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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Surpreendido pela polícia rodoviária nos Estados Unidos, por trafegar acima da velocidade permitida naquela estrada, o condutor que portava uma espécie de coleira para cães disse ao policial, que lhe pediu as documentações do veículo e do condutor, que, na verdade, ele não era humano, pois já havia se autodeclarado como cachorro e, portanto, não poderia ser responsabilizado ou penalizado por dirigir em alta velocidade; afinal, animais não podem ser multados. Ele optou por ser um cão porque era fiel, gostava de carinho e por aí vai.
O homem fardado, acostumado com bizarrices, resolveu, para confirmar tão surpreendente justificativa, consultar o parceiro que estava ao lado do cão em corpo de um humano no banco do carona. Imediatamente, seu parceiro confirmou a história, crente de que aquela desculpa iria colocar o policial em xeque-mate, resolvendo toda a questão ali mesmo. O policial que escutara toda a história surreal não esboçou nenhuma reação de surpresa, apenas fintou os ocupantes do carro com certa ironia na expressão.
Depois de pensar por um segundo como fazer valer a lei, mesmo diante de tão grandes espertalhões, sentenciou: Bom se você é um cachorro como afirma, e está vagueando em via pública, então mostre-me sua caderneta de vacinação obrigatória. Confrontado com essa cobrança, o motorista canino olhou para seu parceiro ao lado indagando o que deveria fazer agora, pois fora encurralado pelo oficial de trânsito. Seu parceiro ou dono também não tinha resposta para aquela cobrança legal.
Vendo os dois presos em suas próprias narrativas, o policial ainda emendou: Você já foi castrado, como manda a lei, para animais que andam em vias públicas? Com aquela pergunta, o motorista começou a entrar em pânico, ante a possibilidade de ser emasculado por veterinários, mas, mesmo assim, respondeu: Não sou castrado. Nesse caso, disse o policial, irei chamar a carrocinha que recolhe animais para providenciar sua transferência para uma clínica veterinária do estado, a fim de proceder o que manda a lei.
Seu dono ao lado pode lhe acompanhar se quiser. Em todo o caso, emendou, o carro e vocês ficarão detidos até a solução desse problema. Verdadeira ou não, a história acima retrata fielmente uma situação que, nesses últimos anos, vem surpreendendo as pessoas comuns em todo o planeta. O fato é que, de uns tempos para cá, pessoas em todo o mundo e aqui mesmo em nosso país vêm se autodeclarando ser o que acreditam ser ou fingem que são. O mais surpreendente é que as regras do politicamente correto, impostas pela onda woke, dizem que as pessoas que ouvem essa e outras justificativas não devem contrariar ou melindrar a pessoa, mesmo que isso pareça ser uma maluquice sem tamanho.
Em outros tempos, pessoas que insistissem nessas narrativas seriam conduzidas, diretamente, para os hospícios, onde os sedativos potentes e mesmo os eletrochoques iriam acalmar o doido. O mais estranho nessa nova onda sem sentido é que as pessoas que se autodeclaram como plantas, animais ou outra coisa qualquer, são ouvidas e até mesmo respeitadas em sua nova personalidade. Nesse caso, fica difícil distinguir quem realmente é o louco.
Na verdade, tanto quem aceita essas narrativas de personificação patológica, como quem afirma ser o que não é, estão fingindo, mesmo que não aparentem tal. O que mais assusta, nesse mundo que parece ir ladeira abaixo nas relações humanas, é que, por força de leis insensatas, redigidas especialmente para atender esse hospício geral, é que as instituições do Estado acabam embarcando nessa enxurrada amalucada, criando situações em que, francamente, a realidade se coloca de pernas para o ar, como num conto de realismo fantástico.
É o que parece ocorrer agora com a decisão esdrúxula de algumas universidades públicas em abrirem cotas para indivíduos que se autodeclaram travestis, trans ou não binários. Trata-se do que agora chamam de “política de ação afirmativa”. Para tanto, os candidatos precisam apresentar um documento do tipo “relato de vida” ou “trajetória de transição” ou “processo de afirmação da identidade de gênero”. É preciso confessar de público que, até mesmo este espaço, que já cuidou de assuntos mais complexos e sérios, surpreende-se com esse tipo de matéria. Mas como dizia também o filósofo de Mondubim: “nada do que é humano me é estranho”.
A frase que foi pronunciada:
“O que não conseguimos nos lembrar, ficará conosco como uma ação.”
Freud
Agenda
Pelo aniversário de Brasília, o Teatro da Poupex vai apresentar o projeto cultural com músicas em homenagem à cidade. Do samba à bossa nova, o repertório promete muitas emoções. Sob a direção musical de Renato Vasconcelos, o show contará com a participação da Orquestra Sinfônica da Força Aérea Brasileira. Dia 25 de abril, a partir das 20h.
História de Brasília
E a prova disto são aquelas papeletas dizendo que o bar fecha às 3 e que não aceita vales nem cheques, tôdas pregadas nos vidros do bar. (Publicada em 24.04.1962)
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Todos os meses, os brasileiros torram mais de R$ 30 bilhões em apostas de todo o tipo, sobretudo nas chamadas Bets, que são apostas em jogos de azar, geralmente nos ambientes online, onde os resultados esportivos diversos estão à disposição dos indivíduos, bastando, para isso, um toque de botão ao celular. Longe de se constituir num fenômeno positivo para a sociedade, para as famílias e para o próprio indivíduo, essas apostas vêm arruinando economicamente os cidadãos, transferindo verdadeiras montanhas de dinheiro para os donos desses negócios, sendo que parte dessa dinheirama vai parar, diretamente, nos cofres das organizações criminosas, que, segundo os jornais, usam o artifício para a lavagem de dinheiro.
É o dinheiro do povo financiando e fortalecendo legalmente o crime em nosso país. Talvez, por essa razão é que é possível deduzir que, desde que os sites de jogos e dos cassinos online se espalharam pelo país, curiosamente, tem aumentado também o poderio dessas organizações, que agora se espalham pelo Brasil, de Norte a Sul. A equação é simples: cresce o dinheiro em apostas, cresce a criminalidade ligada a eles. Em resumo, são pouquíssimos ou quase nulos os benefícios gerados pelo setor de jogos de azar. Como o próprio nome indica, o azar fica sempre para quem aposta e a sorte, invariavelmente, vai parar no bolso dos espertalhões, donos desse tipo de negócio, que não passa de mais uma jogada de malandro aplicada contra os incautos de sempre. A diferença é que, agora, o setor da jogatina passou a ser “regulamentado”, depois de sua implementação no começo deste ano.
