Desde 1960
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com Circe Cunha e Mamfil
Somente analisado pelo viés da miséria ética é que se pode entender o atual momento da política brasileira. A começar pelos nomes que aí estão em plena campanha para 2018, afrontando a legislação eleitoral, sempre complacente com os poderosos. A consequência mais ruinosa e nefasta dessa decadência política e moral que atinge nossas principais lideranças é a que faz do Brasil um dos países mais violentos e desiguais do mundo.
A violência é a filha dileta da corrupção e do afrouxamento de costumes, sobretudo porque prospera seguindo os maus exemplos que vêm de cima. Nenhum país minimamente democrático conseguiu reduzir os indicadores de criminalidade sem combater as principais fontes de corrupção. Nosso caso não será diferente. Somente após um saneamento profundo de nosso modelo político, encontraremos um caminho que nos tire do beco sem saída da violência.
Especialistas no assunto são unânimes em reconhecer que o Rio de Janeiro vive autêntica guerra civil, com todas as características desse tipo de conflagração, quer pela centena de mortes de policiais, quer pela sequência de morte de inocentes, quer mesmo pela utilização de armamentos pesados de guerra.
Essa situação ganha contornos mais preocupantes com a constatação de que a corrupção e o conluio com bandidos se estende desde a classe política local até os quadros da própria polícia, como alertou, há dias, ninguém menos do que o ministro da Justiça. O que vem de cima atinge a todos. Mesmo, em termos de comparação, o que as investigações têm revelado sobre a atuação do ex-governador Sérgio Cabral, conhecido já no submundo do crime como “o cabra”, faz dos bandidos locais uma espécie de coroinhas.
Portanto causa espanto que, no que vem se chamando pacote de combate à violência, inscrito dentro do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Segurança Pública (FNDSP), haja ainda espaço para a colocação de autêntico jabuti sob a forma de proposta que legaliza os jogos de azar. Entendem algumas autoridades, entre elas o atual governo do Rio de Janeiro, eleito no vácuo de Sérgio Cabral, que o retorno de cassinos e outras modalidades de jogos podem ser usadas para financiar a segurança pública.
Obviamente, trata-se de engodo monumental e contrário aos princípios metodológicos de combate ao crime. Essa manobra torna-se ainda mais despojada da realidade quando se verifica que, dos recursos existentes no próprio Fundo Nacional de Segurança Pública, menos de 20% foram efetivamente aplicados para esse fim em 2017.
O que se sabe exatamente e de antemão é que a exploração dos jogos de azar é uma das modalidades preferidas pela bandidagem para lavar recursos escusos, bem debaixo do nariz das autoridades. Cassinos lavam mais branco. O que os defensores desse projeto almejam, até sem saber ao certo, é apagar fogo com gasolina em vez de caminhar no sentido de fortalecer os serviços de inteligência da polícia e de inserir os serviços do Estado nessas comunidades conflagradas, conforme há muito recomendam os especialistas. Nesta altura dos acontecimentos, falar em liberar jogos de azar é colocar a séria questão da segurança pública do Rio de Janeiro na roleta russa de um cano de revólver.
A frase que foi pronunciada
“Homens fracos acreditam na sorte. Homens fortes acreditam em causa e efeito.”
Ralph Waldo Emerson, escritor, filósofo e poeta estadunidense
Novidade
» Governo de Alagoas aplicou uma iniciativa que pode ser estudada pelo GDF. Catadores de lixo ganharam bicicletas conhecidas como ciclolix.
Curto
» Continua repercutindo a fala do delegado Jorge Pontes, que coordenou a Interpol no Brasil, quando disse que “assessorar alguns políticos é mais comprometedor do que se associar à boca de fumo”.
Pergunta
» Reclamação registrada do Observatório Social de Brasília, que está aguardando por mais de 120 dias a resposta da Câmara Legislativa do DF, trata dos gastos com publicidade. Os dados deveriam estar disponíveis a todos os internautas. Como uma câmara que faz as leis pode não obedecer à lei?
Errata
» Pedimos desculpas aos leitores que observaram um erro na coluna Visto, lido e ouvido de domingo, no jornal impresso, logo no primeiro parágrafo. Uma marca estranha ao texto enviado apareceu no meio das palavras atrapalhando o entendimento do leitor. Um texto é como a vida. Às vezes ruídos aparecem. Somos o que fazemos deles.
História de Brasília
Construir Brasília foi uma audácia; concluir Brasília é um dever. (Publicado em 7.10.1961)