Paz em 2024

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

 

         Muitos falam e chegam até a desejar, com a sinceridade relativa de hoje em dia, que o ano que se inicia será repleto de paz. Será o ano em que os brasileiros reencontrarão o caminho da convivência e da harmonia. O que a maioria dessas pessoas não percebem, ou fingem não perceber, é que a tão almejada e sonhada paz só se tornará realidade concreta quando for seguida e contemplada por uma justiça plena.

         Não aquela concedida sob medida e em doses miúdas pelos novíssimos intérpretes dos regimentos e das leis, todos eles munidos de um poder absurdo e que, ao final, enxovalha a própria Justiça. A Justiça, em sua essência, é o veículo da paz. Sem ela, tudo fica retido no mundo relativo dos desejos e da boa vontade, mas que não vai além de promessas esvaziadas. Para um país como o nosso, político, social e economicamente fracionado, não há como pensar em paz, quando se nota, logo de saída, a distância enorme que separa o Brasil real daquele vivido por sua classe dirigente. Não há Justiça nesse campo, pois o cidadão, neste país, hoje, vive e trabalha duro para custear, de forma obrigatória, uma realidade que não é a dele.

          Pode parecer estranho, mas no tempo da Operação Lava Jato, um período curto, mas de grande esperança geral, havia um sentido de paz, que parecia pairar sobre todos. Finalmente o país iria se ver livre de uma praga histórica que, por séculos, mantinha os brasileiros como refém do passado, atados a um subdesenvolvimentismo crônico.

         Esse sentimento de paz vinha embalado, justamente, no presente da Justiça. Naquele interim de nossa história, brasileiros de todas as origens puderam sentir na pele o que era a paz. Finalmente o país deixaria de pertencer a uns poucos e seria colocado sob a responsabilidade de todos. Aqueles sim foram anos de paz. Até mesmo o mundo do crime organizado, formado por indivíduos avessos aos colarinhos brancos, sentiu os ares de mudança e, com o baque sofrido, também recuou.

         A satisfação com que a população assistia, a cada dia, a fila imensa de políticos e empresários de alto coturno sendo conduzidos para a prisão, mostrava que a paz em nosso meio também era possível. Curioso notar ainda que cada um desses velhos corruptos que eram levados ao catre aumentava, na mesma intensidade, o sentimento comum de paz. Uma paz profunda, só conhecida pelas crianças.

          Obviamente que a paz não é exatamente isso, ou somente isso. Mas em nossa situação, levada até as últimas consequências da dignidade humana, essa era a nossa paz. A paz derradeira, de não mais precisar sonhar em deixar o país para trás e emigrar para outras terras. Tudo o que deveria ser nosso, desde sua origem, voltava a ser nosso dali em diante. Mas a paz, que era de fino cristal, fugiu de nossas mãos, indo se estilhar contra o chão.

          Desfeita, peça por peça, toda a Operação Lava Jato, aquela legião de anjos caídos banidos para as profundezas da Terra, voltaram com ainda mais sede de roubar a nossa paz, punindo agora quem quer que ouse enfrentá-los. É como se o Brasil tivesse desabado sobre os brasileiros, soterrando-nos sobre escombros. Desejar paz para os que estão agora sob essas ruínas é um sonho para 2024.

A frase que foi pronunciada:

“A força do direito deve superar o direito da força.”

Rui Barbosa

Foto: academia.org

 

Sofás e tapetes

Décadas atrás, o Banco da Lavoura abria várias frentes de empréstimos: empréstimo de formatura, empréstimo escolar e empréstimo nupcial. Isso quando o Poder Público usava os cofres da União para prover Segurança, Transporte, Saúde. Hoje, os empréstimos são para suprir a falta de segurança, o péssimo estado da Saúde Pública, o sucateamento dos transportes e os perigos oferecidos pelas escolas públicas, obrigando o cidadão a, além de pagar altíssimos impostos, arcar com despesas extras de saúde, educação e transporte, já que a Constituição não é cumprida.

Banco da Lavoura de Minas Gerais S.A. : Belo Horizonte (MG).          Foto: biblioteca.ibge.gov

 

Fato

Por falta de uma regulação mais precisa pelos órgãos de vigilância de saúde, o Brasil se tornou campeão mundial em exames de imagens e exames laboratoriais. Com isso, muitos pacientes são submetidos a uma bateria de procedimentos clínicos; muitos deles, absolutamente desnecessários e inócuos do ponto de vista do diagnóstico.

Foto: Exame/Site Exame

 

Consumidor

É bom que os consumidores saibam que pessoas físicas podem perfeitamente fracionar embalagens de mercados que forçam a compra total do produto. Outro dia, em um grande supermercado, um cliente separou uma cartela com 30 ovos que vinha em uma caixa com duas cartelas e provou, no caixa, que era seu direito levar apenas uma bandeja.

Foto: reprodução da internet

 

Cricri

Cinemas também não podem impor a pipoca vendida no local. Venda casada é vetada ao consumidor.