Se juntarmos a liberação dos jogos de azar a fatores como o tradicional assistencialismo político à moda brasileira, com outros elementos como o Bolsa Família e com a conhecida e nada eficiente fiscalização dos órgãos de Estado, terá, em mãos, a receita ideal para a transferência de renda dos mais necessitados para uma casta de pessoas mal intencionadas, que se perpetuam no topo da pirâmide social. A fórmula vem desde a Roma antiga: dê-lhes pão e circo, torne-os dependentes do poder central e todo o resto seguirá como quer a classe dirigente.
Os recursos oriundos de programas sociais deveriam, dentro do bom senso e da ética, ser utilizados para a compra de alimentos, remédios e outros gastos necessários a uma vida com o mínimo de dignidade. Quando se verifica que esses recursos estão sendo gastos, não para os fins de necessidade, mas para a manutenção de vícios como os jogos de azar, a impressão que deixa no cidadão de bem, que, afinal, é quem custeia esse e outros programas assistencialistas, é que tanto o governo como aqueles que utilizam esses benefícios estão fazendo a população de trouxa.
Aqui também a questão é simples, ou pelo menos deveria ser: o Bolsa Família não pode ser utilizado para fazer apostas online. Mesmo assim, os beneficiários do Bolsa Família continuam apostando nesses sites de azar; para isso, utilizam milhares de estratégias. Somente no último mês de agosto, os beneficiados com esse programa gastaram mais de R$ 3 bilhões em sites e casas de apostas. O governo finge que não vê. As autoridades, idem. Somente os bancos, que nunca perdem dinheiro, conhecem essa realidade e passam a restringir créditos aos viciados em jogos, com medo, óbvio, de calote por inadimplência.
Já foi mencionado aqui, neste espaço, que, em muitas cidades do interior, quem fica com o cartão de benefício são os donos dos botecos mais próximos, que são vistos com frequência nas filas nos dias de pagamento. Há ainda aqueles que defendem que o governo não deveria, de forma alguma, interferir na autonomia dos beneficiados por esses programas, fazendo auditoria nesses gastos.
Já se sabe que as apostas online e outras modalidades de jogos de azar retiram recursos tanto do consumo normal como ainda geram crises e dívidas, muitas delas impagáveis. Muitos economistas chegam a dizer que as Bets estão tirando dinheiro da chamada economia real, impactando as famílias e gerando problemas generalizados de saúde. O mercado bilionário das apostas esportivas diz que tudo isso é fantasia, pois não enxerga a cor do dinheiro, venha de onde vier. A liberação desses jogos, como já era previsto, foi um enorme erro, pois a conta, até aqui, tem sido cara, principalmente para a sociedade e a economia do país. O crime organizado diz que isso é invenção. Esse setor, que nada se diferencia dos prestidigitadores que agem nas ruas, enganando os passantes, teve, segundo estimativas subdimensionadas, mais de R$ 70 bilhões de lucros nesses últimos doze meses.
Liberado desde 2018, sob a promessa de que a regulamentação definitiva viria de imediato, essa, de fato, não aconteceu. Enquanto isso, como sempre, os apostadores continuam na ilusão de ganhar alguns trocados seguindo a antiga fórmula de arruinar a própria vida mais rápido do que um raio.
A frase que foi pronunciada:
“Se você não consegue identificar o otário na primeira meia hora na mesa, então você é o otário. ”
Mike McDermott
Armadilhas
A seguir, a imagem de uma grade, talvez da rede fluvial, totalmente danificada. O resultado são transeuntes desatentos quebrando o pé ou colocando pino no braço. O ocorrido é na 214 norte.
História de Brasília
Com a inauguração do Hotel Nacional muita gente pensou numa debacle do Palace Hotel, a tradição de Brasília. Mas não houve isto. O Palace é que por conta própria está se suburbanizando. (Publicado em 29.04.1962)
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Segundo estimativas do Sindhobar, hoje, há mais de 12 mil bares e restaurantes em todo o Distrito Federal. Entre eles, aproximadamente 8 mil são bares onde são vendidos bebidas alcoólicas e tira-gostos para uma clientela crescente, que inclui desde jovens até idosos, todos apreciadores, moderados ou não, de bebidas destiladas ou fermentadas.
O que, à primeira vista, parece apenas uma recreação para a população esconde um fato nada saudável e, o que é pior, devastador para a saúde pública e para a segurança da cidade. Bebidas alcoólicas não podem, ou jamais deveriam ser, consideradas como recreação. Mesmo sabendo que esse setor do comércio responde por mais de 100 mil empregos diretos e indiretos, não é segredo nenhum que o consumo de álcool é um dos maiores responsáveis pela violência, pela desagregação familiar e por uma série de problemas que só terão solução satisfatória quando a população se conscientizar de que o que parece ser uma espécie de brincadeira, ou passatempo dos indivíduos é, na realidade, ou uma chave de cadeia, ou um prego de caixão, ou uma cama de hospital, ou de um hospício.
Se hoje os brasileiros bebem demais, os brasilienses bebem muito mais e com maior frequência. Talvez isso explique o fato de que os bares e os botecos se multipliquem como moscas em nossa cidade. O Distrito Federal experimenta uma febre de alcoolismo que não distingue os personagens, tenham eles casas para morar, ou estejam em situação de rua. Todos bebem e bebem muito. Paralelo a esses estabelecimentos, não é difícil encontrar, misturados aos consumidores, traficantes de drogas de todo o tipo e para todos os bolsos. Onde quer que existam aglomerações de bares, o sossego dos moradores é perturbado, a segurança, comprometida e toda área em torno se transforma em terra de ninguém.
