Deus nos livre

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil

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Foto: Reuters / Nacho Doce

 

Ler nas entrelinhas é, talvez, o exercício mais preciso e eficaz para entender o que se esconde por detrás de cada declaração política e o que realmente pretende com elas os profissionais dessa arte da prestidigitação das palavras. O que parece, à primeira vista, ser um coelho saído da cartola é, na verdade, um gato que tenta escapar às pressas assim que vislumbra a chance. Os antigos gregos tinham uma palavra precisa para definir essa capacidade falaciosa de hipnotizar as orelhas: demagogia.

Unida à retórica do tipo popular, torna esse ator falastrão num verdadeiro lobo a conduzir ovelhas, capaz, como dizem os sulistas, de levar gato para nadar. É justamente essa capacidade que foi capaz de guindar, ao mais alto cargo do Executivo, um personagem como Lula.

Visto por trás dessa cortina de veludo espesso, trata-se de um personagem, ou como ele costuma repetir, uma ideia. A última proposição desse personagem, que já integra o rol da fama de indivíduos inscritos no folclore político nacional, foi a solicitação para que os petistas criem núcleos evangélicos na maioria dos estados brasileiros, como forma de atrair parte do eleitorado que hoje torce por Jair Bolsonaro.

Nesse ponto é preciso destacar aqui o que poderia ser o utilitarismo da fé, ou retira o que existe de prático no mundo do além. O fenômeno político atual que faz com que boa parte do Congresso Nacional seja dominada por bancadas de orientação religiosa, mormente pelos chamados neopentecostais, despertou no ex-presidiário e ex-presidente a ideia de que um possível retorno ao passado terá que ser necessariamente trilhado pelos caminhos da fé.

Não de uma fé em seu sentido espiritual, mas da fé no poder. Obviamente que essa não é uma ideia brotada originalmente em sua mente, mas possivelmente oriunda da cabeça de seu mentor e estrategista do caos, José Dirceu. Como justificativa de Lula para essa conversão aos caminhos laicos dessa fé, o petista disse: “é preciso aprender com os pastores, eles falam bem e o que as pessoas querem ouvir.”

Num país surrealista como o nosso, não seria extraordinário que Lula transformasse o partido que é seu numa espécie de nova igreja, onde ele seria, necessariamente, o pastor mor. Por certo, Lula e seus sequazes devem sentir uma tremenda inveja dos grandes pastores nacionais.

Milionários e cheios de seguidores, recebem a bênção do Estado, não pagam impostos, não justificam suas fortunas e até podem ser presenteados com isenção nas contas de luz e água, conforme deseja o atual governo.  Nesse país que, desde o ano de 1500, busca um rumo, a confusão agora entre religião e política, poder e fé, secularismo e espiritualismo, os horizontes que parecem se abrir à frente, em pleno século XXI, são de uma mistura letal entre igreja e Estado.

Nesse novíssimo país, os cidadãos serão transformados em crentes, os governantes em pastores, as leis constitucionais em dogmas celestiais, criando assim um Brasil onde todas as faltas serão perdoadas e onde a nação deverá render louvores aos seus dirigentes, pois eles passarão a governar por desejo divino. Haverá assim uma direita e uma esquerda religiosa. Talvez até um Supremo celestial, que julgará os casos de heresia e outros atentados à fé cega no Estado. Deus nos livre!

 

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Em política, o único verdadeiro é o que não se vê.”

José Martí, poeta, ensaísta, jornalista, tradutor e professor cubano.

Imagem: reprodução da internet

 

 

Novidade

Senadora Leila Barros apresentou um projeto de Lei que altera o Código Penal que define como crime a prática de perseguição ou assédio de forma insistente, provocando medo na vítima e perturbando a liberdade. A pena que era de dois meses passa para três anos.

Foto: senado.leg

 

 

Ainda

Mesmo com alternativa de estacionar em local pago, os motoristas preferem parar ao longo do meio fio. A fila é grande e impede o uso das duas pistas.

 

 

Chuvas

Em dias de chuva, a engenharia do DER e Administrações precisam sair dos gabinetes para acompanhar os estragos feitos pelas águas. Falta de escoamento e rede pluvial, zonas de contenção de água e principalmente falta planejamento de apoio do governo.

 

 

Vale conhecer

Uma beleza a Casa do Cantador na Ceilândia. O prédio foi projetado por Oscar Niemeyer como homenagem aos nordestinos do DF. Conhecido como Palácio da Poesia, o lugar fervilha com a cultura dos cantadores.

Foto: Júnior Aragão/SECDF

 

 

Evasão

O capítulo final do “Setembro Amarelo Embuste” é que, por total falta de acolhimento, atendimento adequado e atenção profissional inexistente, uma das pacientes com potencial suicida do HRAN resolveu abandonar os pertences na ala 4, para nunca mais se lembrar daquele lugar, e fugiu pela porta principal, sem ser importunada ou interrompida. Pelo contrário, quando perguntou para a enfermagem o que aconteceria se ela saísse, obteve a seguinte resposta: “Ninguém vai te segurar aqui.”

