Allahu Akbar

Publicado em ÍNTEGRA

Desde 1960 aricunha@dabr.com.br com Circe Cunha // circecunha.df@dabr.com.br e MAMFIL

Em nome de Deus, os homens vêm se matando ao longo dos séculos. A procuração que dá licença para esse morticínio sem fim estaria na interpretação enviesada da letra de algumas escrituras consideradas sagradas. A cegueira humana aboliu a ordem de Alah. O grito de guerra moderno que tem precedido muitos desses atos de selvageria santa tem sido Allahu Akbar, ou Allah é maior, Deus é grande. Aos mártires de todo insano derramamento de sangue inocente, estaria reservado um paraíso sem igual, com 77 virgens dispostas a realizar todos os desejos.

Na Idade Média, por quase 10 séculos, as cruzadas cristãs e outras expedições santas e punitivas percorreram o mundo árabe, saqueando e matando, populações inteiras, em nome de Deus. Em ambos os casos, Deus foi invocado como um elmo, para dar alguma justificativa moral à bestialidade. Nesses episódios, Deus entra como cúmplice e coadjuvante no crime, isentando seus atores, de culpa e remorsos futuros, emprestando, assim, certo glamour a barbaridade, livrando-os também de uma punição celeste.

Questões complexas como essas e que extrapolam o nível da razão sugerem, para se tornarem inteligíveis, explicações singelas. Numa charge, dessas que circulam pelo mundo virtual, vários homens estão em escaramuças generalizadas. Uns aparecem vestidos com coletes de bombas e armas de grosso calibre em punho. Outros, estão com facas e porretes se atacando.

Na violência generalizada em que todos estão contra todos surge, por entre as grossas e cinzentas nuvens no céu, a mão de Deus. Com o dedo médio em riste, Ele simplesmente faz o sinal de cotoco para a multidão enfurecida. Em outra charge, desta vez publicada pelo jornal satírico Charlie Hebdo, alvo covarde dos terroristas em janeiro de 2015, Deus aparece correndo com uma metralhadora presa às costas.

De fato, não há como procurar no além, nas fronteiras do religioso e do sagrado, as razões para selvageria dos atentados que vêm ocorrendo no Ocidente desde 2001. Primeiro, porque não existe explicação racional possível para atos de bestialidade. O Deus sanguinário e vingativo é uma criação genuína da psicopatia mental humana. Por trás desse Deus dos exércitos, se escondem causas e antecedentes visíveis e palpáveis. Na história contemporânea, o estopim desses atentados foi aceso tanto pela incursão desastrosa das tropas americanas no Iraque, como pela presença do exército russo em território afegão.

A partir desses episódios e outros correlatos, houve um crescimento exponencial de grupos insurgentes locais, reacendendo questões que misturam noções distorcidas de fé religiosas a outras de estratégias de guerrilha, dentro do que se passou a designar genericamente de guerra santa, identificando os Ocidentais como infiéis e, portanto alvo da fúria santa dos grupos armados muçulmanos. Os infiéis estão ao alcance dos olhos.

Como pano de fundo, aparece a questão material representada pela cobiça ao ouro negro, representada pelo petróleo. Em toda a escritura, Deus só se arrependeu de uma parte de sua criação. Está em Gênesis 6: 5 e 6: “E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração”. Começou tudo outra vez. E deve estar arrependido novamente.
A frase que foi pronunciada

“Quem não compreende um olhar tampouco há de compreender uma longa explicação.”

Provérbio árabe

História de Brasília
Está paralisada a obra do pombal dos Três Poderes. Durante o dia de ontem, ninguém trabalhou, e o guindaste que levantava os moldes de madeira foi retirado. Por favor não façam como a Catedral, porque já há, também, a torre de TV, o edifício do Tribunal de Contas, a superquadra do Iapfesp, e a dos Marítimos também, todas paralisadas. (Publicado em 19/08/1961)

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