DESDE 1960 »
jornalista_aricunha@outlook.com
com Circe Cunha e MAMFIL
Por mais meritório que sejam os esforços do governo Temer no sentido de implementar as reformas de que o país necessita com urgência para sanear as contas públicas, arrombadas pela irresponsabilidade criminosa dos governos petistas, ainda estamos bem longe do verdadeiro Estado democrático de direito, principalmente quando o assunto é justiça social. Portanto, falar em reforma trabalhista e da Previdência faz todo o sentido. O que não se compreende é por que começar esses ajustes justamente pela classe trabalhadora e pelos servidores públicos que recebem os menores salários e são os mais afetados pela desordem financeira que impera na máquina do Estado.
Em tempos de crise profunda, como experimentamos agora, o mais sensato seria distribuir os esforços para debelar a crise econômica, cobrando mais de quem mais tem. Um primeiro passo, obviamente, seria reduzir as disparidades de salários dentro do próprio funcionalismo, que ganha contornos indecentes e nos remete aos tempos pré-Revolução Francesa, quando os privilégios eram justificados por uma imposição divina e, portanto, indiscutível.
O próprio tratamento formal exigido para certas autoridades públicas, dado ainda do período colonial, obriga a população a se dirigir a esses servidores com títulos quase nobiliárquicos do tipo Vossa Excelência, já denota e reforça o distanciamento social entre o povo e essa casta de intocáveis. O que não se pode mais tolerar é que sejam os trabalhadores e a população de baixa renda, que historicamente sempre bancaram o Estado perdulário, os únicos a serem submetidos ao arrocho em seus rendimentos e à mudança brusca em seu itinerário trabalhista.
Antes de se iniciar qualquer reforma séria, é preciso começar pelo fim. Fim dos privilégios. Fim das mordomias, Fim dos gastos supérfluos e, principalmente, fim da impunidade para todos que fazem do Estado republicano um instrumento para a obtenção de riqueza pessoal. Que autoridade pode ter um Legislativo e um Judiciário para impor a sociedade medidas de redução de salários e aumento no tempo de serviço, quando se identifica nesses Poderes os mais altos salários e as aposentadorias especiais e precoces mais escandalosas?
O que se está fazendo, mais uma vez, é a velha manobra dos áulicos de costurar remendo novo sobre tecido velho e podre. Agora chega ao conhecimento do público que o Tribunal de Justiça do Rio do Janeiro, um estado da federação declaradamente falido, abriu licitação para a contratação de serviços de copeiras, garçons e insumos de culinária fina, no valor de R$ 13,6 milhões para servir suas Excelências s em ocasiões festivas e outras solenidades. Para se ter uma ideia, o governo fluminense retirou, em 2015, de cada cidadão do estado R$ 76,88 para sustentar a Assembleia (Alerj) e o Tribunal de Contas (TCE). Somente o Tribunal de Justiça do Rio custou a cada carioca cerca de R$ 239,44.
Em Brasília, a situação não é diferente. A Câmara Distrital tem um orçamento maior do que 97% dos municípios brasileiros. Para 2017, serão R$ 555,6 milhões, 7% a mais do no orçamento de 2016. Essa quantia é maior que todo o gasto previsto nas áreas de cultura, ciência, tecnologia, desporto e lazer somados. O valor supera o que é gasto inclusive em assistência social (R$ 485,8 milhões). É preciso lembrar que a maior parte desses gastos é feita com os 1.500 servidores.
A frase que não foi pronunciada
“Governar e educar sem dar exemplo significa mentir. A mentira é a raiz de todos os males.”
Ulysses Guimarães, pensando na Constituição que segurou com orgulho.
Perda
» Violeta Basílio Jafet (1908 – 2016) faleceu na segunda-feira com 108 anos. Era filha da fundadora da Sociedade Beneficente de Senhoras do Hospital Sírio-Libanês, Adma Jafet. Violeta teve atuação essencial para que o Hospital Sírio- Libanês se transformasse em uma das referências na área da saúde, como forma de retribuir à sociedade brasileira o acolhimento dado aos imigrantes sírios e libaneses que haviam chegado ao país.
Perigo
» No mês passado, foi assassinada na floresta do norte do Peru Rosa Andrade, 67 anos, a última mulher falante de resígaro, uma das 43 línguas indígenas da Amazônia. Interessante matéria divulgada no El País indica que, a cada 14 dias, morre um idioma. Cultivar o passado, a história, é a melhor forma de evitar erros.
História de Brasília
O sr. Adauto Lúcio Cardoso, em quem tanto confiávamos, desistiu da representação apresentada contra o então presidente da República e os três ministros militares. Para recuar depois, deputado, é melhor pensar antes e não fazer. (Publicado em 20/9/1961)