Foto: gov.br

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

O Serviço de Trânsito recebeu ordens para anotar os carros oficiais que transitam aos sábados e domingos, contrariando ordens do chefe da Casa Militar. Sessenta e dois carros foram anotados, muito embora as providências tomadas daí por diante sejam desconhecidas. (Publicado em 14/12/1961)

Estado continua mais ou menos laico

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Foto: Divulgação/Governo de Brasília

 

Desde que começaram a inquirir o mundo em sua volta, há dezenas de milhares de anos, os homens primitivos passaram a interpretar e a codificar a ocorrência dos fenômenos naturais, cujo os mecanismos não compreendiam, por meio de uma simbologia mágica, atribuindo, a cada um desses acontecimentos, a intervenção de um ser sobrenatural. Assim, muito antes das religiões se fixarem no seio das primeiras civilizações, avançando para governos do tipo teocráticos, a crença na existência de seres fantásticos que manipulavam o universo a seus caprichos já estava definitivamente enraizada e solidificada nos arquétipos humanos mais profundos.

Talvez por esse motivo tenha sido tão difícil moldar um Estado laico e, portanto, liberto de crendices religiosas. Tal fato, de suma importância para a consolidação das democracias, só se tornaria possível, muitos milênios depois, com o advento da Idade Contemporânea, ou mais precisamente com a Revolução Francesa de 1789. No Brasil, essa separação entre a cruz e a espada é uma conquista recente que teve princípio com a Constituição de 1824, que concedia certas liberdades religiosas, embora obrigasse os ocupantes de cargos públicos a professarem a religião católica. Coube à Constituição seguinte, de 1891, já sob o regime republicano, a separação definitiva entre igreja e Estado, o que seria mantido nas constituições seguintes.

A Carta de 88, diz em seu Art. 19, inciso I, que “ É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público” Com isso, garante a pluralidade de crenças e valores, colocando o Estado numa posição de neutralidade e igualdade com relação às diversas pautas, assegurando assim a democracia e os direitos individuais e coletivos.

Obviamente que num país como o nosso, formado a partir da miscigenação de três continentes e, portanto, sob a cultura de três civilizações portadoras de suas crenças religiosas cujo o amálgama resultaria numa nação plenamente mística e religiosa, devota de seus santos, a letra da lei é uma coisa, a prática cotidiana é outra.

Com a ascensão recente de grupos evangélicos, essa realidade sofreria, ainda mais, a imposição de grupos dispostos a inserir dentro do Estado, suas crenças e orientações metafísicas. Curioso é notar que, mesmo nos países onde imperara o marxismo materialista, uma das primeiras providências tomadas pelos mandatários era a profanação das igrejas, substituindo os signos religiosos pelos signos do partido, com isso Cristo cedia o lugar no altar para fotos de Marx, Lenin e outros ideólogos. Dessa forma estava criada a religião do Estado, onde o mandatário passava a ser o Deus todo poderoso. O que é fato no Brasil é que a chegada do novo governo promoveria uma reinserção da religião no seio do Estado, de forma enviesada. Ninguém nega a influência e o poder da chamada bancada da Bíblia dentro do Congresso e as possibilidades reais que esse grupo exerce na condução do governo. Na realidade, todo e qualquer governo sabe que a governança, dentro do princípio do presidencialismo de coalizão, deve obedecer aos ditames desse grupo, se quiser ter um mandato sem sobressaltos. Assim é observável que os princípios religiosos persistem e até têm crescido dentro do Estado.

No Distrito Federal, essa realidade também é notada. A construção de um Museu da Bíblia, no Eixo Monumental, exigência da bancada evangélica local, a um preço total de R$ 60 milhões é um exemplo de que o Estado, no caso o Distrito Federal, é laico, “ma nom troppo”. A Praça dos Orixás, tantas vezes vilipendiada, também assegura que a crendice popular se sobrepõe a laicidade do Estado.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O secularismo não está categoricamente dizendo que os religiosos não podem se pronunciar publicamente ou ter voz na vida pública. Trata-se de dizer que a religião por si só não deve conferir uma palavra privilegiada na vida pública ou maior influência sobre ela. É realmente tão simples assim.”

Richard Dawkins, é um etólogo, biólogo evolutivo e escritor britânico

 

 

Errei

Não foi culpa da língua alemã, nem da minha fonte, nem de terceiros. Entendi mal e errei. O imóvel ocupado pela Embaixada do Brasil em Berlim foi construído em 2000, tendo sido alugado por nossa missão diplomática desde então. A China não tem absolutamente nada a ver com o assunto. Apenas a China comprou um prédio antigo localizado na Wallstrasse onde fica a embaixada chinesa. Minhas sinceras desculpas aos leitores.

Foto: facebook.com/brasemb.berlim

 

 

Trabalho & Estudo                             

Um Deus nos acuda na rede de supermercados que leva o nome daquele famoso morro carioca. A reclamação é que a jornada de trabalho dos seus operadores de caixa passou para a escala de 12h x 36h. Com essa nova carga horária, muitos colaboradores que estudavam foram prejudicados.

Foto: divulgação

 

 

Celeuma

Um boi para não entrar na briga. Continuam as movimentações em relação ao Centro de Educação Infantil da Asseffe. “Esse patrimônio não pode morrer assim”, defendem os pais. Uma escola feita de sócios teve seu fim decretado sem consulta aos associados. A deputada Júlia Lucy, do NOVO, está na briga em defesa dos pais. Agora é uma boiada para não sair.

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Quanto ao sr. Paulo Sarazate, boa noite. Queria ler à força “um documento importante”. O sr. Aurélio Viana permitiu, e ele leu uma carta com um elogio à sua pessoa. E disse mais. Recebi hoje, recebi agora, esta carta. E lê. Dá, entretanto, para a taquigrafia a cópia, e a carta lida no dia 29 de novembro é datada de 16 de outubro. (Publicado em 01/12/1961)