ARI CUNHA
Visto, lido e ouvido
Desde 1960
colunadoaricunha@gmail.com;
com Circe Cunha e Mamfil
Respeito pelos adversários é, talvez, uma das mais antigas e sábias lições, legadas por muitas civilizações do passado. Neste sentido, mais sensato do que festejar a desgraça alheia, é tirar dela lições práticas, para que amanhã, esses mesmos infortúnios não se voltem contra você também. Das inúmeras lições que podem ser aprendidas com a condenação em 2ª instância, do ex-presidente Lula, muitas poderiam, facilmente, compor um longo e precioso manual de comportamento e ação quando os bons ventos da sorte ainda sopram sobre sua cabeça.
Para os políticos, de modo geral, principalmente para aqueles que ainda seguem a velha cartilha, fica a lição de que o Brasil está mudando rápido. Se nenhuma reviravolta vier pela frente, como no caso do Supremo Tribunal Federal vir a rever a questão da prisão já em 2ª instância, é bem provável que o país caminhe no sentido de fazer valer o que diz o Artigo 5º da Constituição: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza…”.
Num futuro próximo, historiadores poderão chegar à conclusão de que a Operação Lava Jato e congêneres, antecedida pela criação, fortalecimento e independência do Ministério Público, representou a maior revolução já ocorrida no Brasil ao longo de toda a sua história.
Nenhum outro acontecimento do nosso passado se supera em extensão e consequências àquelas propiciadas pelas investigações e condenações da elite política, acostumada desde sempre, a se servir do povo e do voto para cometer crimes.
Fica a lição: o Judiciário, ou parte significativa dele, está fazendo a revolução necessária que baionetas e outras revoltas populares não conseguiram. Obviamente que as gigantescas manifestações de rua, deram o sinal verde para começar a mudança clamada por séculos.
Que aprendam os dirigentes partidários que ninguém é insubstituível nem deve se comportar como dono de uma sigla. Grave-se que problemas de ordem pessoal devem ser resolvidos pessoalmente, não devendo arrastar toda a legenda e correligionários para os tribunais.
Regras para os próximos políticos que virão: estratégias de dividir a nação para governar, funciona enquanto a população consente. De uma hora para outra os ventos mudam de direção e a cizânia se volta contra quem insuflou.
Anotem: Em qualquer situação, as instituições devem ser respeitadas, sobretudo a Justiça. Fica a lição de que cargo público não é lugar para enriquecer, fazer favores nem comprar opiniões. Quem quer enriquecer deve se tornar empreendedor e ficar longe das coisas do Estado. Para quem não teve pais presentes que se preocupassem com a educação e caráter dos filhos segue uma regrinha básica. A coisa pública, desde uma simples folha de papel ou um toco de lápis não pertence a quem, momentaneamente, está ocupando um determinado cargo. Gravem o tema: bom governo é aquele formado por homens bons e não por amigos, cupinchas e patotas.
Para um futuro próximo, Presidentes da República, por sua importância e concentração de poderes em nosso atual modelo de Estado, deveriam ser escolhidos apenas entre aqueles postulantes que, anteriormente, ocuparam cargos de prefeito e governador, com experiência no Executivo e sobretudo com a aprovação positiva da população em ambas funções e sem ficha criminal. É o mínimo.
Provou-se que ideologias funcionam apenas dentro do âmbito dos partidos, não devendo ser transplantadas para dentro do governo e muito menos para dentro do Estado.
Ficam, entre outras incontáveis lições, que a quantidade de partidos deve ser repensada urgentemente para por um fim ao modelo perverso e corrupto da república de coalizão.
Conclusão: só existe um salvador da pátria que é o próprio povo, consciente de seus direitos e deveres.
A frase que foi pronunciada:
“O governante que se rodeia de assessores competentes é mais competente do que eles.”
Millôr Fernandes
Sorte
Nem tudo está perdido para Lula. Em setembro, quando assumir a presidência do STF, Dias Toffoli poderá ser de grande valia para os petistas encurralados pela Justiça. Toffoli cuja a origem e nomeação ao STF estão umbilicalmente ligadas à esse partido, não tem escondido em outras ocasiões seu pendor em defender e votar a favor de seus antigos companheiros, mesmo naquelas situações em que o bom senso recomendava se abster por razões éticas.
Dança das cadeiras
Com a mudança no comando do STF, mesmo votações que já estavam na reta final para serem concluídas, como é o caso do foro privilegiado, sob o novo comando de Toffoli pode ir dormitar tranquilamente no fundo da gaveta.
2ª Instância
Observadores próximos ao STF apostam ainda que sob a presidência de Dias Toffoli, a prisão em 2ª Instância, que tinha sido considerada um avanço contra a impunidade eterna, poderá também ser deixada de lado, voltando o entendimento anterior, ou seja, para as Calêndulas.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
O ministério não está dando ao parlamentarismo, o valor que o regime merece. Voltados para a praia, os ministros deixam muitos assuntos sem solução, em Brasília, para se dedicarem a conversas políticas na Guanabara. (Publicado em 13.10.1961)