A dama morta

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Casa do Cantador, em Ceilândia | Foto: Renato Araújo / Agência Brasília

 

Toda a cidade que se preza, aqui ou em qualquer outra parte do mundo, deve ser concebida como algo vivo na paisagem que cresce e vai se desenvolvendo ao longo do tempo, numa dinâmica orgânica que muito se aproxima do ciclo evolutivo e natural humano. O que torna a cidade viva não são suas ruas, avenidas, praças e monumentos, mas, sim, o frenesi de sua população, que flui por seus espaços como um sangue correndo por entre artérias e veias.
Ocorre que o motor capaz de tornar tudo isso possível, e que muitos acreditam ser a verdadeira alma de uma cidade, é induzido pelo fermentar de sua atividade cultural, fervilhando noite e dia sem parar. Em outras palavras, a alma de uma cidade está na sua capacidade de produzir arte e cultura. É isso que identifica e dá vida a uma cidade. Cidades sem alma, que também existem como zumbis, são aquelas em que a arte e a cultura foram expulsas de seus limites, ou sequer chegaram a adentrar. Sendo assim, é fato que não podem existir cidades vivas apartadas da cultura e da arte dos seus habitantes.
Não por outra razão, desde os estabelecimentos das primeiras civilizações, há milênios, a preocupação primeira com a criação de cidades que espelhassem a dinâmica da vida e seus mistérios levou os construtores a criarem, simultaneamente, praças com monumentos, jardins, portais, arcos e monólitos colossais, tudo para embelezar e dar vida ao ambiente, numa demonstração de que, naquele lugar, havia vida e cultura assentadas. É esse o sentido primeiro e que até hoje é seguido em todo o mundo.
Quiseram, os idealizadores da capital do país, dotar Brasília dos mais belos, amplos e modernos espaços dedicados à celebração das artes. A corrente modernista, que nos anos 1950 e 1960, guiou os traços urbanos da nova capital, tinha em seu propósito básico o conceito de conjugar arte e arquitetura, dando a uma e a outra não apenas a oportunidade de diálogo entre o concreto e o abstrato, mas atingir, com essa proposta, a possibilidade real de demonstrar a capacidade de um povo de erguer uma cidade viva a espelhar a força criativa de sua gente, e que nada ficava devendo em qualidade a outras obras primas mundo afora.
A importância dessa união entre arte e arquitetura é que permitiu elevar a capital ao patamar de patrimônio cultural da humanidade. Foi com esse pensamento que os idealizadores de Brasília conceberam, logo nos primeiros projetos, os principais monumentos devotados, exclusivamente, à contemplação cultural e artística. Foi assim que, antes mesmo de se pensar em prédios para escritórios, foi projetado o Teatro Nacional, com várias salas para exibição do que o Brasil sempre produziu de melhor na música, no teatro, além de museus como o de Arte Moderna, dedicado à pintura, à escultura e às produções do universo das artes plásticas.
Logo em seguida, surgiram por toda a cidade espaços e salões dedicados à celebração das artes, como o Espaço Funarte, o Espaço 508, galerias Oscar Seraphico, entre algumas outras famosas, que traziam o que de melhor era produzido no Brasil e no mundo para exibir ao público da cidade. Houve um tempo, lá pelos anos 1970, que Brasília se orgulhava de ter mais de 30 galerias de arte.
Também os espaços culturais, onde se assistiam a apresentações alternativas de teatros e musicais, invadiram a cidade com a luminosidade das artes. A Escola de Música, com seu teatro amplo, enchia a cidade de sons. Outros lugares, como a Concha Acústica, as galerias do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, ajudavam a capital a permanecer acesa durante as madrugadas.
Houve um tempo, acredite se quiser, que Brasília pulsava dia e noite. Os concertos e apresentações se seguiam nos amplos espaços verdes, como é o caso do Concerto Cabeças, a revelar o que Brasília tinha de melhor e de mais promissor no campo da música e da poesia. Por toda parte e, ao longo de toda a semana, os espetáculos e mostras aconteciam.
Na UnB, seu auditório de música, era agenda frequente para alunos e ouvintes. Espaços, como os da Casa Thomas Jefferson e da Aliança Francesa, traziam músicos e artistas de seus países, atraindo sempre grande público. Infelizmente, todo esse fervilhar foi sendo reduzido por uma conjunção de fatores, que aliou gestores públicos, infensos à cultura, falta de incentivos diversos, crescimento desordenado da cidade, com o surgimento da violência urbana, além de outras causas mais sérias trazidas por uma pandemia mortal sem prazo para acabar e governos federal e distrital, que parecem ter na cultura um inimigo a ser derrotado. Tempos tristes esses em que a cidade, que antes pulsava em nossas mãos, hoje se apresenta como uma dama morta.
A frase que foi pronunciada
“Arquitetura é, antes de mais nada, construção, mas construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço para determinada finalidade e visando à determinada intenção.”
Oscar Niemeyer
Sob a batuta de Lúcio Costa, Oscar se diverte grafite e aquarela, 29x21cm, 2010 (evblogaleria.blogspot.com)
História de Brasília
O que ocorre é isto, e o ministro Alfredo Nasser precisa saber: a Agência Nacional tem um quadro de redatores grande demais e apenas meia dúzia trabalha. A maioria está encostada em outras repartições, e se houver uma concentração de todos os redatores da AN, o edifício do Ministério da Justiça não terá mesas para todos. (Publicada em 07/02/1962)

Arqueologia

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Para um arqueólogo atento, que resolva, num futuro distante, prospectar os indícios e outros vestígios materiais produzidos pelos habitantes da capital, capaz de indicar que tipo de civilização foi erguida aqui, nesses confins do Centro Oeste brasileiro, sem dúvida alguma, com exceção da moderna e engenhosa arquitetura exibida pela cidade, e que forma uma espécie de casca a envolver a metrópole, uma grande interrogação surgirá logo na primeira prospecção, surpreendendo esse pesquisador: Como pôde uma civilização, assentada em meio a tão futurística arquitetura, não apresentar quaisquer traços de cultura material mais relevante?

