Pacto de sangue

Publicado em ÍNTEGRA

Desde 1960

colunadoaricunha@gmail.com

com Circe Cunha  e Mamfil

 Normalmente, quando se ouve falar em pacto de sangue, a primeira imagem que vem à mente é a de um acordo firmado por membros de gangues criminosas, em que as promessas de fidelidade e de silêncio sobre as atividades do grupo e de cada um são certificadas com o sangue de todos. Esse ritual era, habitualmente, empregado nos pactos feitos entre antigos mafiosos, sendo que a quebra de contrato era paga com a própria vida.

No depoimento que prestou, há pouco, ao juiz Sérgio Moro, o ex-ministro Antonio Palocci, homem de confiança do ex-presidente Lula e, sintomaticamente, alcunhado pelos delatores da Odebrecht de “italiano”, declarou que, entre Emílio Odebrecht e Lula, foi firmado o tal pacto de sangue, o que assegurou ao ex-presidente algumas centenas de milhões de reais e outras prebendas, em troca da manutenção do esquema criminoso ao longo do governo Dilma.

Para um empresário desse porte e que sempre se beneficiou de facilidades de vários governos e para um ex-presidente, apontado pelo Ministério Público como o chefe da maior organização criminosa de todos os tempos, um pacto de sangue seria considerado até como um desdobramento natural que uniria a fome com a vontade de comer. Emílio encontrou em Lula alguém capaz de escancarar, sem remorsos, as portas dos cofres públicos, via BNDES. Em troca, tornou-se para ele uma espécie de gênio da lâmpada mágica, capaz de realizar todos os desejos materiais do ex-presidente.

É preciso notar que essa não é uma confissão qualquer, sussurrada por algum assessor arrependido do ex-presidente. Quem delata, com consciência, a meganegociata é ninguém menos do que o ex-ministro da Fazenda de Lula que, por sua importância e onipresença em vários episódios mal- explicados da era petista, pode ser considerado também um ser onisciente, guardião dos mais recônditos segredos financeiros dessa trupe, espécie de contador dessa turma de aldrabões.

O queixo amolecido de Palocci, por meses de cadeia e diante da perspectiva de vir a ficar por mais alguns anos no catre, facilitou o trabalho da polícia, economizando tempo e dinheiro. Palocci está para Lula, assim como outro italiano (Mantega) está para Dilma. É só uma questão de tempo. Na possibilidade real de os procuradores virem a reunir, também no mesmo embrulho, o ex-ministro Guido Mantega, passarão a ter em mãos dois dos mais destacados operadores das finanças nebulosas da era petista.

É preciso notar ainda que a sequência de depoimentos que acabaram por implicar seriamente os mais altos escalões petistas decorreu, na sua maioria, de um fato prosaico e que é comumente visto também no mundo ficcional: o abandono e o desprezo intencional demonstrado pelos comandantes dos esquemas a todos aqueles que caíram em desgraça e acabaram detidos. Deixado à própria sorte, no calabouço, e sentindo na pele a ingratidão dos antigos chefes, Palocci resolveu dividir suas agruras com eles. Afinal, Dilma e Lula representam hoje, na cabeça de Palocci, os responsáveis diretos por sua situação. Nada mais humano e natural. A ingratidão é um tigre, ensina o filósofo de Mondubim.

 

A frase que não foi pronunciada

“As notas de dinheiro são reais, os ternos caros e joias são reais, a vida no sítio e no tríplex é real, mas como tudo foi conseguido é ficção. Somos todos idiotas?”

 

Início

Venezuela reage e Tarek William Saab, procurador-geral, prende executivos da estatal do petróleo PcVSA.s.

 

Agilidade

Ministra do STJ comemora os 25.335 processos julgados. “Todo o afinco da atual gestão, ao longo deste ano, teve como horizonte melhorar a entrega da prestação jurisdicional. Miramos a redução do estoque de processos do tribunal e a participação ativa no debate sobre as demandas mais urgentes da sociedade, como a corrupção na administração pública e a superlotação carcerária. Creio que os avanços são fruto da gestão integrada e compartilhada, adotada pela presidência e vice-presidência, com todos os ministros desta Corte, além da colaboração dos servidores da Casa”, comemora a presidente Laurita Vaz.

 

Imperdível

Amanhã (dia 11), o Duo Alvenaria lançará, no Clube do Choro, o CD de estreia Assentando o Reboco. Será um passeio atual nas tradições da música nordestina, ao som de pífano e pandeiro. Ely Janoville e Mariano, estudantes de música e artes da UnB, fazem a dupla. Eles compõem o disco com convidados que sublimam o trabalho. Os ingressos estão à venda no Clube do Choro ou no site, ao preço de R$ 20. O CD será vendido à parte, também ao custo de R$ 20.

 

Falando verdades

Até que enfim o governador Rollemberg resolveu falar às claras com a população. Desta vez, foram os sindicatos que o tiraram do sério. Mentem sobre a reforma da previdência. Além disso, deputados distritais fazem a média sobre o assunto quase que apenas para peitar o governador. A população está cansada de ser enganada. Um governador que fale a verdade é um jeito diferente de administrar a cidade e que ganharia a simpatia dos eleitores.

 

História de Brasília

Resta, agora, ao governo, cumprir com a sua parte, nomeando um prefeito que não precise de três meses para se enfronhar nos problemas da cidade. (Publicada em 5/10/1961)

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