Os moradores de locais próximos aos bares conhecem essa realidade de perto e não se atrevem mais a reclamar contra os proprietários desses estabelecimentos ou registrar ocorrências em delegacias. Ligar para a polícia, nesses casos, é perder tempo. Depois de encherem a cara, os beberrões saem sem rumo, urinando onde querem, brigando e fazendo arruaças sem temor algum das autoridades. Depredam o que encontram pela frente, pois tudo isso para eles é diversão. Álcool e violência generalizada têm andado de mãos dadas nesses últimos anos, aumentando as ocorrências policiais e as ocupações de leitos em hospitais.
Os estragos trazidos pelo consumo exagerado de álcool têm provocado, como não poderia ser diferente, prejuízos incontáveis à economia da capital. O GDF, que, durante muito tempo, fez cara de paisagem ante o problema, resolveu agora, diante que uma situação que escalou para o patamar de calamidade pública, tomar as primeiras providências no sentido de abrandar um problema que não para de crescer. Portaria baixada pelo governo da capital restringe o horário de funcionamento dos distribuidores de álcool em toda a região. Pelo documento, os estabelecimentos só poderão funcionar das 6h à meia-noite. Trata-se de um primeiro passo no sentido de minorar esse problema, mas ainda não é ideal.
O certo, para muitos moradores que vivem esse drama de perto, seria o fechamento dos bares juntamente com o comércio: às 18 horas. Toda essa preocupação tardia do GDF faz algum sentido quando se verifica que o Distrito Federal ocupa, hoje, o segundo lugar no ranking nacional de consumo excessivo de álcool, perdendo apenas para Salvador, na Bahia. Não apenas os adultos bebem muito, como cada vez mais esse hábito é visto também entre os jovens.
Pelos levantamentos da Secretaria de Saúde, mais de 25% dos adultos bebem regularmente, o que é considerado um índice preocupante. Outros dados mostrados no último levantamento indicam que, dos 135 homicídios ocorridos em janeiro e fevereiro deste ano, quase 25% ocorreram próximos aos estabelecimentos de venda e consumo de álcool.
Para os mais radicais, o simples fato de o consumo de álcool induzir casos de violência diversos, como homicídios, abuso sexual, uso de armas, furto, violência doméstica e tantos outros, seria suficiente para a decretação até mesmo de uma lei seca em todo o Distrito Federal, acabando com o mal pela raiz. É como dizem: “Bebida não traz felicidade, apenas traz mais dinheiro para quem vende”. Talvez o dia em que os proprietários desses estabelecimentos forem obrigados a custear o tratamento médico para seus clientes ou as custas processuais dos crimes cometidos por eles, a situação chegue a um bom termo.
A frase que foi pronunciada:
“A pior e mais devastadora doença da humanidade é o alcoolismo. A bebida, como droga lícita, é incentivada pelo marketing, glamourizada pelos meios de comunicação, pela música, e sinal de status social, em algumas culturas.”
Guto Maia
Roleta-russa
Perfeitamente perceptível que quem resolveu instalar os pardais ao longo da DF-005 não conhece a área em absoluto. Se conhece, a intenção é arrecadar. Não fazem sentido tanta variação de velocidade no percurso e imposições totalmente descabidas.
Ponto cego
Quem aguarda o ônibus na parada da plataforma superior da Rodoviária, sentido Asa Norte, é impedido de visualizar a vinda do transporte. Um totem de comercial, mal localizado, atrapalha a visão dos passageiros, forçando a chegar mais perto da pista para enxergar o próximo veículo.
História de Brasília
Há uma onda de moscas em Taguatinga. Isso é resultado da falta de higiene nos bares e restaurantes. (Publicada em 29/4/1962)
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Diferença fundamental entre o fanatismo político e a ciência é que, enquanto um se baseia na autoridade, a outra se baseia na observação e razão. O objetivo final da ciência é a verdade. O da política, é o poder. Passados anos da pandemia, vale observar as consequências desse debate que vão muito além das discussões entre paralisação e quarentena. No campo político, as oposições se manifestaram com união e sintonia para desacreditar todas as teses que tentavam segurar a crise. Pessoas foram presas porque nadavam na praia, restaurantes não recebiam clientes enquanto preparavam a comida para entrega em domicílio, desemprego, economia estagnada. Crianças respirando o ar abafado por máscaras durante horas, idosos sofriam com a solidão onde abraços plastificados, inventados por famílias criativas, amenizavam essa dor. O mundo entrava em agonia.
Diante desse cenário, um lado da sociedade apostava em provocar e disseminar a desesperança, medo, pavor, insegurança entre a população vulnerável. Obviamente que esse não era o caminho. A pandemia serviu de pano de fundo para uma disputa política que já vinha se arrastando há muito tempo e que, com essa crise, ganhou novos ingredientes. Criou-se assim uma situação esdrúxula em que a própria doença e o futuro da economia parecem ter ficado em segundo plano.
O mais preocupante é ver que, enquanto a população era distraída com uma com uma disputa que só interessava, de fato, aos políticos, principalmente aqueles cujo horizonte se estende apenas até às próximas eleições, os brasileiros, como fonte de onde todo o poder emana e em cujo nome é exercido, fica deixado de lado, numa peleja onde ele é o mais atingido.
Cria-se assim uma excentricidade em que o Estado delega, a outros planos, a sua função precípua de proteger o cidadão e se concentra numa disputa envolvendo apenas seus entes políticos e seus interesses imediatos e de curto prazo.
Para um país continental como o nosso, o tamanho do problema exigia coordenação de esforços e não disputas paroquiais. Deixando de lado razões políticas e razões científicas, até pela dimensão do problema, o caminho do meio entre a experiência sensorial dos políticos e a afirmação da razão como base da ciência médica, era preciso. A colaboração da própria imprensa e de toda a população, sem a qual, não poderia haver, nem expressão numérica para contornar uma crise desse tamanho, foi destaque.
Dessa forma, a responsabilidade de cada um e de todos conjuntamente pode fazer a diferença. Essa união de esforços parece ser a fórmula universal e que, em outras épocas, rendia frutos positivos. Cada cidadão se empenhou pelo bem da coletividade. Muitos têm dito que é nas crises profundas que a civilidade, sobretudo a empatia social, adquirem mais potência para o aprimoramento da sociedade.
