O colapso geral dos sistemas de saúde público e privado é questão de dias. Além de a população, em grande parte, não dar a sua contribuição para a contenção do vírus, aderindo a medidas duras de distanciamento social, o governo não se preparou para um plano de imunização em massa. O que se tem de vacina hoje é insuficiente para frear a contaminação e as mortes. Pelos cálculos de imunologistas, o Brasil teria que estar vacinando, no mínimo, 1 milhão de pessoas por dia. Infelizmente, pouco mais de 10% dos imunizantes necessários estão sendo aplicados diariamente.
Para que o país atinja um número seguro de vacinados, são necessários 300 milhões de doses. Esse volume seria suficiente para proteger 150 milhões de brasileiros adultos, para que se possa considerar a população imunizada. Em vez de anunciar a oferta de mais doses disponíveis, no entanto, o Ministério da Saúde, a cada dia, reduz as previsões de imunizantes. Agora, fala entre 22 milhões e 25 milhões de vacinas em março. Uma semana atrás, a promessa era de mais de 30 milhões. Essa constante revisão para baixo explicita o quanto o governo está perdido em relação ao tema.
O quadro se torna mais dramático porque o Ministério da Saúde fala em projeções de oferta de vacinas cujos contratos sequer foram assinados com os fornecedores. Ou seja, trabalha-se com base em suposições. Não podemos esquecer que mesmo os países que se anteciparam e fecharam acordos de compra enfrentam dificuldades para obter os imunizantes devido à escassez. Mais: as poucas vacinas produzidas no Brasil dependem de insumos importados, que também estão em falta.
O resultado de tudo isso é que, daqui por diante, com o novo coronavírus e suas variantes devastadoras circulando livremente, o número de infectados e de mortes dará um salto assustador. Agora, ultrapassou-se a marca de 2 mil óbitos em 24 horas. Na próxima semana, poderemos estar chorando por 3 mil vidas perdidas por dia. Essa estimativa é feita pelo próprio Ministério da Saúde, que conseguiu destruir uma política vitoriosa e reconhecida em todo o mundo, a de imunização em massa.
Não se trata de exageros. Somente os hospitais da capital de São Paulo têm quase 2 mil pessoas na fila de espera por internações ou transferências — em alguns deles, há pessoas morrendo asfixiadas nos corredores antes mesmo de serem atendidas. No Distrito Federal, 100% dos leitos das UTIs da rede pública estão ocupados. Também o sistema privado está próximo do caos. Vai faltar contêineres para estocar corpos. A população pede socorro. A hora é de salvar vidas. Não podemos mais ficar contando mortos.
Brasília, 10h46min