Panelinhas de pressão

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha com MAMFIL

No jargão popular, panelinha significa grupelho fechado de pessoas que se juntam para atingir determinados objetivos e alijar aqueles que não comungam de suas ideias e intenções. Normalmente, as panelinhas se concentram e se formam em torno de alguém que possui algum grau de mando ou ocupa qualquer cargo de relevo, quer na máquina pública, quer na iniciativa privada. No mundo político as panelinhas se formam em torno daquelas lideranças mais poderosas e normalmente compõem o que chamam de base de apoio. No serviço público é denominada panelinha o ajuntamento de funcionários menos graduados em torno do chefe do setor, formando uma espécie de clube fechado, onde só é permitido entrar quem comunga das mesmas ideias e tem as mesmas intenções.

Onde quer que existam as panelinhas – e existem muitas – o objetivo é sempre o mesmo e nunca é feito dentro dos princípios da ética. No popular é chamado de roda de puxa-sacos, composta sempre de pessoas que se utilizam da proximidade de alguém influente, a quem rendem falsos salamaleques, para obter vantagens, mesmo às custas de prejudicar outras pessoas. Normalmente, as panelinhas são compostas de pessoas que, no íntimo, não acreditam na própria capacidade e talento, necessitando, para seu sucesso, de outra pessoa que é usada como simples degrau para sua escalada. Infelizmente, as panelinhas estão presentes em toda e qualquer atividade humana onde haja competição.

No mundo das artes, onde a maioria das pessoas acredita existir a paz de anjos banhados pela luz da inspiração, as panelinhas se formam com mais energia. Grupos fechados em reuniões, exposições, mostras e muita coincidência nos concursos para escolha de pinturas e esculturas com os nomes de sempre. Não é por outra razão que vemos a repetição de nomes, em todas as atividades de grande monta que são organizadas e apresentada à sociedade.

É como se existissem apenas determinados artistas, num universo que na realidade é muito mais amplo do que parece. Não por outra razão que, por toda a cidade, repetem-se, de forma monótona, obras com as mesmas assinaturas como se não houvessem muitíssimos outros talentos do mesmo calibre ou superiores. Foi uma lei do ex-senador Gim Argello que obrigou todo prédio público a dar uma oportunidade para os artistas plásticos da cidade. Mas passeando pela capital, nota-se que trata-se de uma arte padrão, contrariando a iniciativa da lei e a própria origem da arte. Criatividade, novos pensamentos, originalidade e, acima de tudo, solidariedade.

A formação de panelinhas oficiais, ao prejudicar os talentos preteridos, afasta do grande público todos aqueles que, por razões de foro íntimo, se recusam a participar de clubinhos fechados e preferem manter-se à margem dessa prática. Perde Brasília, perdem os que gostariam de viver da arte.

A frase que foi pronunciada

“A arte diz o indizível, exprime o inexprimível, traduz o intraduzível.”

Leonardo da Vinci

Retardatários

» Correria na Câmara dos Deputados para a votação da Lei de Responsabilidade Educacional. Uma lei com esse teor é uma das exigências do Plano Nacional de Educação (PNE – Lei 13.005/14). Dois anos depois de aprovada, interesses diversos não permitem que a lei seja votada.

Nova pauta — dignidade

» Antes de se preocupar com fim dos corredores para motos e legalização do Uber, os parlamentares deveriam se reunir na comissão especial da Câmara dos Deputados, que discute o novo Código de Trânsito, para proibir em todo o país que trabalhadores exerçam a profissão pendurados atrás de um caminhão, com o rosto voltado para o lixo e tendo como única segurança as mãos, nem sempre com luvas, agarradas a uma barra de ferro enquanto lutam contra o sono e contra o enjoo.

Ponteiros

» Essa história de Brasília publicada na coluna do Ari é a prova maior de que o tempo passa e os problemas não mudam. Olhem a situação de hoje e a historinha publicada há 55 anos. Comentário do amigo Felipe de Mattos.

História de Brasília

Plano de Obras. Já está pronto. Falta dinheiro para executar. Era de 17 bilhões. O sr. Jânio Quadros reduziu para 13 bilhões. Veio, depois, nova ordem para 9 bilhões. Agora, querem reduzir para sete. Com sete bilhões, mal se pagarão as dívidas da Novacap, que são de 5 bilhões. (Publicado em 17/9/1961)

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