SEE-DF anuncia que pagará Bolsa Alimentação até o fim desta semana

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Benefício atende cerca de 128 mil alunos de creches e escolas públicas. Renovação de contratos permitirá auxílio até o fim do ano letivo de 2020.

 

A Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEE-DF) promete  pagar o Bolsa Alimentação, por meio do Cartão Material Escolar, até o fim desta semana. O benefício atende cerca de 106 mil estudantes de 70 mil famílias.

O valor da Bolsa Alimentação para julho foi calculado para 23 dias úteis, considerando R$ 3,98 por refeição. Estudantes que têm uma alimentação por dia na escola receberão R$ 91,54. Os que fazem duas refeições por dia farão jus a crédito de R$ 183,08.

Crédito: Tony Winston/Agência Brasília

Também para esta semana foi antecipado o pagamento da Bolsa Alimentação Creche referente aos meses de junho e julho, previsto para o fim do mês. No total, 22.436 crianças de 21 mil famílias serão atendidas. Cada uma recebe R$ 300.

O benefício é de R$ 150 por mês para crianças de 0 a 5 anos da rede, calculado proporcionalmente ao gasto com alimentação que está incluído nos R$ 803,57 repassados mensalmente às conveniadas da Secretaria de Educação pelo atendimento de cada estudante matriculado. Os valores vêm da redução dos contratos com as creches conveniadas enquanto durar a suspensão dos atendimentos.

Saiba mais

A Bolsa Alimentação (BA) e a Bolsa Alimentação Creche (BAC) foram criadas pela gestão do governador Ibaneis Rocha para garantir a assistência alimentar e nutricional aos estudantes durante o período de suspensão das aulas por força da pandemia da covid-19.

As famílias podem utilizar os benefícios na compra de alimentos em qualquer estabelecimento, incluindo supermercados, mercados, mercadinhos de bairros, restaurantes e padarias.

A Secretaria ainda indica a lista de Gêneros Alimentícios, da Diretoria de Alimentação Escolar, como sugestão para manutenção de uma dieta rica e nutritiva para as crianças.

 

Com informações da Agência Brasília

GDF promete mais 6,7 mil vagas em creches em 2020 em Cepis e convênios

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O Governo do Distrito Federal prometeu criar mais de 6,7 mil novas vagas em creches em 2020. A meta é inaugurar 10 novas unidades, além de ampliar convênios a fim de garantir as novas vagas. O GDF se comprometeu a entregar cinco novos Centros de Ensino da Primeira Infância (Cepi) no primeiro semestre e outros cinco no segundo semestre do ano. A construção deles custará R$ 35 milhões, oriundos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

O Cepi Mandacaru, em Samambaia. Foto: Arquivo/ Agência Brasília

Cada Cepi atenderá 174 crianças — com a inauguração de 10 unidades, deve-se chegar a um total de 1.740 meninos e meninos atendidos. Outras 5 mil vagas devem ser criadas por meio de convênios com creches particulares.O déficit de vagas para crianças de até 3 anos em creche chega a 20 mil no DF. A lista de pais inscritos por uma vaga está sempre crescendo. Segundo a Secretaria de Educação do Distrito Federal, a iniciativa de criar 6,7 mil postos deve acabar com 30% da espera em 2020.

“A busca por vagas é alta, mas nosso esforço está voltado para reduzir sensivelmente essa carência”, declarou à Agência Brasília o secretário de Educação do DF, João Pedro Ferraz. À Agência Brasília, o governador Ibabeis Rocha afirmou que “uma mulher que tem com quem deixar o filho se mantém no mercado de trabalho, tem independência financeira e, inclusive, mais autonomia para não sofrer violência doméstica”.

Assim, aumentar o número de atendimentos de creche na primeira infância traz impactos social, econômico, trabalhista, político, entre outros. O Buriti também estuda aumentar as vagas em educação integral por meio de rede credenciada para oferecer atividades extra-classe, como cursos de idiomas, profissionalizantes e esportivos.

Saiba mais

Quer colocar seu filho numa creche pública? As matrículas para creche na rede pública são feitas a qualquer época do ano pelo telefone 156 ou na regional de ensino de cada cidade. Saiba onde fica a creche mais próxima pelo site.

Leia mais sobre creches aqui.

Projeto de lei prevê pré-escola integral para crianças de 4 a 5 anos

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Tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei nº 4.380/2019, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de nº 9.394/1996, para tornar obrigatório que sejam oferecidas pré-escolas em período integral a todas as crianças de 4 e 5 anos do país. A LDB já prevê a obrigatoriedade de pré-escola nessa faixa etária, mas sem a especificidade da oferta em período integral.

A deputada federal Paula Belmonte, autora da proposta

O PL estabelece carga mínima anual de 1,4 mil horas em pelo menos 200 dias letivos. O atendimento deve durar a partir de sete horas diárias. A responsável pela proposta é a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF). Em entrevista ao Blog da Primeira Infância, a parlamentar, que teve seis filhos, defende mais proteção às crianças brasileiras em todos os sentidos.

Além disso, as mulheres precisam de apoio para poder voltar ao mercado de trabalho. “Muitas das nossas crianças estão desnutridas, em vulnerabilidade, em perigo… Quando a gente fala de oferecer a elas maior tempo na escola é para protegê-las e para visar também a prevenção de violência”, argumenta. “Isso também permite à mulher trabalhar com tranquilidade, sabendo que o filho estará em um ambiente seguro”, acrescenta.

“A gente tem um plano nacional para colocar pelo menos 50% das crianças na creche, mas estamos longe disso. E as crianças ficam muito vulneráveis, pela questão da inocência mesmo, enquanto as mães estão trabalhando”, pondera a vice-presidente da Frente Parlamentar Mista da Primeira Infância. Ela conta que a frente vem trabalhando para que o período da vida que vai do ventre da mãe aos 6 anos de idade se torne política de estado.

“Hoje, as pessoas estão percebendo a importância disso, é um momento propício”, avalia. Também de autoria de Paula Belmonte, o projeto de lei nº 2721/2019 define o período entre 2020 e 2021 como o Biênio da Primeira Infância do Brasil. A deputada federal cresceu em Brasília, onde sempre estudou em colégios públicos.