Nessas horas, como não seria diferente, muitos passaram a torcer para que os bancos, o sistema financeiro e todos aqueles que sempre lucraram com o capitalismo selvagem, que fez de nosso país uma das sociedades mais desiguais do planeta, adiantassem-se e oferecessem, voluntariamente, suas contribuições para minorar os efeitos da crise. Utopia ou não, nesse rol de favorecidos e sempre superavitários, de quem se espera ajuda, incluem-se ainda as igrejas e outras instituições que sempre lucraram com isenções de impostos e o pouco controle pelos órgãos do Estado e que vem fazendo a fortuna de uma minoria por décadas.
As iniciativas que chegaram ao conhecimento do público vieram, em sua maioria, por livre vontade. Médicos, enfermeiras, técnicos de enfermagem foram os grandes heróis da pandemia. Arriscaram a própria vida para salvar muitas pessoas. Pequenos e médios empresários correram para transformar suas empresas em organizações voltadas para a produção de bens e insumos de primeira necessidade para a área de saúde. Pequenos ateliês de costura passaram a fabricar máscaras caseiras. Outros microempresários passaram a produzir máscaras de acetato e outros itens, assim como pequenos comerciantes que doaram parte de seus estoques para hospitais. Restaurantes doavam comida para os moradores de rua abandonados à própria sorte.
Paradoxalmente, o isolamento social contribuiu de uma forma ou de outra para que a sociedade conhecesse melhor quem são nossos políticos, banqueiros, donos de laboratórios, cientistas. Também pode ser visto a olho nu a gestão da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A modalidade de trabalho home office, que antes era mal vista por algumas empresas e por grande parte dos governos, não apenas ganhou um novo impulso, como tem contribuído para frear os gráficos de contaminação, desafogando o trânsito, diminuído a poluição e os gastos com deslocamento e com consumo de outros bens e serviços, indicando a força dessa nova forma de trabalho.
Iniciativas de todas as partes surgiram a cada dia, demonstrando o potencial adormecido da população em poder servir, inclusive, mostrando a capacidade de crescer com a crise. As ações espontâneas vão desde doações de bens e outros serviços, como outras que propõem a formulação de listas para o conhecimento público, com a relação daquelas empresas que contribuíram, de fato, com recursos para combater os efeitos da crise de saúde.
Dessa forma, o papel social desempenhado tanto por pessoas físicas, como por pessoas jurídicas foi destacado e, por certo, a população há de lembrar quem esteve ao seu lado nesse momento de agonia.
A frase que foi pronunciada:
“Todos os países devem ativar imediatamente seus planos de preparação para pandemia. Os países devem permanecer em alerta máximo para surtos incomuns de doenças semelhantes à gripe e pneumonia grave.”
Margaret Chan
História de Brasília
A censura no Distrito Federal passará a ser de segunda-feira em diante, trabalho do jornalista José Madeira. Termina, assim, a discutida gestão de Egberto Assunção. (Publicada em 29.04.1962)
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Durante muito tempo, acreditou-se que o jornalismo, principalmente o de caráter investigativo, representava a última trincheira avançada em defesa da liberdade de expressão, servindo como uma espécie de farol de resistência contra a tirania e a favor da verdade. Houve um tempo, inclusive, em que o jornalismo era tido, por sua capacidade de arregimentação das massas, como um quarto poder. Exemplos desse modelo de jornalismo combativo são abundantes por todo o mundo e dele emergem figuras que, por sua atuação corajosa, entraram para a história como verdadeiros combatentes, munidos apenas com as armas da palavra e da escrita.
O advento das mídias sociais, mesmo impulsionando as informações como nunca, ajudaram a retirar muito desse poder atribuído ao jornalismo tradicional fazendo com que, hoje, tanto a imprensa como a chamada busca pela verdade ficassem espalhadas e dissolvidas por todos os lugares, aumentando a impressão geral de que ninguém, em nossos dias, por mais poderoso que seja, pode ser considerado o dono da verdade.
Mas ainda assim e em meio as adversidades de um mundo em crise de identidade, é possível encontrar jornalistas com coragem suficiente para abalar as estruturas do status quo, sobretudo, quando um sistema político favorece as injustiças e privilegiam as camarilhas, os tiranos e a corrupção. É nesse sentido que o jornalismo favorece a sociedade, brindando-a com a verdade dos fatos. Por causa desse poder de transmitir a verdade, muitos profissionais do jornalismo pelo mundo, ontem e hoje, pagaram com vida por essa ousadia e coragem. A eles, muitas democracias pelo mundo são devedoras desse tipo de luta.
Nesse sentido, merece destaque aqui, neste espaço, a lembrança do nome da jornalista americana Anna Politikovskaya, nascida na América, mas criada na União Soviética. Profissional respeitada dentro e fora da Rússia, Anna era um modelo de repórter investigativa. Não precisa nem dizer que, tendo escolhido o lado investigativo da imprensa e, além disso, disposta a levar a verdade dos fatos aos leitores, Anna, desde sempre, correu sério risco de morrer, ainda mais dentro de uma Rússia, comandada, há mais de duas décadas, com mãos de ferros por Vladimir Putin. Putin é hoje conhecido em todo planeta pelas acusações de crimes de guerra, genocídios de civis e pela forma brutal como trata toda e qualquer dissidência ou oposição. A lista com os nomes daqueles que ousaram desafiá-lo é imensa, assim como sua sede de poder e seu sonho megalomaníaco de reconstituir a antiga União Soviética, com toda a sua glória passada.
Trabalhar numa situação de perpétuo confronto como essa, onde a morte espreita em cada canto, não é para qualquer um. Ainda mais sendo uma jornalista atuante, focada em direitos humanos e que via, na guerra da Chechênia, violações indescritíveis praticadas pelo exército de Putin. Por sua atuação incansável, ela acabaria se tornando uma figura emblemática dentro e fora das fronteiras da Rússia. Poucos profissionais da imprensa tiveram a coragem que Anna demonstrava ao cobrir uma série de conflitos e de guerras sangrentas comandadas por esse pequeno e ganancioso Napoleão de hospício sovietista.
