Desde 1960
com Circe Cunha e MAMFIL
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Pelos valores astronômicos desviados nos inúmeros casos de corrupção revelados pela polícia, apenas na última década e meia, é possível que a população brasileira nunca venha a conhecer o montante exato do dinheiro público que acabou escorrendo para os bolsos de políticos e empresários.
Por seu lado, ficam evidenciados aos olhos de todos os estragos provocados por anos e anos de malversação dos recursos extraídos da população, via impostos, na forma de cidades inteiras arrasadas e à beira do caos. Na capital, é visível a deterioração material da cidade, com ruas e avenidas abandonadas à própria sorte, como bem exemplificam as avenidas W3 Sul e Norte. Sujas, sem iluminação, sem calçadas adequadas, sem policiamento e com centenas de estabelecimentos fechados em função da crise, essas importantes artérias comerciais da cidade vivem dias de abandono e de incerteza.
Os estragos provocados pela incúria de seguidos governantes e pela ação de uma súcia de políticos ladinos emergem à medida que se aprofundam as investigações, deixando à mostra da população os escombros das instituições e dos serviços públicos, dilapidados até o miolo. Em cada estado da Federação, é possível hoje divisar, ao lado de alguma obra faraônica ou elefante branco, as ruínas de outras megaconstruções deixadas inacabadas justamente porque o dinheiro desapareceu de repente.
Em Brasília, o monumental Estádio Mané Garrincha e o abandonado Centro Administrativo são a prova concreta desse período nebuloso em que políticos de variados partidos se uniram a empresários gananciosos para depenar os contribuintes bem debaixo dos olhos dos Tribunais de Contas e de outros órgãos de fiscalização. Mas, de todas as capitais do país vilipendiadas pela ação de criminosos de colarinho branco, talvez a mais emblemática e que melhor demonstra os efeitos da rapinagem gigante e prolongada, seja o Rio de Janeiro.
A antiga capital do país é hoje o retrato da decadência e do caos. Passados o boom dos royalties do petróleo e da fase ufanista do pré-sal e dos jogos da Copa e das Olimpíadas, o Rio de Janeiro vive o pior momento de toda sua história, com os serviços de saúde, educação e segurança sucateados, com a principal universidade pública à beira da falência, com servidores de diversas áreas sem receberem salário há vários meses e com o aumento da violência urbana atingindo níveis nunca vistos.
De cada 100 postos de trabalho fechados no país neste período, 81 foram no Rio de Janeiro. Para chegar a uma situação dessas, a atuação do antigo governador, hoje preso e condenado, e de todos os membros do Tribunal de Contas do estado, afastados pela Justiça, foram fundamentais.
Se a recessão teve papel importante no processo de falência econômica daquele estado, a corrupção e a atuação criminosa de agentes públicos, praticadas em larga escala, acelerou esse processo a alturas jamais vistas, quebrando o ânimo da população, levando-a a desacreditar nas instituições e tornando a retomada da normalidade ainda mais penosa e lenta.
A frase que foi pronunciada
“Para bem conhecer o caráter do povo, é preciso ser príncipe e, para bem conhecer o do príncipe, é preciso pertencer ao povo.”
Maquiavel
Auditar
» Nos anos 80, Gerson Camata, como governador do Espírito Santo, nomeou centenas de auditores. A receita do estado teve incremento considerável. Auditoria é bom investimento. O estado perdia, segundo o Sindifiscal-ES, R$ 1,2 bilhão por ano pela falta de fiscalização tributária. Hoje, pelo resto do Brasil, não deve ser diferente.
Faz sentido
» Por falar em Gerson Camata, quando senador, ele teceu elogios ao presidente Lula. Disse que nem Getúlio Vargas, quando criou a Petrobras, se lembrou de usar a riqueza para um fundo social.
Na gaveta
» Por falar em passado, Crivella defendia no Senado a mesma cela para todos. Com ou sem curso superior, quem infringisse a lei deveria ocupar o mesmo espaço atrás das grades. Ele clamava o princípio de igualdade previsto na Constituição Federal. Mas isso faz muito tempo.
Esperança
» GDF toma a frente para monitorar os casos de câncer em Brasília. São sete superintendências regionais instituídas em uma comissão que passam a descentralizar o acompanhamento da Gerência de Assistência Oncológica. A partir de agora, a notificação de câncer no DF deixa de ser opcional e passa a ser obrigatória. Bruno Sarmento, gerente de Assistência Oncológica, da Secretaria de Saúde, declarou que a intenção é conhecer o perfil da população diagnosticada com câncer e monitorar o tratamento. São dados fundamentais para incrementar os repasses do Ministério da Saúde.
História de Brasília
Os guardas de Trânsito de Brasília, em sua maioria, não sabem o que é a carteira para dirigir automotores. Temos um companheiro do jornal que vai preso pelo menos duas vezes por semana porque dirige lambreta com essa carteira, e os guardas quase sempre não sabem do que se trata. (Publicado em 30/9/1961)