Um juiz imparcial chamado Tempo

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

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Foto: Wikimedia Commons

 

         Com a História, ocorre um fenômeno deveras interessante. Mesmo tendo experienciado e vivido intensamente o instante em que ocorreram determinados fatos de grande relevância, capaz de virar de cabeça para baixo o status quo vigente e dar um novo rumo para os acontecimentos, o indivíduo e a sociedade raramente irão conseguir ter uma visão completa e acabada do ocorrido.

         Isso acontece porque, nessa cronologia, é obrigatoriamente necessário um tempo para a História ser digerida na sua complexidade. Julgamentos e avaliações feitos em momentos próximos aos fatos históricos pecam justamente por falta de uma exatidão e de um olhar abrangente sobre o todo. Com isso, é normal dizer que a compreensão histórica só se torna possível quando todos os fatos ligados aos acontecimentos cessam. Mesmo assim é preciso esperar ainda a ação do tempo e do distanciamento dos fatos.

         Vista de longe é que a História se revela real, tal como ela é e foi de fato. Tomando essa lição como ponto de partida, é preciso ressaltar que os fatos históricos que tiveram seu ápice no dia 8 de janeiro em Brasília terão ainda que aguardar um tempo para serem racionalmente decifrados por verdadeiros historiadores infensos ao calor abrasador das ideologias.

         Isso quer dizer que aqueles fatos, assim como os frutos, só serão devidamente colhidos, quando amadurecidos e na estação certa. Que importância tem essa observação? Poderiam alguns indagar. A fonte de todo aquele rio que passou em nossas vidas está à montante e não à jusante, como querem os apressados, ou seja: é preciso recuar no tempo, ir em direção ao segundo semestre de 2022, observando toda a movimentação ocorrida no país, com a aproximação das eleições de outubro daquele ano.

          Os personagens envolvidos nessa trama eram, além do ex-presidente Bolsonaro, o candidato do sistema representado por Lula da Silva, o Supremo Tribunal Federal, que, juntamente com o Tribunal Superior Eleitoral, tomou as mais importantes e inesperadas medidas em todo o processo eleitoral, além, é claro, das Forças Armadas, no caso o Exército e a grande massa de manifestantes, voluntariamente refugiados nas portas dos quartéis.

         Como personagens paralelos, mas de grande contribuição para os acontecimentos, estão a impressa e as mídias sociais. Correndo por fora, como sempre acontece neste país, pode-se notar também o comportamento do parlamento, Polícia Federal e Rodoviária, os caminhoneiros, o governo do DF. Cada um, a seu tempo e à sua maneira, contribuiu ou não para a ocorrência desses momentos da nossa História.

         A prisão em massa dos manifestantes acampados, sempre denominados de ‘patriotas’, ou seja, aqueles que não queriam e ainda não querem que o Brasil tenha o mesmo destino que Cuba e outros países submetidos ao jugo do comunismo, ainda repercute, sendo, portanto, um fato histórico que ainda não teve seu desfecho, talvez em decorrência das suspeitas de que outras variáveis entraram nessa equação.

          Também o açodamento extraordinário com que se deu todo o processo jurídico sobre esse e outros episódios irão requerer, por parte dos historiadores, que toda essa avalanche de acontecimentos retorne ao leito normal do rio, permitindo um balanço de todos esses estragos. Por sua dimensão histórica, a depredação material do patrimônio público, elevada exageradamente aos píncaros de um fictício golpe de Estado, perde sua importância quando comparada aos estragos feitos ao erário por ocasião de escândalos de corrupção no passado. De igual potência, mas que quase nada renderam em termos de punição.

         Como se observa, há ainda muito terreno a ser prospectado e um trabalho minucioso dos técnicos em passado para pôr todas as peças sobre a mesa, montando esse quebra-cabeças, de modo que as próximas gerações aprendam com exemplos do passado. Pela experiência transparente que a História mostra, é possível tomar o caminho certo quando encruzilhadas dessa magnitude se apresentam diante de todos.