Questão financeira

Com relação à viabilidade orçamentária da proposta, Paula Belmonte observa que a questão orçamentária pode ser um desafio, mas é preciso priorizar a questão, que poderá trazer economia futura. “Sempre precisa ter uma adequação”, diz. “A primeira infância é um momento em que a criança está no ápice. E, estando na creche, ela terá, em primeiro lugar, segurança; em segundo, alimentação; em terceiro, um bom estímulo”, aponta.

Parlamentar pelo DF, Paula é vice-presidente da Frente Parlamentar Mista da Primeira Infância

“Em quarto lugar, está a chance de as mães poderem trabalhar. Muitas não conseguem por não terem com quem deixar os filhos, e isso se torna um ciclo vicioso.” Dessa maneira, apesar de a implementação, num primeiro momento, exigir um bom orçamento, isso poderá resultar ganhos financeiros posteriores. “Isso vai gerar uma economia imensa para o estado, que deixa de ter várias outras questões que geram custos”, diz.

“Uma criança que vai para um ambiente adequado tem a possibilidade de não ficar exposta a vulnerabilidades”, completa. “Estaremos criando um ambiente saudável que vai trazer um impacto de economia mesmo.” De acordo com o vencedor do Nobel de Economia James Heckman, cada dólar investido na primeira infância traz um retorno de 7 dólares, sendo um investimento como nenhum outro.

“Precisamos dessa conscientização no sentido de que se as crianças tiverem uma condição básica, com certeza veremos um reflexo de um Brasil superior, mais desenvolvido, com crianças dentro da escola”, afirma Paula. Uma realidade muito distante da atual, em que há meninas e meninos em situação de risco mesmo em Brasília.

“A gente tem lixão e esgoto a céu aberto. Uma criança que tem contato com esse tipo de ambiente é mais propícia a doenças,o que também gera impacto financeiro.” Paula acredita também que, muitas vezes, deixa-se de investir na primeira infância não por falta de dinheiro, mas por não enxergarem valor nisso. “Brasília, por exemplo, deixou de construir várias creches públicas. O estado tem o dinheiro, mas vê creches como passivo”, denuncia.

“Não é visto como investimento. Aí gera essa situação que vemos hoje.” É por isso que outro projeto de lei de Paula Belmonte, de nº 5148/2019, destina 25% do Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente a políticas públicas, projetos e programas voltados para a primeira infância. O texto pretende mudar a Lei 8.242/91, que criou o fundo.

MEC estuda “voucher-creche” para atender crianças das famílias mais vulneráveis

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São Paulo – Participando do oitavo Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, respondeu a perguntas de jornalistas em entrevista coletiva. Questionado sobre a articulação do governo federal com relação à necessidade de aumentar o número de vagas em creches públicas, Osmar Terra falou de uma espécie de voucher, que está sendo pensado para isso.

Osmar Terra contou sobre plano estudado por Weintraub

“O governo está vendo uma política… Houve uma promessa de fazer 6 mil creches, isso não aconteceu, ficou reduzido aí para umas 600”, admitiu. “São creches bonitas, grandes, mas os prefeitos não querem, porque o problema não é fazer a creche, é manter a creche”, alegou. “A manutenção custa mais em um ano do que toda a construção. O que o ministro (da Educação) Abraham Weintraub está pensando, emergencialmente, é em dar um voucher de creche para as famílias mais pobres terem acesso a creches públicas ou particulares de modo rápido”, disse.

O valor da educação infantil

O doutor em economia Naercio Menezes Filho

A função da pré-escola no combate a desigualdades, para o professor do Insper e da Universidade e São Paulo (USP), Naercio Menezes Filho é tão importante quanto programas de visitas domiciliares. “Você nunca vai conseguir acabar totalmente com a desigualdade, já que começa ainda na barriga da mãe. Mas você pode atenuá-la de dois jeitos: na família, por meio de programas de visitas, e em pré-escola e creche”, sugeriu o doutor em economia pela Universidade de Londres. “Mas não adianta serem lugares ruins, onde a criança só fica jogada para a mãe poder trabalhar. É importante que as condições sejam de qualidade para ter resultados.”

Daniel Domingues dos Santos, professor da USP

É por isso que Daniel Domingues dos Santos, professor de economia da USP, doutor pela Universidade de Chicago, explica que “nem todas as pessoas se beneficiam por terem acesso à educação infantil”. Ele aponta os resultados da Prova Brasil de 2013 como indícios para isso. A diferença de desempenho em matemática no 5º ano do ensino fundamental entre egressos e não egressos do ensino infantil considerando o nível educacional das mães não foi tão significativa.

“O que esse gráfico mascara para nós é que qualidade tem a ver com equidade. Aí vem a pergunta: o que é qualidade? A boa notícia é que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) hoje dá pistas do que a sociedade entende por qualidade, que está em linha com o que boa parte do mundo entende por qualidade”, afirmou. “Qualidade começa com garantias de direitos de aprendizagem e traz a ideia dos campos de experiência. Qualidade está na oportunização de experiências, como brincar, nos processos que acontecem dentro de sala de aula.”

E os efeitos de uma educação infantil de qualidade são enormes, como mostra o programa Melqo (Measuring Early Learning Quality and Outcomes) que Daniel ajudou a adaptar e validar em Boa Vista (RR). “É como se crianças em salas de aula com interação de qualidade tivessem seis meses a mais de estudo e aprendizado do que as que estavam em salas ruins. Ou seja, elas aprendem seis meses antes o que as que têm acesso a uma educação infantil ruim aprenderão seis meses depois”, comparou.

 

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Governo do DF começará ano letivo com 3,7 mil novas vagas em creches

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Crianças em creche pública. Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A

O Governo do Distrito Federal começará o ano letivo da rede pública de ensino, na próxima segunda-feira (11), com 3.780 vagas ofertadas em creches. A seleção para preencher as vagas já começou, atendendo os alunos prioritários da lista de inscritos da Secretaria de Educação. As regionais de ensino têm convocado responsáveis para matricular os filhos desde a última segunda-feira (4).

