Área mais rica em biodiversidade da América do Sul, o arquipélago dos Abrolhos começa a ser atingido pelas manchas de óleo do vazamento de petróleo cru que assola o litoral brasileiro. Localizado no sul da Bahia, Brasil, Abrolhos tem cinco ilhas: Santa Bárbara, Siriba, Redonda, Sueste e Guarita.
Neste sábado, a Marinha confirmou que fragmentos do óleo foram encontrados na Ilha de Santa Bárbara, que não faz parte do Parque Nacional Marinho de Abrolhos. Equipes atuam no local para a remoção do material, que também foi encontrado em Ponta da Baleia, em Caravelas. A localização do resíduo de petróleo cru provocado pelo vazamento foi informada pelo Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), formado pela Marinha do Brasil, pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Na última quarta-feira, uma equipe do Ibama sobrevoou o local e não encontrou vestígios de óleo na região. Com a possibilidade de chegada das manchas, que estavam se deslocando para o sul da Bahia, o monitoramento na área do entorno do arquipélago foi intensificado. Moradores da praia de Caravelas, no sul da Bahia, área central do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, disseram que têm apenas 20 kits de equipamentos de proteção individual, os chamados EPIs. Como o material é tóxico, é necessário usar máscara, luvas, botas e macacão durante a limpeza do óleo. Contudo, o clima em Caravelas é de improvisação: até mesmo crianças coletaram pelotas de óleo sem os materiais de proteção.
Anna Carolina Lobo, gerente dos Programas Mata Atlântica e Marinho do WWF-Brasil, lamenta o que chama de “a maior tragédia na história do Brasil na costa marinha”. “Essa situação mostra que o país não está preparado para lidar com acidentes ambientais. Quando se fala de exploração de óleo e gás próxima a áreas de proteção ambiental, como Abrolhos, quando há qualquer desastre, não tem como resolver”, afirma.
A especialista diz que o país tem um plano de contingência que nunca foi seguido. “No plano, esta tudo lá: como atacar de forma integrada, com ministérios, Ibama, ANP, Petrobras. Mas não temos equipamentos e o óleo não para de chegar”, destaca.
Anna explica que a situação é pior do que se imagina, porque os resíduos demoram mais de 20 anos para desaparecerem. “O óleo provoca zonas mortas em corais e nos manguezais, que podem não se recuperar nunca. São muito frágeis e importantes para a resiliência costeira, para proteção”, alerta. De acordo com ela, um estudo mostra que, onde há um metro branqueado de coral, as ondas aumentam e chegam com mais força na costa.
“Além disso, é um óleo muito tóxico, não só para os ambientes costeiros, mas para a saúde humana, porque tem propriedades cancerígenas. E temos peixes e crustáceos contaminados”, lamenta. Segundo a gerente do WWF-Brasil, a Vigilância Sanitária teria que fazer pesquisas em tudo. No entanto, não há monitoramento e nem fiscalização de áreas marinhas. “O país não tem uma política séria para recursos pesqueiros. Não é do atual governo, acontece há muito tempo”, diz.
Milhões de pessoas vivem da atividade pesqueira e, em vários locais do mundo, há pesquisas para identificar como o setor da pesca pode ajudar a limpar o óleo. “Alguns pescadores tentaram usar as redes para tirar óleo, mas precisam de garantias de que terão como substituir a rede que não poderá mais ser usada”, explica.
O WWF, junto com outras organizações ambientais, lançou a campanha Conexão Abrolhos, uma plataforma para levantar fundos para comprar equipamentos para limpar as praias e o oceano. “Estamos trabalhando em conjunto com vários pesquisadores e voluntários, para monitorar e tentar impedir que a mancha se alastre por Abrolhos, que é uma área prioritária para conservação marinha. Estamos buscando compreender quais novas tecnologias podemos usar para avaliar o impacto do vazamento no mar. Porque a gente vê chegar na praia, mas ainda não sabe como está a contaminação do oceano”, ressalta.
A especialista alerta, ainda, que o monitoramento deverá ser permanente. “A situação é lamentável. Teremos de fazer análises durante cinco, 10, até 20 anos”, assinala. Anna acrescenta que, se o Brasil fosse signatário de alguns acordos internacionais teria um fundo, bancado por empresas que exploram petróleo, para acessar em momentos de emergência, como este.
“No ano passado, foram R$ 52 bilhões para royalties, se 0,1% fosse destinado para um fundo, a gente teria como se equipar para mitigar desastres. A atuação deveria ser apoiada por organizações da sociedade civil. As pessoas querem ajudar. Precisamos buscar uma solução. São milhões de pessoas que vivem da pesca, do turismo nas praias. O desastre impacta o meio ambiente e também o cenário nacional e o desenvolvimento regional”, completa.
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