Anna, em seu trabalho, sempre demonstrava a preocupação em se posicionar contrária a toda e qualquer neutralidade, sobretudo aquela que faz cara de paisagem diante das brutalidades e desrespeitos à vida. Durante o tempo em que atuou nos principais veículos de comunicação da Rússia, o medo e a repressão eram uma constante. Os assassinatos de opositores e críticos do regime russo eram comuns. Da noite para o dia, esses críticos e adversários do regime desapareciam ou eram simplesmente encontrados mortos. Putin mandava eliminar, como moscas, não só políticos ou empresários contrários ao sistema, como encomendava, também o silenciamento de jornalistas que mostravam uma ameaça aos seus desmandos.
A morte anunciada e dada como certa de Anna ocorreria em 7 de outubro de 2006, quando foi assassinada a tiros no elevador do prédio onde morava, por um desses milhares de sicários que agem para apagar os rastros de crimes desse regime brutal, o mesmo que hoje ameaça a Europa e o mundo com armas de destruição em massa. De toda a forma, a sua morte não foi em vão, tendo servido de inspiração para outros profissionais que ainda lutam dentro daquele país contra a centralização do poder e a falta de liberdade de expressão.
A frase que foi pronunciada:
“Esta linha política é totalmente neo-soviética: os seres humanos não têm existências independentes, são engrenagens na máquina cuja função é implementar sem questionamentos quaisquer escapadas políticas que aqueles no poder inventam. As engrenagens não têm direitos. Nem mesmo à dignidade na morte.”
Anna Politkovskaya
História de Brasília
Estão querendo fazer sensação em torno do julgamento do delegado João Peles. A história de ameaça de morte não é motivo para ausência de testemunha. Assunto desta classe não deve atrasar julgamento. (Publicada em 29.04.1962)
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Embora as primeiras formas de ensino tenham surgido há mais de 2.400 anos, foi apenas a partir do século 12 que os primeiros modelos de escolas formais foram criados na Europa. De lá para cá e desde sempre, um fenômeno estranho ao ambiente passou a chamar a atenção dos professores, pois ele atingia, negativamente, o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, transformando a tarefa do professor numa missão pra lá de penosa. Trata-se aqui do problema da indisciplina, dentro e fora da sala de aula, que parece hoje ter aumentado de forma exponencial e sem solução adequada à vista.
Se antes, a indisciplina ficava restrita apenas nas relações entre os alunos, com as escolas tendo autoridade para afastar o foco desse problema, hoje, o problema passou a afetar diretamente os professores e toda a escola, já que a punição para os chamados baderneiros se tornou um processo difícil e burocrático. As escolas perderam muito da autoridade que detinham para solucionar in loco e no tempo certo esse problema. É sabido que a disciplina escolar é um dos princípios fundamentais para garantir um ambiente correto ao aprendizado. O respeito mútuo entre os alunos, e entre alunos e professores, é importante para a concentração nas atividades e para o desenvolvimento das chamadas habilidades socioeducativas. O bom funcionamento de uma escola se baseia em regras que visem não só manter a ordem no local, como organizar as atividades pedagógicas.
Para muitos educadores, a disciplina é o principal elemento do processo de aprendizagem. Bom seria se a disciplina objetivasse apenas o lado positivo e construtivo do diálogo e do incentivo à participação, sem se ater muito aos aspectos negativos da punição e da imposição de normas muito restritivas. Os professores sabem que o respeito é produtivo, pois oferece feedbacks práticos e construtivos. Escola não é reformatório para menores infratores. É um ambiente de crescimento humano e intelectual, quando assim também querem os pais.
A falta de disciplina não é um problema a afetar apenas as escolas em nosso país e vem se constituindo num problema educativo de ordem mundial. Mas como o Brasil não é todo o mundo e sempre parece despontar nos rankings do que existe de pior, não chega a surpreender que, no quesito indisciplina nas escolas, somos também um dos primeiros colocados.
Segundo pesquisa sobre o ensino-aprendizagem, realizada em 33 países pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em nosso país, um professor gasta em média mais de 20% do tempo em sala de aula para disciplinar os alunos, contra uma média internacional que não passa de 13%. Esse fato é deveras preocupante quando se sabe que a indisciplina nas nossas salas de aula está associada não apenas ao tempo de instrução que se perde, mas reflete também numa significativa diminuição nas oportunidades de aprendizagem. No nosso caso particular, muitos professores relataram que mais de 10% dos alunos apresentam problemas sérios com a falta de respeito, trazendo também uma falta de clareza nas instruções do professor e uma ineficiente de absorção de conteúdos pelos alunos.
Somados aos problemas da indisciplina, nossas escolas públicas enfrentam ainda os baixos salários dos professores, as jornadas duplas, o excessivo número de alunos nas salas de aula, a falta de investimento e valorização da profissão e mesmo as agressões físicas e morais sofridas pelos educadores, havendo, inclusive, casos de homicídio praticados por alunos. Todo esse ambiente de insegurança contribui muito para o adoecimento e afastamento de muitos professores.
Essa e outras razões, essas de caráter até criminal, como envolvimento com drogas e brigas de gangue nas regiões periféricas de nosso país, têm levado muitas comunidades a solicitar às autoridades a instalação das chamadas escolas cívico-militares, com resultados até aqui excelentes. Pouco tempo atrás, a educação dos indivíduos começava no lar. Hoje, essa tarefa básica é transferida diretamente para as escolas, que, mais do que um lugar onde se aprende a viver em sociedade, transformaram-se num lugar onde todo o tipo de problema tem que ser resolvido, inclusive aqueles que só à família cabe realizar. Talvez, por isso, esse seja um problema que cabe aos brasileiros resolverem, já que o mundo que todos aspiram é moldado dentro das escolas.
A frase que foi pronunciada:
“As crianças devem ser ensinadas a pensar, não em quê pensar.”
