As pontes da ONU

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ONU. Foto: Reprodução

 

Justamente nesse momento, em que o mundo parece precisar, mais do que nunca, de um organismo internacional respeitável e de caráter intergovernamental, para impedir que uma nova guerra mundial se alastre por todo o planeta, as Nações Unidas atravessam o que pode ser considerada sua mais severa crise interna de gestão e, portanto, de credibilidade. Essa é uma péssima notícia para o mundo, que vinha tendo, nesse órgão, ao menos uma chance de mediação política desses conflitos.

Ao caminhar para a irrelevância, nesse século XXI, diante de um mundo que parece se dissolver sob nossos pés, a ONU pode se transformar de solução a mais um problema a ser enfrentado. Uma reforma interna dentro desse organismo é urgente, antes que os ponteiros do relógio do apocalipse marquem a meia noite do planeta.

O problema é que não há sinais de que os principais países que compõem esse órgão estejam interessados, neste momento, em fazer esforços para melhorá-lo. A questão é velha conhecida do Ocidente e se prende ao fato de que a política partidária e ideológica, fora de seu contexto natural, ou fora de lugar, sempre foi prejudicial ao bom funcionamento de organismos suprapartidários. Isso que acontece aqui no Brasil, com a politização de instâncias que deveriam ser infensas a partidarismos, ocorre em outros países e, na ONU, não tem sido diferente.

A politização ideológica das Nações Unidas, observada por todos, tem arrastado esse organismo para a vala das nulidades, tornando-a inoperante, num mundo em que as polarizações são cada vez mais visíveis. A situação chegou ao seu ponto máximo nesta 79ª sessão da Assembleia Geral da ONU (AGNU79). Nesse encontro, não faltaram críticas ao organismo vindas de todas as partes do mundo, sobretudo, ao modo como a ONU vem se posicionando politicamente.

Nem mesmo o governo brasileiro atual, mais alinhado politicamente a essa gestão da ONU, deixou de reclamar da condução desse órgão, que hoje demonstra fraqueza em negociar e a dialogar em busca da paz, justamente agora em que o mundo apresenta um número recorde de conflitos, desde a Segunda Grande Guerra.

Os sinais de que essa crise interna da ONU vai num crescendo perigoso foram dados, agora, por meio do ministro dos negócios estrangeiros israelense, Israel Katz, ao declarar que o secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, passou a ser considerado “persona non grata”, sendo proibido de entrar em Israel. Para Katz, Guterres vai ser lembrado como uma “mancha na história da ONU”. Esse fato, por seu simbolismo, diz muito sobre o momento atual da ONU. Com esse gesto, o secretário-geral da ONU perde sua capacidade política de mediar um dos mais perigosos conflitos atuais, tornando-o numa figura meramente decorativa e sem poder moral para negociar. É um golpe na própria ONU.

Para o ministro de Israel, Guterres, por sua posição política à esquerda, tem demonstrado apoio aos terroristas do Hamas, Hezbollah e Houthis. “A ONU perdeu o sentido de existência e está hoje em estado de putrefação, imersa na ideologia progressista-globalista, casada com comunistas, prostituta de ditaduras e amante de tiranos”, afirmou Israel Katz. Para um planeta já envolto com problemas do aquecimento global e mudanças climáticas, que colocam a humanidade numa encruzilhada nunca antes experenciada, a desmoralização da ONU e de seu secretário-geral é mais um ingrediente a ser somado a essa distopia em que nos encontramos.

Se está ruim com a ONU atual, pior será sem ela. Aí será um “Deus nos acuda!”, porque as mesas de negociação estarão viradas ao avesso. É necessário, neste momento, não destruir as pontes existentes. A questão aqui é fazer uma reforma da ONU, acabando com a politização interna, o que parece fácil; ou deixar que ela afunde, juntamente, com o restante do mundo, o que, pelo visto, é mais fácil ainda.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Uma das principais lições que aprendi nos últimos cinco anos como Secretário-Geral é que as Nações Unidas não podem funcionar adequadamente sem o apoio da comunidade empresarial e da sociedade civil. Precisamos ter apoio tripartite – os governos, as comunidades empresariais e a sociedade civil.”

Ban Ki-moon

Ban Ki-moon. Foto: Reuters

 

Novos dias

Ouvir o taramelado das araras pelo Lago Norte faz o pensamento voltar às aulas de música da Neusa França. no Jardim de Infância da 308 Sul. Só lá tinha uma arara que convivia com a criançada. Hoje, são várias famílias da ave cruzando o céu no pôr do sol para abrigos em palmeiras de moradores da região que cuidam e protegem.

 

História de Brasília

Em que pêse os ensinamentos do tratadista João Monteiro sôbre o sentido jurídico da palavra intimação, encontrei no velho Caldas Aulete em abono do referido termo esta definição: “falar com arrogância ao mandar”, e não é este o caso, cremos nós. (Publicada em 18.02.1962)

Das fragilidades do mundo

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Foto: REUTERS / Eduardo Munoz / Direitos reservados Internacional

 

Por certo, muitas são as fragilidades do mundo — desde sempre. A começar pela exploração do homem pelo homem. Homo hominis lupus, dizia o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), autor do clássico Leviatã. Com esse conceito, Hobbes queria expressar a ideia de que o homem, ao longo de toda a sua história, desde o aparecimento dos primeiros aglomerados humanos, havia confirmado sua posição como o maior dos inimigos de sua própria espécie, superando as feras em animosidade e vileza.
O mal está no semelhante, convivendo e espreitando bem ao lado. Por meio dessa relação conflituosa e por causa dela, o homem construiu todo o tecido da sua história no planeta. Talvez, por isso mesmo, a história do homem tenha se transformado na história da tragédia humana. O que o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, mencionou ontem, em seu discurso na abertura da Assembleia-Geral da ONU, como sendo as fragilidades do mundo, desnudadas pela Covid-19, na verdade, poderiam ser assinaladas como as fragilidades humanas, deixadas à mostra por conta da pandemia, principalmente as do caráter, capazes, inclusive, de nos conduzir para o beco sem saída da extinção da espécie.
Com os pés mais fincados na realidade, o secretário-geral da ONU disse, acertadamente, do ponto de vista metafórico, que o mundo hoje está virado de cabeça para baixo, tais foram as transformações maléficas geradas pela pandemia de Covid-19. Segundo ele, experienciamos agora, mais do que em qualquer outro momento de nossa história, a chegada conjunta dos quatro cavaleiros do apocalipse, representados pelo aumento das tensões geoestratégicas globais; a crise climática; a crescente e profunda desconfiança global, tudo isso associado ao que chamou de “lado negro do mundo digital”, representado aqui, entre outras torpezas, pelo mundo paralelo e perigoso das fakes news.
A frase que foi pronunciada
“O meu pai ensinou-me a trabalhar; não me ensinou a amar o trabalho”
Abraham Lincoln
Abraham Lincoln. Foto: wikipedia.org
História de Brasília
Temos acompanhado, desde há muito, o trabalho do cel. Dagoberto Rodrigues em Brasília, e somos entusiastas do diretor do DCT. Essa é a razão de abordarmos, hoje, assuntos ligados a essa repartição. (Publicada em 09/02/1962)