DESDE 1960 »
jornalista_aricunha@outlook.com
com Circe Cunha e MAMFIL
Instituído nos 1960 pelos governos de Portugal e do Brasil, o Prêmio Camões é a mais importante láurea da literatura portuguesa, equivalente ao Man Brooker, inglês, ou Goncourt, francês. Entre os contemplados por esse seleto prêmio estão escritores do quilate de um João Cabral de Melo Neto, Miguel Torga, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Saramago e uma plêiade dos mais refinados literatas de nosso idioma.
Na última edição, ocorrida no Museu Lasar Segall, em São Paulo, na qual seria agraciado o escritor Raduan Nassar, autor de obras como Lavoura arcaica, Um copo de cólera e outras, o que deveria ser uma grande festa da literatura transformu-se num lamentável acontecimento em que o oportunismo e a falta de sensibilidade e de educação tomaram lugar da confraternização e das boas maneiras.
Graças ao tom agressivo do discurso do agraciado, o evento, de festivo, descambou para o comício palanqueiro de baixo nível, com Raduan aspergindo seu copo de cólera sobre o atual governo, acusando-o de golpista, fascista, ditatorial, repressor, entre outros impropérios. A plateia, previamente formada pelos acólitos do lulopetismo, aplaudia e incentivava o escritor a prosseguir no seu libelo raivoso, como se aquele fosse o momento especial da vingança final e quando, finalmente, a narrativa criada pelo chefe maior seria adornada com as letras da literatura.
Custa a crer que um escritor respeitado e agora condecorado por um governo que acusa de fascista se deixe embarcar na ficção criada pelo Partido dos Trabalhadores para se desvencilhar da Justiça. O triste episódio só serve para reforçar a tese de que é preciso, sempre, separar a obra do autor. Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Fica evidente, também, que ética e estética pertencem a mundos distintos, bem como aqueles que separam os fatos das versões.
Por meio desse discurso fora de contexto, Raduan apenas demonstrou sua covardia equivalente à daqueles que atiram pelas costas ou matam as vítimas que dormem. “Não se deixem enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem”, disse certa feita Rui Barbosa.
O que Raduan deixou escapar agora, do alto dos seus 81 anos, é que a velhice, em alguns, expressa também um certo caráter de velhaco, no sentido de que o indivíduo se deixa mascarar por suas rugas para destilar tranquilamente seu rancor e amargura, como se fossem verdadeiras lições de vida, mas que nada mais são do que veneno. No seu mais puro e condensado teor. Resta saber se o escritor devolverá o prêmio de 100 mil euros em dinheiro recebido na ocasião. Se acreditar no que diz, certamente devolverá.
A frase que não foi pronunciada
“Você conhece seus amigos quando você se envolve em um escândalo.”
Liz Taylor, atriz
Enfim
» O Idecan finalmente realizou a última prova do concurso do Corpo de Bombeiros, no domingo, sem problemas.
Controverso
» Observação de um carioca resume o carnaval de Brasília. Em todos os estados, de maneira geral, as pessoas que saem de casa para o carnaval de rua, o fazem fantasiadas. Saem com o carnageist (espírito carnavalesco). A fantasia mais usada em Brasília é um copo de bebida alcoólica em punho.
Mobilização 1
» No início do Lago Norte, um terreno público pode ser transformado em parque para cães. Os moradores do local começam a protestar.
Mobilização 2
» Chega em nossas mãos um pedido de assinatura para um abaixo-assinado que será entregue ao DER contra a paralisação das obras do Trevo Viário Norte. Assina o documento Fernando Varanda, prefeito comunitário
Release
» Uma exposição de fotomontagens de Athos Bulcão, de uma série de obras produzida entre 1949 e 1954, em um momento bem específico da vida do artista. Era início da década de 1950, e o Brasil experimentava uma efervescência no campo da fotografia. A Fundação Athos Bulcão fica na CLS 404 Bloco D loja 01, aberta de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e sábado, das 10h às 17h, até 8 de abril. Entrada franca.
História de Brasília
Esaú de Carvalho, A Noite: Eu daria outra oportunidade a esse brasileiro. Sua atitude só pode ter sido uma dessas duas: covardia ou ambição. Mas de ambas, ele se poderá livrar, e se um dia vier a dirigir o país, saberá aproveita a lição de hoje. (Publicado em 22/9/1961)