         Antes de tudo, é preciso que o tempo não permita que se ponha uma lápide fria sobre esses acontecimentos, dando a cada um, segundo sua participação, a verdadeira ação naqueles eventos bastante mal explicados.

 

A frase que foi pronunciada:

“O imposto que você paga, paga o progresso que você vê.”

Campanha publicitária do governo na década de 70

Charge: novoeste.com

 

Consome dor

Um parto de 30 dias acompanhado pelos moradores da Quadra 17 do Park Way. Sem força na distribuição da água, caixas vazias. Imaginem passar um mês com esse problema. Mas uma coisa é certa: a conta chegou.

Caesb. Foto: destakjornal.com.br

 

Mau exemplo

Motoristas que prestam serviço em todas as esferas de governo não prezam pela cidade como patrimônio da humanidade. Caminhões quebram calçadas, carros com placas especiais estacionam no gramado, ou mesmo em lugares onde normalmente é proibido.

 

História de Brasília

O novo horário da Prefeitura não alterou em nada o funcionamento da repartição. Apenas dez por cento dos funcionários trabalhará um expediente. E será conveniente a manutenção dos dois horários, que é uma característica do serviço público em Brasília. (Publicada em 17.03.1962)

As voltas que o mundo dá

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Foto: Evaristo Sá/AFP

 

          Desde sempre é sabido que afirmações, mesmo como mais incisivas e alardeadas por altos falantes, duram tanto como fumaça ao vento. Buscar algum lastro ou garantia concreta sobre o que dizem é perda de tempo. Nossos homens públicos mudam de opinião mais vezes do que uma madame experimenta roupa de grife. Vejam esse caso exemplar. Ainda no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), as oposições ao governo, comandadas pelo Partido dos Trabalhadores, pediam, dia sim e dia também, a instalação de uma CPI, para apurar o que denominavam “falcatruas” dentro do Palácio do Planalto.

          No programa televisivo, “Altas Horas”, então líder de audiência nas madrugadas naquela ocasião, gravado ao vivo e com plateia formada na sua maioria por jovens, o líder dos trabalhadores dizia com todas as letras: “Eu sou favorável à CPI porque é um instrumento, portanto legal, para você apurar falcatruas institucionais. Portanto vamos instalar a CPI, porque se o presidente for inocente, ele então vai ganhar um atestado de idoneidade do Congresso Nacional. A CPI não atrapalha o Brasil. É uma coisa importante para o Brasil. Acho que ao invés de criar as dificuldades que o governo está criando, era melhor criar as facilidades para que a CPI fosse instalada e funcionando de modo correto.”

           A maior parte do tempo em que esteve na oposição, o PT sempre defendeu, com unhas e dentes, a instalação de CPIs, por quaisquer motivos, pois apostava sempre que os considerados feitos pelo parlamento ajudavam a destruir a imagem de seus oponentes e, quiçá, levariam esses governos para o beco sem saída do impeachment, ao mesmo tempo em que pavimentariam o caminho dessa legenda para o Planalto. Eis aí uma verdade, que a farta documenta em vídeos e falas comprovam e atestam. Nada como um dia atrás do outro, principalmente quando a pimenta passa a arder, não nos outros, mas na própria língua.

          Os chamados Atos de 8 de Janeiro últimos foram interpretados de forma diversa. Para uns, foi um ataque cheio de ódio e vingança e, para outros, não passou de uma cilada, cuidadosamente urdida para atrair e culpar o pessoal que há meses se concentrava em gigantescos acampamentos em frente ao QG do Exército em Brasília. No princípio, a CPI do dia 8 tinha o apoio do próprio presidente, que via nessas questões um modo de levar para a prisão o ex-presidente Bolsonaro e sua equipe. Alertado por seus estrategistas de que o tiro poderia sair pela culatra, o atual mandatário recuou, desautorizando seus comandados a seguiram a instalação dessa CPI. Como essa manobra não pareceu dar o resultado que esperava, pois a oposição era ainda mais numerosa, o chefe do Executivo teve que recorrer às estratégias que conhece de cor e pelas quais mostra uma expertise sem igual.