De fato, ao pesquisar minunciosamente as ruas e avenidas da mais importante cidade do País, em busca dos elementos indicativos que comprovariam a existência de um fervilhante movimento cultural espalhado pelos quatro cantos da metrópole, nosso arqueólogo iria chegar a uma embaraçosa conclusão: pouco ou nada parece existir nesse lugar que possa confirmar ou negar a existência de uma população envolvida e produtora de cultura.

Uma radiografia das principais ruas da cidade mostraria, de forma taxativa, a inexistência de teatros, centros culturais, livrarias, galerias de artes, museus e outros centros dedicados às artes. Nosso turista das ciências iria se deparar, em grande profusão e em cada esquina, com bares, botecos e outros estabelecimentos no fornecimento de álcool, lojas de quinquilharias diversas e um incontável número de farmácias por toda a parte.

Para um pesquisador, isso denotaria, numa primeira impressão, que, ao beber em demasia, essa população viveria constantemente doente e necessitada de remédios e outros unguentos para viver. Além dos bares e farmácia em quantidade sintomática, a pesquisa revelaria também a multiplicação das casas lotéricas, o que indicaria que a população vivia na esperança de ganhar mais dinheiro para alimentar o vício do álcool. Esses bares teriam se transformado em centros de cultura, onde o álcool seria a atração principal.

Por outro lado, o que saltaria aos olhos e daria a certeza de que essa civilização do Centro Oeste desprezava a cultura e seus derivados seria o abandono de museus e teatros, anteriormente mantidos pelo governo, por meio da cobrança de uma das mais altas cargas tributárias de todo o planeta. Todos agora fechados ou sucateados, transformados em depósitos de materiais diversos.

Quando uma cidade permite que seu principal centro de cultura, nomeado com o nome soberbo de Teatro Nacional, transforme-se num almoxarifado de quinquilharias e outros objetos a serem descartados, como um imenso galpão para acondicionar o lixo mobiliário da burocracia, tudo está irremediavelmente perdido. Não há salvação para uma civilização fora da cultura. Sem esse traço arqueológico, presente em toda e qualquer civilização, em qualquer momento da história, toda a sociedade pode ser reduzida ao patamar evolutivo de um formigueiro, devotado apenas a sobreviver.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O artista é aquele que desmente as leis anatômicas e fisiológicas, vivendo do princípio vital de uma única entranha: o coração.”

Camilo C. Branco, escritor português, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor.

Ana Plácido, Camilo Castelo Branco e um filho do casal. (Imagem: coladaweb.com).

 

 

Registro

Senador Izalci, pelo DF, apontou várias distorções em relação ao soldo dos militares. Enquanto todos os civis que buscaram na Justiça o direito aos 28% ganharam, o Comando orientou que as Forças Armadas não entrassem na Justiça, e quem não entrou perdeu. A busca agora é pela recomposição por meio da legislação.

Foto: senado.leg

 

 

Desrespeito

Acredite se quiser. O salário-família de um militar é de R$ 0,16. A indenização do auxílio de transferência é tão baixa que pagam do próprio bolso.

Foto: Gazeta do Povo/Arquivo

 

 

Absurdo

Outro disparate é em relação aos médicos das Forças Armadas, que recebem 30% do que ganha um médico do DF.

Foto: defesa.gov

 

 

Estranho

No manejo de água de outros países, não há a presença de organizações brasileiras como parceiras. Já no Programa Produtor de Água no Descoberto, coordenado pela SUDECO, há parcerias com Centro Internacional de Água e Transdisplinaridade (Cirat), a The Nature Conservancy (TNC), a Word Wild Fund for Nature (WWF), a Aliança de Fundos de Água da América Latina e a Coalização Cidades pela Água.

Foto: Breno Fortes/CB/D.A Press

 

 

Reforço

Mais de R$ 300 milhões de reais são investidos em escolas com vulnerabilidade social. Dados do Censo Escolar, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), indicaram os colégios para receber a verba. Pena que não haja aplicativos na Internet para a população acompanhar a aplicação dessa verba.

Foto: 94fm.com

 

 

Será?

Presidente Bolsonaro sacode o gigante adormecido com a seguinte previsão: manobras para um impeachment à vista. Razão: se ele vetar o valor de R$ 2 bilhões para o fundo eleitoral aprovado pelo Congresso para as eleições municipais deste ano.

Foto: Marcos Corrêa/PR

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Vamos olhar mais para o “Gavião”. A iluminação começou e não terminou; a urbanização foi apenas planejada e o Posto Policial ficou na promessa. (Publicado em 13/12/1961)