Tite Tite deixou claro que prefere jogadores prontos para suportar a pressão da Copa. Foto: Lucas Figueiredo/CBF Tite durante a convocação da Seleção para os amistosos contra Rússia e Alemanha

Tite descarta cota para promessas na lista final da Copa: “Não há espaço para estagiário na Seleção”

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A Seleção Brasileira tem tradição de levar “estagiários” para a Copa — aquelas promessas com potencial para ganhar experiência projetando a participação em edições futuras do torneio. Foi assim com Ronaldo, de 17 anos, em 1994; e com Kaká, 20, em 2002. Aos 18 anos, Neymar poderia ter sido o aprendiz na convocação final para o Mundial de 2010, na África do Sul, mas Dunga e o auxiliar Jorginho não quiseram levá-lo. No que depender de Tite, a nomeação dos 23, em maio, dificilmente terá uma aposta sub-20.

Participei nesta segunda-feira de uma videoconferência com Tite para jornalistas que não estavam no Rio no anúncio dos convocados para os amistosos contra Rússia e Alemanha, nos próximos dias 23 e 27. Uma das minhas curiosidades era aferir o prestígio dos jovens abaixo dos 20 anos com o técnico da esquadra principal. A resposta deixa claro que não há, hoje, na Seleção e nos clubes, um moleque abusado, atrevido, capaz de bagunçar a lista do Tite, queimar etapas e conquistar uma “bolsa-estágio” na Copa.

Minha pergunta ao Tite foi a seguinte: As convocações da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo sempre tiveram pelo menos uma vaga para “estagiário”, aquele jogador jovem que merece fazer parte do grupo. Foi assim com Ronaldo (1994), Kaká (2002)… Ainda há vaga para “estagiário” na lista final para a Copa da Rússia? Exemplo: Neymar seria o estagiário de 2010, mas não foi convocado pelo Dunga.

A resposta de Tite ao blog: “Em Mundial, não há espaço para estagiário na Seleção Brasileira. O espaço é para quem possa ser utilizado na pressão do jogo. Momentos de preparação são nas Eliminatórias, amistosos, Copa América, não em momento de Mundial. Respeito as outras situações (Ronaldo e Kaká), respeito o passado, mas eu não consigo ver o jogador que pode vir a ser… Jogador que vai para a Seleção já é. A responsabilidade dele de entrar dentro do campo, ou em um treino, é de desempenho, não de estagiário”, argumentou.

Respeito a opinião do Tite, mas discordo. Se houvesse, hoje, um menino muito bom de bola, com menos de 20 anos, ele mereceria, sim, uma vaga de estagiário entre os 23. Ronaldo (1994) e Kaká (2002) estavam no grupo do tetra e do penta, respectivamente. O Fenômeno não jogou sob o comando de Carlos Alberto Parreira nos Estados Unidos. Kaká atuou 18 minutos com Luiz Felipe Scolari no Japão e na Coreia do Sul.

“Em Mundial, não há espaço para estagiário na Seleção . O espaço é para quem possa ser utilizado na pressão do jogo. Respeito as outras situações (Ronaldo e Kaká), respeito o passado, mas eu não consigo ver o jogador que pode vir a ser. Jogador que vai para a Seleção já é”

Tite, em resposta ao blog durante videoconferência

A grande questão é que, hoje, não há um novo Ronaldo, um novo Kaká, capaz de reivindicar a convocação para a Copa. Vinicius Junior, por exemplo, já foi vendido para o Real Madrid, mas ainda não aconteceu no Flamengo. Não era titular com Zé Ricardo, não foi com Reinaldo Rueda e não é com Paulo César Carpegiani. Paulinho, do Vasco, destacou-se no Mundial Sub-17, mas também não mostrou futebol para queimar etapas.

Acima dos 20 anos, esse nome poderia ser David Neres, em alta no Ajax; Richarlison, que teve um ótimo início de temporada no Campeonato Inglês; ou Arthur, o favorito para ser o caçula da turma na Copa da Rússia. A luta do jogador recém-vendido ao Barcelona é contra o tempo. Recuperado de contusão, ele precisa voltar a jogar em alto nível neste mês e no próximo. Lamentavelmente, o “estagiário” está em falta faz tempo no futebol brasileiro. Não houve nas Copas de 2006, 2010 e 2014. Dificilmente haverá um lá na Rússia…

 

Os caçulas da Seleção nas Copas
☑️Bernard, 21 em 2014
☑️Ramires, 23 em 2010
☑️Robinho, 22 em 2006
☑️Kaká, 20 em 2002
☑️Denílson, 20 em 1998
☑️Ronaldo, 17 em 1994
☑️Bismarck, 20 em 1990
☑️Müller, 20 em 1986
☑️Leandro, 23 em 1982
☑️Zé Sérgio, 21 em 1978
☑️Dirceu, 21 em 1974
☑️Marco Antônio, 19 em 1970
☑️Edu, 16 em 1966
☑️Coutinho, 18 em 1962
☑️Pelé, 17 em 1958
☑️Humberto Tozzi, 20 em 1954
☑️Castilho, 22 em 1950
☑️Perácio, 20 em 1938
☑️Leônidas da Silva, 20 em 1934
☑️Carvalho Leite, 18 em 1930