As ruas e os shoppings

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil

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Foto: Valdemir Cunha (viagemeturismo.abril.com)

 

Em qualquer cidade do mundo, uma das grandes atrações, preferidas por 9 em cada 10 turistas, é poder caminhar com tranquilidade pelas ruas e avenidas, observando as pessoas, as praças, o comércio local e as vitrines das lojas, com suas variedades de produtos e preços. Nesse tipo de esporte, andam-se quilômetros sem perceber. É assim em Nova Iorque, Paris, Londres, e na maioria das grandes cidades, onde as ruas são limpas, iluminadas, seguras e aprazíveis. Sentar em um banco, ver o público se movendo de um lugar para outro, fazer um lanche, tomar um café, repor as energias e seguir desbravando a cidade, a pé, conhecendo seus segredos, sua gente.

Não apenas turistas buscam esse prazer, mas os próprios moradores também buscam as ruas para se distrair. A rua é a extensão natural da casa e uma necessidade do ser humano para interagir, conversar, encontrar amigos, se divertir. Muito mais do que um lazer, as ruas representam um fator de saúde para muitos que vivem fechados em espaços exíguos e com poucos movimentos.

Em Brasília, essa necessidade foi amplamente pensada e posta à disposição de seus moradores, principalmente dentro do Plano Piloto, que, à época da construção da capital, se acreditava ser o espaço principal e único da cidade. Dentro dessa concepção é que foram projetadas as avenidas W3 Norte e Sul.

Com uma extensão de aproximadamente 13 quilômetros, incluindo o trecho em que corta perpendicularmente o Eixo Monumental, essas duas avenidas, outrora o centro nervoso da capital, são reconhecidas, pela maioria dos urbanistas, como o principal e potencial eixo de comércio da cidade. Com um desenho e uma topografia para lá de favoráveis a todo o tipo de atividade comercial e de lazer, essas, que poderiam ser duas das maiores e mais aprazíveis avenidas do mundo, continuam esquecidas e adormecidas numa espécie de sono profundo

Com isso, um processo lento e gradual de decadência foi-se instalando nessa vital artéria, propagando seus males para as várias ruas adjacentes. Os prejuízos econômicos para a capital, ao longo de todos esses anos de abandono, são incalculáveis e, se corrigidos, dariam para construir uma outra capital.

Inconcebível que numa moderna vitrine do que de melhor se fez em arquitetura e urbanismo nesse país, uma longa via como essa, praticamente esperando uma oportunidade para acontecer e brilhar, não se tenha um projeto racional e belo que possa restituir a vida a essa avenida.

Enquanto esse dia não chega, os shoppings, que se aproveitaram dessa leniência de seguidos governos continuam faturando. Do estacionamento aos preços de qualquer produto, o custo pela manutenção desses edifícios gigantes são repassados aos consumidores. Um simples cafezinho, que na rua você encontra por até R$ 4, nos shoppings chegam a custar R$ 10. Essa majoração de preços assustadora vem por conta dos altos alugueis e de outros custos que esse tipo de mercado geram para os lojistas.

Revitalizar as avenidas W3 Sul e Norte é acabar com esse tipo de monopólio de comércio que gera lucro apenas para os donos do empreendimento. O renascimento das W3’s significa a geração de milhares de empregos, aumento na oferta de produtos, concorrência mais intensa e melhores preços para os consumidores, além de uma excelente opção para os turistas e para os habitantes da cidade, que terão a oportunidade de fugir dos ambientes monótonos, caros e sempre iguais dos shoppings.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Susana estava mais W3 do que nunca.”

Nicolas Behr, candango construtor de poesias

Foto: Ailton de Freitas

 

 

Dia desses

Alegre e rodeado por amigos, o general Mourão se deliciava num restaurante especializado em carnes, na asa norte.

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

 

 

De olho

Em 19 de outubro de 1961, essa coluna publicava sobre o uso indevido de carros oficiais. Os abusos continuam 57 anos depois.

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

 

 

Cores e perfumes

Sucesso o FestFlor. Produtores como o seu Francisco Araújo puderam trocar cartões com negócios prósperos. O lucro foi satisfatório na mostra. Segundo a Emater, são 139 produtores de flores e plantas ornamentais que recebem capacitação pela instituição. Dados revelam que em Brasília, por consumidor, são gastos R$ 44,23 por ano na compra de flores contra R$ 26,27 da média nacional, movimentando cerca de R$ 200 milhões anuais até o consumo final.

 

 

Pega mal

É preciso o pessoal da página do governo do DF ficar mais atento às informações repassadas aos leitores. Há uma aba na página do GDF que chama a atenção pelo nome: “espalhe a verdade”. Ao acessar a url (http://www.brasilia.df.gov.br/category/espalheaverdade/), a notícia mais atualizada é de abril de 2017.

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

A cidade livre está se acabando em matéria de comércio, e aumentando demais em miséria. É um horror, a gente ver aquilo que foi o núcleo pioneiro. As fossas estouradas, jogam esgotos na rua e a câmara aprova a “urbanização”. (Publicado em 30/11/1961)