As oportunidades foram abertas nas instituições devido a movimentação natural dos alunos que completam 3 anos de idade. Atualmente, a demanda de atendimento para crianças de 0 a 3 anos na rede pública é de 23.640 vagas. Com as vagas ofertadas esta semana, o déficit cai para 19.940. Neste momento, as maiores carências dentro do déficit geral, considerando a demanda de 23.640 inscritos, estão no Plano Piloto, com 4.151 crianças inscritas e aguardando vagas; Ceilândia, com 3.768; e Samambaia, com 3.058.

O GDF também prometeu que 2,3 mil vagas em creche serão abertas este ano, sendo que 1,3 mil ainda neste semestre, por meio de ampliação dos convênios em vigor, e outras 1 mil até o segundo semestre. As chances estarão disponíveis em seis Centros de Educação da Primeira Infância (Cepi) que serão inauguradas este ano. Saiba quais são e confira a etapa de preparo de cada um:

Em construção:

Cepi Periquito, em Samambaia

Cepi Bem-te-vi, em Samambaia

Cepi Papagaio, em Ceilândia

Cepi Cajuzinho, no Lago Norte

Aguardando mobiliário:

Cepi Bambu, em Samambaia

Cepi Azulão, em Samambaia

A meta do governo é criar 19 mil novas vagas nos próximos quatro anos. Se esse objetivo for alcançado, seriam quase 10 mil vagas a mais do que as criadas nos últimos sete anos, desde que a Secretaria de Educação passou a ter a responsabilidade de prestar este atendimento, em 2011. Todas as vagas são preenchidas conforme o Manual de Procedimentos para Atendimento à Educação Infantil, disponível no site da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF).

Com intuito de atender a demanda por creches, um dos caminhos planejados é a parceria com entidades filantrópicas, confessionais e sem fins lucrativos. No total, 112 instituições constituem a rede conveniada de ensino infantil (etapa creche) do DF, 60 delas com atendimento em prédio próprio e 52 em Centros de Ensino de Primeira Infância, os Cepis, que são parcerias público-privadas com gestão terceirizada. Todas as instituições que celebram convênio com a SEEDF passam por processo de chamada pública, atendendo às exigências legais estabelecidas para esse tipo de atendimento. Essas entidades hoje são responsáveis pelo atendimento de 15.025 crianças entre 0 e 3 anos.

As inscrições para creche pública podem ser feitas ao longo do ano pelo site, pelo telefone 156 (de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h) ou em cada regional de ensino da Secretaria de Educação. Quando surge vaga, as coordenações entram em contato com a família. Confira vídeo da Secretaria de Educação com orientações para inscrever seu filho na lista de espera para creches públicas do DF.

Crianças de 0 à 3 anos atendidas na rede de instituições parceiras
Evolução da rede conveniada

Quer colocar seu filho numa creche pública do DF? Tire dúvidas em vídeo

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Ao todo, o Distrito Federal conta com 14 creches públicas, 58 instituições conveniadas e 50 Centros de Ensino da Primeira Infância (Cepiss) em várias regiões. Assim, em instituições públicas ou em parceria com o governo, são atendidas 15 mil crianças de até 3 anos e 47 mil meninos e meninas de 4 a 5 anos.

 

Com matrículas de fato em instituições totalmente públicas, há 1.004 crianças. Na rede particular, são 28.101. Nos últimos quatro anos, o Governo de Brasília incorporou mais 27 instituições à rede públicas de creche, mesmo assim, ainda há demanda não atendida.

 

Cerca de 16 mil aguardam na fila por uma vaga em creche pública na capital federal. O número assusta interessados que, às vezes, desanimam antes mesmo de tentar.

 

No entanto, inscrever-se é o único jeito de garantir que a vez do seu filho um dia chegará. Como ainda existem muitas dúvidas sobre onde ir, quem procurar e como fazer para conseguir uma matrícula na rede pública, a Secretaria de Educação preparou um vídeo para ajudar a explicar o passo a passo do processo. Confira:

 

As matrículas para creche na rede pública são feitas a qualquer época do ano pelo telefone 156 ou na regional de ensino de cada cidade. Saiba onde fica a creche mais próxima pelo site

 

Confira no link a classificação das crianças com inscrições validadas para vagas em creches públicas no DF até o momento.

 

Contexto nacional

Das mais de 11,8 milhões de crianças de 0 a 3 anos no país (segundo dados de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apenas cerca de 26% frequentam creches (sejam públicas sejam particulares). O cálculo foi feito a partir das Sinopses Estatísticas da Educação Básica de 2017, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

 

Apesar de o Inep não coletar o deficit de vagas, fazendo a correlação com os números populacionais e o número de crianças dessa faixa etária na creche (cerca de 3,1 milhões), chega-se a esse percentual. Bem abaixo da meta de ter 50% dos meninos e meninas de 0 a 3 anos em instituições do tipo estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE).

Chile também enfrenta desafios para universalizar a educação infantil, especialmente até os 3 anos

Publicado em Deixe um comentárioChile Crece Contigo, Creche

Santiago, Chile — Capacitações e avaliações permanentes de professores garantem a qualidade do atendimento de crianças de até 6 anos em ambientes educativos chilenos. Apesar de ter avançado, o país também tem, como o Brasil, o desafio de ampliar o acesso a creches e jardins de infância, especialmente até os 3 anos de idade. Por lá, a educação infantil é obrigatória entre os 5 e os 6 anos, quando as crianças frequentam o nível chamado Kinder.

O Jardín Infantil Santa Mónica, em Santiago

Nessa faixa etária, a cobertura passou de 85%, em 2001, para 98%, em 2017. No mesmo intervalo, a cobertura de educação infantil como um todo saltou de 30% para 53,24%. A universalização antes dos 5 anos é um desafio e uma das metas da Junta Nacional de Jardines Infantiles (Junji), instituição pública responsável pela administração e fiscalização de creches e jardins de infância no país desde 1970. No total, cerca de 793 mil meninos e meninas têm acesso à educação infantil por lá, dos quais apenas 6% frequentam instituições pagas.

