ARI CUNHA
Visto, lido e ouvido
Desde 1960
colunadoaricunha@gmail.com;
com Circe Cunha e Mamfil
No Brasil, de uma forma geral, a compra de um carro é feita para atender a necessidade de trabalho. É, nesse sentido, uma ferramenta, usada para transporte de pessoas ou carga e passa longe de ser um objeto de luxo, até pelo preço cobrado pelas unidades que são vendidas aqui, no mercado interno.
Também a precariedade acentuada dos transportes públicos, acaba servindo como incentivo a mais na compra de um automóvel particular. Ciente desses aspectos, a indústria automobilística fatura alto nas vendas, o que faz desse mercado um dos maiores do mundo.
Com isso, uma frota fabulosa de aproximadamente 45 milhões de carros de todo o tipo se somam a 13 milhões de motos que passam a entupir, todos os dias, nossas principais metrópoles, contribuindo para o caos urbano no trânsito e causando prejuízos de toda ordem.
Com uma frota desse tamanho circulando nas estradas em péssimas condições, não chega a ser surpresa que todos os anos sejam registados 47 mil mortes no trânsito, além de 400 mil pessoas que ficam com algum tipo de sequela por conta dos acidentes variados.
Para uma economia como a nossa, forçada a conviver com os parâmetros ditados por uma espécie de capitalismo selvagem em que o Estado se coloca como o sujeito de maior proeminência, o caos provocado pelo número enorme de automóveis e vítimas é, antes de tudo, fator de lucros.
O que resulta em prejuízos para os donos de automóveis envolvidos em sinistro, representa para as agências de seguros, impostas de forma compulsórias pela legislação de trânsito, um oceano de lucros fáceis e nebulosos, amealhados de cada cadáver ou mutilado nessa guerra desigual das estradas brasileiras.
Os Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) possuem, em cima do prêmio do seguro obrigatório, além de um monte de cadáveres e mutilados, montanhas de explicações para prestar à sociedade.
Os desvios do DPVAT são numerosos e antigos, e foram aqui mesmo, nesta coluna, por diversas vezes, motivo de editoriais. Os negócios pouco explicados envolvendo sinistros, dentro do nosso modelo particularíssimo de legislação de trânsito, vão desde o destino final do valor arrecadado até as centenas de fraudes e negócios mal explicados com a indenização das vítimas.
Desde sua criação em 1974, os negócios envolvendo a Seguradora Líder e seu consórcio de 77 seguradoras, que orbitam essa empresa, vem sendo alvo da justiça e mais recentemente do Ministério Público. O poderoso lobby desse consórcio tem impedido, até aqui, que projetos como o do senador José Medeiros (PPS-MT), que restabelece a livre iniciativa, dando ao proprietário de veículos o direito de livre escolha da seguradora que irá cobrir possíveis danos pessoais, prossigam em tramitação.
São mais de R$ 7 bilhões arrecadados todos os anos que se perdem no sinuoso caminho da burocracia marota. Colocada sob as leis do mercado, onde impera a lei da oferta e da procura, o valor desse tipo de seguro será reduzido drasticamente. A Seguradora Líder recebe 2% da arrecadação com o DPVAT de cerca de 60 milhões de veículos automotores todos os anos.
Curiosamente, quando a Polícia Federal chega perto desse negócio da China, o valor do seguro cai, como foi o caso da Operação Tempo de Despertar, realizado pela PF. Naquela ocasião, janeiro de 2017, houve uma redução dos prêmios do DPVAT em 37%, gerando uma economia naquele instante de R$ 3 bilhões para os consumidores.
Auditoria feita agora pelo Tribunal de Contas da União (TCU) identificou a necessidade de se investigar um esquema de fraudes de mais de R$ 5 bilhões só com seguro obrigatório DPVAT, administrado pela Seguradora Líder, ao longo dos últimos dez anos. A investigação mira também a atuação da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que teria viabilizado as fraudes ao longo de todo esse tempo.
Caso chegue à um bom termo, essas investigações poderão abrir caminho para a liberdade de milhões de condutores, explorados por mais de quatro décadas por um sistema, que muitos acreditam operar como uma quadrilha institucionalizada no seio do Estado.
A frase que foi pronunciada:
“Quem é cego? Aquele que é incapaz de enxergar outro mundo./Quem é mudo? Aquele que é incapaz de dizer palavras amáveis no momento certo/Quem é pobre?/Aquele que é atormentado por ambição desmedida./Quem é rico? Aquele cujo o coração está em paz!”
Provérbio indiano
Conserto
Por falar em revitalização, não localizamos nos arquivos da administração da 308 Sul quem foram os responsáveis pela construção dos dois escorregadores de pedra do Parquinho da quadra. São diferentes e eram uma diversão sem igual para a meninada. Hoje, estão caindo aos pedaços, sem manutenção alguma, afastando de lá qualquer responsável que queira ver os filhos brincando em segurança. Veja o estado dos escorregadores hoje em dia. As fotos são de Cláudio C. Oliveira.
Concerto
Hoje é o grande dia. Promovido pela Embaixada da Índia, em parceria com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, a Bharat Symphony, ou A Sinfonia da Índia, será apresentada no Cine Brasília, às 20h, sob a regência do maestro Claudio Cohen e as presenças do Dr. Lakshminarayana Subramaniam, Kavita Krishnamurty, Bindu e Ambi Subramaniam. A entrada é franca.
Arte
Livro Scratch Ink, da Catapulta Editores, usa nova técnica de colorir para estimular criatividade e relaxamento. Por trás de um preto total há cores. Quem dá a forma é o leitor. Veja no blog do Ari Cunha o desenho feito por Mamfil, nosso colaborador desta coluna.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Hoje é sexta-feira, treze. Não leia seu horóscopo. Foi publicado o Decreto nº 51.336 que dispõe sôbre níveis de salário-mínimo. (Publicado em 13.10.1961)