Nesse sentido, de acordo com analistas que estiveram reunidos nesta semana com os diretores do Banco Central mostrando um quadro desanimador para o próximo ano, uma chapa viável, ou dos sonhos, para derrotar o capitão reformado seria composta pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está à frente nas pesquisas de intenção de votos, com o atual secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles.
“Essa especulação existe e, se tivesse confirmação, o mercado estaria soltando rojão de felicidade, porque diminuiria muito os riscos de um cenário com Lula sem alguém comprometido com o controle das contas pública”, diz o economista Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria. Ele, por sinal, não está entre os mais pessimistas do mercado, pois prevê alta de 5,4% no (Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e de 2,3% 3m 2022. “Quem manda é o candidato à presidência, que hoje seria o Lula. Mas a chapa dos sonhos seria o contrário, com Meirelles à frente”, destaca.
Ex-candidato à presidência da República em 2018 pelo MDB, Meirelles foi presidente do Banco Central durante os dois mandatos de Lula, e, com o ex-vice-presidente José Alencar (PL), era o fiador do petista junto ao mercado financeiro e ao empresariado. Meirelles também foi ministro da Fazenda do governo Michel Temer (MDB), após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), e foi o responsável por implementar boa parte da “Ponte para o Futuro” proposta pelo partido, além de capitanear o teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior —, âncora fiscal que restaurou a confiança do mercado no controle das contas públicas.
Âncora fiscal
O engenheiro Meirelles também preparou o terreno para o ministro da Economia, Paulo Guedes, aprovar a reforma da Previdência. Quando Guedes chegou ao governo, em 2019, o debate sobre a necessidade de ajustes no regime previdenciário estava encaminhado. Os parlamentares, em grande maioria, estavam convencidos da necessidade de aprovar alguma mudança no sistema de aposentadorias para evitar a explosão no deficit do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Meirelles, a propósito, tem estado ativo nas redes sociais nos últimos dias. Enquanto o governo bate cabeça e o preço da gasolina dispara, com o litro chegando a R$ 7, para o desespero dos brasileiros, ele dá a receita de como enfrentar uma crise.
“Para enfrentar tempos difíceis, é necessário ter seriedade. Todos os brasileiros perdem quando o governo abandona a responsabilidade fiscal. O caminho do gasto sem controle, com fins eleitorais, e do descumprimento de compromissos termina em recessão, desemprego e pobreza”, escreve o ex-ministro em seu perfil do Twitter.
Em outra postagem, ele coloca os números no fim do governo Michel Temer e lembra que foi o responsável para recuperação da credibilidade do país. “Com boa gestão, inflação controlada e credibilidade recuperada depois da aprovação do teto de gastos, passei o bastão da economia com o país crescendo, depois de uma das maiores crises da história”, pontua.
Não, mas sem convicção
Procurado, Henrique Meirelles nega a formação de uma chapa com Lula. “A informação não procede”, diz, ao Blog. Contudo, o ex-ministro não nega o interesse de participar de uma nova campanha eleitoral e colocar de volta na rua o slogan “Chama o Meirelles”. “A princípio, não”, afirma, sobre uma candidatura. Atualmente, Meirelles integra o PSD, legenda da qual ele contou que foi um dos fundadores.
O dono do PSD, Gilberto Kassab, por sinal, tenta atrair o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para o partido e, assim, lançá-lo como uma terceira via na corrida presidencial de 2022. A conferir os próximos capítulos dessa empreitada.
Pelas pesquisas de opinião, Lula lidera as pesquisas eleitorais. Até o momento, o segundo turno será entre ele e Bolsonaro. Vale lembrar que a Carta ao Povo Brasileiro, assinada por Lula em 2002, comprometendo-se em respeitar os contratos nacionais e internacionais foi fundamental para tornar o candidato mais palatável ao mercado financeiro e levá-lo à vitória.
A expectativa de uma chapa do ex-presidente com Meirelles garantiria o compromisso com o teto de gastos, por exemplo, que vem sendo atacado por Lula. O ex-presidente do BC garantiria uma gestão mais parecida com a do então ministro da Fazenda, Antonio Pallocci, que fez um forte ajuste fiscal no primeiro mandato do petista. “Meirelles traria toda a confiança e a racionalidade da política econômica que hoje Lula não tem”, diz Jensen.