Nas unidades, o desenvolvimento de cada criança é acompanhado e relatado diariamente, como nesse quadro de evolução

Cerca de metade está em unidades públicas; e 43% em entidades particulares, mas com subvenção do governo. Enquanto o acesso não se torna universal, são atendidas prioritariamente as crianças das famílias mais pobres e as de até 4 anos. No total, a Junji administra 1.276 jardins de infância no país, 654 clássicos (fundados, mantidos e administrados pelo governo) e 622 alternativos (que recebem dinheiro público, mas a gestão é de alguma organização social). Belia Toro, chefe de desenvolvimento curricular da Junji, conta que, apesar de a Junta ter 48 anos e tradição em educação infantil, muito mudou após a criação do programa Chile Crece Contigo, há 12 anos. “A partir disso, passou a existir, além de um trabalho multissetorial (que precisa se intensificar), uma ideia de educação para a família, não só para as crianças”, aponta.

Adriana Gaete Somarriva e Belia Toro, da Junji (Junta Nacional de Jardines Infantiles)

“Há uma série de materiais, oficinas e elementos de apoio para os pais”, completa. Adriana Gaete Somarriva, vice-presidente executiva da Junji, conta que a capacitação e a avaliação permanente de professores é prioridade na rede. Graças a isso, a oferta de educação infantil é de alta qualidade. “Eu tive muita experiência em escolas de educação básica. E, entre as crianças que estão chegando, você nota imediatamente quais são as que passaram por educação infantil e as que não. Pois o tempo que demoram a aprender a ler é muito menor”, compara. “Apesar de não serem alfabetizadas nesse período, elas têm um bom desenvolvimento na linguagem que faz toda a diferença”, afirma.

Exemplo de sala de aula de jardim infantil no Chile

Comparações

O Brasil tem 8,5 milhões de crianças matriculadas na educação infantil, o que inclui creche e pré-escola. No Chile, as matrículas são da ordem de 793 mil — quase 11 vezes menos. O vizinho latino-americano também tem população e terreno mais de 11 vezes menores que os brasileiros. Há diferenças, mas também similaridades: ambos os países precisam trabalhar para ampliar o acesso à educação infantil.

Por aqui, a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é ter, pelo menos, 50% das crianças de até 3 anos frequentando creches, mas correlacionando dados das Sinopses Estatísticas da Educação Básica de 2017 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apenas 26% o fazem.

Um dos pátios do Jardín Infantil Santa Mónica, na comuna de Recoleta

No Chile, a taxa média de matrículas até os 3 anos está em patamar similar, mas ligeiramente maior que o do Brasil: cerca de 29%. Uma grande diferença é que boa parte da oferta brasileira é particular, enquanto no Chile é majoritariamente pública. Outra questão é que a procura dos próprios pais chilenos por matrículas até os 3 anos ainda não é tão alta, de acordo com avaliação da Junji.

Educadoras e crianças em uma das salas do local

Numeralha
Cobertura da educação infantil no Chile por faixa etária

De 85 dias a 1 ano – 10%
De 1 ano a 2 anos – 26%
De 2 anos a 3 anos – 33%
De 3 anos a 4 anos – 64%
De 4 anos a 5 anos – 90%
De 5 a 6 anos – 98%

Fonte: Junji

Pais satisfeitos

María Jesus Arriagada, diretora da unidade

Com 31 educadoras e cinco cozinheiras, o Jardín Infantil Santa Mónica atende 236 crianças de 0 a 4 anos de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 16h30. Ali, as crianças tomam café da manhã e almoçam. As turmas são divididas por faixa etária. A instituição se localiza na comuna de Recoleta, que, no total, tem seis jardins infantis clássicos (ou seja, fundados, mantidos e administrados pelo governo), como o de Santa Mónica, e nove que funcionam com transferências de fundos. María Jesus Arriagada, diretora da unidade, conta que há uma reunião mensal com todos os funcionários. “Nessas ocasiões, passamos um dia discutindo, promovemos capacitações, conseguimos revisar nosso projeto educativo e ver no que podemos melhorar.”

 

Susan Ramirez e filha de 1 ano e 9 meses, Florencia

Num centro maior, é mais difícil que a participação comunitária seja tão próxima quanto em unidades menores, mesmo assim, o envolvimento familiar é muito estimulado. “Os pais que podem vêm e interagem. Os que não têm como estar presencialmente podem se fazer de presentes de outras formas. Pedimos que enviem por exemplo um vídeo mostrando como é a criança na rotina do lar”, conta a diretora María Jesus. Para subsidiar o trabalho e atender melhor às necessidades de cada estudante, ela conta que troca informações e dados sobre alunos com equipes de serviço social e do centro de saúde da região.

 

A haitiana Dialine e a filha Delca

Para ela, o retorno das famílias é muito gratificante, como quando contam que a criança aprendeu algo diferente e mostrou em casa. “Muitos responsáveis que tiveram os filhos num jardim particular e vêm para cá gostam muito mais daqui. Não necessariamente a educação paga será melhor. Há um abismo de diferença entre a educação infantil pública e muitos jardins particulares”, comenta. A estudante de estética Susan Ramirez fica muito tranquila ao deixar a filha de 1 ano e 9 meses, Florencia, ali. “Vejo que ela gosta das tias. Isso é o mais importante. Mais que a estrutura, as educadoras fazem a diferença, pois são muito prestativas e dedicadas”, elogia.

Gustavo com o pai, Álvaro

A haitiana Dialine Teautij mora no Chile há pouco tempo e, apesar de falar pouco espanhol, demonstra que está satisfeita com o desenvolvimento da filha de 1 ano, Delca. “Ela fica bem e feliz aqui. Não chora para vir”, conta a vendedora numa barraca de feira. Álvaro Berrios Vergara trabalha na construção civil e busca o filho Gustavo, 3, no local quase todos os dias. “Este é o primeiro ano dele nesse jardim e vejo que é muito melhor do que o em que ele estava anteriormente, pois as tias são mais próximas dos alunos e se preocupam mais”, afirma o pai ainda de outros filhos de 16 anos, 12 anos e 10 anos. Nicolás Riquelme só tem elogios para a experiência da filha, Colomba, 3, ali.