Margaret Mead
História de Brasília
Efetivamente a reunião não teve nada a ver com o que ocorrera na Câmara, mas não repercutiu bem essa efetivação. Ainda mais, quando a Câmara acabava de realizar um concurso para o qual havia inscritos mais de mil candidatos. (Publicada em 29.04.1962)
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Muito deve o mundo e as populações a figuras luminares que, na história humana, sempre colocaram sua sabedoria e ilustração a serviço de conduzir as massas em momentos de incertezas e crises. Não fosse pela atuação intelectual desses sábios e filósofos, considerados verdadeiros faróis vivos, há muito a civilização teria naufragado, entre tormentas e guerras sangrentas. Um desses indivíduos que merecem ser revisitados é o filósofo, ensaísta, historiador e matemático Bertrand Russell (1872-1970). Tendo experienciado momentos liberal, socialista e pacifista, Russell soube não se apegar a nenhuma dessas ideologias, como bem cabe a quem entende a filosofia como a única estrada a seguir.
Russell foi um filósofo muito respeitado no seu tempo, a tal ponto que muitos o viam como uma espécie de profeta ou guru. Por sua atuação enérgica contra as injustiças, chegou a ser preso durante a Primeira Grande Guerra (1914-1918). Foi também um crítico ferrenho de déspotas como Hitler e Stalin. Sua inteligência e clarividência podem ter sido adquiridas milagrosamente pela água de batismo, uma vez que seu padrinho era ninguém menos do que John Stuart Mill. Outro filósofo de ponta, adepto da lógica e das ciências econômicas.
Como pacifista que era, Bertrand escreveu, com Albert Einstein, o Manifesto Russell-Einstein de 1955, no qual alertava para as catástrofes que as armas de destruição em massa poderiam causar à humanidade. Foi ele também um dos responsáveis pela mediação no caso do conflito dos mísseis de Cuba, evitando assim que o mundo viesse a sofrer os horrores de uma guerra nuclear sem vencidos nem vencedores. Foi também um crítico duro contra a Guerra do Vietnã.
Mas foi contra Karl Marx (1818-1883) que Russell mais encontrou motivos para críticas. Para ele, uma filosofia deve ser sempre inspirada por sentimentos gentis e nunca hostis. Marx, em sua opinião, não apresentava em seu manifesto e em suas propostas filosóficas nenhuma inspiração movida por sentimentos nobres e gentis. Ao contrário, para Russell, Marx fingia pretender a felicidade do proletariado. O que ele queria, segundo Bertrand Russell, era a infelicidade tanto dos trabalhadores quanto da própria burguesia, a quem dizia desprezar, mas da qual vivia de todos os tipos de favores.
Marx, segundo Russell, queria usar o proletariado como instrumento de vingança contra a burguesia. Foi justamente por esse sentimento negativo, que misturava vingança e elementos de hostilidade, que Marx conseguiu incentivar em sua filosofia, todo um sentimento de ódio contra a burguesia. Com tantos elementos ruins sintetizados num só manifesto, o que Marx conseguiu produzir foi, na visão de Russell, um verdadeiro desastre. “Três paixões simples, porém intensas, têm governado minha vida: a ânsia pelo amor, a busca do conhecimento e uma insuportável piedade pelo sofrimento da humanidade”, disse Russell
As doutrinas, como a história humana tem demonstrado, não são nem verdadeiras nem falsas, mas apenas complemento e instrumento de predições. Russell acreditava que Marx focava muito, em seus escritos, na questão econômica para decifrar os movimentos da história. Dessa forma, o novo materialismo científico, apresentado por Marx. encerrava seus objetivos e tinha como motor propulsor da história apenas a prática e as relações econômicas, e não uma série de outras variáveis de igual importância, como a relação dos homens entre si, independentemente da produção ou de algo ligado a bens.
Observem, finalmente, que, para Marx, a filosofia era, assim como as religiões, uma forma de alienação que entorpece a razão, não havendo que perder tempo com coisas dessa natureza, principalmente se elas não lidam com coisas concretas. Marx sustentava que o ser humano é todo dotado de ação transformadora, trabalho, e não de passividade e contemplação de ideias. Mesmo negando a filosofia como um ato passivo, Marx, na visão de Bertrand Russel, não foi capaz de ver na prática a materialização de seu pensamento, pelo menos com relação à tão pretendida felicidade humana, uma vez que, em todos os lugares onde tentaram implantar suas ideias ou parte delas, o que os homens acabaram encontrando foi uma sucessão de fracassos, em que a classe proletária passou a sofrer todo o tipo de repressão e empobrecimento ao se ver escravizada pela elite dirigente do partido socialista. Eis aí uma verdade incontestável.
A frase que não foi pronunciada:
“O toma lá dá cá não começa entre empresários e políticos, começa com os eleitores. É preciso cortar o mal pela raiz.”
Dona Dita
Erro médico?
O caso chama a atenção do leitor acostumado a acompanhar a página de óbitos no jornal. O número de mortes de crianças com menos de um ano começa a acender a luz de alerta.
História de Brasília
A reunião foi na Câmara. Logo depois, mais de 300 “reservas” eram efetivadas sem concurso, enquanto os que haviam prestado essa exigência ainda aguardam nomeação. (Publicada em 29/4/1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Não tenham tanta pressa em saber quem será o próximo presidente do nosso país ou o governo deste ou doutro estado da Federação. Muito menos que bancada virá com mais força dentro do Congresso. Talvez nenhuma dessas forças, amparadas por modelos políticos desenhados nos séculos passados, terão maior protagonismo num futuro próximo. Isso, caso estejamos mesmo indo na direção do que os pesquisadores denominam de hiper-história, com uma nova filosofia da natureza, uma nova antropologia filosófica ou uma nova filosofia da política. Junto com esse novo tempo que desponta, virá sobretudo uma nova filosofia da informação e, com ela, novos atores da política.
Quando essas mudanças acontecerem, nem mesmo o Estado terá papel principal na vida das pessoas, justamente porque ele corre o risco de perder também o poder informacional sobre os diversos grupos de cidadãos. O que se acredita é que, talvez, estejamos prestes a assistir ao advento das tecnologias de informação e comunicação (TIC) — ou seja, um conjunto diversificado de práticas, saberes e ferramentas, ligadas diretamente ao consumo e à transmissão de informação, todas elas desenvolvidas a partir da revolução, como a internet e as redes sociais. Vamos, de fato, ao encontro da sociedade da informação, com todas as mudanças de paradigmas que isso representa. A forma como consumimos agora essa massa de informação sem precedentes mudou em relação ao passado, e isso determinará mudanças, quer queiram ou não os políticos do passado.
