Por Luiz Recena Grassi, de Lisboa
Eles continuam a fumar muito e a fazer churrascos no auge do verão seco, nas casas, nos campings, nas piscinas públicas, nas praias fluviais ou de mar. Não importa se tem gravetinho ou pinheiro crescido. A importar, mesmo, são os três meses de verão, só três, o que provoca um frenesi para que, além dos churrascos, grupos de portugueses, moradores no país ou no estrangeiro, com casas na terras de Cabral, decidam ajeitar e dar um trato nas propriedades, melhorando-as. Neste ano, não está a ser diferente. É o “fogo posto” (pequena chama não criminosa, ou grande chama, para limpar um terreno, cheia de más intenções) responsável por mais de 60% dos incêndios que, a cada ano, ardem e provocam tragédias lusitanas anunciadas, há mais de décadas.
Sempre que alguém vem do Brasil, a pergunta é inevitável: está tudo bem? Vive-se melhor aqui, pois não? E quando se é apresentado a um português ou portuguesa, moradores locais, principalmente no interior do país, a eterna pergunta reaparece, renasce. É melhor estar cá, pois não?
A preferência pelo questionado vem de, no mínimo, duas fontes. A primeira é a condição profissional, pois todos querem, nesta hora, uma fonte para sustentar seus argumentos. “ Um amigo jornalista me disse…” e estamos resolvidos. A segunda é o tempo vivido, os três anos que parecem 30, com uma pandemia de mais de dois anos, uma guerra entre meninos que querem mostrar a testosterona que rola orelhas abaixo, e adultos espertos, muito espertos, a fatiar um mercado imenso e rico. A resposta é um exercício no arame. Deve buscar situações concretas.
Foi bom enquanto durou. Da entrada plena de Portugal na União Europeia até o começo da pandemia. O turismo queria amealhar dinheiro, o que viesse; e queria produzir dinheiro. O governo queria impostos e estimular compras, vendas e investimentos de e para amigos ricos ou indicados e afilhados. Teve tudo isso e, quando faltou mão de obra, abriu-se para a raia miúda. Mais de uma década de bons ventos, até com as leis de imigração facilitadas.
Vicente Nunes, correspondente recém-chegado, nos conta, hoje, que as dificuldades bateram em Lisboa, Porto e outras cidades importantes, expulsando portugueses e inchando as periferias. Imagine-se os brasileiros mais pobres ou de renda curta. Mas tínhamos o sistema de saúde. Tínhamos, nós e eles, agora não temos mais. O sistema público médico-família está reduzido à metade, e especialistas faltam em todas as modalidades. O Governo e os vários sindicatos não se entendem mais e pede-se a cabeça da ministra da Saúde. Quem comeu, regalou-se; quem não comeu, perdeu a vez e as dificuldades só fazem aumentar.
Viver em outro país é sempre bom. Em Portugal, é ainda melhor. Só que, ao deixar o Brasil, as ideias devem ser bem pensadas. É bom lembrar que, em quase tudo, somos dez, vinte vezes maior que Portugal. E os nossos problemas também. Se é bom vir, venha! São mais de 200 mil, sem contar os que possuem dupla nacionalidade. Brasileiro tem fama de bom trabalhador, o que facilita. Porém não esqueça: o idioma ajuda, não resolve tudo, com frequência, até atrapalha.