Revolução feita com algemas

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »
jornalista_aricunha@outlook.com

com Circe Cunha e MAMFIL

Nada, nem ninguém, até hoje foi capaz de promover uma expectativa tão grande e positiva na população brasileira como a Operação Lava-Jato. Mesmo decepcionada com os rumos que a abertura política e o advento da esquerda no poder tomaram, a sociedade ainda aposta que a operação do Ministério Público, em conjunto com a Polícia Federal, promoverá a tão esperada revolução na estrutura do Estado.
Já que, por meio das negociações sociais e políticas, não se chegou a um modelo ideal de governo, o jeito agora é contar com a atuação da polícia para irromper o Estado infectado pela cleptocracia secular, inaugurando, de fato, a tão sonhada República. Nenhum historiador foi capaz de imaginar que, um dia, nossa revolução fosse levada a cabo pelas forças policiais e com o apoio massivo da população. Uma revolução feita com algemas, levando para cadeia parte das raposas que infestam o Estado.
É bem verdade que o processo está em andamento e pode sofrer retaliações, principalmente por parte daqueles que ainda enfeixam poderes nas mãos e também por parte das altas cortes, caso venham a surgir nomes togados nos volumosos processos de delação.
Em entrevista recente, a ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça e ex-corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, persona non grata para muitos de seus colegas de profissão por sua enfática luta contra o que chama de “bandidos de toga”, afirmou com todas as letras: “É impossível levar a sério a delação da Odebrecht caso não mencione um magistrado sequer”. O que a ex-corregedora estava se referindo é justamente ao maior conjunto de delações premiadas feitas até agora pela maior empreiteira do País, e que jornais de grande prestígio internacional como o Financial Times chamam de “uma máquina de suborno brasileira”.
Uma empresa que, para cada um milhão investido em propina, lucrava quatro vezes mais, durante mais de uma década, e que, somente na Justiça dos Estados e da Suíça, terá que pagar a maior multa aplicada no mundo a uma única empresa, cerca de US$ 3,5 bilhões. Para muitos países em que a justiça age nos limites da lei, essa empresa não terá mais espaço para atuar. Para as agências sérias de consultoria de risco, trata-se de um caso perdido, de uma empresa sem credibilidade moral.
O caso é saber agora se, no Brasil do jeitinho, haverá espaço para a atuação dessa empresa, principalmente junto aos órgãos públicos. Para a população, que assiste atônita a toda essa história, trata-se, como se observa, da maior e mais influente patrocinadora da corrupção no País, responsável, junto com os políticos arrolados, pela maior crise moral e econômica experimentada pelo Brasil em todos os tempos. Não é pouca coisa.

A frase que não foi pronunciada
“O cliente fidelizado é a certeza de uma operadora infiel.”
Consumidora da Claro

Saúde
» Notícia importante para 2017. Fiscalização dos planos de saúde é responsabilidade da Agência Nacional de Saúde Suplementar. As reclamações devem ser direcionadas à agência.

Dobrado
» Está na Súmula 450 do TST e foi aplicado pela juíza Sabrina Fróes Leão. As férias dos empregados devem ser pagas até dois dias antes do período. Uma instituição educacional não o fez, e foi condenada a pagar o valor em dobro. Quem paga mal paga duas vezes, repete o filósofo de Mondubim.

Lista suja
» Está quase acabando o prazo para que a União publique a lista dos empregadores que desobedecem as leis trabalhistas com mão de obra análoga à escrava sob seu domínio. A lista do trabalho escravo precisa ser divulgada. Por incrível que possa parecer, o próprio governo descumpre a portaria interministerial desde maio desse ano. O ministro do Trabalho deve estar com tudo preparado.

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