O que de mais extraordinário pode acontecer com essas mudanças é que o Estado, como o conhecemos até aqui, está vivendo o que podem ser seus últimos momentos. Estamos imersos no que os cientistas políticos chamam de apoptose política. Ou seja, instituições de porte global estão assumindo o protagonismo da informação. Todo esse processo é ainda potencializado pelas chamadas inteligências artificiais (IAs). Não é por outra razão que as maiores potências do planeta estão numa corrida alucinada para o desenvolvimento de novas e poderosas IAs. De fato, a informação neste século 21 vai se constituindo, cada vez mais, numa referência de riqueza ou numa espécie de capital, capaz de determinar não apenas trocas, mas até mesmo soberanias.
Toda essa nova revolução parece ir contra o modelo padrão de Estado, justamente porque as próprias fronteiras parecem ter perdido o sentido em abrigar a soberania. O que valerá daqui para frente será a infocracia. Antes que isso possa acontecer, porém, poderemos assistir a múltiplas tensões no campo da geopolítica. Assim como nas células, que são programadas para deixar de existir num dado momento, a apoptose política (a apoptose é um processo de morte celular programada, que é fundamental para o desenvolvimento e a manutenção dos seres vivos) está sendo gerida com o intuito de acabar não só com o Estado, mas de substituir a democracia por uma sociedade da informação extraterritorial.
A infocracia irá acabar com o sentido das soberanias e das fronteiras. Nesse mundo que se anuncia, o poder passa para as mãos de empresas de informação, que passarão a determinar quem tem ou não o poder de fato. Nesse novo ambiente, o Estado passará de protagonista a figurante, uma vez que passa a perder sua centralidade. Poderes como o Legislativo, fazendo leis, o Judiciário, aplicando-as, e o Executivo, pondo o Estado para rodar, por total incapacidade de deter a informação e usá-la como querem, perderão progressivamente sua importância.
O que as seguidas crises políticas vividas pelo Brasil ao longo desses últimos séculos apontam é que há no horizonte um conjunto de mudanças a decretar o declínio, ou mesmo a eliminação de figuras do mundo político. Com eles, terá fim também um conjunto de ideologias, de movimentos políticos, com os partidos perdendo relevância, ou mesmo deixando de existir. Essa apoptose política virá ainda favorecida pela falta de apoio popular, por mudanças no seio da sociedade e por diversos outros fatores de ordem econômica.
A frase que foi pronunciada:
“Nosso desejo é o da nação: que este plenário não abrigue outra Assembleia Nacional Constituinte. Porque, antes da Constituinte, a ditadura já teria trancado as portas desta Casa. Autoridades, constituintes, senhoras e senhores, a sociedade sempre acaba vencendo, mesmo ante a inércia ou antagonismo do Estado.”
Ulysses Guimarães
Haja paciência
Pacientes do Hospital do Paranoá pedem socorro. São horas de espera tanto para crianças quanto para adultos. Um deputado distrital poderia fazer a experiência de se passar por um paciente normal para sentir o drama. Certamente, alguma coisa iria mudar.
Referência
Enquanto isso, o Hospital de Apoio de Brasília recebe equipe técnica da Finlândia que veio conhecer a triagem neonatal. O hospital é referência internacional.
História de Brasília
O primeiro-ministro reuniu-se com os líderes de todos os partidos para estudar diversos assuntos e ficou resolvido inclusive, combater o empreguismo. (Publicada em 29/4/1962)
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Por maioria de votos, o Supremo Tribunal Federal (STF), mais uma vez, ampliou o alcance do chamado foro privilegiado, ao aceitar que autoridades que ocuparam cargos com essa prerrogativa mantivessem esse instituto e, portanto, possam ser ainda julgados, originalmente, por cortes superiores. A manobra, feita para adequar dentro de certos parâmetros legais os acusados por golpe de Estado e outros crimes, vem sendo duramente criticada por juristas e mesmo por constitucionalistas, que enxergam, nessa ampliação do foro, apenas uma manobra visando dar sustentação legal ao que a própria Constituição ignora. O foro privilegiado, segundo reza a Constituição, prevê que certas autoridades no exercício de cargos públicos só podem ser julgados e processados por tribunais previamente estabelecidos.
Essa medida visa, tão somente, proteger, pessoalmente, o pleno exercício da função, sem interferências indevidas. Trata-se de uma legislação que vem desde o Brasil Colônia, mas que não encontrou guarida nas Constituições posteriores, sendo incorporada apenas na Carta de 1988. Mesmo sendo criada para garantir o bom funcionamento das instituições, essa prerrogativa acaba sendo prejudicial aos contemplados, pois restringe o direito à ampla defesa, aos processos recursais e às revisões, o que vai contra o princípio do duplo grau de jurisdição. Em seu artigo 5º, a Constituição diz claramente: “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.
Recorrer de decisão jurídica faz parte do devido processo legal. Mesmo o Pacto de São José, do qual o Brasil é signatário, garante que qualquer indivíduo condenado por um delito tem o direito de recorrer da sentença para um juiz ou tribunal superior. Quando o julgamento é realizado pela última instância, aquela que não tem o direito de errar, os processos recursais e revisões ficam impossibilitadas. Numa situação como essa, a insegurança jurídica e as arbitrariedades se sucedem, o que acaba por macular até mesmo o que diz a lei e os estatutos de proteção dos direitos humanos. Não por outra razão, a própria Corte Interamericana de Direitos Humanos tem reafirmado que o duplo grau de jurisdição deve ser aplicado a todos os processos penais.
Sendo assim, todos aqueles que são julgados pelo STF não possuem direito a apelação, pois, nesse caso, não cabe recurso, o que de certa forma contraria o próprio sentido de Democracia. Nesse sentido, o foro privilegiado acaba por se transformar num instrumento prejudicial a todos aqueles que o possuem, por impedir, sobretudo, a ampla defesa. A mudança de jurisdição do Supremo, no caso da ampliação do foro privilegiado, foge ao que está disposto na Constituição e não poderia ser interpretado de outra forma pelos juízes do STF. O que ocorreu nesse caso foi, segundo o jurista Ives Gandra Martins, uma interpretação extensiva dessa Corte, que, ao mudar decisão já proferida anteriormente, incluiu, em seu julgamento de golpe de Estado, pessoas que, definitivamente, não deveriam estar sendo julgadas nesse foro.