          Segundo notícias divulgadas, passou então a oferecer mundos e fundos para aqueles que assinaram o documento de instalação retirassem seus nomes. Em troca, receberiam cargos no governo, liberação de emendas e outros benefícios. O que surpreende é que essas movimentações, que em países onde a ética pública impera resultariam em prisão e outras punições, vêm sendo feitas à luz do dia, na frente das autoridades, num movimento claro de deboche pelas leis. Fazem o que fazem, porque sabem que nenhuma punição ou censura resultará dessa prática antirrepublicana e ilegal.

          O certo, se é possível falar em certo nesses tempos incertos erráticos, seria a adoção de medidas que impedissem os parlamentares de retirar as assinaturas nesse tipo de documento. O certo também seria o estabelecimento de uma legislação que impedisse que parlamentares ocupassem cargos no Executivo, enquanto durarem os mandatos. O eleito para uma função deveria cumprir o que foi acordado com os eleitores. Mas estamos falando de Brasil, terra dos inzoneiros.

 

 

A frase que foi pronunciada: 
“Progredir significa chegar mais perto do lugar que você quer estar. E se você tomou uma curva errada, então seguir em frente não o levará mais perto. Se você está no caminho errado, o progresso significa fazer uma meia-volta e caminhar de volta para o caminho certo; e, nesse caso, o homem que voltar mais rápido é o mais progressista”.

CS Lewis

CS Lewis. Foto: wikipedia.org

 

Esclarecimentos

Aprovado pela CAE (Comissões de Assuntos Econômicos), o convite ao presidente do Banco Central. Há dúvidas dos parlamentares em relação à taxa de juros e ao erro de US$ 14 bilhões no fluxo de câmbio.

Sede do Banco Central do Brasil, em Brasília (iStock)

 

Quem não gosta de SAMBA

Por falar em Banco Central, em meio aos termos técnicos, um alívio para os olhos do leigo. O artigo era sobre uma Revisão do Modelo Estrutural de Médio Porte e, em seguida, apresentava a palavra SAMBA, que significa Stochastic Analytical Model with Bayesian Approach, que nada mais é do que Modelo Analítico Estocástico com Abordagem Bayesiana.

 

Ovacionado

Presidindo a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, o senador Paim conta que perguntou ao assessor quantos parlamentares estavam ali. Eram dezenove. E quantas mulheres? Queria saber o senador. Dez, contou o assessor. “Nessa comissão as mulheres mandam, elas são maioria”, determinou o presidente da Comissão, Paulo Paim!

Senador Paulo Paim. Fonte: Senado.gov.br

 

Remédio

Já a Comissão de Assuntos Sociais tem dois médicos: Humberto Costa e Dr. Hiran.

Senadores Humberto Costa e Dr. Hiran. Fotos: senado.leg

 

Contraste

Notícias internacionais dão conta que o moderníssimo governo da Califórnia avisa que não admite farmácias que não vendam pílulas abortivas. A narrativa de que é preciso proteger as mulheres esconde as mulheres e homens abortados. Se o aborto fosse mesmo seguro para a mulher, a ativista María del Valle González Lopes, de 23 anos, e outras tantas mulheres, não teriam morrido após abortarem legalmente. Mas o que esperar de um país que pula o número 13 nos botões do elevador por achar que dá azar.

María del Valle González Lopes.                                                  Foto: twitter.com/mdanielorozco/status

História de Brasília

Na impossibilidade, sugeriríamos à Novacap ceder o Pavilhão da Spevea, no caminho do Hotel, ou uma sala da LBA, um pouco mais adiante. Se há alunos, rejeitar esse trabalho especializado é que é inconveniente. (Publicada em 17.03.1962)