#Suspeita de bomba no Banco Central Foto: CB/D.A Press

BC: Mercado piora projeções de inflação e de taxa de juros para 2023

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

Após o fim da greve dos servidores do Banco Central, o relatório semanal com as perspectivas do mercado, o boletim Focus, não trouxe muita novidade, mas confirma uma piora para 2023 e até mesmo 2024, apesar da leve melhora devido às medidas populistas adotadas pelo governo e que terão efeito de curtíssimo prazo na economia, promovidas pela PEC Kamikaze ou Eleitoreira e pelas reduções temporárias de tributos, como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

 

A mediana das estimativas do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, passou de 7,67%, na semana passada, para 7,54%, no relatório divulgado nesta segunda-feira (18/7). O dado, no entanto, continua acima do teto da meta deste ano, de 5%, dificultando o trabalho do BC em cumprir sua missão de preservar o valor da moeda pelo segundo ano consecutivo. Já a mediana das projeções do indicador oficial do custo de vida de 2023 passou de 5,09% para 5,20%, dado também acima do teto da meta do próximo ano, de 4,75%.

 

Não à toa, as projeções dos analistas ouvidos pelo BC não são animadoras para a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 13,25% ao ano. Apesar de manterem em 13,75% a previsão para a taxa Selic no fim de 2022, operadores do mercado elevaram a projeção dos juros básicos de 10,50% para 10,75% anuais no fim de 2023, em um claro sinal de que o BC terá trabalho para controlar a inflação no próximo ano que deverá subir ainda mais, em grande parte, devido ao impacto negativo das medidas eleitoreiras deste ano.

 

“Com fim da redução do ICMS em 31 de dezembro deste ano, os preços subirão no dia seguinte e impactar o IPCA de 2023. Trocamos a melhora emano eleitoral por piora em 2023”, ressaltou Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. Ele lembrou que a abertura positiva dos mercados nesta segunda-feira reflete é mais um ponto fora da curva do que uma tendência otimista em um ano eleitoral. “Vamos ver muita turbulência nos mercados”, preconizou.

 

A mediana das previsões do mercado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano passou de 1,59% para 1,75%, mas a de 2023 manteve-se em 0,50%. Logo, as estimativas do mercado continuam abaixo da perspectiva do Ministério da Economia de altas de 2%, no PIB de 2022, e de 2,5%, no PIB de 2023.

 

Em relatório divulgado logo após a divulgação do Focus, os economistas do Banco Original, Marco Caruso (economista-chefe) e Eduardo Vilarim reforçaram que o boletim semanal do BC mostrou “uma nova deterioração na inflação projetada para 2023, acompanhada de nova revisão altista para o PIB deste ano”.  “Para este ano, seguimos vendo uma boa melhora nos preços dos combustíveis na coleta da  ANP (Agência Nacional do Petróleo). Gasolina caindo forte, de R$ 6,27 para R$ 5,99 o litro; segundo especialistas, esse número poderia atingir aproximadamente R$ 5,80/litro se a redução do ICMS for totalmente repassada. Ou seja, praticamente todo o corte tem sido repassado às bombas”, destacaram no documento.

 

Na avaliação dos analistas do Original, os condicionantes da próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), em agosto, não ajudam BC a parar o ciclo de alta da Selic.  “Nós não alteramos a nossa visão de que a alta derradeira virá na próxima reunião, mas nos parece claro que, estrategicamente, a sua comunicação deverá deixar em aberto a possibilidade de um novo ajuste em setembro. A ver”, acrescentaram.