Nicolás, Colomba e Joselyn

“A qualidade é excelente, ela me conta dos desenhos que fizeram e outras atividades.” Colomba fala com carinho de Joselyn Campillay, educadora que trabalha há três anos no local. A filha dela, Fernanda, 3, também frequenta o jardim, mas em outra turma. “É muito gostoso conviver com crianças, todos os dias há algo especial. Tenho 30 anos, mas carrego comigo a alegria da minha infância”, conta ela que também tem um filho de 12 anos.

A educadora Joselyn com a filha, Fernanda (no colo), e outras crianças

 

*A jornalista viajou como bolsista do programa de reportagens sobre primeira infância do International Center for Journalists (ICFJ), com patrocínio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV)

Falta de creches atrapalha a carreira das mães trabalhadoras e o desenvolvimento do país

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Sem acesso a rede pública universalizada de cuidados para crianças de até 3 anos, as trabalhadoras com filhos pequenos sofrem uma série de exclusões no mercado corporativo, o que prejudica a inserção e o desenvolvimento profissional feminino.

A oferta de creches gratuitas e de qualidade tem tudo a ver com o desenvolvimento profissional, social e econômico do país. A falta de local para deixar as crianças atrapalha, ou até impede, que trabalhadores com filhos pequenos — majoritariamente mulheres, pois são elas as que mais se responsabilizam pela prole — se insiram, se mantenham e avancem no mercado. “É preciso ter creche pública de qualidade para todos. Assim, as crianças se desenvolvem melhor e as mães continuam suas trajetórias profissionais. Todo mundo sai ganhando: com mais mulheres trabalhando, a economia cresce”, calcula Bia Nóbrega, psicóloga pela Universidade de São Paulo (USP) com mais de 19 de anos de experiência em recursos humanos. “Existe uma relação direta entre creche e carreira e, claramente, as mães são as que mais sofrem com a falta disso”, afirma Angélica Guidoni, sócia da consultoria Trajeto RH. O problema atinge todas as camadas sociais, mas é mais cruel com as mais pobres.

“As que têm melhores condições financeiras ainda podem pensar e avaliar onde deixar os filhos, com uma babá ou numa creche particular, por exemplo. Têm mais possibilidades de se colocarem à disposição para uma promoção”, pondera a coach e psicóloga. “Já as que não podem arcar com os custos desse tipo de serviço ficam numa situação muito limitada”, compara. As opções que sobram não são as melhores, mas é preciso arranjar caminhos. “Nos bairros mais humildes, existem mulheres que cuidam de quatro a cinco crianças. Outra possibilidade é uma rede de vizinhos: um fica com as crianças hoje, outro depois”, exemplifica Bia Nóbrega. No entanto, dificilmente, a mãe conseguirá sair para trabalhar totalmente tranquila com o bem-estar da criança nesses casos.

 

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Deficit de vagas
Escritora, palestrante e pesquisadora do universo feminino, Alice Schuch afirma que “a oferta de creches é um dos maiores ganhos que o governo pode proporcionar às mulheres, já que a ausência dessa estrutura, agrava muitíssimo o problema do feminino”. A melhor maneira de criar um filho saudável, explica Alice, doutora em educação e gêneros pela Universidad de Desarrollo Sustentable, do Paraguai, é a realização da mãe. “Se ela for frustrada por causa das dificuldades de ter uma carreira, muito provavelmente passará isso para a criança.”

 

E se o país quiser investir nas próximas gerações, precisa fazer isso desde cedo, nas creches, que devem ser desenvolvidas em termos de qualidade e quantidade, algo que ainda está longe de sair do papel. Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) é colocar, pelo menos, 50% das crianças de até 3 anos em creches. O primeiro prazo estabelecido para cumprir o objetivo não foi cumprido e, então, adiado para 2024.

 

Existem mais de 11,8 milhões de crianças de 0 a 3 anos no país segundo dados de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, há apenas 3,1 milhões de matrículas em creches nessa faixa etária, de acordo com as Sinopses Estatísticas da Educação Básica de 2017, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O Inep não coleta dados de deficit de vagas, mas fazendo a correlação com os números populacionais, apenas 26% das crianças frequentam creches nos três primeiros anos de vida. “No ritmo atual, não alcançaremos a meta nem com investimentos. Num momento de contenção de despesas, isso se agrava ainda mais”, lamenta Heloisa Oliveira, administradora executiva da Fundação Abrinq.

 

Famílias de três regiões do DF comentam o impacto da falta de creches

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Aecione vive com seis filhos, o mais novo com 2 anos. Sem vaga em uma unidade pública, ela não consegue trabalhar

Aecione Pinto de Lira, 45 anos, teve 12 filhos, dos quais seis vivem com ela e o marido, carroceiro, em Planaltina. A família nunca conseguiu apoio de creches. Sem outros parentes no Distrito Federal, a pernambucana que cresceu em São Paulo não trabalha e fica em casa para cuidar, especialmente, do caçula, de 2 anos, mas também dos demais, que têm 7, 9, 11, 12 e 16 anos e frequentam a escola. O primogênito, que não mora mais com ela, tem 31 anos. “Com o fato de não ter creche, você não consegue nem correr atrás de arrumar serviço. É muita falta de responsabilidade do governo”, queixa-se. Nas ocasiões em que procurou trabalho, sentiu o preconceito dos empregadores. “Dizem que criança atrapalha, têm medo de que a gente fique saindo para ir à reunião de escola…” Aecione é beneficiária do Bolsa Família e complementa a renda como revendedora de produtos de venda direta. “Eu sempre fiz faxina também, mas, depois que o menino mais novo nasceu, parei. Após o parto dele, minha saúde não ficou bem”, conta ela, que tem nível fundamental incompleto.