Foto: Adriano Vizoni/Folhapress

 

História de Brasília

Andes de uma semana após falar na Câmara dos Deputados contra o número de viaturas da polícia, o deputado Bezerra Leite precisou de uma rádio patrulha na sua cerâmica, tendo sido atendido prontamente, graças ao equipamento contra o qual êle falara no Congresso.

Feliz ano novo é…

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

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Posse do Lula, em 1º de janeiro de 2003. Foto: Senado Federal.

 

          Feliz ano novo, mas com os velhos ideais de justiça e solidariedade. Ano novo sim, mas com os velhos e fiéis amigos que restaram, que não abandonaram o barco, mesmo diante das tempestades anunciadas no horizonte. Ano novo para todos que possuem fígado sadio, pronto para aguentar as torpezas da água ardente e para aqueles que creem ainda que novas jornadas e descobertas são possíveis com o uso de velhas e malfadadas fórmulas. Novo ano sim, mas apenas para os inocentes, crianças e idosos, que sonham e imaginam sempre um paraíso distante. Feliz ano novo para aqueles que seguem os mandamentos sagrados e, nem por um instante, acreditam nos homens, mesmo que não os desprezem. Feliz ano 2023, quando a Terra, mais uma vez, completa seu movimento de translação, viajando à 107.000 Km por hora, em torno de sua estrela, indiferente ao destino da humanidade.

         Feliz ano novo com tudo de bom que o passado nos legou. Feliz ano ano novo com a velha e boa ética de sempre. Feliz ano novo com os velhos sonhos de juventude, dos jeans surrados, da cabeleira comprida e das apostas num mundo melhor. Feliz ano novo, com a esperança de que aqueles loucos anos de esperança e de simplicidade de vida venham a acontecer de verdade.

         Um novo tempo chega com o desejo antigo de casas abertas, de ruas limpas e sem a violência moderna que nos aprisiona em celas fortificadas, sem as velhas carrancas a assombrar a todos, sem a velha censura e sem o renascimento dos ministérios da verdade. Feliz ano novo com juízes mergulhados em velhos alfarrábios de leis, que sequer eram vistos pela população. Feliz ano novo, com a volta das fofocas inocentes e não com o assassinato de reputações feitas agora por meio das chamadas fakes news. Que 2023 chegue com os novos computadores super potentes, mas sem esquecer das cartas e dos bilhetinhos, mais íntimos e mais realisticamente humanos. Feliz ano novo, mas com as velhas paixões do passado. Feliz ano novo, mas com a antiga saúde e ânimo de juventude, as boas lições do passado. Feliz ano novo, mais sempre na esperança de que, um dia, esse velho e cansado país encontre seu lugar entre as nações desenvolvidas do planeta.

         Feliz ano novo, sem as velhas picuinhas e sem os novos mimimis. Feliz ano novo, mas com atenção renovada ao que sempre alertaram os mais vividos. Feliz ano novo, mas com o olhar focado no retrovisor do passado, para que a noção de direção não se perca.

         Feliz ano novo e ouvidos atentos e ligados em velhas promessas dos vendedores de ilusão. Feliz ano novo a todos, mesmos para aqueles que apontam caminhos velhos e rotas para o precipício. Quem sabe aprendam com erros do passado e tomem tenência e se aprumem. Feliz ano velho para todos os que acreditam que ideologias são como ficção. Existem apenas dois lados: o do bem e do mal. Essa é uma lição antiga que vale também para cada ano novo.

         Feliz ano novo para aqueles que não acreditam em nada, inclusive na existência de votos de um feliz ano novo. Feliz ano novo apesar de tudo. Feliz e novo ano!

 

A frase que foi pronunciada:

“Todo novo começo vem do fim de algum outro começo.”

Sêneca

Imagem: reprodução da internet

 

Curiosidade

Foi em 2006 que, na cidade de Tann, na Alemanha, uma cervejaria criou a Pabstbier, ou “cerveja do Papa”. No rótulo, está escrito: “Dedicada ao grande filho de nossa pátria, Bento XVI”.

Papa Emérito Bento XVI. Foto: vaticannews.va

 

Crime

Depois de vários comentários em uma postagem fake, onde usaram o nome do jornalista Alexandre Garcia como autor, é possível atestar como nesse mar da Internet navegam tantos piratas.

Foto: facebook.com/alexandregarciaoficial

 

Ad aeternum

Desde 2009, anuncia-se que o país terá mais de 15 mil telecentros. Por onde estão?

Guardião

Existe uma pessoa do PMDB que nunca escondeu a animação com o novo tempo de Simone Tebet. Seu fã é Pedro Simon, ex-senador, que acompanha passo a passo da futura ministra.

Simone Tebet. Foto: WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO

 

Piadas alheias

Bombam informações na Internet sobre porta dos fundos, saídas, merecimento, é do feitio. Por outro lado, fala-se em grades. Estar atrás de uma porta é sempre melhor.

Ilustração: reprodução da internet

 

História de Brasília

Os japoneses saíram, os mercadinhos não foram reformados, as mesmas portas que estavam caindo já caíram ou vão cair, e nenhuma providência foi tomada. Como resultado, a frequência aos mercadinhos diminuiu demais, e os que ficaram, estão ameaçados de grande redução no volume de vendas. (Publicada em 15.03.1962)