Depoimento (im)pessoal

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha // circecunha.df@dabr.com.br e MAMFIL

 

Cartas, por suas características de documento escrito, representam material, por excelência, para historiadores e demais estudiosos da sociedade e de uma época. No caso da história do Brasil, são inúmeras as missivas escritas de próprio punho por personagens que revelam não só momentos marcantes dos bastidores políticos, mas, sobretudo o ponto de vista pessoal do autor sobre os acontecimentos vividos.

Exemplo mais próximo pode ser conferido na carta dramática em que o ex-presidente Getúlio Vargas descreve a crise no interior do poder e que culminaria em seu ato derradeiro.

 

Nesse sentido, a carta enviada agora pela presidente afastada, Dilma Rousseff, aos senadores que julgarão em definitivo o seu processo de impeachment vem se juntar à já farta documentação de uma década em que o Brasil experimentou na carne e na alma, pela primeira vez, o que se acredita ter sido um governo orientado pela cartilha da esquerda.

Infelizmente, a carta não é manuscrita, o que possibilitaria até um exame grafológico que trouxesse à luz traços da personalidade dessa personage. Logo no preâmbulo, e pelo que foi dado aos brasileiros conhecer sobre as limitações intelectuais de Dilma, o que ela chama de depoimento pessoal e pelos termos colocados não vai além de um texto técnico, alinhavado e confeccionado por alguém íntimo e versado nas ciências labirínticas do direito.

Os 54 milhões de votos que essa senhora agita como bandeira salvadora — considerando os custos astronômicos das campanhas políticas inflacionados pelos providenciais marqueteiros — a Operação Lava Jato vem mostrando que foram obtidos de forma criminosa e devidamente lavados na Justiça Eleitoral.

Ao classificar seu processo de “inominável injustiça” e de ser vítima de “uma farsa política”, o que Dilma deixa antever é seu desprezo pelas instituições republicanas, incluídos aí o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.

Dizer que sempre acreditou na democracia esconde uma falácia, pois apoiou, desde logo, governos autoritários que infelicitam a vida de seus cidadãos. Por isso, afirmar que sempre lutou “contra todas as formas de opressão” soa quase como escárnio para quem sempre esteve de braços abertos para receber toda espécie de ditadores que por aqui transitavam.

A distorção da história, traço onipresente na narrativa da maioria das esquerdas, segue neste documento de forma corrente. Ao afirmar “jamais traí meus companheiros em horas difíceis”, Dilma busca enviar uma mensagem para aqueles aliados que de alguma forma estão às voltas com a polícia e na eminência de aderir à colaboração premiada.

Afirmar ainda que vai relegar para “historiadores futuros e honestos o dever de resgatar a verdade dos fatos”, o que a presidente afastada quer dizer é que a versão de sua saga será contada pela equipe intitulada Historiadores pela Democracia, grupo de pretensos intelectuais que em visita recente ao Palácio da Alvorada buscam dar uma versão muito particular aos acontecimentos recentes.

 

A frase que foi pronunciada

Política fiscal: “Se você é um pouco mais leniente com o governo, você diz que foram pecados veniais. Se você acha que o governo é muito ruim, você diz que foram pecados capitais”

Delfim Netto

 

Memórias e poemas

Doralice Lariucci tem sua obra em tecelagem e pintura exposta hoje no Sesc DF — SCS Qd. 02, Bloco C.

 

Degradante

Por falar em Setor Comercial Sul, passear por ali causa uma apreensão em relação ao futuro. Lojas lacradas, prédios vazios, fachadas abandonadas. Pessoas dormindo no chão, sujeira por todo lado.

 

Interestadual

Na empresa São Geraldo é assim. Um idoso vem de graça do Ceará por direito líquido e certo. Na volta, o guichê da empresa na capital federal cobra a metade do valor da passagem.

 

História de Brasília

Um pequeno balanço da crise: dezenas de estivadores do Recife ainda se encontram presos em Fernando de Noronha, levados para lá por forças do Exército. Esta, pelo menos, é a declaração de doqueiros, que se negaram a voltar ao trabalho, sob a alegação de que o Exército ainda não libertou seus líderes exilados. (Publicado em 09/09/1961)

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