 

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Silvana está satisfeita por ter encontrado alguém de confiança para cuidar da filha
A enfermeira Silvana Alves dos Santos, 32 anos, terminou o curso na Universidade Católica de Brasília (UCB) em junho e, desde então, procura emprego. Ela também faz pós-graduação em urgência e emergência. Nunca conseguiu creche pública e, há algum tempo, deixa a filha, de 1 ano e seis meses, na casa de uma mulher que é paga para cuidar de três crianças nos Jardins Mangueiral. “Ela já ficava lá para eu poder estudar e continuou. São R$ 400 por mês, e ela fica das 7h às 15h”, revela. No começo, Silvana e o marido, que é mecânico numa empresa de veículos a diesel, contrataram uma pessoa para ficar na casa deles. “Era uma conhecida, mas ela teve de sair para fazer tratamentos de saúde”, diz. Foi então que ela começou a procurar creches. “Foi muito difícil, as que eu achava eram muito caras. Até que recebi a recomendação de uma mais em conta, onde coloquei minha filha.”

 

A experiência durou pouco, porque o estabelecimento mudou para São Sebastião, então, se tornou contramão para a família. “A gente sonha em conseguir uma boa creche pública. Isso fica na cabeça da mãe. Quando você não consegue, isso gera preocupação e frustração. A creche dá mais confiança do que deixar com uma pessoa estranha seu bem mais precioso”, diz ela, que já trabalhou como operadora de caixa.

 

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Sirlene tem dois netos, um de 11 meses e um de 2 anos. Sem creche, a filha Sabrina tem dificuldade de encontrar emprego

A casa de Sirlene Alves de Deus, 39 anos, na Cidade Estrutural, abriga o namorado, os dois filhos e os dois netos dela. “Eu sou a única que trabalha. Meu namorado faz bico, é percussionista e toca aos fins de semana. O grosso das contas sou eu quem pago”, conta a empregada doméstica. “Meu expediente é de segunda a sábado.” Os filhos, Gabriel, 20, e Sabrina Hemily, 17, não estudam nem trabalham. Cada um tem um filho: respectivamente, Miguel, de 11 meses, e Pedro Henrique, de 2 anos. A família não conta com creche para nenhum deles e, apesar de esse não ser o único fator causador, isso dificulta a inserção profissional e os estudos. “A Sabrina nunca trabalhou, com ou sem carteira assinada, mas está procurando emprego. O Gabriel vendia balinha e jujuba no sinal quando era mais novo. Depois que ficou de maior, nunca procurou serviço. Os dois abandonaram os estudos.”

 

Sirlene acredita que, com creche, a situação seria melhor para as crianças e toda a família. “Fica complicado sem isso, porque eu sustento a casa e não tenho como deixar de trabalhar para cuidar dos meninos. Ganho um salário mínimo, se for pagar uma particular, não teremos o que comer”, desabafa a baiana, que mora no DF desde 1993. “Quem cria o Pedro Henrique mesmo sou eu. A mãe mora perto, mas não ajuda. Durante o dia, quem mais cuida dele é meu namorado”, diz. “Com certeza. Meu sonho é que todos eles trabalhem, até para ajudar a construir a casa. O muro e o banheiro são de tijolos, mas o resto é barraco de madeirite.” O local não conta com rede de esgoto nem água encanada, e a rua não é asfaltada.

 

Sabrina Hemily completa 18 anos em outubro e passa os dias dividida entre cuidar de Miguel e procurar emprego. A creche mudaria muita coisa na minha vida, especialmente para poder procurar serviço e voltar a estudar.”

 

A carência de creches no país, segundo especialistas

Vagas só para quem pode pagar

 

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“Nossa maior preocupação em relação ao acesso à creche é que vários estudos mostram que as crianças que pertencem às famílias de mais baixa renda são as que estão fora delas”, alerta Beatriz Abuchaim (foto), gerente de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV), que tem como foco a defesa da primeira infância. Ou seja, são as mães desempregadas e em mais complicada situação financeira que não contam com esse apoio. “Não falta vaga para quem pode pagar. Falta para quem não pode. No DF, onde tem muito servidor público e pessoas com renda mais alta, a maior parte das matrículas é na rede particular. Pouco mais de 1% é de fato da rede pública”, completa Heloisa Oliveira, da Abrinq. A colega dela Denise Cesario, gerente executiva da Fundação Abrinq, observa que a falta de acesso pode gerar muitos riscos. “Quando se deixa a criança com um amigo, um vizinho, até um parente, além de não receber estímulos adequados, ela pode estar sujeita a outros perigos, como o de não ser bem cuidada, de ser violentada.” O que não quer dizer, necessariamente, que o atendimento seja adequado em todas as creches.

 

“Um dado preocupante é que as crianças mais vulneráveis, que vêm de um lar estressor, com pais menos educados, estão fora da creche ou, em algumas regiões do país, estão em creches muito ruins”, alerta a psicóloga, mestre e doutora em educação Beatriz Abuchaim. A boa qualidade da educação infantil (que inclui creche e pré-escola) pode trazer um impacto muito positivo, que perdurará por toda a vida. “Ao mesmo tempo, em ambientes sem interação, que não sejam estimulantes, a gente não vê esse avanço e, às vezes, há até prejuízos”, pondera. “No caso das mães trabalhadoras, esse atendimento é uma necessidade, então a gente tem de lutar para que ele seja bom.” Arranjar um jeito de medir a qualidade das creches, inclusive, é algo em que a FMCSV tem trabalhado. Atualmente, os indicadores do governo levam em conta basicamente a estrutura física, como a presença de berçário, parquinho, banheiro infantil. Eduardo Marino, diretor de Conhecimento Aplicado da Fundação, observa que o objetivo é tornar possível medir também a qualidade das interações e dos estímulos feitos.

 

Peso cai sempre nos ombros da mãe

 

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No Brasil e na maior parte dos países, fica com as mães a responsabilidade principal pela criança. “É muito raro o pai faltar ao trabalho para levar o filho ao médico. Isso é muito ruim, porque a sobrecarga é tremenda. O empregador obviamente sabe disso e entende que a mulher terá mais chance de se ausentar da empresa por causa da criança”, aponta Bia Nóbrega.

