redes e, mesmo o acesso de familiares e advogados, a esses presos, é dificultado ao máximo.

Muitos desses presos, transformados agora em homos sacer, passam a cumprir penas em regime diferencial, pois tornam-se figuras de alta periculosidade. A retirada de todos esses direitos é feita mesmo contrariando a Constituição. Os homos sacer são os novos subversivos, a quem todo o castigo é pouco.

 

A frase que foi pronunciada:
“Um dia a humanidade brincará com a lei, assim como as crianças brincam com objetos fora de uso, não para restaurá-la ao seu uso canônico, mas para libertálos dele para sempre.”
Giorgio Agamben

 

História de Brasília

Os ônibus JK/W3 desapareceram na sexta-feira da circulação entre 11 e 13 horas, exatamente o horário de maior necessidade. (Publicada em 15/4/1962)

Janela estreita

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

Instagram.com/vistolidoeouvido

 

Charge do Versa

 

          Chegará o dia em que não me verás mais, por tua janela estreita, subindo a rua, cansada ao fim do dia. Nesse dia terei partido, quem sabe, fortemente escoltada até o navio que me levará ao exílio derradeiro. Ou num caixão sem identificação, sepultada como indigente em cova rasa e sem endereço. Por um tempo minha ausência será sentida. Mesmo o requadro da janela estreita estará vazio, numa espera eterna do vulto que todo o fim de tarde compunha, com as cores do sol poente, esse alguém que subia a rua a passos lentos.

         Durante alguns meses ou anos, os poucos e fiéis amigos ficarão a discutir sobre meu sumiço sem aviso prévio. Teria partido para além mar, como refugiada afoita? Quem sabe enfiaram num saco, desses de fio de juta, como mercadoria ordinária, sendo depois despachada para longe ou lugar incerto. Dias atrás, especula um amigo, agentes do Estado disfarçados andaram pela vizinhança com aqueles olhos cheios de curiosidade e maus presságios.

         Observavam, de longe, a janela estreita e entreaberta em busca de alguém. A presença desses agentes, deixava exalar, por toda a rua da ladeira e pelos becos antigos, um cheiro forte de morte, desses que a gente sente ao caminhar junto ao muro branco do cemitério do bairro. Por certo, esse, a quem nem os amigos, por medo, ousam dizer o nome, foi se somar a outros que também nunca mais voltaram para casa.

         Muitos se foram desse modo descortês, deixando famílias amigos e o requadro de infinitas janelas estreitas e vazias. Molduras antigas vazadas pelo tempo. Saber que aqueles que essa noite dormem, na tranquilidade aparente dos desalmados, contribuíram, cada um ao seu modo, para que essa trama se desenrolasse sem testemunhas, tornam as madrugadas ainda mais vazias e ameaçadoras.

          Informantes e carrascos, mesmo com as mãos sujas de sangue, saboreiam o café matinal com suas famílias, que nada sabem sobre suas ações. Não há um pingo de remorso, quando o que está em jogo é o jogo sujo daqueles que possuem o poder da morte e da mordaça. Num ambiente assim, onde o medo e a vigilância de uns sobre os outros passaram a ser o novo normal, falar fora do script pode resultar em desaparecimento. Ou quem sabe em punições mais suaves e não menos desumanas como o cancelamento.

         Em situações dessa natureza, sumir da paisagem sem deixar pegadas é já uma normalidade nesses tempos nevoentos. Todo o fim de dia ouve-se o estrondar rouco do apito do navio partindo. Nessas horas, muitos se perguntam: quem estará à bordo dessa vez, sem ser convidado, talvez enfiado num malote com destino ao fundo do mar. Mostre-me um inocente, diz o sistema, e logo ele será incluído na lista negra e despachado também.

          Em tempos assim, melhor sorte possuem as janelas estreitas que permanecem silentes onde estão a contemplar a rua deserta, varrida de gentes que saíram do requadro sem deixar pistas, apenas saudades mudas e amedrontadas.

 

A frase que foi pronunciada:

“Coloca na cabeça perucas com cem mil cachos/ coloca nos pés coturnos de um braço de altura/continuarás sempre a ser o que és.”

Johann Goethe

Goethe in the Roman Campagna (1786) by Johann Tischbein | Reprodução

 

Pérola aos porcos

Um dos absurdos de força tarefa mal empregada é chamar o Corpo de Bombeiros para atender bêbados. Concurso, provas, exames físicos, treinamento, capacitação, para virar “babá de bêbado” é um disparate. O tempo foi usado por um morador do Núcleo Bandeirante. Vamos ver se há alguma ideia na Câmara Legislativa para resolver essa situação.

Foto: Divulgação/CBMDF

 

Saudável

Projetos de inclusão são muitos pelo DF. Capoeira, futebol, música. Seria interessante que as administrações construíssem, com as medidas certas, mesas de tênis de mesa pelas praças. É um esporte que desperta o cognitivo, velocidade, interação com a comunidade.

Praça em Apiacás com a movimentação dos frequentadores jogando tênis de mesa. Foto: Prefeitura de Apiacás.

 

Sem bolsa

Nova modalidade de furto tem acontecido dentro de igrejas em Brasília. Pessoas desavisadas deixam os pertences no banco e os larápios fazem a festa. A última vítima estava na N.S. do Lago, no Lago Norte. Tudo filmado, a meliante tirou o celular da bolsa e saiu tranquilamente da igreja com um comparsa.

Foto: arqbrasilia.com

 

História de Brasília

O assunto hoje começa com “Gavião”. Esquecido, abandonado, largado, caindo aos pedaços, lamacento, sem luz, telefone, taxi, farmácia e até a Cruz que o abençoava do alto mãos criminosas a puseram dentro de uma torre metálica. (Publicada em 10.03.1962)