Para Ives Gandra, os ministros togados precisam entender que quem escreve e elabora a Constituição são os representantes do povo, que foram eleitos para esse fim. A Constituição deve ser defendida com base no entendimento original do texto no momento de sua adoção. Nesse caso, ensina o jurista, o Supremo só pode decidir sobre o que os constituintes escreveram e incorporaram no texto, pois esse reflete o desejo do povo. “O Supremo, eleito por um homem só, com todo o respeito que tenho por todos os Ministros, não poderia alargar, como fez agora, sua competência para estender o foro privilegiado, até exteriorizando uma visão política bem acentuada, a fim de incluir pessoas que deveriam ser julgadas pelo juiz natural”, diz Ives Gandra, ao lembrar que o Supremo é o intérprete da Constituição e não um constituinte derivado.
A frase que foi pronunciada:
“Político, sou caçador de nuvens. Já fui caçado por tempestades. Uma delas, benfazeja, me colocou no topo desta montanha de sonho e de glória. Tive mais do que pedi, cheguei mais longe do que mereço.Que o bem que os Constituintes me fizeram frutifique em paz, êxito e alegria para cada um deles. Adeus, meus irmãos. É despedida definitiva, sem o desejo de retorno. Nosso desejo é o da Nação: que este Plenário não abrigue outra Assembléia Nacional Constituinte. Porque, antes da Constituinte, a ditadura já teria trancado as portas desta Casa. Autoridades, Constituintes, senhoras e senhores, A sociedade sempre acaba vencendo, mesmo ante a inércia ou antagonismo do Estado.”
Ulysses Guimarães
História de Brasília
O primeiro ministro reuniu-se com os líderes de todos os partidos para estudar diversoso assuntos, e ficou resolvido, invlusive, combater o empreguismo. (Publicada em 29.04.1962)
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Boa parte da sociedade está com a memória viva em relação à longa crise social, econômica e política dos últimos anos. As redes sociais tiveram o condão de mudar a percepção de grande parte das pessoas não somente para os problemas do país, mas, sobretudo, para aumentar o desejo e a atitude de muitos em direção aos valores próprios, fazendo brotar, nos brasileiros, um sentimento mais individualista e voltado, exclusivamente, para as necessidades imediatas e a longo prazo. Parece resultar da noção de que o Estado pouco ou nada faz pelos brasileiros. Muitos consideram hoje que a melhor estratégia é partir para a luta individual, ao invés de esperar por qualquer amparo.
É preciso salientar que esse individualismo, cada vez mais presente na mentalidade do brasileiro, pode inverter a própria lógica do Estado, fazendo com que o governo passe a depender, cada vez mais, da vontade de uma população indiferente e distante, propiciando, inclusive, a considerar a hipótese da desobediência civil.
Com o passar do tempo, parece que, ao aumentar a descrença na política, a consolidação plena da democracia se assemelha com a gelatina na geladeira. Revelações verdadeiras para o distinto público apontam para uma elite disposta a tudo para enriquecer rapidamente e sem esforço.
Para um país que conta com quase um milhão de presos, em condições sub-humanas de cárcere, essas revelações serviram muito mais como que um simples incentivo para a ação continuada no mundo do crime. Deu a essa parcela da população a certeza de que a cadeia ainda é lugar para pretos e pobres.
Entender a deterioração social como algo moldado pela herança histórica ibérica mostra apenas as raízes ancestrais do problema que fazia parte inerente do sistema mercantilista e colonialista da época. Se antes a exploração e os desvios tinham origem em vontades vindas do exterior, com o desenvolvimento do capitalismo de compadrio, é muito mais rentável a uma empresa cooptar políticos e agentes públicos buscando negócios fabulosos com o Estado em troca de propinas e outros meios ilícitos.
Transformadas em moedas de troca, dentro do toma lá dá cá generalizado, as nomeações políticas têm um peso crucial. Torna-se compreensível o discurso de muitos dirigentes políticos.
Obviamente que não se trata de nacionalismos ou protecionismo da economia nacional, mas, tão somente, de reservar esse nicho de mercado à sanha desmedida de partidos. Por aí se vê a razão da redução do tamanho do Estado, que incomoda tanta gente. Se por um lado, os muitos casos revelados serviram para mostrar como é fácil desviar dinheiro público, por outro, mostrou que impondo um fim a institutos como o foro privilegiado, a possibilidade de nomeações políticas para cargos técnicos e maior agilidade e presteza nas decisões da justiça trazem a fórmula mágica para reduzir, da noite para o dia, tão imenso volume de caos de malversação dos recursos públicos.
É, contudo, muito dinheiro, para os padrões de um país como o Brasil, onde, historicamente, a impunidade é tratada de forma parcimoniosa pelas autoridades, sempre constrangidas em punir pessoas e grupos do mesmo estamento social, político e econômico.
A frase que foi pronunciada:
“Nunca esqueçamos esta verdade fundamental: o Estado não tem outra fonte de dinheiro além do dinheiro que as pessoas ganham. Se o Estado deseja gastar mais, só pode fazê-lo tomando emprestado suas economias ou tributando-o mais. Não adianta pensar que outra pessoa vai pagar – que “outra pessoa” é você. Não existe dinheiro público; só existe dinheiro dos contribuintes.”
Margaret Thatcher
Alegria, alegria
Era a iniciativa que a cidade precisava. Abrir o zoológico aos domingos e feriados sem a cobrança de ingressos é a alegria da criançada e das famílias que têm contado o dinheiro para chegar ao fim do mês, agora com diversão. O final do Candangão também valeu com as passagens de metrô e ônibus e ingresso ao Mané Garrincha liberados hoje, Gama e Capital se enfrentam às 16h.
História de Brasília
Entrando ou saindo de uma superquadra, ponha seu carro em segunda. A todo o instante pode surgir uma criança, e o senhor estará a salvo de qualquer acidente. Se o senhor tem motorista chapa branca avise a êle. (Publicada em 27.04.1962)