 

“Em muitos casos, a própria mãe não pleiteia uma vaga ou desafio profissional por entender que ficaria difícil por causa dos filhos. Dar um jeito significaria colocar o pai na jogada, o que gera desgaste. Então, ela se barra”, percebe Angélica Guidoni (foto), que tem experiência de consultoria de RH em empresas de médio e grande porte, nacionais e multinacionais. Frente às dificuldades de conciliar filhos pequenos e carreira sem creches para todos, não só as próprias mulheres se privam de oportunidades, como também os chefes têm o costume de escolher por elas. Eles não chegam nem a ofertar chances (de promoção ou viagem, por exemplo) às profissionais. “Os gestores pensam: ‘Fulana tem filho pequeno, portanto, não pode’. Só que, às vezes, esse cenário não é real, a trabalhadora daria um jeito. Falta dar a chance de ela decidir.” Fenômeno análogo se repete nas seleções de emprego.

 

Para Angélica, a falta de universalização do serviço de creche, aliada à concentração das tarefas domésticas e familiares apenas nas trabalhadoras, está por trás da desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. “A profissional tem menos tempo para construir networking. Em vez de sair com os colegas para um happy hour, onde poderia encontrar alguém da direção, volta para casa e para os filhos depois do expediente”, diz. “Esse empobrecimento das relações é supercrítico para o desenvolvimento da carreira e faz com que elas sejam menos cotadas para cargos de chefia. Um reflexo da falta de creche e também da falta da paternagem ativa”, comenta Angélica.

 

Dividir responsabilidades

 

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Para pleitearem vagas de emprego com serenidade e confiança, as mulheres precisam entender que não estão sós. E num contexto em que há cada vez menos senso de sociedade e paternidade com relação ao cuidado com as crianças, isso se torna muito difícil sem creches. “Não foi à toa que a humanidade começou em tribo. Os filhos eram da tribo, não só da mulher. É complexo ter um filho só para você e ser o único responsável num mundo masculinizado, onde a maternidade é o auge do feminino”, afirma Angélica Guidoni, especialista em constelações sistêmicas pela Faybel. A subsecretária de Promoção de Políticas para Crianças e Adolescentes do Distrito Federal, Perla Ribeiro (foto), chama a atenção para a importância de desvincular a imagem do zelo e da criação de filhos como algo exclusivo da mãe, até porque ela não os gera sozinha. “Cuidar das nossas crianças não é (ou não deve ser) o cuidado de um só. É preciso de uma rede em que cada pessoa tem o seu papel. O pai é muito importante para o desenvolvimento infantil, complementando o trabalho da companheira”, destaca.

 

Os comportamentos atuais geram, na maior parte das mulheres, a sensação de desamparo, a ideia de que precisam dar conta de tudo sozinhas. Perla salienta o papel social e do Estado para amenizar essas situações. “A criança tem de ter o cuidado da família — e pensando de modo extenso, de todos os membros. Mas também é responsabilidade do Estado e da sociedade cuidar da criança, garantindo-lhe direitos básicos e fundamentais, como vida, educação, saúde, alimentação saudável, espaços lúdicos. Precisamos resgatar princípios comunitários de cuidado com o outro”, diz.

 

Primeira infância

OEI seleciona três municípios para projeto-piloto

Atenta aos cuidados necessários à primeira infância, a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) planeja criar projetos de acolhimento para crianças de zero a três anos de idade. “Dentre as prioridades, estão a gestão pedagógica e administrativa, além da gestão de projetos de infraestrutura”, adiantou o diretor da OEI, Raphael Callou. “Discutir soluções na primeira infância pode transformar o país”, acrescentou o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Sílvio Pinheiro.

 

Presente na abertura do seminário Diálogos da Ibero-América: Primeira Infância, ocorrido na última quarta-feira (5), Silvio Pinheiro ressaltou que a iniciativa da OEI de discutir soluções para a primeira infância é mais do que necessária. Segundo Sílvio Pinheiro, a gestão atual do FNDE encontrou obras inacabadas por conta de dificuldades legais de prorrogação de prazos. “Trabalhamos por oito meses com o TCU e CGU, buscando uma nova regulamentação que permitisse que estados e municípios repactuassem com o FNDE, para ganhar prazo e concluir creches em construção. Com isso, reduzimos o número de obras inacabadas e ampliamos os prazos das que estão em andamento.”

 

16 mil crianças de até 3 anos estão na fila por creche pública no DF

 

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Apesar de aumento de cerca de 6 mil vagas desde 2015, no momento, cerca 16 mil crianças de até 3 anos estão na fila por vaga em creche pública no DF, segundo a Secretaria de Educação do Distrito Federal (Seedf). Na faixa etária de 4 a 5 anos, não há demanda reprimida por pré-escola. Entre as 29 mil crianças que frequentam creches no Distrito Federal, a maioria (28.101) o faz na rede particular, com base nas Sinopses Estatísticas da Educação Básica de 2017 do Inep. As 1.004 que usam o serviço público estão matriculadas em 18 unidades do governo. Em nota enviada por e-mail, a Seedf informou que “conta com 14 creches públicas, 50 centros de ensino de primeira Infância (Cepis) e 58 instituições conveniadas, atendendo 15.287 crianças de 0 a 3 anos e 47.203 de 4 a 5 anos”.

 

Já na rede particular, de acordo com a pasta, são 319 unidades, com 15.944 crianças de 0 a 3 anos e 19.849 estudantes de 4 a 5 anos. As divergências entre os números da secretaria e os do Inep se devem ao fato de a pasta distrital usar como base o Censo Escolar do DF. Há também diferenças na interpretação dos dados. As redes conveniadas citadas pela Secretaria são formadas por instituições privadas. O número de creches públicas aparece como 18 nas informações do Inep, porque o órgão considerou unidades do tipo e também quatro escolas, em Samambaia e em São Sebastião, que oferecem turmas de creche.

 

Durante o Seminário Diálogos da Ibéro-América: Primeira Infância, promovido na última quarta-feira pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), a primeira-dama do DF, Márcia Helena Rollemberg, disse que o o atual governo construiu 27 creches e têm mais três para serem inauguradas.

 

A contribuição das empresas

Na percepção de Bia Nóbrega, é cada vez mais comum que os empregadores se preocupem com as condições de qualidade de vida das mães, já que isso afeta o trabalho. O benefício mais comumente oferecido é o auxílio creche. São poucas as firmas que contam com berçário ou creche no ambiente corporativo. “A possibilidade de home office também tem sido mais frequente.” A valorização da diversidade, acredita ela, está em alta “As empresas estão se dando conta de que, ao abrir mão de ter mães na força de trabalho, abrem mão de melhores resultados”, diz. Angélica Guidoni, da Trajeto RH, observa, porém, que isso está mais no discurso do que na prática.

 

“A gente ouve falar mais em equidade, mas não há ações novas”, aponta. Para Alice Schuch, há até retrocessos. “As empresas valorizam diversidade e se interessam pelo bem-estar dos funcionários, mas, com o atual nível de desemprego, poucas estão fazendo algo de fato para dar mais apoio às mães”, avalia. O resultado é que as firmas acabam perdendo talentos.

 

Falta de opções leva ao trabalho autônomo

Pesquisa do site de empregos Catho com 5.120 pessoas revelou que a quantidade de mulheres que chegam a deixar o trabalho (30%) após a chegada dos filhos é cerca de quatro vezes maior que a de homens (7%). Entre as entrevistadas, 8% conseguiram retomar a carreira em até seis meses, enquanto 31% levaram mais de três anos ou não retornaram. Entre os pais com hiato na carreira por causa dos filhos, 33% voltam ao mercado em menos de um semestre. Entre as mães que ingressaram em empresas após essa pausa, 60% avaliam as perspectivas profissionais como ruins ou péssimas. As creches (ou a falta delas) têm tudo a ver com esses resultados. Em certos casos, o cuidado infantil sai tão caro que pagar por uma creche não compensa dependendo do salário. “Tendo em vista o que gastavam para ir e vir e ainda custear creche, não são poucas as que param de trabalhar por perceberem que é mais vantajoso, analisando até a qualidade de vida e a segurança do filho”, diz Angélica Guidoni.

 

“A qualidade das creches anda muito ruim também, então, considerando tudo isso, não é raro a mãe ficar insegura e ‘preferir’ ela mesma cuidar”, observa. “E não é que a mulher não possa ser dona de casa. O problema é quando ela se sente obrigada a isso por não ter com quem deixar o filho”, completa Alice Schuch, mestre em educação pela Universidad del Mar, no Chile. “E se ela fica muito tempo afastada do mercado, fica bastante difícil voltar.” Em casa, bicos ou trabalho autônomo são as possibilidades que surgem para não ficar totalmente parada.

 

Planejamento familiar

A necessidade de creche é ainda mais gritante em casos de gravidez na adolescência, em que a mãe precisa de um estabelecimento do tipo não só para trabalhar, mas também para prosseguir os estudos. Quando essa situação acontece aliada a problemas financeiros, os desafios se agigantam. A superintendente do Instituto da Infância (Ifan), Luzia Laffite, sugere que os governos, especialmente os locais, em nível municipal e distrital, adotem postura menos passiva com relação a isso. “A rede formal de apoio tem condições de fazer o mapeamento de mães e famílias de risco (não só por gravidez na adolescência, mas também outras situações)”, afirma. “É preciso fazer busca ativa desse grupo. Às vezes, são pessoas que não querem fazer pré-natal nem participar de grupo de mães, pois têm vergonha de sua miséria (não só econômica)e se excluem — ou são excluídas — da família”, observa.

 

A psicóloga ressalta que os níveis de gravidez na adolescência são muito altos no país. “E, se elas não contam com apoio de ninguém da família, o Estado precisa prover”, defende. Para a psicóloga Angélica Guidoni, é de suma importância também o trabalho de prevenção, que deve começar nas escolas, de forma sistematizada. Mesmo porque quase metade das gestações não é planejada e, a cada cinco bebês no país, um tem mãe adolescente. Os dados são do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). “Planejamento familiar, educação sexual, educação financeira deveriam ser matérias de ensino médio — e também do ensino superior”, diz Guidoni.

 

Três perguntas para

Elen Souza, assessora de Carreira da Catho, psicóloga, pós-graduada em psicopatologia e  psicossomática 

A falta de um sistema universal de creches gratuitas e de qualidade atrapalha muitas mulheres a voltarem ao mercado de trabalho?
É fundamental que as mães tenham com quem deixar seus filhos para que possam retornar ao mercado de trabalho, já que, socialmente, ainda são vistas como únicas responsáveis pelo cuidado dos filhos nos primeiros anos de vida, embora essa seja uma visão ultrapassada e que, felizmente, vem mudando pouco a pouco. Essa falta de suporte — e a questão da disponibilidade de creches é uma delas — desencoraja, dificulta e inviabiliza o retorno da mulher ao mercado de trabalho formal.

 

O estresse de ter de deixar o filho com algum parente, vizinho ou conhecido pode prejudicar o desempenho no trabalho?
Deixar o filho para retornar ao trabalho, independentemente de quem cuidará da criança, seja escola, creche, parentes, seja rede de vizinhos, é um processo geralmente difícil. E, principalmente, no primeiro momento em que acontece essa “separação”, é normal a mãe se sentir dividida. Porém, com um respaldo adequado e cercado de pessoas de confiança, automaticamente, a mulher terá mais tranquilidade no retorno ao trabalho.

 

Empresas e órgãos públicos que oferecem benefícios, como creche no local de trabalho e auxílio-creche cumprem papel importante?
Sem dúvida. Essa iniciativa é importante e é uma das formas mais eficazes de apoio às mulheres no retorno ao trabalho. Torna-se um benefício para mães, que enxergam uma possibilidade de ficarem próximas da criança durante o expediente, otimizando o tempo e se antecipando a imprevistos inerentes à maternidade.